sábado, setembro 29, 2007

Ecos do passado


A troco de nada, a lembrança chegou em meio ao banho, momento, aliás, que já me proporcionou vários acessos de criatividade. Bom, pelo menos na minha opinião.

“As rosas desabrocham,

Com a luz do sol,

E a beleza da mulher,

Com o Creme Rugolllll...

Creme Rugollllll...

Creme Rugollllll...”

Depois do jingle, entrava a voz do locutor com um texto falando das vantagens e benefícios que o uso do creme trazia. Lembrança antiga, que vem dos anos cinqüenta, sessenta, quando ouvia esse e muitos outros “reclames” nos programas de rádio. Em termos de mídia era tudo que tínhamos, então. Nossa primeira televisão ainda demoraria alguns anos, e só chegaria em casa em meados dos anos sessenta. Antes disso, o jeito era ser televizinho, quando tínhamos a sorte de ter um vizinho bem de vida, já dono de um maravilhoso televisor, luxo de poucos naquele Brasil tão distante.

Na fazenda, trazida por algum viajante endinheirado, aparecia de vez em quando uma “Cruzeiro”, a grande revista do Brasil, vaga que foi ocupada, depois, pela Manchete e depois, e até hoje, pela Veja. Todas diferentes entre si, mas nenhuma alcançou o sucesso e penetração da “Cruzeiro”, que num país atrasado e periférico com cinqüenta milhões de habitantes, chegou a ter tiragem superior a dois milhões de exemplares. Proporcionalmente, hoje, uma revista teria de vender em bancas quase oito milhões de exemplares. Impensável.

Numa antiga revista encontrei minha primeira paixão. Pois é... Como era bonita! Não só ela, mas sua mãe também (sim, isso é o título de um filme, mas por mera coincidência). Mãe que mostrava a uma amiga e sua filha uma peça de roupa lavada com, hummmmmm, Rinso, talvez. Omo eu tenho certeza que não era. Paixão platônica, claro, de um garoto perdido numa fazenda distante quatorze horas de trem de São Paulo, a cidade grande, onde ela, quem sabe, morava. Isso se não morasse na mítica capital, em vias de deixar de ser, o Rio de Janeiro. Claramente, um amor fadado à não realização.

Como o país era diferente! Bom, que sei eu do país? Só conhecia Marília e São Paulo, onde ainda andávamos de bonde, do bairro para a cidade. Era assim que chamávamos o centro: cidade. Ainda hoje, muitas vezes, ainda nos referimos dessa forma ao Centro Velho e ao Novo.

E volta o mistério do porque eu fui lembrar do antigo jingle do Creme Rugol.

Vai saber...

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Preguiça sem culpa, que coisa boa


Bom demais...

Acordar na manhã de sábado com um friozinho gostoso e a garoa caindo.

Um dia sem cobrança, um dia que já nasce com justificativa para tudo, ou seja, perfeito para fazer nada. Ler o jornal com calma enquanto o café-da-manhã é apreciado lentamente. Ligar ou não ligar o computador passa a ser uma das tarefas do dia, digo, pensar a respeito. Dia bom para ligar televisão, vídeo e gravador de dvd e aproveitar para copiar mais uma ou duas ou três daquelas fitas guardadas. Talvez hoje eu copie o jogo final do Paulistão 98, jogo que marcou o retorno de Raí ao São Paulo, com show de bola, vitória maiúscula e a conquista do título em cima do Corinthians. Eis uma boa tarefa para um sábado já gostoso ficar ainda mais.

Bom mesmo vai ser se amanhã estiver igual, aí já é meio como ganhar na loteria. Claro, não uma megassena sozinho, mas uma quinazinha. Digo isso porque um dia como esse nos livra das tais cobranças que mencionei logo de cara. Nosso estilo de vida não admite pasmaceira, não aceita preguiça, só gosta de gente correndo, de preferência dentro do carro no trânsito parado, onde a corrida física é trocada pela corrida dos nervos rumo ao descontrole. Ritmo, agitação, frenesi, faça isso, faça aquilo, faça sempre alguma coisa.

Eis então que, de repente, surge uma modesta frente fria nesse começo seco de primavera, traz um friozinho, uma garoinha e joga por terra as muitas e chatas possibilidades de fazer alguma coisa num dia em que não há trabalho.

O melhor, portanto, é aproveitar, relaxar, nada fazer, flanar preguiçosamente.

Ah, esqueci do mais importante: o sábado, o friozinho e, principalmente, a garoa, tiram toda e qualquer culpa que com certeza sentiríamos por estarmos fazendo nada.

É isso, uma preguiça sem pecado, uma preguiça livre da culpa.


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segunda-feira, setembro 24, 2007

São Paulo, Comes & Bebes...

... e a Padaria 14 de Julho

O saco plástico com a Veja de sábado chegou pesado e mais volumoso que o normal. Também, pudera, a “Vejinha” estava com cara de catálogo telefônico, não só no peso como no visual, com lombada quadrada, formato de impressão que permite produzir revistas com maior número de páginas. E essa edição caprichou: nada menos que 436 páginas!

- Nossa, mas existe tanta notícia assim? – pergunta o desavisado leitor que não mora nessa megalópole. Sim, há tanta notícia para muito mais, até, só que não é o caso. Essa é a edição anual “Comer & Beber” da Veja São Paulo. Nada menos que 500 (quinhentos, por extenso só para garantir) restaurantes e 250 bares, fora outros 250 lugares para o que eles chamam de “comidinhas”. Essa, que ninguém me ouça, é a melhor parte da lista, com certeza. Lugar de sanduíches maravilhosos, desde um simples cachorro-quente ultra-gostoso e meio requintado, até o nosso tradicional, tradicionalíssimo bauru, passando pelo sanduíche de pernil da 14 de Julho. Sanduíche? Melhor chamar de refeição para dois. Esse pernil é simplesmente maravilhoso, assado no vinho por 14 horas, e com ele preenchem meio filão de pão italiano. Bom, eu como bem, basta ver a fotinho meio defasada para se ter noção de tal fato. Pois bem, apesar disso, parei na 14 de Julho dias atrás na hora do almoço, entre uma reunião e outra. Estava com fome, pedi um sanduba de pernil. Olhei pra cara do bitelo quando chegou e engoli em seco; comi, comi, comi, e o balconista embrulhou metade, que foi o meu jantar. Tudo isso por meros oito reais e setenta centavos. Pouco menos de cinco dólares. Só em São Paulo, mesmo.

Mas a 14 de Julho é infinitamente mais que mera parada para comer um sandubão. É um lugar histórico e de histórias. É um lugar de tentações, ah, sim, é lugar de muitas, muitas tentações. É histórico porque a padaria já tem 110 anos de idade. Foi fundada em 1897, ainda no século XIX, quem diria! No mesmo lugar, o que é mais incrível ainda. O Nono Franciulli entregava o pão para a freguesia de carroça. Aliás, peguei essa fase do pão vendido em carroça. No bairro em que meus pais moravam, o Ipiranga, o carroceiro era um português que passava cedo. A carroça era sofisticada, era uma “carroça-baú”, os pães ficavam lá dentro, protegidos e frescos. Dia de festa era quando o dinheiro de algum vestido que minha mãe fazia permitia a compra de um sonho.

Sonho é aquela coisa com que você sonha durante dias ou semanas, até meses ou anos, e de repente lá está ela em sua frente: uma bolota de massa frita, coberta por uma crosta escura, recoberta de açúcar de confeiteiro por sua vez e, suprema delícia, recheio de creme. Há quem goste de outros recheios. Bom, há gosto para tudo, claro, e eu, digamos, respeito, embora lamente. Sonho é isso. Morando mais na fazenda com meus avós, do que em São Paulo com meus pais, uma de minhas lembranças e vontades da casa paterna era o sonho. Freud deve explicar, acho.

Nunca moramos sequer perto do raio de ação geográfico e temporal da carrocinha da 14 de Julho. Sua descoberta, para mim, foi tardia, já nos anos 90, seguida de paixão à primeira mordida pelo pão italiano, pelo pão recheado com lingüiça – esse, um terrível indutor do pecado da gula – e por issos e mais aquilos, tudo, tudo mesmo sobrepujado pelos avassaladores cannoli.

Lembro do cannoli e minha boca enche-se de água. Tem um filme, não lembro qual, em que um chefe mafioso novaiorquino é louco por cannoli, e presenteia quem ele gosta com um pratinho deles. Mafiosos também têm bom gosto. Trata-se de um canudo de massa folhada assada, preenchido com creme. Há quem prefira o recheio de chocolate; eu entendo, claro, mas não deixo de lamentar, claro, também. Por cima, o bendito açúcar de confeiteiro. Cannoli é creme, para mim. Cannoli é uma dádiva sobre a qual você fecha os dentes, corta um pedaço de massa cuja única função é proteger e segurar o creme e, então, se delicia com uma das grandes descobertas do gênio humano.

Cannoli, sanduíche de pernil, pães, tudo isso é somente parte de algo muito maior. O teto é tomado por salames, queijos e lingüiças pendurados. As laterais tem de tudo um pouco e, logo à entrada, tenebrosa mesa coberta por variados antipasti; e bota variados nisso. Tem massas frescas, que podem ser feitas na hora e aí basta chegar em casa, pegar o garfo e mangiare. Tem bracholas e porpetas, claro, mil coisas com berinjela (outro dia compramos um pão recheado com berinjela que estava absolutamente irresistível, a ponto de ter comido parte dele no carro, dirigindo pela megalópole), azeitonas e outras coisas. A lista de delícias é extensa demais para tão modesto blog.

Ah, mais uma coisa antes de terminar: essas fotos são, mesmo, da padaria. Eu mesmo tirei-as. Pois é, nem parece, né? Nada das luzes e amplos espaços dos tais “templos” de comida de hoje em dia. Essa padaria que as fotos mostram é, basicamente, a mesma e do mesmo jeito que era em 1897.

E, antes que me esqueça, lembra do cannoli? E do chefe mafioso? Pois é...

O nome do cannoli é cannoli siciliano.

Buon apettito!


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sábado, setembro 22, 2007

Às três da manhã


Nada pior que acordar de sono profundo com o telefone tocando.

Antes de atender à chamada olho o mostrador do vídeo: faltam dois minutos para as três da manhã - só pode ser engano, penso, na verdade, torço. Nesse horário, se não for engano, é notícia ruim. Mil coisas e pessoas passam pela minha cabeça: minha mulher e minha mãe estão no litoral, na casa da minha filha. Meu filho está viajando pela Europa. Meus sogros estão no interior, assim como muitos parentes. E tem o sítio, sabe-se lá o que pode acontecer no sítio, que já foi roubado sete vezes. Ergo o fone e escuto a musiquinha da chamada a cobrar. Deve ser coisa do sítio, imagino.

- Pai, me ajuda, pai...

- Hum?

- Me ajuda, pai, fui assaltado.

Passado o impacto inicial de ouvir a palavra pai, em voz chorosa, percebo, numa fração de segundo, que estou sendo vítima de uma tentativa de golpe por parte de vagabundos.

Apesar da chamada ter sido a cobrar, resolvo dar trela ao vagabundo, deixá-lo perder tempo comigo, até ouvir minha voz chamando-o de vagabundo e mandando-o ir trabalhar.

Pena, entretanto, que o vagabundo percebeu que eu não caí em seu golpe e desligou o telefone. Ainda por cima, mal educado.

Fico sentado alguns minutos ao lado do telefone, pensando na situação.

Estou certo que, naqueles momentos, o bandido está tentando aplicar o mesmo golpe em outra pessoa. Penso na dor, na preocupação, que outra pessoa pode estar sentindo. Enquanto penso, procuro por uma pastilha anti-ácida, pois entre o acordar e o momento em que identifiquei o crime, a descarga de adrenalina agiu e provocou uma acidez. Mesmo sabendo que não era meu filho, pela voz e pelo fato dele estar a milhares de quilômetros de distância, em Milão, o despertar, a incerteza e os momentos de angústia que a chamada provoca, e que foram aumentando enquanto tocava a musiquinha da chamada a cobrar, são o bastante para causar estragos.

Demorou para acontecer comigo, penso. Há meses espero, sem esperar, claro, por algo parecido. Felizmente, aconteceu numa noite em que não havia como ter dúvidas a respeito. Teria sido melhor que fosse uma tentativa de obter dinheiro para um resgate. Em minha cabeça o plano há muito estava traçado: conversar, ficar preocupado, chorar, implorar, negociar. Enquanto isso, tentaria ligar para a polícia pelo celular.

No meu planejamento, impecável, a polícia receberia informação preciosa, fosse de um local de encontro, fosse de uma conta para transferência de fundos. E, naturalmente, prenderia os vagabundos em flagrante.

Humpf...

É isso que dá assistir muito CSI isso e aquilo, Numbers, NCIS e congêneres. Vã ilusão, mesmo porque, se tudo funcionasse tão bem, tão roliudianamente, os bandidos estariam soltos em questão de dias ou semanas, com muita sorte em alguns meses, e aí a coisa ficaria muito pior, pois saberiam tudo sobre o denunciante que os levou à prisão, ou seja, eu mesmo. Viveria com uma espada de Dâmocles permanente sobre a cabeça. Seria, não duvido, o maior consumidor de pastilhas anti-ácidas da super-drogaria mais próxima de casa.

O vagabundo desligou, entretanto. Minha representação foi pífia, com certeza. Decididamente, eu e o teatro pouco temos em comum. Pensando bem – é, eu penso muito –, foi até melhor, pois já foi divulgado que há funcionários corruptos nas empresas telefônicas – ora, ora, ora, não diga! –, que vendem informações dos assinantes para a bandidagem. Vai que o vagabundo que me acordou resolvesse dar uma lição ao idiota – eu – que tentou enganá-lo?

Para um bandido, nada mais fácil que isso.

Aqui, nessa terra, em se bandidando tudo dá.

Azar o nosso.

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quinta-feira, setembro 20, 2007

Liberdade, informação e publicidade – Free NYT

Tão logo tive acesso à internet há muitos anos – nem lembro mais quando foi, aliás, alguém lembra se existia vida antes da internet? –, uma de minhas primeiras ações foi cadastrar-me e tornar-me assinante virtual do New York Times.

Desde então, todo dia abro minha caixa de entrada e lá está, presente e confiável como o meu exemplar diário do Estadão, o e-mail com o que NYT diz que está acontecendo de importante no mundo. Mesmo com as restrições de um acesso free, sempre foi uma preciosa fonte de informações, mesmo que meu índice de leitura não seja dos mais altos.

Foi emocionante receber um e-mail dizendo que o NYT inteiro, desde o número 1, estava disponível na net, bastando o trabalho de teclar meia dúzia ou menos de vezes e ler sobre o assassinato de Lincoln, o começo da I Grande Guerra, as matérias dos correspondentes nas frentes de batalha, e por aí afora. Desde então sonho com o dia em que terei todo o Estadão on line, desde os tempos de A Província de S.Paulo, ainda no Império.

Claro, recebi também gentil e-mail, propondo-me a assinatura on line do jornal, por meros US$ 49.95 por ano. Gentilmente, disse não. Mas fiquei chateado, não porque fosse perder alguma coisa, já que nada perdi e, mesmo com a assinatura, eu tinha mais acessos do que antes, mas porque gostaria de assinar pelo simples fato de assinar e colaborar com um órgão que reputo fundamental para a manutenção da liberdade e dos direitos civis. Enfim, como era um pequeno luxo não essencial, disse não, em linha com esses tempos de vacas anoréxicas, que um dia já foram magras.

Agora, leio com prazer a informação que o Times simplesmente aboliiu a assinatura paga e abriu o acesso a, praticamente, todo o jornal. Mais: o acesso gratuito cobre também todo o arquivo do jornal que é domínio público, desde 1851, exceto parte do material do período entre 1923 e 1986. Desde já tenho certeza que as restrições de acesso que ainda persistem não demorarão muito a cair.

Foi bonzinho o Times?

Não, simplesmente sua direção percebeu que o crescimento da publicidade virtual era muito grande e cobria a renda proveniente dessas assinaturas. Mais: boa parte dos leitores que acessavam o NYT faziam-no via Google, Yahoo e outros sites de busca. Agora, com a liberação, espera-se que boa parte dos leitores faça suas buscas diretamente pelo NYT, o que reforçará ainda mais a receita de publicidade.

Ah, a publicidade...

Em breve farei 53 anos. Com isso, estarei completando perto de 37 anos ligado à publicidade em diferentes formas. Orgulho-me disso, principalmente por ter claro na teoria e na prática, que é a publicidade que garante e estimula a imprensa livre. E não há democracia e dificilmente haverá pleno respeito aos direitos dos indivíduos perante essa coisa cada vez mais mastodôntica e ameaçadora que é o Estado, sem a imprensa livre, sem a multiplicidade de órgãos de informação, coisas que só a publicidade farta e abundante pode garantir. Publicidade é uma ferramenta requintada do business, do marketing, do capitalismo, sem dúvida, mas é, também, a mais sofisticada das ferramentas de garantia à liberdade de que dispomos. Sua contrapartida é o deserto tenebroso da “Voz do Brasil” e da tal televisão pública, tão ao gosto de gente como lulla da Silva, Zé Dirceu, Hugo Chávez e outros. Vade retro.

P.s.: meu acesso de hoje foi antecedido por uma mensagem dizendo que, nessa semana, o patrocínio é do cartão American Express; no rodapé, um link pode, se eu quiser, levar-me a algum site do AE; não quis, e segui minha leitura.


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quarta-feira, setembro 19, 2007

Mais do mesmo de sempre

Sabe aquele filme que foi sucesso no cinema há algumas décadas já?

E que a toda hora você vê mais e mais chamadas dele na televisão?

Ora na sessão da tarde (existe ainda?), ora na sessão noturna, ora na sessão das corujas, dos insones e dos porteiros com televisor portátil à mão.

E você pensa com seus botões: “Pombas, de novo? Não dá pra mudar isso?”


Mudar sempre é possível, até mesmo a programação dos filmes da tv, mas para mudar é preciso ter vontade de mudar.

Viu essa foto?

Ela mostra as Cataratas do Iguaçu nesse meio de setembro.



Viu essa foto?

Ela mostra um dos inúmeros parques nacionais assolados pelo fogo nesse meio de setembro e desde, pelo menos, meados de agosto.

Mostra, também, um flagrante da pobre, mas corajosa, tentativa de controle.

Todo ano é a mesma coisa: seca, cai o nível dos rios, cachoeiras secam (às vezes muito, como agora) e o fogo criminoso ou acidental se alastra por preciosos hectares de parques nacionais. Em muitos deles, em especial nos cerrados, o fogo provocado pela própria natureza é parte do processo de preservação do próprio ecossistema. O cerrado precisa do fogo, ocasionalmente, assim como muitos ecossistemas florestais em outras áreas do mundo. Uma coisa, porém, é o fogo do qual a própria natureza se encarrega, outra, bem diferente, é o fogo criminoso, provocado por mãos e desejos humanos.

Seja como for, combater as queimadas de áreas naturais é uma necessidade imperiosa para conservar e proteger, a natureza e o trabalho e moradias de pessoas. Mesmo os incêndios naturais precisam ser combatidos em algum momento, em algumas áreas, pelo menos.

É aqui, entretanto, que o bicho pega.

O combate ao fogo é exercido por brigadas de bombeiros e voluntários, tão corajosos e valorosos quanto mal equipados e mal treinados. Muitas vezes nem equipamentos há, e recorre-se à improvisação de abafadores com folhas de palmeiras. No lugar de máscaras, lenços no nariz. Roupas de proteção, então, só as que Hollywood ou os noticiários mostram, quando equipes dos primeiros mundos combatem os incêndios florestais no hemisfério norte.

Em nossos incêndios há um outro grande ausente: os aviões-bombeiros, tão comuns nos tais primeiros mundos. Há modelos desenvolvidos especificamente para essa finalidade. Já no final dos anos quarenta, os americanos improvisavam bombardeiros da II Guerra, desativados, para transportar e jogar água sobre os incêndios, principalmente no oeste e sudoeste americanos.

Mas aqui no Brasil não existe um só aparelho para combater incêndio. Em alguns parques, em alguns incêndios – e nem sei se é o caso de usar esse plural – que temos por aqui, vemos a presença solitária de um helicóptero transportando de mil a dois mil litros de água em bombonas improvisadas. Difícil até comentar, dada a precariedade de tudo, sem falar no custo elevadíssimo do transporte de cada um dos poucos litros de água que conseguem ser despejados sobre um foco de fogo.

Lembro-me que há alguns anos uma empresa canadense mandou um avião-bombeiro para demonstrações entre nós. Perda de tempo. Nossa proverbial e estúpida auto-suficiência descartou a compra do equipamento. Nem lembro direito dos motivos apresentados, lembro, sim, de minha indignação com o fato. Mas, sou brasileiro, nunca desisto. De ficar conformado.

E assim seguimos, ano após ano, seca depois de seca, incêndio atrás de incêndio.

Tico e Teço, meus dois neurônios semi-aposentados, mas ainda operacionais, sussurram-me que já escrevi post parecido em algum momento do passado não muito remoto. Ao mesmo tempo, sobrecarregando seus circuitos, dizem-me que falarei e escreverei a respeito no ano que vem ou no outro. Ah, mas como são malandros! Para fazer essa previsão não sobrecarregaram circuito nenhum, já que não há o que pensar e calcular.

Todos sabem, até meus dois neurônios meio malandros, que isso vai se repetir e repetir e repetir...



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quarta-feira, setembro 12, 2007

Arrependimento e Dúvida



Confesso que não quero pensar no passado.
Não quero pensar que perdi (ia escrever dediquei, mas mudei de idéia) 15 anos de minha vida e até minha família, embora essa eu tenha recuperado, militando feito um imbecil em nome de democracia, direitos civis, eleições diretas, anistia ampla, geral e irrestrita, e não sei o que mais.

Não quero pensar que fiz o que fiz para dar no que deu.

Sorte minha que arrependimento não mata.


Meu filho está na Europa, fazendo um "mochilão", como ele e os amigos disseram. Depois, virá a vida real, um casamento já no horizonte e...
E o que?

Não será melhor eu fazer meu papel de pai e ligar para ele dizendo para ficar por lá?

Como pai, tenho o direito de deixá-lo voltar para esse bananal infecto?

Estou em dúvida.


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Lamento, leitores, mas o blog Um Olhar Crônico não ficará nem um pouco surpreso se a próxima chapa situacionista para disputar a sucessão de lulla da Silva for essa:


Para a Presidência do bananal: Dona Marisa Letícia da Silva


Para Vice-Presidência do bananal: Senador Renan Calheiros


Será que demora muito conseguir a cidadania italiana da minha nona?

:o(


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O SENADO MORREU...

O senado estava vivo, mas podre.

Agora acabou de morrer.

Como não será sepultado, esse blog recomenda cuidado com o mau-cheiro.

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sábado, setembro 08, 2007

Pesadelo ou treinamento?


Primeiro foi um pesadelo e contei-o aqui. Sei lá porque, talvez para dividir com vocês, meia dúzia de amigos, a angústia de que fui tomado. Ou seja, vocês podem ser e são meus amigos, mas não podem dizer o mesmo a meu respeito em relação a vocês. Afinal, com amigos desse naipe, que dividem esse tipo de angústia, pra que inimigos, né?

Agora, persistindo na desconstrução dessa amizade (nunca usei essa palavra, fiquei com vontade, sei lá, talvez se encaixe bem...), vou dividir novamente aquela minha angústia, porém agora de uma forma mais pesada, dolorosa. Sim, porque ela cresceu, a maledeta angústia.


A angústia ampliada, ou quando o pesadelo parece ser a realidade

No começo muitas das gentes achavam, e eu também, que ela estava ali, o tempo todo, em todos os lugares, fazendo marcação homem a homem, ou, em seu caso, mulher a homem. Muitos e perigosos eram os riscos que a liberdade de ação traria: mulheres (diziam as lendas), más companhias (nessa marcação ela falhou ou então as más companhias não passavam dos companheiros do time), bebidas (é, diziam isso, que maldade...) e outras coisas igualmente ruins. Com o passar do tempo, todavia, e hoje mais que nunca, uma coisa me parece certa: desde o começo ela está em fase de treinamento e de familiarização, dela com todos e de todos com ela.

Reparem bem: os motoqueiros americanos vão a Brasília e lá está o trio: ele, a moto e ela. O desfile é em carro aberto pelas ruas da cidade, e lá está o trio: ele, o Rolls impecável e brega, e ela, em pé e acenando, ao invés de sentada e comportada como Jackye. Inauguração de mais uma pedra fundamental – sim, nessa república inaugura-se pedra fundamental – e lá está o trio: ele, a pedra e ela, sorridente e imutável, com o tailleurzinho (é assim que se escreve?) básico de regra, sempre compondo um triunvirato: ele, o factóide do momento e ela.

Ela, nossa trainee de candidata a presidenta da República, Dona Marisa Letícia.

Da Silva.


Post scriptum à guisa de explicação

O Conselho de Redação vetou a publicação de qualquer um dos inumeráveis trios republicanos, uma vez que há muito está decidido que esse blog é contra a candidatura Marisa Letícia, tal como é contra o governo (sic) lulla da Silva.


Post scriptum patriótico

Ontem foi 7 de setembro, Dia da Pátria. Foi noticiado e, naturalmente, desmentido, como de praxe ocorre com todas as verdades, que o “governo” faz pressão pela absolvição de Renan.

Essa, sem dúvida, foi a mais patriótica de todas as notícias sobre ou em torno do Dia da Pátria. Foi, também, a única noticia patriótica que o Editor desse blog achou digna de ser reproduzida.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Quase primavera


O tempo esquentou, já se percebe que as noites estão mais curtas e os ipês continuam em floração, assim como as patas-de-vaca ou bauínias. Algumas árvores já tem vegetação nova, folhas tenras, bem verdes, aparecendo em galhos nus. A primavera está próxima.

Os gramados bem cuidados das casas ricas e bonitas da Granja estão ressecados, tal como o capim seco e amarelado nos barrancos entregues ao deus-dará, mostram que ainda falta uma coisa muito importante para termos a primavera: chuvas. Enquanto elas não chegam tudo que resta é olhar para o céu, torcendo pelas nuvens negras e gordas, cheias de água. Bom, não olhamos mais para o céu que nos cobre, e sim para o desenho de céu chuvoso nas previsões da televisão e, principalmente, nas telinhas dos computadores.

E ontem à tarde o céu escureceu. E foi muito, nuvens cor de chumbo cobriram os céus da Granja Viana, se alongando no rumo de Carapicuíba, Alphaville, Barueri... E começaram os resmungos. Por muito tempo ouvi os resmungos roucos proferidos nas nuvens. Vez ou outra uma trovoada e logo voltava o resmungar contínuo. Como aquelas brigas em família, quando um dos contendores não se dá por vencido e fica ali, remoendo, resmungando, remoendo, resmungando... Sei bem como é isso.

Finalmente, depois de tanto teatro, tanta afinação, veio a chuva. Gotas grossas, pesadas, espaçadas, parecia uma chuva indecisa, talvez paenas uma nuvem cansada do peso despejando uma parte dele e guardando o resto. Mas foi boa, mesmo sendo meio curta. Baixou a poeira, trouxe o cheiro de terra molhada, grama molhada, árvores molhadas, cheiro bom, cheiro de vida. O ar ficou mais fresco, mais gostoso, mais animador. Já era tempo.

Day after...

Não cheguei a ver fotos ou noticiário de televisão e internet sobre a chuva. Ouvi menções ao granizo, “choveu gelo aqui em Carapicuíba”, mas não dei grande bola. Até ver a primeira página do jornal, mostrando nada menos que uma pá carregadeira cheia de gelo, no meio do gelo, limpando uma rua de Alphaville.

Fantástico!

Pá-carregadeira para tirar gelo das ruas?

Coisa de louco, rapaz.

Que que é isso?

E pus-me no meu canto, quieto, a pensar: será um efeito do aquecimento global?

Por que não?

Será que o roteirista de “The day after tomorrow” delirou ou pegou as idéias que movem o filme com os meteorologistas certos?

Ah, mas aquilo foi um filme.

Sim, um filme, mas o roteirista pesquisou, entrevistou, ouviu, pôs o roteiro em discussão com meteorologistas. Por mais ficcional que seja, há uma base científica por trás dos acontecimentos que, no filme, levam a uma nova e quase instantânea era do gelo.

Contudo, Day After à parte, a primavera está tentando chegar, tentando mostrar sua cara por inteiro. Falta pouco. Mesmo porque as amoreiras estão carregadas e o chão em volta de algumas está preto de tanta frutinha esmagada. E a passarinhada anda cantando forte e com gosto.

É, falta pouco, já, já é primavera.

Solta o Tim Maia, maestro!

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