Um Olhar Crônico sobre os dias de hoje e alguns de ontem. Um Olhar Crônico sobre a vida nas cidades, a vida na megalópole, a vida na roça, quando é dura, e no campo, quando é lírica. Textos, Idéias & Coisas diversas, aquelas que passam pela cabeça e a gente acaba registrando, sabe-se lá pra que ou mesmo porquê.
quarta-feira, agosto 24, 2005
Crise cansa
É, crise demais também cansa. Parece que estamos no momento “canseira” dessa crise. Falar nisso, alguém lembra como tudo começou? Errou quem disse que começou com a colheita de 53 milhões de votos. Isso é bobagem retórica. Sequer começou com Waldomiro, aquele da propina de 1%. Até poderia, mas não nasceu ali. A gestação foi abortada, embora tenha deixado seqüelas. A bichinha nasceu, de fato, foi com aquele sujeito, funcionário dos Correios, embolsando uma gorja de três mil reais.
Três mil reais...
Puxa, se fossem euros pelo menos ou, vá lá, dólares, mas foram reais mesmo. Não são o bastante nem pra pagar meia-garrafa de um dos vinhos dos companheiros. Pensando bem, há muita diferença até pra uma prosaica Fiat Elba, símbolo de outra crise há muito encerrada (encerrada?). Por isso eu digo que o certo mesmo nessa crise é que ela tivesse nascido com o Land Rover do Silvinho. Aí sim, aí já estaríamos num outro patamar, coisa de gente grande, gente metida a besta com razão de ser. Um Land Rover traz implícita uma certa grandeza, entendem, um ar assim de nobreza, das gentes ditas e tidas por finas.
Querem ver uma coisa? Isso é tal e qual o roubo do Banco Central em Fortaleza. Coisa de George Clooney e Brad Pitt, mais o auxílio luxuoso e maravilhoso de uma Catherine e uma Julia. Aquilo sim é roubo! Pra gente chegar em Nova York, Londres, Paris, Roma, Chicago e até Los Angeles, pátria-mãe de Hollywood (ou vice-versa?), bater no peito e gritar alto e bom som: 65 milhões de dólares, sem sangue derramado, sem alarde e sem sirenes, tudo na boa, roubados na moral, na maior limpeza. Pros desavisados ou não afeitos, esses 65 milhões de verdinhas correspondem a 160 milhões dos nossos reais. Dinheiro pra burro, né? Até pra Hollywood, afinal, a tropa que os bonitões (opinião da mulherada, só reproduzo) George e Brad reuniram, limitou-se ao roubo de ridículos 22 milhões de dólares. Coisa de pobre, definitivamente.
Curve-se, ó mundo, uma vez mais à Terra de Vera Cruz e seus tupiniquins!
Esse nosso foi um roubo pra polícias além do 1o mundo. Foi um roubo pra Bruce Willis e seu auxiliar negro de plantão. Ou Mel Gibson e Danny Glover, o Danny dos bons tempos, seu parceiro também negro. Sim, somos do 4o a caminho do 5o mundo, mas temos nossos brilhantes momentos 1o mundo. Ô, só temos! E pra ir atrás de seus autores só uma polícia com a eficiência roliudiana. Não dá pra deixar por menos.
Queria muito ver essa troupe do roubo no aeroporto de Fortaleza. Foram dez, né? E dez passagens compradas com notas de 50 ainda quentinhas do calorzinho do cofre do Banco Central. Ah, que olhar estupefato deve ter feito a menina do guichê da companhia aérea ao vender assim, de bate pronto, dez passagens e receber o pagamento em dinheiro vivo. Cash, como se diz. Coisa de cinema. Imagino o roteirista sentado em frente ao micro, como eu agora, bolando a cena e escrevendo, frisando “olhar estupefato” da atendente. E o babaca do diretor dizendo que a cena era muito absurda e que precisava ser mudada. Ora, vá se catar, senhor diretor, pois de realidade o senhor nada manja. Nós, roteiristas, sim, manjamos tudo, pois sabemos que hoje a realidade é mais fictícia que a ficção, embora seja, a realidade, bem real. E mesmo assim, nós, roteiristas, não somos páreos pros maiores gênios da absurdização da realidade, os políticos. Desde os inócuos tupiniquins até os tenebrosos bin Laden e cia.
Dizem que a polícia desconfia de inside information e, pior, inside action nessa operação. Sim, alguém de dentro deve ter dito tudo sobre o cofre. E alguém de dentro, possivelmente, plantou uma empilhadeira bem na linha de mirada da câmera de vigilância. Puro gênio cinematográfico. Alô, polícia encarregada da investigação, pense nessa linha de trabalho, procure por um roteirista desempregado, talvez frustrado com algumas negativas de patrocínio oficial e, quem sabe, encontrará o autor intelectual desse script.
Bom, como nem tudo é perfeito, já teve neguinho mais afoito do bando que saiu comprando carros à vista, cash, e botando dinheiro nas latarias, como se fosse saquinhos de cocaína, heroína ou marijuana. Tsc tsc tsc... E essa bobeira, também condizente com os bons roteiros, conduzindo a um final moral, me lembra que esse texto é sobre a crise. O pior é que o texto já tá grande e da crise mesmo pouco falei.
Mais uma prova, portanto, que nem as crises são feitas hoje como eram feitas antigamente. O pior nessa de agora é que nada acontece com ninguém. Nada, absolutamente nada. Delúbio, o homem das malas, sequer expulso de seu partido foi. E nem será. Dizem que, caso isso aconteça, a República cai. Silvinho, talvez ao volante de seu Land Rover, escafedeu-se. Genoíno, coitado, vítima indefesa dos ardis delubianos criados por mestre Zé, está recluso, amargurado, atarantado, aposentado, em sua casa simples de toda a vida, talvez se preparando para a carreira de monge trapista (ele, pelo menos, nunca deu-se ao desplante de fumar Cohibas, ganhar Land Rovers ou comprar fazendas à vista e cash; e, mesmo assim, sobrou pra ele; o que me faz lembrar com propriedade de Hannibal Lecter perguntando pra Clarice Starling sobre o silêncio dos cordeiros, the silence of the lambs, indo quietos, emudecidos, conformados, para o matadouro). Gushiken sumiu, embora dê expediente no Palácio. Dizem. Zé Dirceu, bom, Zé Dirceu fez e aconteceu e agora manobra, como sempre, os cordões a partir dos bastidores. E Marcos Valério anda ocupado, reunido com advogados e processando o partido para receber os empréstimos dos quais foi avalista e tentando convencer dona Renilda que o careca nas festas brasilienses com as meninas de Mary Jeanne não era ele.
Nenhum gesto nobre. Nenhuma renúncia. Nada de nada. O presidente está inamovível. Com ele ninguém mexe, ninguém agita. Os ministros todos vão bem, obrigado, o da Fazenda inclusive. Assessores de ministros continuam passeando pra lá e pra cá. Se a gente pensa e fala em Willy Brandt, caso alguém dessa corja saiba quem foi ele e conheça sua história, dará risada e dirá que o cara foi trouxa. Imagine, renunciar por causa de um assessor que enveredou pelo caminho do mal. Ora, que bobagem.
O paradoxal nisso tudo é que o país vai bem, obrigado, embora o povo, como de hábito, vá mal, o que é um mero detalhe. E o governo que nasceu de “esquerda” funciona porquê os ministros da “direita”, Rodrigues e Furlan, seguem trabalhando e ninguém vê seus nomes em parte alguma dos cadernos de política.
Mas, cansei. Há dias nada escrevo a respeito e leio só as manchetes. Tem sido o suficiente para me manter atualizado. Tenho escrito sobre árvores e bichos. E tenho escrito sobre futebol. Ou seja, ando escrevendo sobre o que é importante. Nessa altura do campeonato, qualquer uma das minhas vaquinhas é mais importante que qualquer um dos ministros da república. É mais importante que S. Excia. Também.
Fui.
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3 comentários:
Hm. Er... É... Hmmm... FLUZÃO!
E segue o tricolinho, rondando a zona...
Junte o cansaço com o cheiro, no caso enjoativo, de pizza... :(
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