quarta-feira, maio 31, 2006

.


Essa foto mostra a região onde está o sítio, perdido aí no meião, mais para a esquerda.
Semana que vem voltarei com fotos novas, inclusive da Graciosa, do Harry Potter e dos gatos.

.

Tomates?


Esse texto, na verdade, é a resposta a uma pergunta feita pela Leila.

Depois que escrevi o e-mail, achei que seria bom colocar o grosso da mensagem também aqui.

No sítio, as frustrações são inúmeras, como, por exemplo, o fato de nenhum pé de caqui ter ido pra frente. Ou nenhum coqueiro, e sequer abacateiro. Agora tem um que está bonito, lindo, mas vai demorar muito para frutificar, pois não é muda enxertada. E, além disso, para que ele frutifique preciso plantar mais dois pés, um de cada tipo, para que as flores sejam fertilizadas. Sim, há isso. Não são sexos diferentes, mas são diferentes tipos de abacates, o A, o B e o C. Para que haja frutos, as flores de um tipo precisam do pólen das flores de outros tipos.

Por que não “vão pra frente”? Afinal, coqueiro tem em toda parte, menos lá. Não sei, sinceramente. Na próxima primavera vou fazer um plantio em regra por lá: abacateiros, caquiseiros, líchia e, naturalmente, coqueiros, sonho da Rosa, que adora água de coco. Espero que dessa vez tudo dê certo.

Enquanto isso vamos convivendo com essas frustrações e mais essa: o tomate.

Tomateiro é planta fácil, meio "vagabunda", como se diz, pois basta jogar uma sementinha e pronto, em pouco tempo tem um "tomatal". O diabo são as malditas doenças fúngicas! E insetos, também.

A produção comercial é feita com uma boa quantidade de defensivos - ou agrotóxicos - para poder chegar a um final feliz. E a gente come e come e come. Não tenho grandes pruridos com relação a isso, mesmo conhecendo na intimidade como os bonitos tomates chegam aos mercados tão bonitos, mas no sítio não uso venenos, seria um contra-senso, afinal, a horta é doméstica e não comercial.

A produção orgânica de tomates é uma beleza, mas requer um conhecimento e um trabalho que estão além da minha capacidade, pelo menos no momento, além do acompanhamento diário, coisa, naturalmente inviável. E os rapazes? Boa pergunta, para a qual não tenho uma boa resposta. Diria que eles cuidam das vacas, mas pretender que cuidem direito de uma horta é pedir demais, por incrível que pareça. Mas essa é outra história, uma longa e chata história.

No sítio, pra não dizer que não temos tomate, temos tomate "oportunista", pois desistimos de plantar certinho. Assim, temos um pé aqui, outro acolá, que nascem meio ao acaso, talvez semeados pelas galinhas e pegamos um ou outro fruto e pronto. E pegamos verde, antes que amadureça e seja perdido para as pragas.

A exceção é um tomatinho pequeno, um "cerejinha", que minha sogra planta na sua horta e se desenvolve bem, sem grandes ataques de doenças. Mas ele apareceu do "nada", ou melhor, de sementes de tomates comprados no mercado. Mas a planta se desenvolve bem, parece ser mais resistente às doenças, como a pinta-preta e a murcha bacteriana, e sempre conseguimos colher alguns punhados, logo usados em saladas.

Há outras frustrações horticolas, mas nem vale a pena mencionar, pois, provavelmente, essas outras são fruto da nossa ausência. Horta é uma coisa que precisa de olhares e cuidados diários, inclusive sábados e domingos.



.

segunda-feira, maio 29, 2006

Era uma vez um Círculo... que nem chegou a existir



Eram outros os tempos, muito piores que esses de agora, muito melhores que esses atuais. Parece e é um jogo de palavras, mas é também a expressão perfeita da realidade, tal como a mim parece, até porque, realidade, cada um tem a sua.

Era um tempo de inflação pesada, coisa bruta já esquecida, quando o dinheiro de uma infinidade perdia meio, um, dois e até a estupidez de quase três por cento num só dia, enquanto, numa outra ponta, valorizava tudo isso para uma pequena porção. Paradoxalmente, era, ainda, um tempo de crenças, não mais as antigas revolucionárias, mas outras, mais modernas, mais condizentes com o desabrochar de um novo mundo. Globalização já era palavra conhecida, mas ainda não era moda. Internet era algo esotérico, meio estratosférico, e significava que aqueles povos estranhos dos laboratórios de universidades tinham computadores que conversavam entre si, que trocavam dados de experiências. Coisas fora da nossa vidinha de todo dia, comum, comum.

Aqui em São Paulo a gente se achava. É, essa gíria também não existia, então nós acreditávamos que éramos, de fato, a Nova York do sul do Equador. Que nosso futuro era brilhante. Que já tínhamos muitas coisas boas e novaiorquinas, até mesmo uma certa elegância discreta. Bem discreta, diga-se, mesmo porque muito restrita. Mas quem se liga em detalhes como esse diante da grandiosidade de se sentir na Nova York do sul?

E tínhamos o MASP e seu maravilhoso acervo.

Ora, se o Met e o MOMA em Nova York tinham lá seus círculos de amigos, com direito a carteirinha e tudo, nada mais natural que o mesmo ocorresse em São Paulo. Eu queria ser parte do MASP, eu queria ter uma carteirinha atestando que eu era isso. Atestanto que eu era chic e novaiorquino. (Deletem essa frase, foi infeliz, e isso aqui não é divã de analista pra ficar contando podres do passado.)

Naqueles dias, uma nota no jornal chamara minha atenção. Dizia que o MASP precisava aumentar sua receita e estudava a criação de um grupo de contribuintes.

Perfeito! Tudo indicava que, breve, eu teria minha carteirinha de amigo do MASP, meu passaporte para uma cidadania mais refinada, mais nobre, mais... chic. (É, não tem jeito mesmo.)

Cheio de boa vontade ou, como diria um amigo da época, cheio de amor pra dar, liguei pro Museu. Ofereci-me como contribuinte, perguntei se estava correta e em pé a informação sobre o círculo de amigos. A resposta desanimou-me, jogou-me de volta à realidade e ensinou-me algo precioso sobre a cultura no Brasil. A nada simpática assessora ou lá o que fosse, disse-me que nada nessa linha estava sendo pensado, que os “amigos” que o Museu tinha em vista eram amigos dotados de gordos saldos, capazes de contribuir com generosas quantias. Nada que se adequasse a um executivo pé-rapado como eu.

Já naquela época o Museu de Arte de São Paulo tinha dificuldades imensas para pagar suas contas básicas. Então, como agora, o Museu e seu povo só enxergava e enxerga a alta burguesia como amante da arte e capacitada a contribuir com sua manutenção. Justamente a alta burguesia tupiniquim, vejam só, que de arte nada entende e cuja maior qualidade e diferencial em relação a outras altas burguesias, reside no aprimoramento na criação e engorda de maracutaias e sonegações e superfaturamentos. Uma burguesia dona de muitas e muitas dezenas de bilhões de dólares (bilhões mesmo, cada um valendo mil milhões, só pra deixar bem claro) em contas secretas e outras nem tanto, pela Suíça, Jersey, Cayman, Uruguai e outros paraísos fiscais. Uma burguesia que nada dá para as artes e para os museus. Uma rica burguesia ignorante e atrasada.

De vez em quando lembro dessa vivência e lamento a inexistência do Círculo de Amigos do MASP. Paciência. Se existisse, era bem capaz de proibir que falássemos de futebol em nossas reuniões. Mas, pelo menos, acho que teríamos luz para sentarmos no Museu e papear um bocado.


.

Notícias de habitantes do Macaúbas


E os habitantes do Sítio das Macaúbas? Há tempos não falo deles.

Vão bem, todos eles. Mas a Sophia morreu, atropelada. Ela ainda estava amamentando os sete filhotes e deve ter entrado no cio (ia ser operada agora), um pouco cedo demais, pois sumiu de casa. Quando isso aconteceu eu estava no Mato Grosso e fiquei ausente quase vinte dias. No dia seguinte ao seu sumiço, o Ismael encontrou-a no asfalto, morta. Menos mal que parece não ter sofrido. Mas, e os sete filhotes? Ele ficou andando por ali e ouviu uns miados. Achou três e levou-os para casa. Na hora do almoço, passou de novo pelo local e achou mais três. O sétimo sumiu, infelizmente. quando voltamos para o sítio lá estavam eles, onde continuam, saudáveis e bonitinhos. São 4 rajados (3 fêmeas e 1 macho) e 2 pretinhas. Virou uma enorme família, pois juntaram-se ao Fred e suas 4 irmãs, todos já castrados. Tomam leite gordo de manhã e à tarde, comem ração e sempre caçam um pouco. Mas são inteligentes e manhosos, pois basta a gente chegar para fazerem um concerto de miados. Quem ouve e não conhece, imagina que estão mortos de fome, mas nada disso: aprenderam que, conosco, ou melhor, com a Rosa, sempre chega peixe, carne, comidinhas gostosas e diferentes.

O Fred virou um gatão folgado, bem na linha Garfield, embora elegante, tão preguiçoso e manhoso quanto o amarelão famoso. Parou de acompanhar a gente como fazem os cachorros. Mas a Pretinha, sua irmã, não, essa continua a seguir a Rosa. Ela vai ao pomar e a Pretinha vai atrás, junto com a Panda e a Titica, as cachorras. E vai longe, até no pomar de lima. Não deixa de ser divertida a cena, a Rosa andando e as duas cachorras e a gata acompanhando, correndo, cheirando, indo e vindo.

A bezerrada vai bem, obrigado. A Graciosa segue fazendo jus ao nome, cada vez mais. E a Estrela também está cada dia mais bonita e forte. O Segundo cresce firme, parece que será um belo touro, e o Harry Potter vai pelo mesmo caminho. As novilhas e as vacas vão bem, estão bonitas, embora o leite tenha caído muito com a seca. Mandei parar com a ordenha das que já estavam com pouco leite, pois é besteira gastar energia da comida pouca para produzir leite sem necessidade e para receber um valor aviltante. Melhor usarem toda a comida para se manterem em boa forma. Os vídeos, pelo menos por enquanto, vão segurando as pontas e pagando as contas. O que vem a ser a mesma coisa.

Agora, além da Panda, tem a Pandinha. Sobrou ela e o Esrael e a Maria acabaram tendo sorte, pois conseguiram dar 6 filhotes. Nada mal. O nome é adequado para ela, pois é a cara da mãe, sem tirar nem pôr.

E assim vai seguindo a vida no sítio.

.

domingo, maio 28, 2006

Triste florada



Já na estrada vi alguns ipês-roxos, velhos conhecidos, em plena floração. O primeiro pensamento ou sentimento foi de alegria e prazer, coisas normais à vista de um ipê, qualquer que seja sua cor, com florada plena. A seqüência, porém, nada teve de feliz e, se não cheguei a maldizer os ipês, que culpa nenhuma tem, tampouco continuei alegre com as visões bonitas que me proporcionaram. Desanimado, deixei a câmera quieta do meu lado. Um pouco, também, em protesto, recusei-me a fotografar esses ipês apressadinhos, semostradeiros por demais.

Puxa, por que tanta bronca, tanta raiva, tanto pesar?

Simples: esses ipês deveriam florescer em julho. Ou em final de junho, mas jamais em meados de maio. Não é certo, não é assim que devem ser as coisas. Mas, nesse ano, as coisas foram diferentes.

Tomei posse do sítio em janeiro de 2000, no falso alvorecer do século XXI. De lá para cá, sete vezes vivemos em abril, outras sete vivemos em maio, nesse caso valendo o verbo para o passado e para o presente, por mais três dias. Tantos meses assim, tantas vivências de abril e maio, serviram para dar uma boa base e poder dizer, triste, pesaroso, muito preocupado: nunca tivemos um abril tão seco como o desse 2006. Nunca tivemos um maio tão seco como esse cuja travessia ora terminamos.

Os pastos acabaram, pura e simplesmente. Como medida de emergência, terei de começar a cortar e picar a cana de julho agora, ainda pequena e com menor volume que o esperado. Já estamos com cinqüenta dias sem chuva no sítio. Semana passada, desmentindo a previsão já pessimista, choveu ainda menos que o esperado. Na verdade, nem choveu, garoou, e a água mal e mal molhou a poeira.

Quando muito tristes, as lágrimas molham nossos rostos.

Quando a secura é muita, faltam lágrimas para molhar a terra.

Não sei conviver com a seca. Nunca gostei da falta de água, nunca passei por esse tormento. Melhor, nunca vivi esse tormento, pois passar já passei sim, numa ou noutra triste viagem pelo Nordeste, tão tristes que delas nunca quis guardar recordações. A seca é uma coisa muito assustadora, dia após dia a gente acorda, levanta, abre a janela e vê um lindo céu começando a clarear no leste, escuro e estrelado no oeste. E a esperança que acompanha toda alvorada definha um pouco mais a cada dia. Quando ela começa no tempo certo ninguém se incomoda muito. É um rito da natureza, é uma fase como tantas outras e não demora nada ela termina. Todavia, quando essa esperança começa a sofrer assim tão cedo, ela traz consigo a tristeza e o medo.

Nos bancos, os economistas fazem contas e chegam à conclusão que, a continuar assim, terão dificuldades para receber os dinheiros emprestados. Nas cidades, a preocupação é nenhuma, muito pelo contrário. Os dias são lindos, azuis, esplendidos e quem pode gasta-os à beira-mar, ou flanando alegremente pelas cidades, óculos escuros amenizando e embelezando as paisagens.

Na vida real, ou onde a vida realmente começa, é diferente.

É muito diferente.

E os ipês-roxos? Pois é, depois de um março fraco em águas e um abril frio e seco, maio teve cara, jeito e gosto de julho e agosto. Enganados em sua boa-fé, derrubaram parte de suas bolhas, emitiram botões e abriram a linda florada de todo ano. Fora de época, fora de prumo, fora de tudo.


.

quarta-feira, maio 24, 2006

Escuridão

.






O MASP,
ontem à noite










O MASP estava às escuras ontem à noite. Provavelmente, estará assim hoje. E amanhã também, ao que parece. E depois, e depois, e depois... O MASP está sem eletricidade, que foi cortada depois de 7 anos sem pagar uma conta sequer. Demorou para o corte ser feito.

O MASP é o maior e mais importante museu de artes plásticas de toda a América Latina. Lembro-me do orgulho que senti quando, em pleno Metropolitan, vi dois quadros emprestados pelo MASP – e devidamente identificados – para a maior exposição já realizada com a obra de Van Gogh. Só tinha “feras” por ali, ou melhor, só tinha obras emprestadas pelos maiores e mais importantes museus do mundo. E, entre eles, lá estava o MASP com dois Van Gogh. Minha vontade era virar pros americanos e europeus por ali e berrar que aqueles quadros eram “meus”.

Hoje, os “meus” Van Gogh estão às escuras. Talvez desprotegidos contra ladrões. Com certeza, desprotegidos contra o excesso de umidade, ainda mais com essa frente fria garoenta e gostosa que domina a cidade.

O MASP está sem luz. Sua eletricidade foi cortada.

Não dá pra comentar mais. Aliás, o que e para que?



Na sequência, parte da matéria do Estadão a respeito:


"A diretoria do Museu de Arte de São Paulo (Masp) divulga um comunicado à imprensa informando o resultado das negociações do museu com a Eletropaulo, após o corte de energia do edifício determinado pela empresa nesta terça-feira, em razão de uma dívida de R$ 3,5 milhões. Segundo a nota, as negociações indicam que o museu vai continuar sem luz, mas funcionando com geradores.

Dirigido pelo arquiteto Júlio Neves, o Masp apresenta atualmente a megaexposição Degas: O Universo de Um Artista, com a obra de Edgar Degas (1834-1917), que levou um ano de preparação. A mostra, estimada em R$ 3 milhões, abriga 196 obras, boa parte de museus estrangeiros como o Musée d’Orsay de Paris; National Gallery de Londres; Metropolitan Museum de Nova York; Musée Picasso de Paris; The Art Institute de Chicago; National Gallery de Washington; e o Museu de Arte da
Filadélfia.

A falta de luz compromete não só esta mostra, como o acervo de 7.517 peças de arte, incluindo 1.483 pinturas e esculturas e 1.066 gravuras e 1.466 desenhos. Em 1981, esse acervo foi estimado em US$ 140 milhões. Mas é considerado inestimável, sem valor concreto de mercado."


Geradores, é?
Até quando terão dinheiro para pagar o diesel?

.

sexta-feira, maio 19, 2006

Enfim, algumas medidas


Vocês sabiam que um advogado entra em qualquer unidade prisional sem passar por revista? Ou mesmo por detetor de metais?

Mas, com certeza, todos sabem que a maioria, para não ser "injusto" e dizer o óbvio - que é a totalidade, dos advogados são, igualmente, tarefeiros de seus clientes.

E mesmo assim são imunes a revistas.

A OAB tem culpa nesse cartório e é gigantesca. É total.

Quem diria, a OAB que em outras eras estava à frente da sociedade civil na luta contra o arbítrio, agora vira isso que está aí.

E o Senado, sob protestos do advogado criminal que está ministro da justiça, aprovou um pacote com medidas que estavam há 2 anos na gaveta. Infelizmente, e temo por isso, esse pacote ainda passará pela Câmara, local que, sabemos todos, é valhacouto para gente da pior espécie, bandidos mesmo.

Algumas das medidas aprovadas no Senado da República:

- extinção da liberdade condicional para condenados reincidentes;
- benefício da delação premiada para presos já condenados;
- autorização para interrogatório de réus por vídeo-conferência;
- tipifica como falta grave o uso de celular em presídio;
- aumento dos prazos de prescrição de crimes;
- indisponibilidade dos bens de criminosos para ressarcir prejuízos;
- os benefícios de redução de penas não poderão mais ter como base o limite de 30 anos, e sim o tempo total de condenação;
- visitas mensais e não mais semanais, limitadas a 2 familiares; essa é uma medida essencial para o bem-estar das comunidades que abrigam presídio; quem mora em uma sabe do que estou falando muito bem;
- separação das visitas por vidro e conversa por interfone;
- regras mais severas de isolamento, proibindo, entre outras coisas, a entrada de boas comidas de bons restaurantes para quem pode pagar;
- e, finalmente, ampliação do prazo de 360 para 720 dias em Regime Disciplinar Diferenciado, passível de prorrogação a critério da Justiça, bem como autorização para a justiça mandar o criminoso cumprir pena em outro estado que não o de residência.

Coisas simples, não?

Baseado na realidade e na legislação italiana que deu certo, só discordo do limite de 720 dias para o RDD. Ele não deve ter limite, exceto o da quebra da resistência e dos vínculos do bandido com sua organização. Esse regime só existe, só foi criado, para esse tipo de criminoso.

E agora? Irão os "nobres" mensaleiros, digo, deputados, aprovar esse pacote de medidas?

A categoria profissional com maior representação na Câmara é, justamente, a dos advogados. Como irá se comportar a OAB?

O comportamento do defensor de assassinos que está como ministro da justiça dá uma pista óbvia para o que virá a seguir.

Aguardem.

.

O poder da propaganda enganosa


Meu primeiro emprego formal foi como boy numa agência de propaganda nos primeiros dias da década de 70. Propaganda, marketing, comunicação & tal & coisa, estão no meu dia-a-dia desde sempre.

Apesar disso, ainda me surpreendo com o poder da propaganda. Nunca fui e nunca serei um "Duda" na vida. Primeiro, por abominar briga de galo. Segundo, por não acreditar, tanto quanto ele, no imenso poder da propaganda.

Tenho cá para mim que a velha, batida e pessimamente frase atribuída a Hermann Goering já não é mais tão verdadeira. Não há necessidade de uma mentira ser repetida mil vezes, basta que ela seja dita uma, duas ou quatro vezes e pronto: a multiplicidade de mídias e veículos encarregar-se-ão de propagá-la aos 4, aos 16, a todos os ventos.

Uma frase na boca de um boçal será sempre isso.

A mesma frase num jornal, em outro jornal, nas tevês, nos sites, nos blogs, nas rádios, perde a ligação com o boçal que a emitiu e ganha vida própria. A mentira não mais precisa ser repetida pelo seu autor e asseclas, pois a "mídia" encarrega-se de repeti-la. E a cada repetição ela se torna mais e mais verdadeira. E engana até mesmo os que sempre souberam ser ela falsa ou, ao menos, desconfiavam, dada sua origem espúria.

lulla da Silva ofereceu ajuda ao governo de São Paulo.

O governo de São Paulo recusou a ajuda de lulla da Silva.

Em comum nessas duas frases verdadeiras, uma premissa falsa: a ajuda seria irreal por ser inócua, por ser vazia, por não ter como ser realizada. Se, porventura, o governo de São Paulo tivesse aceito a tal ajuda, ela ainda estaria distante, ausente de São Paulo, pois não haveria como mandar para cá algo inexistente ou sem condições de se tornar operacional em menos de dez a quinze dias.

Todavia, ainda hoje e até o dia 3 de outubro, essa "oferta" e a recusa são e serão objeto de críticas, inclusive por parte das pessoas que têm conhecimento e visão das coisas de Brasil.

A mentira de lulla enganou a todos.

O poder da propaganda é bem maior do que eu jamais cheguei a imaginar.

.

segunda-feira, maio 15, 2006

“Tudo é o mesmo, as coisas sempre são”


Daniel Everett é etnólogo da Universidade de Manchester. Nos últimos trinta anos, passou nada menos que sete deles vivendo entre os pirahã, pequena tribo que vive na bacia do Rio Maici, no Amazonas. Esse rio é afluente da margem esquerda do Madeira, não muito distante de Humaitá, depois de passar pela vila de Calama, que fica na margem direita. Ou seja, é uma região relativamente próxima do que chamamos civilização. De Porto Velho até as primeiras praias do Maici, a viagem demora 15 horas de barco. Curiosamente, até andei e naveguei por ali, uma região de floresta baixa, na maior parte inundada durante as cheias. Lugar perigoso para nadar, pois os remansos convidativos a um mergulho para fugir do calor terrível, costumam ser habitados por respeitáveis poraquês, os peixes-elétricos. Dizem que muita gente já morreu vítima de um choque de um bicharoco desses. Na dúvida...

O que chamou a atenção de Everett e, posteriormente, de muita gente famosa no mundo cientifico, como Noam Chomsky, do MIT, e Steven Pinker, de Harvard, é a língua pirahã. É a linguagem que permite aos humanos montar pensamentos nunca antes construídos, é a fonte de nossa criatividade, na medida em que criamos a partir das informações que recebemos. E receber informação implica na existência de uma língua que, quanto mais rica e diversificada for, mais informações transmitirá. Mas a língua pirahã é econômica, enxuta, reduzida. A tal ponto, que ela se afasta muito do que se pensava que eram as características fundamentais de todas as línguas.

Naturalmente, o mundo pirahã é muito simples e, como o de muitos outros povos em todo o mundo, é dominado pela presença e ausência de água. Tempo de cheia e tempo de seca. Em seu linguajar, os pirahã raramente empregam qualquer palavra associada ao tempo e não existem conjugações verbais de tempos passados. Nada dos tenebrosos pretéritos, perfeitos, imperfeitos ou mais-que-perfeitos. E talvez seja o único idioma do mundo a não usar orações subordinadas. Um pirahã não diz: “Quando eu tiver acabado de comer, gostaria de falar com você.” Não, nada disso, ele simplesmente diz: “Eu termino de comer, eu falo com você.” (Há quem diga que eu mesmo, às vezes, sou assim, meio pirahã.) (Por outro lado, essas muitas amostras de supostos exames feitos por estudantes brasileiros, dão demonstrações claras, inequívocas, que a língua pirahã anda se imiscuindo no seio de nossa laboriosa classe estudantil.) (Cruzes, os usos que podemos fazer da língua... “Laboriosa classe estudantil.” Acho que os pirahãs estão certos com sua economia lingüística, pelo menos, devem estar livres de frases como essa.)

Outra coisa que deixou os estudiosos perplexos foi o fato dos pirahãs não sentirem a necessidade de números em sua vida cotidiana. Segundo Everett, o mais próximo de algo ligado a número, foi “hói”, que seria algo como o numeral um, mas também pode ser pequeno, ou pouco. Eles não têm palavras como “cada”, “todos” e “mais”. (E muito menos acentos, acentos e acentos...) (Como pode haver “civilização” sem a palavra “mais” e tudo a ela ligado?)

A língua é fruto da cultura, e essa, por sua vez, é também fruto da linguagem. Segundo Everett, o cerne da cultura pirahã é muito simples: “Viver aqui e agora.” A única coisa digna de importância para ser transmitida para outra pessoa é o que está sendo experimentado em cada momento.

“Toda experiência é ancorada na presença”, diz Everett, que acredita que essa cultura não permite o pensamento abstrato (e nem a tal arte abstrata! – comemoro do meu lado) ou conexões complicadas com o passado (freudianos de todos os matizes morreriam de fome entre eles, portanto).

Eles não têm um mito da criação para explicar suas origens. Se perguntados a respeito, simplesmente dizem:

“Tudo é o mesmo, as coisas sempre são.”

-----xxx-----


É manhã de segunda-feira na Grande São Paulo. Nosso café-da-manhã foi dominado pela manchete do Estadão:

“PCC ataca alvos civis e queima 28 ônibus. Guerra faz 77 mortos”

O elenco de notícias ruins e péssimas não termina com a manchete, longe disso. Uma das piores diz que lulla da Silva oferece ajuda ao governo de São Paulo. Oras, ele que pegue sua polícia e investigue suas próprias contas secretas no exterior. Aliás, coisa que vai dar em nada, uma vez que o próprio chefe da Polícia Federal é acusado de ter uma conta no exterior com mais de um milhão de euros de saldo.

O parágrafo anterior já foi um avant-premiére desse aqui, reservado à Veja. Estava na cara que o castelo de cartas construído pela camarilha que tomou o poder de assalto começaria a desmoronar à medida que penalidades começassem a incomodar ou ameaçar seus participantes. As denúncias feitas pela irmã de Daniel Dantas à justiça americana são prova disso. As denúncias publicadas por Veja, inclusive com dados de contas no exterior de um monte de gente boa, a começar pelo grande líder e guia espiritual dos povos tupiniquins, vão dar muito pano pra manga ainda. Ah, é mesmo, não foram confirmadas... Hummmmm... Alguém duvida que não serão?

Evito, o companheiro boliviano que tomou de assalto nossas operações na Bolívia, agora prepara a expulsão de milhares de brasileiros que vivem na Amazônia boliviana. No exterior, fala um monte de besteiras contra o Brasil e a Petrobrás, e depois alisa e adula nosso tolo grande líder que, adulado e calminho, sai a dizer abobrinhas do tipo “muita fumaça e pouco fogo”.

Chávez, o grande líder bolivariano e não o palhaço mexicano, é a única personalidade do mundo ibero-lusitano a ser apontada entre as 100 mais influentes do mundo pela Time. Puxa, e o nosso grande líder e guia etc, etc, que se julgava o grande líder, etc, etc, de todos os povos do mundo ao sul do Equador? Que fiasco!

O Mercosul se desfaz, começa a virar fumaça tênue, pois mesmo em seus melhores momentos nunca passou de fumaça grossa. O presidente do Uruguai, meio de esquerda, sim, mas inteligente, começa a se aproximar dos Estados Unidos e pede um acordo de livre comércio. Vejam só que diferença enorme faz um pouquinho só de inteligência. Nós, por outro lado, sacrificamos parte de nossa indústria para agradar aos hermanos porteños em nome do falido Mercosul.

Bom, a segunda-feira caminha, as preocupações aparecem, é mais que hora de trabalhar. Antes vou fazer uma pesquisa na internet e ver se os pirahã tem um consulado em São Paulo. Estou pensando em pedir um visto de moradia permanente.

Boa semana pra todo mundo.

“Tudo é o mesmo, as coisas sempre são.”


.

sexta-feira, maio 05, 2006

Bairrismo, uma variante do racismo


Os vícios desse bananal são antigos, vêm de longe, muito longe. É instrutivo ler e reler os relatos de antigas viagens feitos por viajantes ingleses, holandeses, franceses, entre outros. Tirando um ou outro detalhe, geralmente por conta da paisagem que já foi devidamente destruída, o que vemos são relatos modernos, que poderiam ter a data de hoje, ou de ontem, ou, lamentavelmente e com certeza, a de amanhã.

Acusações bairristas são burras, pois desconhecem o óbvio: somos todos iguais, e quem acusa é igual ao acusado. São apenas e tão somente a demonstração explícita de um preconceito, uma variação imbecil do racismo convencional. Tão criminoso quanto. Em alguns, é uma patologia.

O preconceituoso bota tudo num mesmo saco, não enxerga distinções e, pior que isso, toma o individual pelo todo. Não distingue, não sabe fazer isso porque é ignorante e, pior que isso, porque não quer enxergar. Sempre abominei o racismo. Depois de crescido, aprendi a abominar sua variante debilóide, o bairrismo.


.

terça-feira, maio 02, 2006

Bolívar, o novo ícone


Quem guarda tem. Quem não empresta, nunca perde.

Duas regrinhas de ouro. A primeira é universal. A segunda não sei, não tenho certeza, mas, no meu caso aplica-se muito bem aos livros. E, pela primeira delas, tenho ainda comigo uma excelente biografia de Simon Bolívar, o novo ícone latino-americano. Se fosse qualquer outra coisa, com perto de duzentos anos, e autografada pelo Simon, eu estava feito na vida. O companheiro Chávez, com toda certeza, dado o seu gosto por gastos monstruosos e inúteis, dar-me-ia uns dois ou três poços de petróleo em troca do mimo. Que eu recusaria, é claro, pois daria com a direita e tomá-los-ia com a esquerda, em nome da esquerda. Tal como fez anteontem o companheiro Evo. Se ao Hugo me apraz chama-lo Chávez, creio que por conta do palhaço mexicano, ao Morales só me agrada o Evo. Na minha ignorância habitual, deduzo que Evo só pode ser o feminino de Eva e é meio gozado, né, uma Eva masculina. Temos um feminino de Adão, por acaso?

Pois o companheiro Evo pregou-me bela peça, isso sim. Ao meter a mão nas posses e operações da Petrobrás na Bolívia, o companheiro deu à jóia de nossa coroa tupiniquim belo prejuízo que, sem dúvida, há de refletir sobre as ações da empresa na Bolsa de Valores. Esse prejuízo não é só da Petrobrás, é, também, de todo o povo brasileiro, posto que ela é uma estatal e, por conseguinte, patrimônio do povo de bananal.

Falando em bananal, o bananeiro-mor, grande líder e guia espiritual da bananada, convocou reunião de emergência para debater a “nacionalização” dos bens da Petrobrás. Ora, ora, ora, se alguém se der ao trabalho de consultar minhas ligações com a corretora, verá que há vários dias eu venho cobrando agilidade no cadastro e custódia da minha meia dúzia de ações Pet PN, justamente por medo da expropriação feita pelo companheiro Evo, amigo de fé e irmão camarada do companheiro lulla. Se eu sabia disso e tentava me proteger da perda inevitável, como é que o companheiro lulla da Silva, grande líder, etc, etc, amigo de fé e mais etc, foi pego de surpresa e convoca “reunião de emergência” para discutir o roubo, digo, a expropriação?

Tem caroço nesse angu, talvez dissesse meu avô Bertolino, caboclo mineiro. Eu, mais escolado com as coisas bananeiras, digo que tem angu nesse caroço.

Qual?

Sei lá, nem desconfio. Mas toda e qualquer ação do governo do companheiro bananeiro, amigo do companheiro “cocalero”, é suspeita, até prova em contrário avalizada por algum tribunal internacional. Menos que isso, não aceito.

Acho que devemos, em represália, apreender o Boeinguizinho meia-boca do Lloyd Aéreo Boliviano. Como? Nem voa mais? É, pensando bem eu também não sei se o glorioso LAB ainda existe. E, se existir, nem sei se tem ainda algum Boeing dos anos 70. Do começo dos anos 70.


E de volta ao velho Simon Bolívar. Tirei o pó de sua biografia. É um livro bonito, um livro-livro, assim como no futebol existe o zagueiro-zagueiro. Tem capa dura, tem um montão de páginas e não tem firulas e tampouco figuras. Um livro-livro, como eu disse. E mais: todo em castelhano. Portanto, autêntico. Aos interessados em ingressar nos novos tempos poderei, por preços módicos, fazer cópias “xerográficas” de suas preciosas páginas. A esse respeito, consultem meu especialista em investimentos e mentor financeiro, o Zé.

Se ele estiver solto, claro. O pobre vive a ser perseguido por caçadores de corruptos.

...


Um P.s. com um toque de seriedade:

De qualquer forma, e aqui me valho de preciosa observação de um amigo, Evo & companheiros enfrentarão agora um desafio que está muito acima de suas capacidades, que será a administração e operação dos ativos expropriados. A menos que contratem os serviços dos expropriados para isso. Se pagarem bem... Pode até ser mais interessante, afinal, nada melhor que prestar serviços. E assim seguirá a velha e batida sina dos povos de LatinoAmerica, rumo ao nada em lugar nenhum.

.