quinta-feira, junho 29, 2006

Foto


Calma, não é um ataque narcisista, até porque a Serena é muio mais bonita.

Mas a "administração" dos blogs pede uma foto com URL, logo...

Barbatimão


Há meses minha mãe vem sendo incomodada por uma ferida no pé que não fecha.

Vai num médico e vai no outro, passa uma pomada daqui, outra dali, e bota gase, e tira a gase, e a ferida ali, impávida frente ao ataque da medicina moderna.

Aí, alguém diz pra ela que chá de casca de barbatimão é tiro e queda. Coincidentemente, no fórum sobre cavalos e equitação circula a mesma informação e o pedido de gente querendo a casca da árvore pra fazer chá e aplicar nos cavalos, pois, segundo relatos confiáveis é tiro e queda.

Bom, barbatimão não falta no sítio, como esse da foto.



São até um problema, na verdade, pois seus frutos – grandes vagens duras – são tóxicos para o gado e os danados são as únicas árvores do pasto das vacas no leite e também, justamente esse da foto, sombreia o bezerreiro. Isso quer dizer que quando as vagens começarem a cair, teremos de recolher todas e tirar do pasto e do piquete.

A Rosa cortou pedaços da casca grossa e dura dessa árvore mesma. E com poucos dias de pé banhado no chá, a ferida secou. Muito bom.

Dizem, também, que esse chá, aí como chá mesmo, para beber, é cicatrizante de respeito para úlceras. Só que o trem é ruim que dói. E, digo eu, se é tóxico para o gado, pode sê-lo também para humanos. Tem que se tomar cuidado.

Mas a ferida no pé da minha mãe está seca e quase boa.


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Acabrunhado... E sem fotos


Estava ainda agora com o picasa aberto, olhando as fotos que fiz nesse final de semana, no sítio. Claro, fui pra festa junina sem a câmera, mas nada adiantaria tê-la levado, pois as fotos precisariam do flash e ela, por motivo que desconheço, está escurecendo as fotos com flash, nada se aproveita.

No sítio, o gosto em fotografar entrou em recesso, por culpa da seca. Fiz umas fotos bem meia-boca, mas só dos animais, e não deixam de ser repetitivas.

Só pra não dize que não postei uma foto, escolhi esta.



A previsão do tempo dizia que teríamos 30 mm de chuva nessa semana. Jacaré teve? Nem nós.

Tudo continua seco e o medo de faltar toda e qualquer comida para as vacas só aumenta. Surgiu a possibilidade de alugar uma área próxima e estou pensando a respeito. O custo não é alto, tampouco baixo, mas tem o problema de deixar os animais – parte deles – longe do sítio, além do transporte e das visitas periódicas para colocar sal mineral, examinar os animais, vacinar, etc.


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Festa na roça



Foi a noite mais longa do ano, de verdade. O sol foi embora cedo para voltar tarde no outro dia. Um dia de céu azul, limpo, sem nuvens, sem promessas de chuva. Mas na véspera uma garoa já deixara todos entre mais animados com nada e menos desanimados com tudo. E a previsão prometia um pouco de chuva para a semana que entrava. Não que fosse resolver alguma coisa, nessa altura, mas é sempre algum bem, e isso é melhor que o muito mal permanente da seca prematura.

A pilha de lenha para a fogueira era bonita, formato clássico, piramidal. Uma forma que nos remete ao começo dos tempos em várias partes do mundo. Fogo e pirâmide, a base larga dando estabilidade à estrutura que cresce rumo ao céu. O fogo começou tímido, mas a madeira seca respondeu com rapidez. Em minutos, a fogueira deixava para baixo os dois metros de lenha e projetava suas labaredas até perto de cinco metros de altura. Era fácil de calcular, pois as chamas eram maiores que a pirâmide de madeira original. O fogo fascina, e aquele estava mesmo fascinante, atraente, quebrando o frio da noite caipira.

O povo foi chegando e se achegando. A chaleira cheia de quentão já passava pelas rodinhas, os copos finos sendo seguros com cuidado para não pelar as mãos. Há quem não goste de beber quentão, mas não conheço ninguém que não goste de seu perfume. E aquele estava muito perfumado, além de gostoso. Cravo, canela, açúcar queimado e o gengibre de lei, mais a pinga boa e honesta do alambique próprio dos donos do sítio. Quentão e fogueira é combinação de calorão brabo, não há frio que resista à dupla.

O povo da roça é meio arredio a muita conversa, dizem nas cidades. Não é bem assim, mas muita gente desse povo gosta mesmo do silêncio ensimesmado, pensativo. E alguns pensam mesmo, de verdade. O calor combinado da bebida e do fogo, contudo, destrava as línguas. Daí às gargalhadas o caminho é curto, quase nem há caminho. E mais a pipoca, o amendoim, as paçocas de variadas caras e gostos, o pé-de-moleque e, modernismo urbano, o sanduíche de salsicha, para ajudar na alegria. Palavras, risos e gargalhadas já corriam soltas e rivalizavam com o crepitar do fogo.

No palco dentro do galpão das máquinas do sítio, o conjunto terminou a afinação dos instrumentos, porém não chegou a tocar: era chegada a hora de rezar o terço. Todos pra fora, todos pra baixo dos olhares protetores de São João, São Pedro e Santo Antonio, os santos colocados no alto do mastro, uma outra santíssima trindade, velando pelo sítio e suas pessoas e bichos e plantas.

E assim foi: uma curta procissão atravessou os poucos metros que separavam o galpão do mastro dos santos e, perto deste, a fogueira em seu auge. Os barulhos alegres cessaram e a noite estava de novo silenciosa, pois o crepitar do fogo e o cricrilar de alguns grilos fazem parte do silêncio, que logo deu lugar às orações. Como sempre, as vozes femininas fazendo tudo, os homens quietos, mais ouvindo, alguns, talvez, nem prestando atenção, pensando em outras coisas e, por que não? – pedindo ajuda aos santos para resolver as coisas em que pensavam.

É lenta a reza de um terço. A cada dez Ave-Marias, um Pai e Nosso e algumas palavras. De vez em quando – sacrilégio! – um gaiato soltava um rojão, mas era parte da festa, parte da reza, parte da tradição e não sacrilégio. E enquanto o som das orações saía das gargantas das mulheres e alguns homens, o fogo subia ao céu estrelado e sem luar, como há milhares de anos já acontecia com nossos ancestrais e, quem sabe, continuará acontecendo daqui a outros milhares. O fogo atrai, as palavras de fé e devoção penetram no âmago de cada um e mesmo os descrentes são tocados por algo forte e mais antigo que tudo. Aquele foi um bom tempo, um sentimento de paz e segurança passando por todos. Há quem chame a isso estar feliz. Não duvido.

Findo o terço, vieram as cantigas e muitas atenções voltaram a se dispersar e muitas outras voltaram a se concentrar na comida e no quentão e no vinho quente. Somos todos modernos e, portanto, as latinhas de cerveja também circularam. E a molecada voltou a correr e a soltar fogos de efeitos incríveis e bonitos.

E tudo cessou novamente, mas dessa vez para a Quadrilha. Os casais tomaram posições e a dança começou, lembrando as danças palacianas francesas que víamos nos cinemas nos tempos em que existia a matinée.

Caminho da roça!

Olha a cobra!

Túnel!

A quadrilha é gostosa de ver, tanto quanto deve ser gostosa de dançar.

Seu final sinalizou que a festa já caminhava, também, para o fim. O dia seguinte, mesmo domingo, era dia de trabalho. Como todo dia na roça.

E fomos todos embora, celebrando a gostosa noite mais comprida do ano.



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terça-feira, junho 27, 2006

Curtas considerações sobre uma morte



Final feliz parece coisa restrita às páginas de Caras e suas similares por todo o mundo. Finais curtos, evidentemente, pois a cada dia, a cada semana, um novo happy end se faz necessário para aplacar a fome de consumo por finais felizes.

Pena que o Bruno não sabia disso.

Pena que também as baleias nada sabem sobre isso.

E não aparecem na mídia certa.

A morte do Bruno é emblemática ao seu jeito, talvez por ter ocorrido em plena Alemanha da Copa, cheia de verde e flores por todos os lados. Os relatos dos correspondentes brasileiros em terras germânicas não deixam dúvidas: a Alemanha é verde. E rosa, branca, amarela, lilás, todas as cores de todas as flores, uma festa para os olhos.

Uma festa para a qual um urso-pardo, um dos últimos de sua espécie com passaporte europeu legítimo, não foi convidado. Saiu das montanhas e florestas austríacas e invadiu a Alemanha. Trouxe medo, naturalmente infundado, mas o que sabem disso as massas urbanas que há décadas perderam o contato com a natureza, exceto pelas telas de tevê e páginas de revistas? Sua presença despertou outro sentimento além do medo tolo: a vontade insana de caçar e matar.

Pode-se e deve-se, até, caçar, pois há muitas espécies que estão passando por um processo de explosão populacional provocado pela ausência de predadores e abundância de comida. Excesso de uma espécie é tão ruim quanto seu sumiço. Mas, um urso-pardo europeu? Ora, francamente, é um bicho do qual devem restar algumas dúzias, se tanto, na Europa Central e nos Alpes.

De nada valeram ponderações e apelos. O urso foi morto.

Enquanto isso, o Japão manobra vergonhosamente na Comissão Internacional da Baleia, colocando países centrais e até meio desérticos, como o Mali, como membros plenos. E, curiosamente, esses países acabam apoiando as pretensões japonesas de voltar a caçar baleias. Ou melhor, caçar mais baleias que as atuais mil que podem abater por ano, com finalidades “científicas”. Noruega e Islândia nem para isso ligam, simplesmente nunca pararam a caça às baleias.

E por aqui, ao se desmatar um alqueire de mata o mundo desaba sobre nós. Corretamente, até, não contesto, mas não custava nada essa rapaziada que nos massacra na mídia diuturnamente assestar suas poderosas baterias contra caçadores de baleias e ursos.

E, da próxima vez, o melhor é botar logo a foto da próxima vítima na capa das Caras da vida e correr atrás de um happy end via mídia.



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A morte de Bruno

Tiros na floresta. É o fim de Bruno, o urso fujão

Caçadores da Baviera mataram o animal que se transformou na sensação da Copa
Marco Justo Losso

Caçadores da cidade de Miesbach, na Baviera, liquidaram na madrugada de ontem uma das sensações da Copa do Mundo, o urso Bruno. Depois de cruzar a fronteira, cerca de um mês atrás, e perambular pelos bosques, alimentando-se de galinhas e ovelhas alemãs, Bruno transformou-se em celebridade, rivalizando com Ballack, Ronaldinho ou Beckham, ao escapar seguidamente do cerco da polícia. Sucumbiu, no entanto, cinco horas depois de o governo da Baviera autorizar sua caça e execução, sob o argumento de que ameaçava as pessoas.

A notícia de sua morte despertou furiosas críticas de ecologistas, da mídia e até de algumas autoridades alemãs contra a perseguição, na região de Rotwand am Spitzingsee, perto de Miesbach. Por cautela, a polícia e a prefeitura de Miesbach preferem não revelar o nome dos atiradores - eles já estariam recebendo até ameaças de morte, segundo afirmou o porta-voz de uma organização de caçadores local. Em Miesbach há rumores de que caçadores da própria Prefeitura teriam matado o urso, o que foi prontamente negado pelo gabinete.

Bruno vivia do lado italiano da fronteira, dias antes de começar a Copa, e saiu passeando pouco adiante, entre a fronteira da Áustria e da Alemanha. Das ovelhas que comeu, três eram avaliadas por seus donos em1 mil cada. Ele tinha sido visto pela primeira vez em 20 de maio, na Baviera.

Foi então que a epopéia começou. Guardas da região o caçavam e ele despertou a atenção de curiosos, de entidades de proteção aos animais e da mídia. De sua busca participou até um grupo especialista finlandês. A autorização do governo bávaro para abatê-lo foi dada na noite do domingo e, quatro horas e 50 minutos depois, ele foi localizado e morto.

Os protestos foram imediatos. "Isto é uma tragédia para a proteção à natureza na Baviera", lastimou Bernd Orendt, diretor da organização Proteção Jovem à Natureza. "Em Kornten, na Áustria, ursos passeiam perto de Kindergartens (escolas infantis)", observou. "Foi a solução mais burra de todas. Só mesmo na Alemanha ele poderia ser liquidado", atacou, irritado, o presidente da Associação Alemã de Proteção à Natureza, Hubert Weinzierl.

O Ministério do Meio Ambiente defendeu a decisão tomada pelo governo da Baviera, por entender que o urso ameaçava pessoas, mas não entende por que o urso não foi capturado. "Até agora ninguém conseguiu me explicar porque o animal não foi capturado vivo", lamentou o ministro Sigmar Gabriel.



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segunda-feira, junho 26, 2006

Privacidade & Liberdade


Na Alemanha, a atenção das pessoas está dividida entre a Copa do Mundo e a situação do Bruno – a respeito, transcrevi artigo de enviada especial do Estadão – está no endereço www.olharcronicoesportivo.blogspot.com

Quem é Bruno? É o primeiro urso selvagem a aparecer na Alemanha nos últimos 170 anos. Veio dos Alpes Austríacos e andou matando algumas ovelhas e coelhos. Houve uma mobilização estatal pela sua morte. Caçadores finlandeses vieram do gélido norte com suas armas e cães. Sucumbiram ao calor desse verão europeu. A caça ao Bruno continua, mas agora com um hábeas corpus, garantindo sua vida por mais quinze dias. Sou a favor do Bruno, sem tugir nem mugir.

Enquanto isso, a Tv Globo focaliza suas lentes duplicadas e com a zoom puxada ao máximo na boca de Carlos Alberto Parreira em pleno jogo do Brasil. Mostra as imagens gravadas a alguns surdo-mudos, capazes de fazer leitura labial, e estampam o resultado em programa de grande audiência como se fosse um grande feito jornalístico.

Patético. Ridículo. Perigoso. Criminoso. Aético.

Com certeza há outros qualificativos para essa ação desprezível – mais um –, mas não perderei tempo procurando-os.

Todo ser humano tem direito à privacidade em seu lar, em seu lazer, em seu trabalho, mesmo que esse se dê em local público. Isso não dá a ninguém o direito de bisbilhotar, de espionar e divulgar o que ouve ou lê.

Sou um radical defensor da imprensa e da liberdade de informação. Em muitos países há pessoas presas pelo crime único de informarem seus semelhantes. Na China, no Irã, em Cuba, são muitos os exemplos. Mas a imprensa e nós mesmos, blogueiros, uma nova categoria de ser público recém-gestada e parida, temos uma obrigação primordial: proteger os direitos de cada ser humano. Não agredir esses direitos. Respeitar a justiça e seus canais. Uma coisa é denunciar um crime, é assestar câmeras e microfones e os teclados de nossos computadores contra criminosos e contra corruptos. Mesmo assim, ao divulgar eventuais descobertas, temos que ter certeza de estar fazendo a coisa certa, não prejudicando inocentes. Se não tivermos esse mínimo de cuidado, de ética, em nossos comportamentos, nada nos diferenciará dos bandidos que queremos denunciar.

Ora, Carlos Alberto Parreira não é um bandido, não é um criminoso. Ele é um profissional que vê sua privacidade invadida enquanto trabalha. Apenas isso. Fazem isso com ele, hoje, afinal, ele é o homem mais importante do Brasil por esses dias: é o técnico da Seleção Brasileira que está disputando a sacrossanta Copa do Mundo. Mas, e amanhã? Quem será a vítima? Quem estará por trás lentes poderosas fazendo a leitura labial?

Privacidade é inerente à liberdade. Eu não concebo vida civilizada sem ambas.

Estou torcendo pela liberdade do urso Bruno e ao seu direito à privacidade de levar a vidinha nas florestas alpinas.

E por aqui vou torcendo pela Seleção e pela volta da ética à nossa vida, ao nosso país.

Infelizmente, a primeira torcida está tranqüila e mesmo que percamos nossas vidas não serão afetadas. Só o humor por alguns dias. Já a segunda torcida...


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terça-feira, junho 20, 2006

Só indagando


Frequentemente sou assaltado pela certeza de que a vida está copiando a ficção. Normalmente, depois de respirar duas ou três vezes, isso passa e volto à normalidade e à certeza de que a vida é sempre muito mais complexa e surpreendente do que a mais deslavada ficção.

O crime do terror contra milhares de pessoas nas Twin Towers.

O avião contra o Pentágono.

A recuperação e o retorno triunfal de Ronaldo aos campos em plena Copa do Mundo.

O Mensalão, o Marcos Valério, o Delúbio, o Silvinho Land Rover, o Zé, o lulla...

As confissões do Dantas e as contas no exterior de altos dirigentes republicanos.

O ataque do pcc contra São Paulo.

Coisas como essas levam-me, cada vez mais, a acreditar nessas surpresas que a vida nos apronta. E é por isso, além das provas, que acreditei de pronto na confissão do Timóteo, o cara que botou a vassoura-de-bruxa nos cacauais baianos, junto com 5 companheiros do PT, um dos quais foi prefeito de Itabuna, presidente da Docas da Bahia nomeado por lulla, e agora será candidato a deputado federal, e que provocaram o desemprego de 200.000 brasileiros e prejuízos de 10 bilhões de dólares.

E, por tudo isso, deixo aqui uma pergunta que, acredito, não vai demorar nada a acontecer: será que “alguém” não trouxe pra cá a maldita ferrugem asiática? A doença que está afetando seriamente a produtividade, a lucratividade e a competitividade da soja brasileira. Doença cuja propagação surpreendeu a todos os especialistas, pela velocidade e pela dispersão.

Será?

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segunda-feira, junho 19, 2006

Vassoura-de-bruxa, mais uma realização do PT


Sempre gostei muito de Ilhéus, desde a primeira vez que lá estive. Gosto da cidade, gostei de sentar no “Vesúvio”, o “bar do Jorge Amado”, para tomar um copo de cerveja ou de coca, dependendo do horário. Em Ilhéus conheci a Dona Lourdes e em todas minhas viagens dei um jeito de dar uma escapada e comer seu famoso pitu, servido num puxado nos fundos de sua casa. Em Ilhéus passei um Carnaval inteiro certa feita, por obra e graça de uma greve de aeroviários. Bons tempos.

As cidades têm histórias, todas ligadas ao ciclo do cacau. São muitos os causos, quase todos “do Jorge Amado”. Acho que sua obra, nada pequena, deveria ser umas dez vezes maior do que é para abrigar todos os causos e personagens “dele” que acabamos vendo, ouvindo, conhecendo. O jeito de cada cidade, a cara de cada uma, os rostos das pessoas, não tem jeito, tudo nos transporta para os livros do autor de “Dona Flor e seus dois maridos”. Ops, esse não, melhor citar o mesmo de sempre: “Gabriela, cravo e canela”. Livro, novela, filme, tudo entrelaçado, a gente não distingue o que leu do que assistiu, e em Ilhéus tudo se mistura mesmo.

É uma região bonita, interessante e diferente, com mar, praias, coqueiros, montanhas, matas e as lavouras de cacau “perdidas” no meio da mata atlântica, às vezes uma paisagem ao lado da outra. Rodando pelas estradinhas de terra ou barro, o fim de uma curva nos deixa de frente com um pequeno mundo, casas de tijolos pintadas de amarelo desbotado se destacando contra o verde escuro das matas e dos cacaueiros. Correndo ao pé das casas, um riacho entre pedras, passando uma sensação gostosa de frescor nos dias quase sempre quentes ou muito quentes. O olhar é atraído por um telhado que anda! É o teto de uma barcaça sendo empurrado, para que as sementes de cacau recebam o sol por inteiro, mexidas daqui pra lá, de lá pra cá, num vai-e-vem interminável por um velho trabalhador dessa lavoura, agora com um grande rodo de madeira virando as castanhas.

Com um pouco de sorte e conhecimento, chega um convite para provar o “mel de cacau”. Na minha primeira vez fiquei meio ressabiado em beber aquele trem, afinal, eu vira de onde ele fora tirado e não gostei muito. Colhido o cacau, ainda na roça os frutos são cortados ao meio e os trabalhadores, com as mãos que Deus lhes deu e as tarefas da roça emporcalharam, tiram fora as amêndoas envoltas por uma polpa esbranquiçada. Jogadas numa caixa, são transportadas em lombo de burro para uma barcaça, onde são despejadas em outras caixas de madeira, com um ou mais furos na base. Umas sobre as outras, durante alguns dias as amêndoas vão perdendo o suco presente na polpa, que vai descendo para o fundo da caixa e dali cai em latas ou tinas. Algumas caixas têm uma pequena torneira na base e ao ser aberta escorre um suco denso, com partículas diversas dentro. É o mel de cacau, ou quase. Recolhido numa jarra é coado e transferido para outra jarra, que em seguida vai para a geladeira. E é nessa fase que a gente entra na história. Para o perfume desse mel só encontro uma palavra: inebriante. É doce, mas não enjoa, pelo contrário, atrai. E o sabor é alguma coisa indescritível. Até lembra chocolate, mas é melhor. Uma doçura melada, e aqui não há redundância, pois a lembrança do mel vem pela sua consistência mais densa. E ali, na sombra gostosa de uma barcaça, olhando a mata ao longe tremeluzindo por conta do calor brabo do sul da Bahia, a gente toma um, dois, muitos copos de mel de cacau. E pára de tomá-los por conta de alguma lembrança perdida de educação e do valor da moderação, passados a nós por pais extremosos. Largamos o copo, recusamos mais um, mas muito a contragosto.

E assim seguimos viagem, em meio à terra ou ao barro, satisfeitos, felizes com a vida e com o que a vida pode nos proporcionar, assim de repente.

Foram muitas minhas viagens para essa terra. Mas chegou uma época em que elas simplesmente pararam. A principio não me dei conta, estava muito envolvido com minhas viagens para o Mato Grosso, Rondônia, Maranhão e outros lugares com sertões diferentes, mas ainda sertões.

Minhas viagens foram rareando, rareando, até terminarem, enquanto a doença tomava conta dos cacaueiros, cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais. E a produção caía, caía, caía. “Remédios”, o nome genérico que damos aos venenos, aos defensivos agrícolas no campo, começaram a ser aplicados cada vez mais. Já não me sentia muito entusiasmado a tomar copos e copos de mel de cacau. Vai saber... E o pior é que nem mesmo os “remédios” davam conta da maledeta doença, tão malvada que até seu nome combinava direitinho: vassoura-de-bruxa.

Minha última viagem para Ilhéus data de uns quatro anos, por aí. A doença dominava toda a região cacaueira. A produção já era apenas uma parcela do já chegara a ser. Conformei-me, mas continuei acreditando que mais dia, menos dia, voltaria pra Ilhéus. Essa volta ainda parece distante, afinal, voltar para gravar lavoura doente e improdutiva?

Nesses últimos anos, se fosse mantida a média histórica de outrora, eu deveria ter produzido pelo menos uns 3, talvez 4 vídeos sobre a lavoura de cacau ou a indústria que nasce a partir dela. Produzi nenhum, logo, devo ter um prejuízo de uns “par” de milhares de reais. Nada que uns dois mensalões não dêem jeito. Como sou modesto e pobre, posso receber tudo em reais e dou nota fiscal, quente e boa, da melhor qualidade.

Ué, mas o que foi que o mensalão veio fazer aqui, no meio do mel de cacau? Terá pirado de vez esse escriba?

Pois é, talvez pareça, e alguns talvez desejem, mas não, não pirei, permaneço são e sóbrio. Irritado, contudo, muito irritado. Acabo de saber pela Veja que a vassoura-de-bruxa foi introduzida na região cacaueira de Ilhéus por um bando de militantes do PT e um do PDT. Sem brincadeira, tá na revista, e tudo levantado, tudo certinho.

Resumidamente: na matéria “Terrorismo biológico”, a revista conta como Luiz Henrique Franco Timóteo e mais Everaldo Anunciação, Wellington Duarte, Eliezer Correia e Jonas Nascimento, teriam introduzido a doença nas lavouras baianas a partir de galhos contaminados trazidos de Rondônia, onde ela é endêmica, como em toda a Amazônia, onde o cacau é nativo. Segundo Timóteo, a idéia partiu de Geraldo Simões, que já era figura de proa do PT de Itabuna – município vizinho onde se localiza a estação experimental e a sede da CEPLAC – órgão federal dedicado à melhoria e expansão da lavoura do cacau, onde, acreditem, todos trabalhavam.

A idéia era detonar a lavoura para detonar o poder político dos coronéis do cacau. Essa história começou em 87, 88, e Timóteo foi para Rondônia algumas vezes, retornando com galhos infectados que eram amarrados às árvores sadias da região. O primeiro foco foi descoberto em maio de 89, na fazendo do então presidente da UDR local. A princípio os técnicos acharam que daria para contornar a ameaça e erradicaram toda a lavoura do fazendeiro. Mas não, de forma estranha, atípica para uma praga, a doença alastrou-se velozmente e de forma linear.

Em poucos anos a lavoura cacaueira baiana foi destruída. De exportador, o Brasil passou a importador de cacau. Cerca de 200.000 pessoas perderam seus empregos por conta da derrocada do cacau. Para o país, estima-se o prejuízo total até hoje em 10 bilhões de dólares, de acordo com estudo elaborado pela UNICAMP em 2002.

Dez bilhões de dólares!

O dono da idéia, Geraldo Simões, vai bem, obrigado. Na primeira eleição após a derrocada, elegeu-se prefeito de Itabuna e levou seus colegas para a prefeitura, menos Timóteo, que era do PDT e não do PT. Ingrato... No governo de lulla da Silva foi nomeado presidente da Companhia Docas da Bahia, da qual recém-afastou-se, pois será candidato a deputado federal.

Timóteo já havia denunciado esse crime monstruoso para outras pessoas, inclusive para o senador César Borges e o governador Paulo Souto, cuja família, por sinal, perdeu tudo por conta da doença. Os dois tiveram medo de fazer a denúncia.

Bom, ando pensando em processar o Geraldo Simões ou o PT por conta de uns sessenta mil reais que deixei de ganhar. Afinal, tá cheio de gente recebendo pensões e compensações. Por que não eu?

Mas, falando sério, eu realmente não sei mais o que falar. E ando meio cansado de escrever essas coisas.

Em tempo: leiam a matéria, vale a pena.

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sexta-feira, junho 16, 2006

Desconexos & afins



Os ipês-roxos estão estranhos. O “centro pensante” dos ipês conseguiu convencer os botões florais a aparecerem e se abrirem. Lindo. Mas não conseguiu convencer as folhas todas a caírem. Muitas estão ainda apegadas aos galhos. Muito estranho.

Nada menos que 80% mais ciclones tropicais foram registrados no mundo nos últimos 35 anos. Cientistas de vários países afirmam que isso é fruto do aquecimento global.

As Cataratas do Iguaçu não estão boas para fotos e filmes. Toda aquela água que encanta os turistas sumiu. Tudo que cai das inúmeras quedas é um filete de água. O volume caiu de 1.600.000 litros por segundo para apenas 350.000. Um nada.

A venda de eletricidade para a República Oriental do Uruguai foi cortada. As represas do sul estão com menos de 30% de sua capacidade de armazenamento de água tomados. Nesse momento, as chuvas deveriam estar a suceder umas às outras. Não estão. O governo liberou as termelétricas movidas a carvão vegetal para funcionar.

Em Santa Rita do Passa Quatro, a festa de Santa Rita veio e se foi e não choveu. É tradição chover na festa de Santa Rita. Nesse ano a tradição não foi cumprida, Santa Rita ficou seca.

Bom, acho que estou meio chato. Na verdade, estou chato inteiro e não só meio. Três coisas ocupam minha cabeça, três coisas me preocupam: a seca, a política, a Copa. Das três, a única com fim anunciado é a última. Mas não vou falar dela. Primeiro, porque é capaz da FIFA cobrar-me alguma taxa. Segundo, porque ninguém mais agüenta mais nada sobre a Copa. Quero distância das palavras Ronaldo e Zagallo pelos próximos 30 anos. Como não sei se vou viver tanto...

Não resisto: só uma coisinha sobre a Copa, uma só, prometo. Depois falo do lulla da Silva.

Como?

Ah, preferem a Copa? Oras, pois sim.

Bom, essa Copa tá chata porque os vencedores anunciados vencem. Nada mais bobo do que isso. Nada mais inútil também, não conheço perda de tempo maior. A única exceção a essa regra é quando se trata do meu time. Só, exclusivamente. Ontem flagrei-me um trinitobaguense. Ou seria um trinitobaguenho? Não importa, ontem eu era Trinidad Tobago desde criancinha, contra a poderosa Inglaterra. No English Team uma verdadeira constelação de astros, como Beckham, o futebolista marido da sempre Spice Girl, Victoria. E estrelas como Lampard, Gerrard e outros mais. Do lado oposto, a rapaziada das ilhas do Caribe. Diz um amigo que a mais bonita das duas é Tobago. Tenho a vaga impressão de ter feito uma escala em Trinidad há muitos anos, indo ou voltando de Cuba. O aeroporto era feio, fazia calor, o ar era muito úmido. E nada tinha de interessante no aeroporto. Enfim, memórias fracas à parte, lá estavam os bravos rapazes, jogadores de times desconhecidos do Caribe e arredores e também da 3ª Divisão da Inglaterra. E não é que deram um baita calorão ao time da Rainha? O jogo ficou em emocionante 0x0 até os 37’45” do segundo tempo, ou seja, a meros 7’15” do final do tempo regulamentar. Achei o gol inglês meio estranho. Vendo melhor pela televisão, fica claro que o atacante inglês puxa o rabo-de-cavalo do zagueiro de T&T. O juiz nada marcou, não sei porque. Só sei que um rabo-de-cavalo derrubou o simpático time. Chamem-me de reaça ou coisa pior, como quadrado, mas nunca fui com a cara desse negócio de rabo-de-cavalo em homens. Principalmente em zagueiros.

Francamente, se alguém acreditou que eu iria falar no lulla da Silva, lamento. Não vou fazer isso. Todos merecemos um descanso.

Como já falei da seca lá no começo, nada mais tenho para falar. Chega.

Ah, sim, é verdade: a Tríplice Fronteira chegou a Hollywood numa das séries americanas que tanto me seduzem e ocupam minha mente. Claro que ligada à prática de atos terroristas. Um dos personagens, didático, ainda explicou que era o encontro entre Brasil, Argentina e Paraguai. Que ali viviam simpatizantes e talvez até membros da Al Qaeda, imaginem! E que o pessoal da região financiava essa e outras organizações terroristas. Uau! Felizmente a ação toda desenvolveu-se em Ciudad del Este e, a menos que tenham descoberto uma cópia carbono no México, lá pros lados de Tijuana, os personagens vieram gravar mesmo aqui do lado. Mas algo me diz que, apesar da semelhança, aquilo era o México mesmo. O Iraque começou assim. Aí, um dia, o Bush filho que a tudo assistia, acreditou e mandou invadir. Quem sabe?

... ... ...

Não, não, fora de cogitação. Nem os americanos seriam tão tapados a ponto de invadirem tudo isso aqui e conviver com nossa elite política. Não, definitivamente não. Até porque nem mesmo eles teriam dinheiro para um novo Plano Marshall para o Brasil e amigos do Mercosul.

Que pena.

E agora, finalizando, de verdade: Chávez, o palhaço – não o mexicano ator, o outro – fechou um acordo de cinco e meio bilhões de dólares com a Rússia de Putin, destinados à compra de armamentos. A primeira encomenda é do balacobaco e vai alterar a relação de forças latinoamericanas no quesito “superioridade aérea”: a Rússia vai entregar à FAV, cerca de cinqüenta Suhkhoy 30, o mais poderoso caça em uso no mundo hoje. O F-15 americano ganha dele em agilidade e o Euro Fighther nada pode contra ele (tudo isso em teoria e projeções e games de computadores), só para que vocês tenham uma idéia do que o simpático coronel está comprando com seus muitos dólares “petroleros”. Mas Chávez não vai pagar essa conta: Putin deu-lhe três anos de carência e 15 para pagar. Chávez também comprou cem mil fuzis AK 103, o sucessor do AK 47. E comprou corvetas lança-mísseis na Espanha e canhões e outras coisinhas na China. Pobres venezuelanos...

Pobre LatinoAmerica.


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terça-feira, junho 13, 2006

Viva a COPA!


Finalmente, começou a Copa do Mundo!

Aleluia!

Alvíssaras!

Se o Brasil não mudou muito, teremos um mês de felicidade.

Os bandoleiros dos movimentos sociais sem-terra e sem-vontade de trabalhar (sim, é reacionário dizer isso, né?) não vão querer correr o risco de ficar um dia numa cadeia e perder um jogo do Brasil, portanto, nesse período não teremos invasões. Meno male.

O governo vai funcionar menos, o que, em se tratando desse governo, é uma boa chance de não aumentar o rombo em algumas contas. Que rombo? Ora, deixo a cargo de sua imaginação criadora e fertilizante descobrir.

O pcc (não concordo com as maiúsculas que são usadas nessa sigla) tampouco atuará enquanto a Copa continuar.

Hoje já foi tipo assim um feriado, né, e quinta-feira será feriado mesmo, claro que a sexta será parte do feriadão e aí vem o sábado e domingo tem jogo da seleção – bem poderia ser na segunda, saco! – e aí já estaremos quase no final de junho, começo de julho. Ou seja, o ano está começando a terminar e os feriados à frente são bem legais, novos feriadões e logo o Natal e o Ano Novo.

No meio do caminho tem eleição. Tem eleição no meio do caminho.

Ah, mas não vou falar e pensar nisso agora, deixa pra depois da Copa. Hoje, entre Alckmin e lulla sou mais Kaká.

Em outubro, quem sabe em setembro, as chuvas voltarão. Também não quero pensar nisso agora. Depois da Copa eu pensarei a respeito.

Ah, eu amo a Copa do Mundo!

Compete agora à seleção chegar à final, dia 9 de julho.

Qualquer coisa menos que isso e sentir-me-ei roubado, surrupiado em meus direitos sagrados de brasileiro. Vencer ou não é irrelevante, importante é esse não-viver de um mês. O resto é abobrinha.


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segunda-feira, junho 12, 2006

Bezerros...

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A seca é muito triste, paciência.

As bezerras e bezerros vão bem, felizmente.







Harry Potter está comendo pontas da grama seca.

Deve achar que o feno que come no cocho vem do mesmo lugar desse que ele come: feno em pé.









Graciosa segue crescendo, cada dia mais esperta.

Aqui, ela é a primeira, depois a Estrela e o Segundo, que nessa foto é o terceiro.

sexta-feira, junho 09, 2006

Safári

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Safári em outubro de 2005, com algumas das Jersey


A primeira vez que vi o Safári foi meio de assustar. Ele estava em seu piquete, uma área com cerca de quinhentos metros quadrados, de onde não saía. Ao alcance de seu focinho, não fossem as cercas, passavam mais de 50 vacas e novilhas todo dia, no mínimo duas vezes por dia. Estatisticamente, pelo menos uma ou duas estariam no cio. Todo dia, duas vezes por dia. Era um touro nervoso, irritadiço, que só se acalmava um pouco quando falhavam duas ou três tentativas de inseminar alguma vaca e ela era, então, repassada para ele. Isso quando não ia para seu colega Star, morador do piquete ao lado.

Ao ver um estranho se aproximar de seu pequeno reino, Safári bufava e escavava o chão. Um espetáculo à parte. Touros Jersey têm uma certa fama de bravos. Aliás, touros de raças de leite acabam sendo mais perigosos que touros de raças de corte, criados a campo. Por que? Simples: o touro criado a campo é naturalmente temido, é mais arisco e bravo mesmo, pois seu contato com o homem é mais reduzido. Já os animais das raças leiteiras são criados tendo contato direto e diário com o homem. Como as vacas são dóceis, há uma tendência inconsciente a não temer os touros. Triste engano que já quebrou muita gente.

O que mais me impressionou nessa visita, quando eu ainda não sabia que iria comprá-lo, foi o tamanho dos buracos que ele escavava. Eram tão fundos que, nas águas, com o capim mais alto, ele desaparecia quando entrava num deles. Não sei se voltarei a ver algo assim. E espero que não, na verdade. Era o jeito dele descarregar sua frustração, sua raiva, sua impotência por nada fazer diante de tantas fêmeas no cio a desfilar à sua frente.

O mais incrível foi que ninguém me falou nada sobre isso, apenas intuí olhando o local e o movimento. Quando comprei-o, algumas pessoas disseram que eu estava fazendo uma besteira, que aquele animal era perigoso, que eu não tinha boas cercas para segura-lo e não sei o que mais. Bobagens.

No sítio, Safári escavou o chão uma só vez que eu saiba e foi logo ao descer do caminhão e entrar em seu novo – e até então – desconhecido domínio. As seis novilhas aproximaram-se, curiosas, e eu também. Ao me ver, bufou e escavou o chão. Dei-lhe uma bronca, algo como que estava na hora de parar com gracinhas, que ali ele não precisaria daquilo. Funcionou. Solto pelo pasto, sempre acompanhado das novilhas e depois vacas, tornou-se um animal extremamente calmo. Uma única vez varou uma cerca e foi para o pasto dos vizinhos, onde um outro touro e, creio, vaca no cio, chamaram sua atenção. Fui busca-lo com as mãos vazias e para traze-lo de volta bastaram um pouco de paciência e um graveto mais comprido. A maior prova de docilidade tivemos quando ele teve uma bicheira bem no prepúcio, local delicado e dolorido. O veterinário ficou meio receoso de trata-lo sem um tronco de contenção, mas disse-lhe, cheio de confiança, que não seria necessário. E não foi: preso por uma simples corda a um mourão, deixou-se tratar sem grandes reclamações. Todo dia, na hora de pulverizar o mata-bicheira sobre a ferida, ele reagia. Não o prendia e, com a lata do spray na mão, aproximava-se pela sua esquerda, tendo antes o cuidado de por um pouco de ração num cocho plástico, coisa pela qual ele era apaixonado. Enquanto comia, pulverizava o produto. No primeiro jato, sua perna do mesmo lado desferia um chute, do qual era fácil desviar. Depois, aplicava mais dois ou três jatos sem nenhuma reação. Do outro lado a mesma coisa, um chute e mais nada. A vacinação era fácil, também, e “batia” a pistola de um lado e depois do outro com ele solto, tal como com o mata-bicheira.

No sitio ele viveu bem, embora sem a comida boa e chique de onde veio. Mas tinha liberdade e tinha seu harém. Acho que era feliz, e sua tranqüilidade era a prova disso.

Nos últimos tempos, com o crescimento do Minuto, ele às vezes ficava afastado do rebanho. E creio que a idade começou a pesar um pouco, também.

Hoje, ou ontem já, tivemos de sacrificá-lo. O veterinário aplicou-lhe uma injeção, escapou da marretada ignominiosa na cabeça. Não acompanhei, estava em São Paulo. Terei saudades dele.


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quarta-feira, junho 07, 2006

Pode piorar?


Hum hum, pode sim.

Há uma corrente no governo favorável à extensão do bolsa-família para os acampados, que em sua maioria já recebem cestas básicas e outros benefícios.

Os acampados da segunda são os invasores da terça, depredadores da quarta e bandidos da quinta. Quando não são os bandidos já da terça mesmo.

São pessoas simples, gente pobre, na sua maioria. É o que se denomina massa de manobra. As lideranças se aproveitam deles. Foi assim ao longo da história, não só do Brasil. Mesmo quando tomaram para si próprios a resolução de seus destinos, mesmo então continuavam a ser massa de manobra.

É tudo gente simples e boa, mas pra dar uma machadada ou passar a foice ou enfiar a peixeira não precisa de muito. Precisam de um quase nada.

A destruição da Câmara pode ser apenas um fimou um convescote, como pode ser um sinal do que está por vir.

Dramático, né?

Pois é..

terça-feira, junho 06, 2006

Premonição ou coincidência?


Foi muito curioso, foi uma grande coincidência.

Hoje cedo, escrevi o texto do post anterior e desci para o café-da-manhã e o jornal sagrado. Ao voltar e reabrir o computador, tinha chegado esse e-mail de um velho amigo, referente ao texto "O aniversário do Mensalão".

Tomo a liberdade de reproduzi-lo aqui, parcialmente. Omito o nome desse meu amigo por motivos óbvios. Claro que o blog é público e, querendo, ele pode se manifestar à vontade.

"Olá, velho companheiro, como estão as coisas? Tendo orgasmos ininterruptos com o aniversário do mensalão... incrível como a burguesia precisa de alguns toques estimulantes para se divertir... e como ela é seletiva... enquanto os atos eram para garantir a eleição de deputados amigos da casta, era tudo normal, enquanto era para garantir a reeleição do rei, tudo bem, enquanto era para enriquecer os bolsos particulares da corja elitista, tudo bem, mas, se é para o PT garantir a aprovação de reformas ou a maioria no Congresso, ah isso não, isso é corrupção... mas, não quero brigar... estou apenas constatando que você, depois de aderir ao Pelé "esse povo não sabe votar", agora terá mais um acréscimo - "essa plebe, além de vil e ignara, revela-se agora também corrupta"... mas, não vamos brigar..."

Parece que tive uma premonição ao escrever meu texto, uma resposta antes da pergunta.

:o)

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Não é só ele, eu sei


Sim, o governo lulla da Silva não inventou a corrupção.

Comenta-se que houve corrupção nas privatizações levadas a cabo no governo Fernando Henrique.

O “mar de lama” levou Getulio Vargas ao suicídio.

O que mais se comenta sobre os governos dessa república é corrupção, uma coisa que parece tão entranhada em nossas administrações de todos os níveis e tipos quanto o cartão de ponto. Que já mudou de cara e nome, assim como a corrupção.

A verdade é que de outras “corrupções” sabemos por ouvir dizer, por comentários, por insinuações e, sobretudo, por acusações. Já no governo do companheiro lulla da Silva sabemos de muitas coisas graças a provas reais e consistentes – bom, não fossem assim não seriam provas, mas em se tratando da Terra de Vera Cruz não custa nada uma certa redundância. Não sabemos, oficialmente, do conhecimento e participação do presidente, mas, sinceramente, se S.Excia. de nada sabe é porque se trata de um indivíduo desprovido da mínima qualificação para dirigir até mesmo um predinho de doze apartamentos.

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6 do 6 de 2006



Bom dia.

O título é a data, coisa meio besta, né?

Menos besta, contudo, que as abobrinhas relacionando o dia de hoje com o número da besta, o 666.

Uma barra meio forçada, sem nada da graça única, ainda que pouca, do 02/02/2002. Ou 20/02/2002.

Seja como for, espero chegar inteiro e feliz ao 07 do 06 de 2006.

:o)


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segunda-feira, junho 05, 2006

O Mensalão aniversaria


(Esse texto tem trilha sonora; é aquela nossa velha conhecida, a primeira música de todos nós, com certeza, o “Parabéns pra você”.)


Parabéns pra você,
Nessa data querida,
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida.

E pro Mensalão tudo?
Nada!
Entao como é que é?
É pique, é pique, é pique, pique, pique...



Sim, leitores amigos e amigas leitoras, amanhã, 3ª-feira, o Mensalão completa seu primeiro aninho de vida. A festança é boa, imperdível, mas há dois poréns, aqui. O primeiro é legal, condizente com o espírito festeiro e festivo de nossa gente e de nossas autoridades: eu usei o verbo no presente – a festança é boa – porque a festa nunca parou, sempre foi uma festa permanente, uma rave como esse país e o mundo nunca viram, para falar como o grande líder e guia espiritual lulla da Silva. O segundo porém dessa festa é meio chato: apesar de ser patrocinador da dita cuja, você não está convidado e sua eventual presença junto aos foliões será barrada. O que, convenhamos, será muito bom para seu currículo ao bater nas portas do Céu e ser entrevistado por um dos assessores de São Pedro. Vai que esse assessor resolva te julgar pelas suas companhias?

É até difícil imaginar que há somente um ano não conhecíamos e nada sabíamos de Marcos Valério, de Silvinho “Land Rover” Pereira, de Delúbio Soares... Esse até já tivera seu nome ventilado aqui e ali, curiosamente associado a catastróficas previsões de queda de governo se um dia abrisse a boca ou fosse investigado. Bom, Delúbio não abriu a boca e o governo está aí, firme e forte a caminho da reeleição. Pouca gente abriu a boca, de fato. A rigor, só os irmãos do prefeito assassinado de Santo André, um dos quais exilado em país incerto e não sabido, juntamente com a família. Também um caseiro abriu a boca e por conta disso um ministro caiu, mas outro ministrão, o ex-primeiro-ministro, permaneceu forte e rijo, gozando, sem problemas, da estima de seus pares no governo e, curiosamente, sobre os mesmos exercendo estranha autoridade, estranho fascínio. Agora, com tempo sobrando, sua agenda é ocupada pelas anotações de horários de vôos e destinos atraentes, na Europa e Norte América. Em primeira-classe, é óbvio, afinal, ninguém é de ferro.

Os mais notórios mensaleiros foram julgados por seus pares e absolvidos; o cúmulo da desgraça associada a tudo isso, foi a nação, estarrecida, ter apreciado esdrúxula dança de não menos esdrúxula deputada, componente da bancada própria do ex-primeiro-ministro da República e, ela mesma, saída de uma administração municipal prenhe de denúncias as mais diversas.

Animado com tamanho festim e crente na máxima que todos os brasileiros são iguais, parei de pagar minha conta da TV por assinatura pela internet e passei essa incumbência para minha mulher. A cada conta que ela vai pagar fico em casa, ansioso e esperançoso, sentado na porta da sala, aguardando sua volta com o boleto pago e mais cinqüenta mil reais na nossa conta, tal como ocorreu com a mulher do João Paulo Cunha, deputado do partido dos trambiqueiros por Osasco, bem aqui ao lado. Lembram dele? Não? Ele é aquele deputado que era Presidente da Câmara, o terceiro posto em importância na República, e que foi sucedido por um certo Severino, senhor muito afeito a tirar motorista bêbado da cadeia e a ganhar dinheiro no ramos dos restaurates. Quanto a essa história de pagar a conta da TV e ganhar cinquenta mil reais, estou começando a achar que deve ser um tipo de loteria, pois já pagamos onze contas e até agora só conseguimos um reajuste na tarifa. Para mais, é claro.

Andei misturando o assassinato do prefeito, que na verdade são assassinatos, pois foram dois os prefeitos assassinados, e o caso do caseiro, e o Severino, e o deputado com a mulher pagadora de contas, e leio que em poucos anos mais de vinte bilhões de dólares saíram do Brasil, através de dedicados doleiros, rumo aos Estados Unidos da América e essa mistura toda provocou-me forte enxaqueca, que é o que acontece quando ingerimos coisas vagabundas, podres, de má qualidade, e agora terei de ir à cozinha e engolir um comprimido ou dois. Pelo menos a enxaqueca eu conseguirei eliminar.

Boa semana, boa Copa e não esqueçam, amanhã, 3ª-feira, o Mensalão faz aniversário. Já comprou um presentinho?

(Em tempo, o “Nada” no “pique-pique” está no lugar certo: nada de penalidades, nada de condenações, nada de nada. Vida que segue.)


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sexta-feira, junho 02, 2006

Que notícias?


Acho que o Brasil é, ou está virando, um país de não-notícias.

Mas, que diabos é isso, uma não-notícia?

Sei lá, é só uma expressão e tenho a intenção que ela signifique isso mesmo, um nada, um vazio, uma coisa que não aconteceu ou, talvez muito pior e seja esse o caso, uma coisa muito já vista e que perdeu qualquer sentido como notícia, como novidade, como algo digno de atrair a atenção de viventes comuns, como somos nós, preocupados em pagar a conta do telefone e da internet, a conta da água e da luz – por que não eletricidade e sim luz se é a eletricidade que gera a luz e é cobrada na conta? – e contas outras, infindáveis, o tipo de coisa que apoquenta a nós, pessoas comuns, como eu disse.

Ah, alguém quer saber a diferença entre uma pessoa comum, como todos nós, e uma pessoa não-comum (prefiro isso a incomum). Vou explicar.

Nós, os comuns, pegamos um boleto e vamos ao banco ou, muito melhor, acessamos nossa pobre continha bancária e pagamos ali, pela internet, direto do nosso computador, o dito cujo boleto.

Um ser não-comum pega o boleto, ou melhor, nem sabe que ele existe, desconhece, ignora, acredita que tudo caia do céu, como o maná bíblico, pois tem um okamoto da vida recebendo todos os boletos e pagando todos os boletos com seu próprio dinheiro. Claro, isso é válido para uma parte dos boletos, pois outros são diretamente pagos pela “viúva”.

Eu sempre quis ter um okamoto pra mim, mas acho que nunca tive cacife bastante para tanto. Pena.

Agora que já sabemos o que é uma não-notícia e o que é um ser não-comum, vamos, contraditoriamente, às não-notícias da Terra de Vera Cruz.

1 – Mais um mensaleiro (termo com que a população de reluzente bananal tropical passou a referir-se aos seus representantes eleitos, agraciados com o recebimento periódico, geralmente uma vez a cada mês, de propina fornecida por membros do partido no poder, sabemos agora que através de empréstimos pagos com dinheiro do tesouro partidário, ops, do tesouro nacional; ver, também, em corrupto e corrupção) foi absolvido por seus pares – mensaleiros, claro – no órgão denominado câmara dos deputados; consta que foi o 11º;

2 – Muito apropriadamente, o grande líder e guia espiritual dos bananeiros da Terra de Vera Cruz, ora em campanha para mais um período à frente desse bananal, desafiou opositores a usarem o mensalão na campanha já em curso; mensalão era, ou é ainda, o nome dado à propina paga pelo partido no poder a parlamentares diversos; ver, também, em corrupção, corruptos e mensaleiros; nossa excelência e grande líder, etc, incorporou, de vez, o mensalão e seus beneficiários ao rol das coisas boas e lícitas criadas por seu governo, tão bom que nunca antes o planeta todo havia visto algo parecido; a mãe de todos os bons governos, sem dúvida;

3 – Suzane von Richthofen, simpática e bonita (hoje nem tanto) guria da alta classe média paulistana, comprovadamente articuladora do assassinato bárbaro de sua mãe e seu pai, foi, mais uma vez, libertada; acompanhará seu julgamento em liberdade; enquanto isso, briga na justiça por seus direitos com relação à boa herança deixada por seus pais; consta, também, que já há uma lista de espera nas bancas de jornais pela revista que vai mostrá-la, fisicamente, nua, nuinha como veio ao mundo; comenta-se, igualmente, que aproveitando sua fama e circunstâncias correlatas, a moça apresentaria um programa de entrevistas em canal de tevê aberto; o nome e o tema são segredos; há quem diga que tudo isso não passa de intriga;

4 – Os irmãos Cravinhos, co-autores dos assassinatos acima citados, permanecem presos; aparentemente, o fato de não serem bonitos e menos ainda da alta classe média, pesou contra eles; é justo, dizem muitos;

5 – O primeiro-filho segue em sua vitoriosa carreira empresarial, amparado pelos quinze milhões de reais – algo como meia dúzia de milhões de dólares - investidos em sua pessoa, digo, empresa, por uma companhia que é concessionária de serviços públicos e dependente de decisões governamentais para assuntos diversos; veio a público recentemente, que outra empresa da área também financiou o primeiro-filho, porém com valores menores; diante disso, foi trocada pela outra empresa, muito mais generosa;

6 – A primeira-dama, até hoje, não explicou o porque de ter pedido e conseguido em tempo recorde, passaporte italiano para si e sua família toda (parece que o primeiro-marido e mandatário-mor do bananal não recebeu tal passaporte; parece);

7 – O ex-primeiro-ministro bananeiro segue viajando por ceca & meca; consta que sua casa em luxuoso e bonito condomínio próximo à cidade de São Paulo, segue em obras, mas já na fase dos finalmentes, os acabamentos, fase, por sinal, custosa demais da conta para as pessoas comuns; para as não-comuns – ver definição acima – é somente uma fase a mais, nada extraordinário;

8 – Pimenta Neves, autor confesso do assassinato de jovem namorada, segue em liberdade, com namorada nova a tiracolo; a opinião geral é que morrerá em ainda em liberdade;

9 – A ameaça alemã de demitir seis mil empregados de famosa indústria automobilística mobilizou as mais altas autoridades bananeiras, que correram a pensar em soluções e empréstimos generosos à indústria, notoriamente ineficiente;

10 – O mais moderno, produtivo e lucrativo segmento da economia bananeira, o famigerado agronegócio, segue entregue à própria e madrasta sorte; o desemprego de centenas de milhares de tupiniquins agronegócios-dependentes, não comoveu, não comove e não comoverá as mais altas autoridades bananeiras; da mesma forma que não comove São Pedro, prenhe de péssimos humores, secando quando se precisa de água, e inundando quando se precisa de sol e terra seca;

11 – Thomas Bastos, famoso criminalista que acumula o cargo de ministro da justiça, segue trabalhando muito; consta que, cansado da trabalheira, não vai querer uma segunda investidura, retornando ao seu também lucrativo escritório; antes que me processem, esse “também” tem razão de ser, sim: ser ministro da justiça é galardão fantástico em termos curriculares, e com certeza terá impacto positivo na conquista de novos clientes, futuramente, por seu escritório; eu, hein? ufa...

12 – Evito, o companheiro cocalero, reduziu um tiquinho suas bombásticas declarações contra bananal e sua empresa petroleira; Chávez, o companheiro petrolero e não o palhaço, embora se confundam, está, também, aquietado, mas aproveitou para levar 99 pernambucanos para operarem catarata em Caracas; curiosamente, um programa chamado Mutirão que, com sucesso, já operou de catarata multidões tupiniquins, recém foi cancelado; mais um bocado da herança maldita extirpado; por outro lado, outras partes da herança maldita – o bolsa-família e a macroeconomia – seguem de vento em popa, impulsionando a reeleição do grande líder, etc, etc, ainda no próximo primeiro turno;

13 – cansei; mas, antes que o cansaço me afaste desse teclado e interrompa essas mal digitadas, a mãe de todas as não-notícias: o governo-companheiro quer tornar permanente a provisória CPMF.

Fui.

Bom fim-de-semana pra quem fica.


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quinta-feira, junho 01, 2006

Fim de tarde, poeira & seca

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A tarde vai do meio pro fim no sítio de um vizinho.
A ordenha recém-terminou, a segunda do dia.
Agora as vacas estão indo para uma área onde tem cocho e bastante comida para a noite, basicamente silagem de milho.

O cenário todo é bonito, bucólico, agradável. Repare, porém, estimada leitora, estimado leitor, que a fotografia parece estar meio nublada justamente onde estão as vacas.

Não é defeito da câmara, tampouco do operador. É, simplesmente, a poeira que elas mesmas levantam, mesmo caminhando lenta e pachorrentamente como soem caminhar as vacas.

É a seca.

Foi a única foto que fiz no sábado.

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