terça-feira, fevereiro 27, 2007

Verdades convenientes e nem tanto


Al Gore disse que não é e não vai se candidatar ao governo dos Estados Unidos, pois está muito envolvido com a causa ambiental.

Sinceramente?


Não importa. Mesmo que ele mude de idéia e venha a ser candidato – coisa, por sinal, que seria extremamente justa –, sua dedicação à luta pelo ambiente rende frutos importantes e de longa duração, e a conquista do Oscar para o ducumentário An Inconvenient Truth (Uma Verdade Inconveniente) foi uma alavancada poderosa em sua luta.


Uma luta que precisa ser a mesma de todo cidadão desse planeta e que precisa de ações positivas e não de discursos ou ações tolas como dar nome a alguma obra, digamos, “Estádio da Sustentabilidade”.

Essa é a postura brasileira típica, nomeia-se alguma coisa em homenagem a alguém ou alguma causa e pronto, os braços se cruzam e ficamos esperando que as soluções dos problemas caiam do céu.

Uma mentira conveniente.



Uma torcida conveniente

Desde já torço pela Honda na Formula 1 2007.


Não só pelo fato do Rubinho ser um dos pilotos e por eu gostar dele, mas, sobretudo, pela fantástica postura social e de marketing da Honda, que abdicou dos patrocínios em seus carros e pintou-os com a imagem do planeta visto do espaço. Além de muito bonitos, abriram espaço nos corações de quem acredita que há solução para a Terra.


Se eu fosse trocar de carro hoje, com certeza e com prazer, meu próximo carro seria um Honda.





What can I do?

Visite esse site, vale a pena:

Take Action - www.climatecrisis.net/takeaction/

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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Água, Comida e Desemprego




Desemprego e gente empregada


O jornal dá a notícia em manchete, letras garrafais no caderno de economia, com chamada na capa da edição:

“Desemprego no mundo é recorde”

Em letras bem menores, um subtítulo:

São 195,2 milhões de pessoas sem emprego e setor de serviços já ocupa mais mão-de-obra que a agricultura

Serei sincero: a manchete chamou minha atenção, sem dúvida, mas o que me levou a ler a matéria e agora comenta-la aqui, foi o subtítulo, com a nota de menor importância dando ciência que menos gente trabalha na agricultura que na área de serviços.

Acredito que pela primeira vez na história da humanidade há mais pessoas prestando serviços que produzindo alimentos.

Esses números e os que virão a seguir são da OIT, acredito eu que insuspeita mesmo aos olhos mais radicais dos políticos de certos países. No ano de 2006 era de 2,9 bilhões o número de pessoas trabalhando nas indústrias, nos campos e nas lojas e outras empresas da vasta área de “serviços”.

2006 marca, também, o ano em que pela primeira vez mais pessoas moram nas cidades que nos campos em todo o planeta, mas a matéria só diz que o número, obviamente, é maior que 50%.

Do total de 2,9 bilhões de trabalhadores, o setor de serviços ocupa 40%, a agricultura 38,7% e a indústria 21,3% do total. Isso quer dizer, a grosso modo, que cada trabalhador na agricultura precisa produzir grãos, fibras, carnes, leite, ovos para si próprio e para pouco mais de cinco pessoas. Essa proporção cresce rapidamente, à medida que mais pessoas deixam os campos e migram para as cidades, deixam as duras tarefas agrícolas e vão em busca de melhores condições de trabalho, conforto e possibilidade de progresso. A vida no campo para quem é pequeno produtor é muito ingrata ainda nos dias de hoje. Não por maldade ou por culpa de supostos “terratenientes”, ou ainda do moderno “agronegócio”, mas simplesmente porque os mercados do mundo inteiro não dão valor aos alimentos. Comprar um minúsculo chip custa o equivalente a centenas de quilos de feijão ou muitas centenas de litros de leite. Tanto o inventor como os operários que pensaram e produziram a pecinha não sobrevivem mais que uma semana, em média, sem o arroz com feijão, bife, ovo e salada de todo dia. E em boa quantidade, pois, em caso contrário, não terão neurônios suficientes para pensar em nada mais que pedir comida. Ou, não muito fracos, lutar por ela.

E ninguém poderá comer chips. Por mais revolucionários e poderosos que sejam, sua complexidade não chega aos pés de um simples grão de arroz ou feijão. E não há como digerir os negocinhos, diga-se de passagem.



Não é só a produção de comida...


... que está ameaçada. Com poucos dias de diferença o jornal informou que, segundo a também insuspeita FAO, em 20 anos ou menos cerca de 60% da população mundial terá problemas com a escassez de água.

A FAO calcula que até 2025 pelo menos 1,8 bilhão de pessoas viverão em países ou regiões com “drásticos” problemas de acesso à água.

Já nesse 2007 começado há pouco, mais de 1 bilhão de pessoas já tem problemas com falta de água potável para suas necessidades diárias. Em algumas regiões do planeta, agricultores já entram em severas disputas por fontes de água. Cabe dizer que esse problema já existe em algumas regiões agrícolas do Brasil, e seu número e abrangência cresce ano a ano.

Completando esse quadro, nada menos que 2,6 bilhões de pessoas não têm instalações aceitáveis de saneamento. Isso reflete pesadamente sobre a água existente, contaminando-a e tornando-a imprestável para consumo humano e animal.

Esses números são assustadores e estão casados com outros que apontam para o aumento da pobreza, apesar dos anos seguidos de crescimento econômico que atravessou o planeta.

A Terra de Vera Cruz tem terras agricultáveis abundantes e, ainda, muita água. Todavia, não tem projeto, plano, idéia, nem mesmo um grupo de estudos ou uma comissão inter-ministerial para pensar e cuidar dessas coisas. Avançamos pelo mundo como um cego sem bengala, sem cão-guia e surdo, ainda por cima, atravessando uma larga avenida paulistana na hora do rush, mas com o trânsito em movimento. O risco de atropelamento fatal é grande, quase total.

Ah, sim, com tudo isso o jornal destacou o desemprego.

Questão de perspectiva.

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segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Tempestade!




A segunda-feira de Carnaval recém-começara quando a chuva chegou, violenta como poucas vezes vi antes. Era de se esperar, pois o calor, a umidade e a pressão barométrica estavam por demais da conta. É interessante como essa combinação de fatores provoca dores de cabeça reais, não figuradas. Cefaléias, de fato. Tanto ontem como anteontem minha cabeça já sinalizara para isso, sinalização devidamente afogada em comprimidos de Neosaldina, santo remédio para essas e outras horas.

O que assusta nas grandes tempestades é o vento. Ao redor da casa as árvores literalmente dançavam ao seu sabor e humor. Meu pensamento primeiro foi para os bezerros e depois para as vacas, mas aquietei-me, eles convivem com isso há centenas de milhares de anos. Mesmo assim, a vontade de sair e ver como estão é grande, mas resisto.

Os cachorros e os gatos correram a se esconder. A Manchinha foi a última, pois procurou abrigo na porta da cozinha, justamente para onde o vento dirigiu catadupas d’água, apesar da proteção da varanda. A bichinha, até outro dia uma “sem-teto” ou “sem-tudo”, deve ter indagado aos céus o porque de tudo aquilo. Curiosamente, vários sapos ocuparam a varanda da cozinha. Temos aqui sapos para todos os gostos, de todos os tamanhos. São ignorados, temidos ou respeitados pelos carnívoros de plantão.

Ruídos típicos tiraram-me da cama: goteiras, muitas, uma delas uma verdadeira torneira, justamente embaixo da antena da internet. Já vi tudo: a rapaziada, em seu passeio teto acima, deve ter quebrado ou deslocado um monte de telhas. Que ótimo, começamos bem.

Antes de deitar, previdente, desliguei os equipamentos eletrônicos das tomadas. Seguro morreu de velho, e fiz bem, pois, aparentemente, caíram vários raios por perto. Essa é outra característica interessante de Santa Rita do Passa Quatro: raios em profusão. Na verdade, segundo o INPE, essa é uma das regiões com maior incidência de raios no Brasil.

Tempestades como essa não nos são desconhecidas, sempre existiram. Todavia, a impressão que temos e confirmada pelos estudos meteorológicos, é que elas estão acontecendo com maior frequência. O que era um evento lembrado por alguns anos, agora se sucede a cada estação. Tudo indica que por conta do aquecimento global. Em meus planos para os próximos anos, estou considerando secas mais prolongadas e chuvas mal distribuídas e mais violentas. Tudo isso implica em mais despesas, em gastos muitos maiores com a conservação do solo e produção de alimentos de reserva para o gado. Paradoxalmente, ao mesmo tempo, os preços dos produtos agrícolas – sem os quais ninguém sobrevive por aqui, inclusive o Bill Gates e o Steve Jobb – caem a níveis insustentáveis, só permitindo a sobrevivência de grandes produtores, capazes de ganhar e investir graças aos ganhos de escala.

Como dizia uma campanha de assinaturas do Estadão, o mundo está ficando mais complicado. E bota complicado nisso.

Apesar da curta duração, tempestades como essa provocam danos de monta. Agora, o melhor é dormir, aproveitando a refrescada no tempo, para logo cedo proceder ao levantamento e estimativa de danos.

E pisar com cuidado para não enfiar o pé numa poça-d’água a caminho da cama.


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domingo, fevereiro 18, 2007

Macaúbas on Line - Carnaval 2007





Já falta chuva

Domingo de Carnaval, para nós é como outro qualquer.

A última chuva caiu no domingo anterior, portanto estamos no sétimo dia sem chuva. Dias quentes de sol forte, inclemente, tudo fica seco muito depressa, e hoje, ontem, anteontem, já precisamos de chuva. Começo a ficar com medo de ter muita gente pedindo pra chuva parar. Vai que alguém influente ouve e...



Manchinha

Nossa nova moradora permanente é engraçadinha, simpática, afetuosa e desde o começo muito ligada a todos nós. Começa a ficar confiada bem depressa, uma característica nossa, impossível de ser evitada; é assim que somos.

Por algum motivo que desconheço ela gosta de entrar na vasilha de água para beber. Lá fora, numa das muitas vasilhas usadas por galinhas, cachorros, gatos e à noite pelos sapos, isso não causa grandes problemas. Porém, dentro de casa complica, pois ela entra na vasilha com leite e como ela é menor que as de água, vira a vasilha e suja tudo.

Essa mania, aliás, rendeu-lhe belo castigo ontem. Ela entrou no cocho de água que fica embaixo da cerca do bezerreiro de baixo, ao lado do corredor de passagem das vacas que estão no leite. Estava lá, satisfeita, quando levantou-se mais do que devia e encostou no arame da cerca. Eletrificado. Coitada... Deu um baita pulo e saiu ganindo. A água intensifica o choque, para azar dela. Mas, para sua sorte, o choque da cerca elétrica é apenas um pulso e não oferece risco, mesmo dentro d’água. Pelo menos ali acho que ela não tornará a entrar. O aprendizado pode ser um processo doloroso.

Ontem ela cruzou com o Stanley duas vezes. Ele, claro, não desgruda dela, passa o dia inteiro ao seu lado, pra cima e pra baixo. Isso significa mais uma despesa com veterinário, mas, como dizia um filósofo, faz parte. Logo depois do Carnaval ela vai pra clínica para ser operada, junto com algumas gatinhas.



Internet

É muito bom ter internet no sítio. Na prática, isso significa que já podemos nos mudar para cá em definitivo, basta vender a casa da Granja Viana.

Mais uma etapa em nossas vidas.

Mudar é uma coisa boa, estimulante, com seus desafios e novos conhecimentos e hábitos. Deixar para trás toda uma vida urbana, povoada por sonhos rurais, e encarar a realidade, o dia-a-dia do sítio, sem a perspectiva de voltar “para casa” na segunda ou na terça-feira, será diferente e verdadeiramente novo.

Só falta vender a casa...



Sete!

Diz o povo que sete é conta de mentiroso, mas pela sétima vez, pela sétima safra, meus preciosos pequis foram roubados!

Há apenas vinte dias estavam na árvore, bonitos, e eu babando por eles, não para comer, mas para tirar as sementes e formar o máximo de mudas que fosse possível.

Humpf...

Pra variar, uma vez mais, algum vagabundo parou na beirada do asfalto, passou pela cerca e arrancou os frutos, e com eles galhos inteiros. Esse é o último pequiseiro nativo num raio de alguns quilômetros; eram abundantes antigamente, tanto que eram queimados e cortados, para não atrapalhar a formação de pomares, pastos e canaviais. Desde meu primeiro ano aqui venho sonhando em formar mudas e plantar novas árvores...

Continuarei só com a vontade.



Será?

O céu sobre nossas cabeças – sem o risco de cair sobre elas, apesar do que pensavam os gauleses – está estrelado, mas a leste e sul as nuvens escondem as estrelas. Em intervalos curtos grandes clarões iluminam as nuvens, gerados por descargas elétricas em grandes altitudes. Ocasionalmente, uma trovoada se faz ouvir. Fica a esperança da chuva chegar pela madrugada, chegada sempre bem-vinda. O barulho da água no telhado, logo seguido pelo frescor que pede por um lençol. Tomara que chova, afinal, é Carnaval, e não lembro de Carnaval sem chuva.

Vou dormir com a velha marchinha na cabeça:

“Tomara que chova, três dias sem parar...”


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sábado, fevereiro 17, 2007

Macaúbas on Line


Sob o olhar curioso dos gatos e dos cachorros conecto pela primeira vez diretamente do Sítio das Macaúbas.

Tá quente pra burro, as vacas estão nas sombras, os bezerros dormem, a passarinhada tá meio aquietada também.

E a internet funciona aqui pela primeira vez.

Aleluia!

O melhor de dois mundos: sertão hightech.
Recomendo.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Vai piorar...


Tempos atrás, logo antes do Natal, queixei-me nessa telinha que não andava muito inspirado para escrever por causa do assassinato bárbaro da família de Bragança Paulista, queimada viva dentro de um carro. O menino de 5 anos ainda foi tirado do inferno do fogo com vida, por uma moça amiga de seus pais e que estava também no carro. Em vão; ambos, o menino e sua salvadora, sobreviveram mais alguns dias e morreram.

Depois foi a vez de um ônibus no Rio de Janeiro, incendiado com mais de vinte pessoas dentro, das quais sete morreram.

Agora foi outro crime para o qual, assim como para esses anteriores, fica difícil encontrar adjetivos. Falo da morte do menino João Helio, no Rio de Janeiro, também, arrastado fora do carro, preso ao cinto de segurança, por nada menos que sete quilômetros por quatro diferentes bairros cariocas.

Como ser humano relativamente normal, a única coisa que desejo para todos os culpados é o linchamento pelos mesmos métodos que empregaram para matar e desgraçar para sempre a vida de muitas famílias.

Claro, meu desejo é selvagem e tão bárbaro quanto os atos dos assassinos. É o que dizem a moral e o direito, ou melhor, a “ciência do Direito”, como fui corrigido nesses dias por uma blogueira.

É, não deixa de ser correto, e bem sei que, com tais desejos, estou entrando no reino da barbárie, respondendo da mesma forma.

Bom...

Está certo, sejamos civilizados.

E daí?

Se a coisa que atende pelo nome de Congresso Nacional votar e aprovar a lei que endurece o tratamento penal aos autores de crimes hediondos for aprovada, os indivíduos que os perpetram “só” poderão receber o benefício da prisão semi-aberta – e outros – depois de cumprirem módicos 40% da pena.

40%!

Esse é o valor da vida humana no Brasil.

Uma pechincha. Poucas liquidações vendem seus produtos encalhados tão barato assim.

Pior ainda: na prática, na vida real, sabemos que nem mesmo esses 40% serão cumpridos pelos assassinos. E mais: viverão à larga nas prisões, mandando e desmandando, falando aos celulares, consumindo suas drogas prediletas, recebendo visitas “íntimas”. E nem por sonho irão para celas individuais, sem contato com outros assassinos. A legislação penal brasileira considera isso desumano e estabelece prazos máximos para manter os assassinos em tais celas, por sinal existentes em apenas dois presídios em todo o país.

Esse é um lado da questão.

O outro lado é mais triste. E ainda mais preocupante.

Há alguns anos, coisa de três ou quatro, um pesquisador americano encontrou uma causa interessante para o declínio da criminalidade nos Estados Unidos: a aprovação, no início dos anos 80, da liberalização do aborto. A relação, uma vez conhecidos os fatos e colocados lado a lado, é óbvia: liberado o aborto, houve uma redução no nascimento de crianças sem famílias ou em famílias de baixa renda, que não teriam condições de proporcionar a elas ambiente saudável e educação razoável.

Falar esse tipo de coisa pega mal na Terra de Vera Cruz. Quem fala isso já é associado com a “direita”, palavra no Brasil associada a tudo de ruim que o ser humano já criou, enquanto sua contrapartida, a “esquerda”, é a responsável por tudo de bom criado pela humanidade. A “direita” é a personificação do mal.

A “esquerda” e seu braço útil, a igreja católica tupiniquim – pronto, isso já basta para caracterizer-me como um radical de extrema-direita –, têm boa parte, para não dizer toda, da responsabilidade pelo quadro que vivemos hoje: crianças nascem aos montes, paridas por meninas de treze, quatorze, quinze anos, que depois do primeiro parto engatam mais um, dois, três...

Milhões de crianças vêm ao mundo sem lar e sem família, sem acesso a uma educação que seja no mínimo razoável. Isso quando têm acesso a alguma educação.

Não tenho dados à mão, mas sabe-se que a capacidade intelectual, o famoso QI, anda muito em baixa junto aos extratos mais pobres da sociedade. Inteligência e capacidade de aprendizado estão intimamente ligados ao consumo de proteínas e outros nutrientes desde a gravidez, associados, depois do nascimento, a ambientes saudáveis e estimulantes. O que vemos hoje é um círculo vicioso: crianças já deficientes nesse ponto trazendo ao mundo outras iguais ou piores.

Isso é triste, mas não é falso. Boa parte dos jovens e já não tão jovens de hoje são semi-alfabetizados. São, como disse um educador que não recordo, analfabetos funcionais. E o mundo, hoje e cada vez mais, só tem trabalho para pessoas capazes de ler e entender e aprender como lidar com máquinas mais e mais sofisticadas, com softwares que dominam nossas vidas minuto por minuto. Para trabalhar, é preciso mais que mãos e pés, é preciso uma cabeça com um mínimo de condições e conhecimentos acumulados.

Nossa população está crescendo no rumo oposto.

Que futuro está reservado a esses muitos milhões de bebês, crianças e jovens?

Tenho medo de pensar a respeito.

Enquanto isso, a única coisa “real e prática” que a sociedade consegue fazer é dar o nome do menino assassinado nas ruas cariocas a um estádio de futebol.


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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

“Eu > Deus”



A princípio fiquei curioso com o lançamento do livro, mais devido ao autor, confesso, cujos textos costumo ler diariamente, além de assisti-lo pela tevê em programas sobre futebol. Mas... Sei lá, o título me deixou por muito tempo com a pulga atrás da orelha e mantendo distância. Eu sei que é chato à bessa, e também à beça, escrever esse tipo de coisa, mas, que diabos, ou a gente escreve o que pensa e sente, com um mínimo de educação, ou nada escreve, né? E o título, não sei porque, me fazia pensar em um romance existencialista, ou alguma coisa com cheiro e gosto de Kierkegaard e, francamente, tudo isso é ilógico, sem nexo, divagações da minha cabeça a partir de um título.


Até que tive sorte e achei uma boa sinopse na internet, por sinal, num blog, a nova mídia desse começo de século. E fiquei cativado pelo que li, saindo à procura do romance “Eu > Deus”, do Sidney Garambone (Ed. Record, 288 páginas, lançado em 2006, R$ 37,90).

Comprei-o num sábado, começo de tarde preguiçosa. Voltei pra casa, olhei o gramado precisando ser roçado, olhei pro sol, senti o calor, olhei pro livro... e deixei a grama pro final do dia esticado de verão, quando a temperatura estaria mais civilizada.

Pois é... Jacaré cortou? Nem eu. A grama ficou lá, esperando a roçadeira, e eu fiquei deitado no sofazão, tevê desligada, computador hibernando, devorando página após página do livro. Já no domingo, com a ajuda preciosa de umas pancadas de chuva, cheguei ao final, satisfeito e insatisfeito, o que acontece sempre que gosto do livro. Satisfeito por terminar a leitura, conhecer o destino de personagens que me cativaram ou por quem tomei antipatia, e insatisfeito por ficar na boca o gosto de “quero mais”.

Um grupo de amigos, basicamente dois homens e quatro mulheres, reúne-se nas noites de terça-feira num apartamento do Botafogo. Um deles apresenta três filmes, geralmente clássicos do cinema, uma votação decide qual assistir e, terminada a sessão, conversas e discussões que começam pelo filme e tomam novos rumos a cada terça. Como é natural, ainda mais num grupo de solteiros e neo-solteiros em idade e tempo de deixar de sê-lo, envolvimentos encontram excelente ambiente para nascer e prosperar. E definhar, ou não.

É fácil nos transportarmos para as sessões de cinema, com um nome todo próprio, mas que não contarei aqui. Os personagens são pessoas, parecem conhecidos e conhecidas, amigos e amigas, algumas até mais que amigas em tempos remotos. Essa aparente simplicidade e jeito de algo rotineiro é enganadora. Inevitavelmente, o desenrolar das sessões, conversas, olhares, insinuações, paixões, falsas ou verdadeiras, segue uma curva ascendente, como aqueles gráficos dos lucros dos bancos tupiniquins, alimentada e aumentada pelos textos que o narrador escreve madrugada adentro, logo depois de cada encontro e que, movido por sentimentos conflitantes acaba por distribuir a todos os participantes do grupo pela internet.


E a gente, ou eu, pelo menos, acaba se identificando com alguns comportamentos, algumas situações. Surpreso, e feliz, descubro que gritar dentro do carro fechado, em movimento, não é loucura exclusiva desse escriba. E algumas outras coisas, como o caso das... Deixa pra lá, que cada um descubra suas próprias identidades e afinidades.


A cada texto a sessão do dia está ali, meio transcrita, meio inventada, meio recriada. Como o narrador é um escritor, fica claro que ali está o embrião ou o próprio próximo livro dele. E também fica claro que isso acontece porque a internet existe, já que é difícil imaginar alguém datilografando e depois copiando em xérox ou mimeógrafo (para os mais novos: deve ter alguma no google sobre esse negócio chamado mimeógrafo, equipamento de fundamental importância na resistência aos regimes ditatoriais) o texto com várias páginas para distribuir, toda semana, entre várias pessoas. “Eu > Deus” é uma obra dos tempos da internet, e não me refiro à data de publicação.

Se eu fosse um crítico literário escreveria mais e melhor. Se eu fosse um cronista mais inspirado escreveria mais, ou menos, porém com mais graça e inspiração. Diria dos momentos diversos em que a leitura me pôs pensativo. E falaria, claro, das conversas sobre os filmes, imperdíveis, como diria antigo ministro de não saudosa memória. Mas, não importa, creio que disse o fundamental: é um livro bom e, tão importante quanto isto, muito gostoso de ler.

Opa, já estava esquecendo! Tenho, sim, uma crítica a fazer: ninguém do grupo levou um filme sequer do Eisenstein. Se eu participasse, teria levado na minha vez “Aleksandr Nevsky” e, junto com o DVD, um CD com a cantata de Prokofiev para o filme.

Talvez perdesse o direito às pipocas e ao vinho, mas teria levado.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Conversando sobre árvores e carbono

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- Bom, estava pensando sobre o sítio, o aquecimento global e o que podemos fazer... Venho pensando muito nisso, ultimamente.

- Também não é pra menos, né? Não dá pra pensar em outra coisa de tanto que se fala sobre isso.

- É...

- E o que você andou pensando?

- Bom, vou reformar os pastos de braquiária, plantar tifton e tanzânia neles. São capins que produzem muita massa verde em boa parte do ano e quanto mais massa verde produzida, mais carbono seqüestrado à atmosfera.

- Mas só plantar capim resolve? E por que não plantar árvores?

- Ué, e quem disse que não vou plantar árvores? Minha idéia é plantar uns 200 a 300 pés de eucaliptos em diversas faixas. Além deles, mais umas 200 árvores diferentes, agora todas nativas, e de preferência da nossa região mesmo. Imagino plantar umas 500 árvores pelo menos.

- Por que não planta tudo eucalipto? Não é melhor?

- É bom, mas eu quero plantar essências nativas no meio do pasto para sombrear e o gado ter mais conforto. Nesse caso, penso principalmente em leguminosas, porque elas retiram nitrogênio do ar e fixam-no ao solo, na forma de nitrato, que é

aproveitado pelas outras plantas, no nosso caso os capins. E, com isso, economizamos uns bons quilos de adubos nitrogenados, a maioria deles à base de petróleo e caros pra burro.

- Legal isso. Eu não sabia que essas árvores tiravam o nitrogênio do ar.

- Na verdade não são as árvores e sim bactérias, principalmente do gênero Rhyzobium, que vivem em simbiose das plantas da família das leguminosas. É o caso da soja e do feijão, por exemplo, e de árvores enormes como a copaíba e a sibipiruna, entre algumas dezenas. Mas não vou plantar só leguminosas, precisa diversificar e ter árvores que sirvam à fauna, também, que produzam frutas diversas.

- Essas 500 já incluem as que já foram plantadas? E quando começam os plantios?

- As já plantadas são passado, não contam mais, já estão por lá fazendo seu papel. As 500 serão novas, e vamos começar já, com as mudas que peguei sábado no Michelin: 2 nogueiras-pecã, 2 castanheiras-portuguesas, 2 pés de jambo, e 1de uvaia, cajá-manga, lichia e abio. Vão ficar faltando só 490. Mas vai demorar pra plantar todas. E os eucaliptos vão ficar pra outubro, nas outras águas. Essas já estão perto do fim e o dinheiro também.

- Se o dinheiro já está curto porque você não vende créditos de carbono na Europa?

- Hahahahahahahahaa... Tá ficando esperta, hein? Até que seria uma boa idéia, aí daria ate pra plantar mais algumas árvores. Mas esse negócio é complicado, e no fim acaba sendo exclusivo de ongs e grandes empresas formadas só pra isso. E, além disso, eu não vou querer ninguém, europeu ou não, metendo o bedelho no sítio.

- E esse negócio de plantar árvore pra tirar carbono do ar funciona?

- Funciona. Pensa bem, o que é uma planta? Do que ela é formada? Em sua maior parte por carbono, todo ele tirado do ar e, graças à fotossíntese, na presença da luz solar, ele é transformado e constitui a maior parte de todos os seres vivos do planeta. As plantas são, com certeza, o maior milagre, a grande dádiva da natureza para nós. Elas transformam elementos inertes, gasosos e minerais, em matéria orgânica, em matéria viva da qual nos alimentamos todos, dos fungos decompositores às baleias-azuis.

- Então, plantar árvores vai salvar o planeta?


- Sim. E não. Vai ajudar muito, mas só plantar árvores nada resolve, se não for acompanhado por outras medidas, todas aquelas que o Protocolo de Kyoto preconizou. De uma forma ou de outra, por bem ou por mal, todos teremos de mudar nossos modos de vida nesse planeta.

Mas por agora já deu, tô pregado. Falamos mais depois.


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domingo, fevereiro 04, 2007

Pane!



Calma, gente, calma, não é no clima...
Ainda.

É só no meu computador e já foi parcialmente sanada.
O problema é que a cura foi daquelas que mata a doença e o paciente fica moribundo. Ele foi formatado e, no processo, meu precioso outlook com milhares de e-mails, lembranças preciosas, lembranças valiosas, lembranças comerciais, foi pra caixa-prego.

Com ele foi também meu Catálogo de Endereços.

Nessa semana sequer consegui comunicar-me com dois fornecedores! Um caos.

Enfim, paciência, o leite já caiu, já se espalhou, já se infiltrou... Agora é tentar corrigir, e é esse o motivo desse post.

Com muitos de vocês eu trocava e-mails, regular ou ocasionalmente.

Gostaria que essas pessoas, inclusive amigos próximos, vizinhos de sítio (Raquel, César, Monika, Miro...), amigos distantes ns oropas, franças, bahias e states da vida enviassem um e-mail para esse endereço:

emersonsrpq@gmail.com

Se possível, e não for pedir muito, com telefones e skype também. :o)

'Brigadão e bom final de domingo.



Emerson

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