domingo, novembro 18, 2012



Domingão de manhã no Sítio das Macaúbas

O Sol está alto, quase 10 horas, embora os relógios apontem quase 9 horas. É o horário do Estado. Estou correndo o risco de virar anarquista depois de velho, é só o que falta.
O dia começou antes das seis, como de hábito, depois de uma noite excelente de muita prosa e comida boa na casa do Rubens, Dedé, Renato e Luíza, no Sítio dos Pomares, onde mora um bando de vaquinhas Jersey, como aqui. Quando entrei no carro para vir embora, o susto: quase meia-noite. Depois de alguns quilômetros, fechar a porteira, olhar o tanque de refrigeração e passar os olhos nas bezerras, meio de longe pra não sujar o sapato, entrei em casa meia-noite passada. Até vir o sono... Mas valeu muito a pena.
Descobri ontem, pelo Rubens, que o nosso fornecedor de sal mineral e outros produtos essenciais à atividade galactopoética (termo que aprendi em antiga crônica do amigo Eduardo Almeida Reis, ex-emérito produtor de leite e hoje, como sempre, grande e emérito produtor de textos e livros), que vem a ser a produção do leite pela vaca, é também criador de carneiros, dos quais vende kits prontos para churrasco, com ou sem tempero, com pedaços diversos a dedo escolhidos. Ontem comemos do carneiro temperado, na verdade borrego, pois carneiro tem carne dura, e fiquei fã de bate-pronto. Mais um item a ser acrescentado à lista de compras do mês.
Ao atento – e desconfiado – leitor que já correu ao dicionário: também é usado galactopoiética, mas por uma questão de prosa poética eu redundantemente fico com o primeiro, que combina melhor.
O caminhão do leite já veio, pegou a produção de dois dias e se foi. Agora o marmitão aqui vai preparar água e detergente para lavar o componente fundamental para a qualidade do leite: o tanque de expansão ou de refrigeração do leite.
A água está esquentando para a lavagem. Espero chegar a 85 graus centigrados, pois até chegar ao tanque e jogá-la na parede interna e no piso, a temperatura já caiu para a faixa ideal, de 70 a 75 graus. Nessa faixa, a gordura grudada no aço é retirada. Abaixo disso a gordura não sai, acima disso ela “plastifica”. Claro que a água já vai com o detergente alcalino-clorado, essencial para a higienização do tanque.
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Shit happens...
Parei e fui lavar o tanque. Ao pegar a vasilha do fogão, pela primeira vez caiu um mundo d’água quente, felizmente só em minhas mãos, sem pegar as coxas e os pés, já protegidos pela bota de cano alto, dinamarquesa, chique à bessa (ou à beça, como quer a Academia), que eu já calçava. Imediatamente, sem me preocupar com a água e a vasilha em que foi esquentada já tombada no chão, coloquei as mãos embaixo  de água escorrendo da torneira da pia e ali fiquei uns cinco minutos e sei lá quantos litros d’água. Foi muito bom! Minhas mãos estão ótimas, sem queimaduras, sem bolhas. Devo essa ao Dr. Drausio Varella e ao “Fantástico”, que mostrou uma matéria sobre queimaduras e seus primeiros socorros com o Dr. Dráusio. Valeu, doutor, obrigado.
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Ok, de volta ao texto, agora com o Sol bem mais alto, bem mais quente, o dia brilhante, ventinho moderado, gostoso, do tipo que não causa prejuízo e nem resseca o solo. Um bom dia, sem dúvida, digno de ser apreciado, o que parece estar sendo feito pela passarinhada.
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Mais uma parada no texto. Uma gralha gritou, foi o alerta para levantar-me e ir à caça dos ovos já botados. Gralhas, seriemas e teiús, os grandes lagartões carijós, são sócios na produção de ovos. Nós entramos com as galinhas e o milho, eles entram com bicos e bocas para comer os ovos. Não deixa de ser divertido ver uma seriema correndo desajeitada com um ovo no bico. Divertido, mas não deixa de ser um prejuízo.
Assim vai seguindo o domingão, dia de futebol, o que vai obrigar-me a correr com as tarefas da tarde, inclusive as mamadeiras das bezerras, para poder ver o jogo e terminar o serviço depois do apito final do juiz, lavando os equipamentos depois das sete horas da tarde, no horário besta do Estado.
Bom domingo.