sábado, abril 29, 2006

No melhor dos mundos


Parem tudo, deixem de ler, esqueçam o que eu escrevi (já ouvi essa frase antes... onde terá sido e falada por quem?). Doravante, melhor farei se der mais atenção aos meus vídeos e às minhas vaquinhas. Definitivamente, essa coisa de sentar e escrever sobre bananal e seus bananeiros-dirigentes é muita areia pro meu caminhãozinho. E, além disso, preciso com urgência urgentíssima de um bom, de um milagroso oftalmologista. Estou temeroso por meus olhos, por minha vista, pois enxergo preto tudo que é cor-de-rosa.

As vendas de tevês a plasma e LCD prosseguem a todo vapor, atropelando os tímidos planejamentos feitos por executivos conservadores. A Copa está aí, a tão somente quarenta dias (quarenta... número dado a elocubrações várias, tipo quarenta ladrões, quarenta quadrilheiros, etc). E, logicamente, é inviável assistir à Copa sem ser em um portentoso e magnífico televisor moderno, digno das melhores salas do primeiro-mundo.

Como? Meio apertado? Ora, ora, ora, quanta incompetência! Basta, para sair desse buraco, dirigir-se a qualquer agência bancária ou loja de departamentos e pronto! Crédito farto, abundante, imediato, espontâneo, ao alcance das melhores e das piores rendas. Basta querer e pedir. Vivemos época de fartura, logo, nada melhor do que aproveitar essa abundância creditícia.

Se é prudente? Ah, mas francamente, preciso mudar meus leitores, já vi tudo. Claro que é prudente! É mais que prudente, é altamente recomendável! Tal e qual investir no Brasil para a gringaiada endinheirada, embora o grosso do investimento seja de tupiniquins com dindin no exterior, como sabe todo mundo (todo mundo que deve saber, é óbvio, o que exclui a nós todos; confuso? não se apoquente, é assim mesmo).

Juros e aumento irrazoável de custos na compra a crédito? Hummmm... Meus leitores, além de pessimistas não são patriotas. Nosso grande líder e guia espiritual, lulla da Silva, transformou ontem as Casas Bahia no exemplo do Brasil que dá certo, no exemplo a ser seguido. É lulla no céu e o “seu” Samuel Klein na terra, vendendo baratinho a tevê moderninha pra gente melhor enxergar nosso grande líder e guia espiritual. Gente como minha mulher e um amigo meu – que, espantados, já saíram invectivando contra o presidente, dizendo que as Casas Bahia exploram o povo com seus preços e juros extorsivos e escorchantes – definitivamente não estão alinhados com os novos tempos do bananal. Dê juros e seu sangue para o bem da camarilha dirigente, digo, para o bem do Brasil. Ô, filme velho, ruim e sem futuro. Mas sempre sucesso de bilheteria, vai entender.

Comprei uns livros, entre eles alguns policiais. De autores americanos e ingleses, países atrasados e cruéis, onde bandidos são presos e punidos, imaginem! Preciso rever meus gostos. Vou pedir ao companheiro Stedile que me indique alguns livros pra pôr na cabeceira da minha cama. E na minha cabeça, claro, trocando o lixo imperialista que leio sem parar. Fazendo isto, alinhar-me-ei com os novos tempos tupiniquins. Se não, vejamos: lulla da Silva, do alto de sua grandeza e sapiência, inclusive familiar (sua esposa e filharada têm passaporte italiano, um luxo, e seu “mais velho” ganhou 15 milhões de uma empresa concessionária e sócia do governo), afaga, acaricia, acarinha despudoradamente, gente como Zé Dirceu, Toninho Palocci e outros mais, todos tachados (mas não taxados) pelas CPIs e pelo insuspeito Ministério Público, de bandidos, na acepção popular do termo. Nossa excelência é só elogios pra essa gente. Aliás, eu falei no “seu” Samuel, né? Pois é... Que me conste, corre processo na justiça referente à acusação de envio ilegal de dinheiro para o exterior por parte do “seu” Samuel e seu filho. Pura bobagem, com certeza, afinal, se o presidente nomeou-os como exemplo para o Brasil, isso tudo não deve passar de mais uma sórdida maquinação da direita esclerosada e criminosa. Pois é.

Estão vendo, é idiotice completa de minha parte ficar lendo livros de ficção, ambientados nessas terras meio incultas do hemisfério norte. O melhor é ler o que tem a ver com nossa realidade, mesmo porque na Caixa ninguém foi punido administrativamente e depois preso por quebrar o sigilo do caseiro. Nada como morar num país avançado.

E a vida segue maravilhosa. Ontem, o dólar despencou e ficou abaixo de dois reais e dez centavos. No mercado de futuros e nas conversas dos operadores financeiros a aposta é que vai ficar abaixo de dois reais. E no maravilhoso bananal cor-de-rosa, espera-se que em julho mais de um milhão de felizes bananas de todos os sexos embarquem para maravihosas férias na Disney, Noviorque, Bariloche & arredores. Mais de um milhão... Que beleza, já estamos parecendo o Japão na produção de turistas e consumidores de máquinas fotográficas.

Felizmente, para manter esse quase paraíso, ao que tudo indica teremos nosso grande líder e guia espiritual a nos conduzir por mais alguns anos. Nossa excelência parece imbatível no voto dito popular, de norte a sul. E com tanta realidade cor-de-rosa, com esse verdadeiro e róseo espetáculo de crescimento (lembram?) se desenrolando bem à minha frente, eu sigo enxergando um negrume, quase total, quase absoluto.

Preciso de um médico, urgente. Tomara que só um oftalmologista mesmo e não um psiquiatra.

Bom Dia do Trabalho pra todo mundo.


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quarta-feira, abril 26, 2006

Sobre a China


A Soninha publicou 4 posts sobre a China em seu blog - http://blogdasoninha.folha.blog.uol.com.br/ - um dos que tento acompanhar regularmente.

Já escrevi sobre a China, particularmente sobre a postura subserviente, tola e equivocada do governo lulla da Silva diante dos enigmáticos olhinhos puxados dos camaradas chineses. Isso se revelou verdadeiro no affaire “soja contaminada”, nas negociações comerciais diversas e agora, mais recentemente, nas questões envolvendo a entrada no Brasil de calçados populares a preços impossíveis de serem praticados por nossa indústria. Nesse caso, o resultado mais imediato foi, até o momento, a perda de mais de vinte mil postos de trabalho nessa indústria.

Não me contive e escrevi alguns comentários a respeito, que transcrevo abaixo. Mas, dêem uma lida nos posts da Soninha. Além dela própria ser ótima pessoa, o blog é bem legal e ela escreve bem, mesmo que correndo doidamente para poder cumprir uma agenda maluca de vereadora e jornalista, além de mãe.


“Soninha, bom dia e parabéns. Sinceros parabéns por falar um pouco – não se preocupe, foi pouco ainda tudo isso que você escreveu, diante do problema brutal, quase imensurável, que é a China. Com relação a essa nação, três temas me são particularmente caros, por todo seu conteúdo de terror, destruição e riscos que extrapolam as fronteiras chinesas.

Não sou budista, mas desde que me conheço por gente com alguma leitura me identifico com a causa da liberdade tibetana. A ação chinesa sobre o Tibet é vergonhosa e criminosa. Só de pensar nos crimes que por lá são perpetrados diuturnamente, nossa, é até difícil expressar a gama de sentimentos que isso desperta.

A outra grave questão chinesa é sua inserção na economia mundial da forma como está se dando, predatória e baseada em trabalho semi-escravo, para dizer o mínimo. Os governos ocidentais, de maneira geral, tem baixado a cabeça (para não ser chulo e falar outra coisa) para o governo chinês e de forma vergonhosa. O atual governo brasileiro foi e é pródigo em gestos e ações desvinculadas da realidade e extremamente burras. Já tivemos prejuízos imensos quando os chineses, espertamente, nos botaram contra a parede no caso da soja. Por ser um tema que conheço um pouco, escrevi a respeito na época, textos que estão também no meu blog. Atualmente, já podemos contar na casa de vinte mil, e isso só por enquanto, os empregos tupiniquins perdidos nas industrias de calçados populares, graças às importações por custos ridículos e irreais, de calçados populares – como sandálias de dedos, por exemplo – importados da RPC. No caso dos calçados que usam couro, uma “boa” notícia na visão das sumidades governamentais: a RPC aumentou suas compras de couro bovino entre nós. Fantástico! Agora seremos, também, colônia chinesa.

E, finalmente, por último, mas não menos importante, a questão ambiental. Com a derrocada da União Soviética, descobrimos que preservar o ambiente era tão somente um desejo das burguesias ricas e endinheiradas do Ocidente capitalista. Esse quadro pouco mudou. As nações pobres, as populações pobres de todas as partes e os regimes tidos, havidos e ditos como socialistas, c*m e andam para o ambiente. Ou, como se diz em terras tupiniquins, meio ambiente. “Três Gargantas” é a face mais visível e espetacular de monstruosas agressões ambientais. Mas as usinas térmicas chinesas e toda sua indústria estão entre as mais devastadoras fontes de poluição do planeta hoje.

Ainda no caso da usina-represa-gigantes, vale notar que controle de inundações eficaz deve ser feito a partir do controle das águas em seus nascedouros, com a multiplicação de obras de pequeno porte, cada uma segurando uma pequena porção de água, impedindo que esta ganhe volume e força. Querer controlar as cheias do Yang Tsé com uma obra gigante é ameaçar a inteligência e remar contra a natureza. E o homem nunca teve sucesso, em parte alguma, sempre que se pôs contra a natureza.

Sobre a China há ainda a questão das liberdades civis. O assassinato de bebês do sexo feminino. A subserviência do Google, Microsoft, Yahoo e outros ícones da internet aos desejos, caprichos e censura do governo chinês. A comercialização de órgãos humanos que você discutiu num dos tópicos. A exploração selvagem, cruel, irracional de animais diversos. A constante ameaça sobre Taiwan. E por aí vai.

Enfim, esse tema é fascinante e dá horas, dias, semanas, meses de discussão, coisa que no Brasil não se faz, nem sobre o Brasil mesmo, que dizer sobre a China!”


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terça-feira, abril 25, 2006

Uma cachorrinha e um sonho lotérico


Desci do carro numa fazenda no interior do Mato Grosso e os cachorros vieram correndo em minha direção. Não precisava ter medo, de longe sabia que eram amistosos. Mais que isso, estavam loucos de vontade de nos ter como amigos.

Eram dois, um macho e uma fêmea. O macho saltitava ao redor, com vontade de pular em nossas pernas, vontade domada pelo medo de um castigo. A fêmea gania, abaixa-se, balançava com imensa força seu rabo fino e comprido. Para não abocanhar a gente na demonstração de alegria, trazia na boca um papel. Mais que um papel, um volante de loteria. Com jeito, pedi-lhe que me desse o papel. Ela deu. Imediatamente, pegou do chão uma folha seca de uma árvore qualquer e ficou com ela na boca. Treino, medo ou simples mania? Nunca saberei.

Esperançoso, olhei o volante.

Vazio.

Nenhum número marcado.

Mas, aqui e ali, manchas de sujeira. Com boa vontade e alguma adivinhação, poderiam passar por indicações.

Bobagem da grossa? Quem sabe? Quem é que conhece os caminhos e atalhos com que a sorte nos presenteia?

Dobrei o volante e guardei-o no bolso. Abaixei-me e acariciei a cachorrinha, nessa altura mais que uma nova amiga, uma mensageira da boa fortuna. Ué, por que não? Tudo, nesse mundo, é possível. Além de carinhos em sua cabeça, como um prêmio extra, arranquei alguns carrapatos já graúdos, cheios de sangue, pequenas azeitonas escuras se destacando contra sua pelagem branca. Bonzinho, fiz o mesmo, porém um pouco menos, no macho. Só depois disso fui atrás do meu pessoal que já estava bem à frente, preocupados em fazer o trabalho dentro do prazo, gravando imagens para uso futuro, enquanto eu me detinha em festinhas para cachorros e devaneios com prêmios de loterias.

Agora, passados vários dias, já joguei na loteria, tentando adivinhar se as marcas de sujeira estavam no 39 ou no 22. E sonhei, claro. Nada ganhei. Acho que a Dona Sorte esqueceu de marcar os números ou a cachorrinha pegou o volante errado. Não faz mal. Naquele momento nós nos divertimos e vivemos alguns bons minutos, os dois cachorrinhos e eu. Não é pouca coisa.


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Arvoredo...




Há quanto tempo não leio e, mais tempo ainda, não escuto essa palavra: arvoredo.

Palavra bonita, sonoridade gostosa, e pra quem é caipira, o “r” do “ar” rola na boca, cheio, gostoso, redondo. As mentes mais objetivas, eu ia dizer pobres, mas seria um exagero e uma ofensa, imaginam arvoredo como um conjunto de árvores. Pobre descrição, isso sim.

Arvoredo é sombra no calor do meio do dia no interiorzão de São Paulo. Boa pra brincar, quando se é do tempo de brincar. Boa pra descansar, em qualquer tempo para qualquer tempo. Arvoredo é onde a gente ia caçar passarinho em eras outras, há muito passadas, e vamos hoje, onde por acaso exista um, em busca de sossego, beleza e frescor.

Não dissocio arvoredo de frescor. E vice-versa. Da mesma forma, outro sinônimo para essa palavra gostosa é conforto. Ache um arvoredo e achará muitas vidas ao redor e dentro dele. Lugar confortável costuma atrair muita gente. É como a cozinha da casa da gente. Não, da casa da gente hoje, não. As cozinhas de hoje são funcionais, jamais confortáveis, como eram as cozinhas de outrora. Aliás, tal como as cozinhas, os arvoredos de hoje também tem lá sua funcionalidade expressa e aparente, ditada antes das sementes germinarem pela prancheta de um projetista de espaços.

Estou divagando e perdendo o fio da meada. Não por acaso, palavras feias começam a aparecer, em tudo e por tudo diferentes de arvoredo.

Arvoredo combina com chiniqueiro e combina com esconde-esconde. Começo a desconfiar que arvoredo combina com infância, talvez por isso, nesse mundo tão adulto, sério e eficiente, a gente não ouça, não leia e não veja mais arvoredos.


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quinta-feira, abril 20, 2006

Mato Grosso, Céus & Chuvas - 8

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 7

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 6

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Meios de transporte

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Gosto dessa variedade de meios de transporte. Faltou um barco dessa vez, muito presentes em outras.

Um bimotor Seneca II, fabricado sob licença pela EMBRAER, e no qual já acumulei milhagem e horas de vôo suficientes para... hummmm... Para nada. hehehe

Uma pickup cabine dupla, com tração nas 4 rodas ("traçada").

E um ultraleve, vindo de Canarana, para uso nas gravações.

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Pausa poética


quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência


Paulo Leminski, in “Poemas” – 3ª edição – Cantadas Literárias

Cavernas e algo mais




“Procuro cavernas. Pago bem.”



Muito perde quem jornal nenhum lê.

Felizmente, eu leio. Na verdade, passo os olhos e leio uma ou outra coisa. E são essas leituras que me mostram a quantas anda e para onde anda esse mundo. É delas, também, que tiro, eventualmente, grandes idéias. Como a que tive há pouco e compartilho aqui, já que, nesse quesito, não sou egoísta, nem um pouquinho.

Cavernas... Anotem e pensem bem a respeito. Esqueçam as PN da Petrobrás e Vale, esqueçam os dólares e euros investidos na dívida pública tupiniquim via bancos caribenhos, uruguaios, suíços e britânicos, esqueçam a compra do chalé em Aspen. Tudo abobrinha, tudo condenado a virar pó, a micar. Caverna é o nome da próxima onda. Bem próxima, acreditem. Por isso mesmo, saindo na frente, estou providenciando a venda das minhas Pet PN e, ao invés de pagar dívidas e comprar vacas, eu vou é procurar cavernas e tomar posse de quantas puder. O primeiro passo é o anúncio cujo título abre esse profético texto (desculpem pelo profético, mas a minha costumeira humildade está acamada, parece que pegou, ou foi pega pela dengue; ou é o dengue?).

Dou preferência a cavernas bem localizadas, ou seja, com acesso difícil e único, facilitando a visualização de quem chega e a eventual defesa contra quem chega. Por uma questão de gosto pessoal, aprendida desde o berço com nossas nonas, minha mulher e eu damos preferência a cavernas sequinhas, sem água gotejando pelas paredes, exceto nos fundos, já servindo como abastecedouro de água, coisa de fundamental importância de se ter em casa, como bem sabiam os viventes da Idade das Trevas ou Medieval. Por comodismo e facilidade de limpeza, dispensamos a presença de morcegos.

Antes de empenharem seus recursos nesse investimento, vocês devem estar se perguntando o porque disso, não é mesmo? Ora, a resposta é fácil. Vamos a ela, e vamos por partes, numeradas por comodismo – de novo essa palavra – e não por ordem de importância.

1 – lulla da Silva, presidente do bananal, emérito líder e guia espiritual de um bando de 40 pessoas conhecidas por mensaleiros ou quadrilheiros, junta-se a invasores de terras e depredadores de centros de pesquisas e máquinas modernas; põe o boné na cabeça e abobrinhas na boca, dando uma apavorante visão do futuro que nos espera;

2 – o companheiro Chávez – o presidente do bananal do norte, não o palhaço autêntico, fecha sua salinha na Comunidade Andina e abre um salão no Mercosul, onde já chega dizendo que “esse grupo de países precisa de uma transformação”; calados, os presidentes de Uruguai e Paraguai só ouvem; já o companheiro Evo balança a cabeça, bolivarianamente concordando; há uma certa parecença sonora entre bolivarianamente e bovinamente e não é mera coincidência;

3 – na terra do companheiro Evo, bravo brigador pelas causas justas, o povo de Puerto Suárez e arredores seqüestra 3 ministros “do povo”, em protesto contra o embargo das obras de siderúrgica brasileira que lhes dava trabalho no presente e daria ainda mais no futuro; o companheiro Evo, esteio e guia espiritual dos trabalhadores pobres e oprimidos, bem como dos índios, manda a polícia descer o cacete no pessoal e mostrar que esse tipo de coisa só é aceita quando feita pelo “povo certo”, ao que se presume, o povo dele.

Essas provas inequívocas de uma nova Era das Trevas só mostram que tudo acontecerá primeiro em LatinoAmerica, mas não ficaremos isolados na regressão. Vejam o item 4:

4 – em Londres, Tony Blair descarta ação militar contra o Irã dos aiatolás, desdizendo George W. Ora, como todo mundo sabe que Blair nada representa, nem mesmo recados dá direitinho, começa a me parecer plausível que teremos ação militar contra o Irã dos aiatolás; buenas, se essa ação, combinada às ações e inações dos grandes líderes latinoamericanos não nos conduzirem a uma nova Era das Trevas, então... Bom, então sorte nossa. Mas não sei, não.

Enquanto isso, quem souber de boas cavernas, por favor, entre em contato.



A ADESG informa...

Até anos recentes, a poderosa mídia da antiga capital bananeira inundava o bananal de norte a sul e de leste a oeste com as coisas & manias da outrora aprazível cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro (que continua aprazível em muitas partes, em outras nem tanto). Entre elas, os comunicados do serviço de som do Maracanã, sempre começando pelo “A ADESG informa substituição na equipe do XPTO: entra Fulano e sai Beltrano.”

Aproveitando a chamada, temos um comunicado da maior importância:

“A ADESG informa substituição no nhenhenhém das esquerdas latinoamericanas: saem Karl Marx e Vladmir Ilitch Lenin e entra Simon Bolívar. Sai o Marxismo-Leninismo e entra o Bolivarianismo.”

E assim seguimos nosotros com nossas vidinhas, agora iluminadas pelas luzes emanadas dos companheiros Chávez e Morales.


Bom feriado a todos. Essa é a grande vantagem de uma pátria com heróis: feriados pra gente gozar.

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 5

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E embaixo de chuva ficamos e abastecemos.

A terra vermelha virou barro, mas nada sério, só precisamos de um pouco mais de jeito e força para mover o Seneca II.

Coisas do Mato Grosso.

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 4

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Dela viemos, nela ficamos e para ela voltamos.
A terra?
Não , a chuva.
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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 3

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 2

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Mato Grosso, Céus & Chuvas - 1

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quarta-feira, abril 19, 2006

Jatinhos... e outros gostos


Temos algumas coisas em comum, eu e o companheiro Zé Dirceu. Gostamos de bons vinhos, embora ele beba os Romanée Conti e eu dessa seara só conheça o rótulo. Gostamos, também, de viajar na primeira classe. Definitivamente, nada mais gostoso. Pena que minha vivência tenha se dado em velhos trens da Cia. Paulista, mesmo assim em duas ou três raríssimas oportunidades há algumas décadas, no trajeto São Paulo/Marília, enquanto o companheiro usufrui dessa delícia em aprazíveis vôos São Paulo/Europa/São Paulo. Temos em comum, também, o fato de já termos sido de esquerda. E, finalmente, pelo menos para esse texto, temos em comum o gosto por jatinhos.

Realmente, viajar é muito bom, mas só se for na primeira classe ou, muito melhor, num jatinho todo nosso. Não importa que não sejamos o dono, uma grande bobagem, por sinal, já que o dono tem que se preocupar com revisões, garantias, pagamentos e salários de pilotos & agregados aeronáuticos. Já como passageiros, desconhecemos todos esses abacaxis e ainda cobramos pelo refrigerante diet, cerveja gelada e uísque - no mínimo 12 anos. E, fundamental, castanhas de caju e macadâmia.

Para quem ainda não teve essa experiência, recomendo. Vale mui to a pena. A minha primeira vez já data de muito, muito tempo. Estava placidamente sentado na sala de espera do Salgado Filho, em Porto Alegre, esperando a chamada para meu vôo de volta para São Paulo. Enquanto esperava, mergulhei na leitura de um policial ou de um thriller. Tão fundo mergulhei que, quando dei por mim, o povo do meu vôo não mais estava na sala de embarque. Corri para o balcão da companhia aérea e perguntei pelo meu vôo. A guria a quem fiz a pergunta espantou-se. Perguntou onde eu estava, se não tinha ouvido a chamada, essas coisas meio óbvias. Mostrei-lhe o livro e acho que ela entendeu. Sacou o walkie-talkie e falou com alguém. Preocupado que ela fizesse alguma besteira, já fui dizendo que não, jamais embarcaria no avião se ele parasse e abrisse a porta para mim. Hoje, seguindo o exemplo do bravo comandante do Exército, vejo que tal atitude mal nenhum me faria, afinal, o que são vaias de desconhecidos para um ego saudável? Naquela época, contudo, meu senso de ridículo, minha vergonha, meu apego ao “fazer tudo certinho”, impediram-me de dizer as palavras mágicas.: “Pode parar o avião que eu embarco!”

Depois de trocar meia dúzia de inaudíveis palavras no aparelhinho, ela pediu-me para segui-la. Felizmente, não tinha bagagem despachada e o que eu levara para Porto Alegre estava pendurado em meu ombro. Embarcamos numa Kombi – pela segunda vez na vida, uma Kombi do Salgado Filho levou-me para uma viagem inesquecível; qualquer hora conto sobre a primeira vez, que envolveu um ex-ministro da agricultura e uma glamorosa, famosa, linda, maravilhosa, chic e rica atriz européia – e, minutos depois, extasiado, vi o meu destino: um reluzente jatinho da TAM, um Learjet, com tapete vermelho e tudo.

O próprio comandante recepcionou-me, como se eu fosse o dono ou presidente de algum grande banco, tal como o passageiro anterior que desembarcara pouco tempo antes. A bordo, apresentou-me o co-piloto e, tão importante quanto, o frigobar, tanto na seção “molhados gelados”, como na “secos & molhados sem gelo”. Aqueles foram bons momentos para serem vividos e agora relembrados.

Taxiamos e, de repente, tome empuxo das turbinas. O bicho disparou e danou a subir num ângulo fechado. Uau! Mal percebi a passagem pela camada compacta de nuvens de uma frente fria e já avistava um maravilhoso por-de-sol na direção dos Andes. Apesar de meu encantamento com o jatinho, dali a pouco, abastecido por macadamias – um luxo meio raro naquele tempo – e coca diet, estava de novo mergulhado na leitura do best seller há muito esquecido. Mas a viagem, as sensações e até mesmo o por-de-sol continuam vívidos em minha lembrança. Como diz a propaganda, a primeira viagem de jatinho a gente nunca esquece.

De lá pra cá foram muitos os vôos em jatinhos. Nos últimos 3 anos, então, foram vários, até mesmo fazendo São Paulo/Porto Velho/Itacoatiara, num belo estirão.

Tirando a primeira vez, quando voei por cortesia do inesquecível Comandante Rolim, que sabia como tratar seus clientes, em todas as outras vezes eu viajei a bordo de jatinhos de meus clientes. E várias vezes fiz isso como caronista. Sem problemas, porém, não sou de olhar os dentes a cavalos dados. Cada viagem, mesmo sabendo que estou perdendo uma “perna” nas minhas milhas ou pontos, é uma delícia. A passagem direta pelos saguões de aeroportos, o embarque sem espera, o vôo gostoso com espaço, enfim, tudo muito gostoso.

Por tudo isso e muito mais, eu entendo o companheiro Zé Dirceu. Nada melhor que pegar um jatinho e dar um pulo até Juiz de Fora, voltando logo depois pro aeroporto e dormindo em casa logo em seguida. Ah... Que coisa boa! O fato de vôos em jatinhos custarem os olhos da cara é irrelevante. Pelo jeito, o companheiro não paga por esses vôos, alguém, um alguém qualquer, paga. O que é bom, também. Ai de mim se eu tivesse de pagar! Estaria tri-falido. O companheiro tá mais é certo, pois a vida é curta e temos de aproveitá-la ao máximo. E, cá entre nós, sair do Rio para ir até Juiz de Fora conversar com o ex-presidente de topete, aquele que foi companheiro da moça sem calcinha com as partes à mostra em rede planetária, é o fim da picada. E bota fim da picada nisso. Portanto, nada como um jatinho para reduzir o tempo perdido e aplacar as dores e desconfortos que encontros desse tipo trazem.

Quanto ao pagamento, oras, alguém cuidará disso. Afinal, não passa de mero detalhe.

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Triste Querência



- Quer ir até Querência comigo para abastecer? – perguntou-me o piloto pouco antes do almoço. Não tinha o que fazer na fazenda, já que estávamos gravando a bordo de um ultraleve, sem lugar para outro passageiro, e isso iria demorar mais umas duas horas. A frase seguinte do piloto foi o divisor de águas entre ficar e ir: “A gente aproveita e almoça por lá mesmo, tem um rodízio razoável na cidade.” E, além de tudo isso nunca perco uma chance de voar sobre esses sertões, desde que em aviões de onde eu consiga distinguir vaca de boi.

- Vamos lá!

Avisei o pessoal e embarquei no Sêneca, ocupando meu lugar habitual, na vaga do co-piloto. O avião correu pela pista de terra, com alguns tufos de grama aqui e ali e levantou vôo. O município de Querência fica encostado nas matas do Xingu, faz divisa com o Parque Nacional, na verdade. Por aqui, as fazendas chegaram há muitos anos, atraídas e financiadas pelos incentivos fiscais da falecida SUDAM. Largas extensões de matas foram transformadas em pastagens que, com o tempo e os cuidados ausentes ou insuficientes, foram se degradando. Agora é a soja que vem ocupando o lugar das pastagens. Para o solo e para o ambiente, a troca é boa, mesmo considerando os produtos químicos usados na lavoura. A grande vantagem em termos ambientais é o cuidado na conservação e no trato do solo. Com a soja, chegam toneladas e toneladas de calcário, que vai corrigir a acidez excessiva e dar a base para a lavoura aproveitar os adubos que virão na seqüência. Uma vez feito o preparo pioneiro do solo, com grades pesadas e grades niveladoras, acabam as mexidas. Doravante, o plantio direto impera e as entradas de máquinas ficam limitadas às plantadeiras, pulverizadores – quando os defensivos ou agrotóxicos não são pulverizados por aviões – e colheitadeiras. Com a soja, acabam as enxurradas e as voçorocas. Acaba a erosão provocada pelas águas e pelos ventos de agosto e setembro, secos e quentes, que criam pequenos tornados, pequenos twisters que provocam grandes prejuízos. Isso se reflete nos cursos d’água, que deixam de ser assoreados chuva após chuva. Já é alguma coisa. Uma grande coisa, na verdade.

Entre a pista de pouso da fazenda e a cidade, sobrevoamos pedaços de matas, trechos de lavouras, agora já colhidas e com a palhada recobrindo o solo, e áreas ainda ocupadas com pastos. O espaço para a soja crescer existe e é grande, sem necessidade de derrubar mais árvores. O horizonte está mais próximo, mais fechado, por conta de uma grande massa de nuvens, com chuvas caindo em vários pontos. E é quase embaixo de um aguaceiro que descemos em Querência.

Essa pista é nova e afastada alguns quilômetros da cidade. Tão logo o Naldo desliga os motores caem os primeiros pingos, e a terra vermelha começa a virar barro. Para não deixar para depois o que pode e deve ser feito agora, esperamos o “frentista” chegar para o abastecimento. Porém, a mangueira da bomba de gasolina é curta, não chega até o avião. Olhamos um pra cara do outro e, como o que não tem remédio, remediado está, entramos na chuva e empurramos o avião. Mas qual que ele se move! Os pneus estão presos ao chão pela camada inicial de terra vermelha molhada, também conhecida como barro. Enquanto reunimos força e jeito, os segundos passam e as gotas chegam aos magotes, aos montes, em pancadas. A água escorre pelas costas, testa, bochechas. Molha os olhos, já sem óculos. Finalmente, ele se move. Empurramos até perto do barracão e corremos para o abrigo mambembe, mas seco. Nosso “frentista”, de chinelinho de dedo e bermuda, se aproxima da asa com a mangueira... Mas não chega até ela. Olha para nós e nada fala. Nosotros tampoco. De volta à chuva, molhada pra burro, mais força, mais jeitinho, mais barro, mais movimento, mais próximo do barracão e agora a mangueira chega.

Ele abre o bocal e vai começar a pôr a gasolina quando pergunto por uma proteção contra a chuva. Estou preocupado com a entrada de água no tanque, mas o piloto mesmo está tranqüilo. “Depois a gente sangra.” Sim, eu sei e conto com isso, mas se a gente pode evitara que mais água entre, por que não? Afinal, gasolina com água e vôo são coisas incompatíveis e o resultado é o chão. De maneiras muito pouco agradáveis, diga-se de passagem.

O frentista volta com uma sombrinha e começa o abastecimento. Embaixo de chuva, pois a sombrinha protege sua preciosa cabeça e não o bocal do tanque de gasolina. Olho pro piloto que já está olhando pra mim. Damos risada, vai com água mesmo.

Terminado o abastecimento, é hora de ir atrás do almoço, só que o táxi ainda não chegou. Minutos depois avistamos nosso transporte terrestre: um velho Escort, duas portas, meio caidaço. O simpático motorista encosta perto da gente e desce, apesar de dizermos que não precisa. Mas precisa, sim, pois só ele tem a manha para abrir a porta por onde entramos que, além de manhosa, só abre por fora. O interior está recoberto de poeira vermelha, boa parte da qual irá emplastar minha camisa branca molhada. E provocar, num tempo futuro, um olhar desconsolado da camareira do hotel. Montado sobre chinelinhos de dedos idênticos aos do frentista, nosso taxista, igualmente de bermuda, nos leva pra cidade. Para a churrascaria.

Vamos diretos à primeira churrascaria, a “boa”. Não tem mais rodízio, agora é só prato “comercial”. Bom, então vamos pra “marvada”. Qual o quê! Rodízio, agora, nem na boa e nem na marvada. Acabou, a cidade não comporta mais um rodiziozinho simples. A cidade só comporta, agora, o prato comercial, meio assim, digamos, mambembe. E é o que comemos, enquanto o pessoal passa bem na fazenda.

A cidade também não comporta mais táxis, no plural. Restou somente o velho Escort. Os dois Santana e a L 200 traçada, todos com ar condicionado, migraram em busca de melhores pousios.

A cidade está quieta, parada, vazia. O silêncio incomoda e eu me pego triste pensando que estou com saudade da zoeira de outros tempos. Voltamos para a pista de pouso e, no caminho, nosso motorista pára na “rodoviária” e pega um bloco de recibo com sua mulher, que vende as passagens de ônibus para os poucos interessados, menos de dez por dia.

De volta à pista, pagamos o transporte – 35 reais – e empurramos de novo o avião, agora para mais longe do barracão mambembe. Dessa vez com a ajuda do frentista. Minha camisa está bicolor: branca na frente e vermelha nas costas. Rapidamente levantamos vôo e voltamos pra fazenda. Querência e sua tristeza ficam para trás.

A tristeza de Querência tem nome, sobrenome e endereço: chama-se soja, ao preço de 15 ou 16 reais a saca, e custo de produção acima do que se consegue com a colheita, o que dá o sobrenome do monstrengo: câmbio.

O câmbio do real valorizado matou o rodízio e acabou com os táxis de Querência.


Abril, 2006

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domingo, abril 09, 2006

Crônicas policiais...


Não, não são crônicas policiais no sentido exato, mas, pode-se dizer que, bom, verdade seja dita, não são crônicas, são comentários, pitacos, como se diz hoje, pitacos policiais. Deveriam ser políticos, mas, bom, é chato, né, mas nesse bananal atual, pelo menos para o meu nível de ignorância, fica difícil separar uma coisa de outra.


Pergunta do MILHÃO

É sabido que o salário de ministro não é lá grande coisa. Eu mesmo não lembro a quanto monta, mas gira aí por volta de uns doze mil reais por mês. É sabido, também, que o salário de prefeito de Ribeirão Preto não é lá grande coisa, igualmente. Sabe-se, ainda, que o ex-ministro Toninho Palocci não é – ou não era, originalmente - homem de grande fortuna, pelo contrário.

Oras, pílulas, então, de onde viria o MILHÃO de reais que o ex-ministro queria oferecer a algum funcionário da Caixa para assumir a culpa pela quebra do sigilo do caseiro Francenildo?

Essa é a pergunta que não vi ninguém fazer e é, entre muitas, a resposta que mais me interessa.

Mas por que ninguém pergunta sobre isso?

Por que?


Diga-me com quem andas...

Sou um grande leitor de livros policiais, principalmente os ingleses e americanos. Mas também leio os brasileiros. Também assisto a algumas instrutivas séries americanas, na linha de CSI, por exemplo. Sou voraz devorador de livros e filmes “de tribunal”. Sou, portanto, um sujeito com boa cultura jurídico-policial, certo? Certíssimo, claro. Qualquer dia, ainda presto o exame da Ordem. Ou me candidato à Academia de Polícia. Como professor, evidentemente. Dão risada? Pois fiquem sabendo que há uma forte reação de muitos departamentos policiais americanos contra as séries CSI e similares, exatamente por seu realismo excessivo, que vem servindo como cursos de pós-graduação para muitos criminosos. Então, se servem para criminosos se graduarem, servem, também, para os defensores dos bens, da lei e da ordem se aprimorarem.

Esse vasto saber jurídico (quem sabe, um dia, o Supremo?) leva-me a dizer alto e bom som: advogados que convivem e confraternizam demais com seus clientes, viram... clientes. É o que acontece.

E paro por aqui, pois ir adiante implica em penetrar em área de risco, restrita a jornalistas com todo o peso de vetustos e tradicionais órgãos de imprensa por trás, além, é claro, de seus fantásticos departamentos jurídicos, algo impensável para um blogueiro pobre metido a besta.

Não sem antes dizer que pretensão e água benta...


Conversa de cerca

Quando chego no sítio vou sendo informado das novidades. É de lei, é natural, é assim que é. O pessoal dá uma encostadinha na cerca, paradinha básica prum gole d’água e um cigarrinho, e pronto, temos dois dedos de prosa rolando.

Vai daí que, Fulano, cujo nome não sei ou já esqueci, caseiro de dona Helena, encostou na cerca e ficou de converseio com Francenildo. Conversa vai, conversa vem, conversa vem, conversa vai, e Francenildo contou que estava com uma boa bufunfa na mão e pensando em comprar um lote pra fazer uma casinha, pensando e garantindo seu futuro. Fulano, naturalmente, comentou com dona Helena a respeito. Muito justo, justíssimo. Oras, com o Nildo envolvido em tantas aventuras, calhou de dona Helena comentar a conversa de seu caseiro Fulano com ninguém menos que... Toninho, à época ainda ministro da fazenda desse bananal.

Consta que foi assim que a república ficou sabendo da grana do Nildo e movimentou seus imensos e vastos recursos no sentido de detonar o pobre caseiro da república de Ribeirão.

Dona Helena entrou em férias, aparentemente meio assim, subitamente, entendem?

Dona Helena é famosa, tem um blog, tem, ainda, a minha admiração e leitura, é uma grande jornalista e, nada mais, nada menos, é diretora da sucursal de Brasília do jornal O Globo.

Depois de um falatório inicial, o nome de dona Helena sumiu da mídia. Assim como ela.

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sexta-feira, abril 07, 2006

Política, mas só um pouco...


Nenhum presta! Nenhum presta?

O sagrado café da manhã da quinta-feira, 6 de abril, já não era dos dez mais por conta da derrota terrível e acabrunhante do São Paulo na noite anterior. Uma derrota que pôs fim a 19 anos de invencibilidade em jogos pela Libertadores no Morumbi. Contudo, faz parte, perder faz parte da vida, a única coisa chata é que, como brasileiros, derrotas vexaminosas têm povoado demais a nossa vida ultimamente. E não são futebolísticas, infelizmente.

O que realmente azedou nosso café matinal foi a manchete curta e grossa do Estadão: “Cunha escapa”. Essa foi a manchete que levou à exclamação que é título desse texto, pronunciada por meu filho. Na seqüência, ele disse que nessa eleição vai anular tudo.

A contragosto, pois detesto falar de coisas nojentas logo durante o desjejum, embora não me incomode de ler a respeito – o que me leva a passar os olhos pela cobertura política tupiniquim logo no começo do dia – conversamos rapidamente sobre essa declaração de voto. Já anulei meu voto em algumas eleições majoritárias. A primeira vez foi na escolha collor x lulla. Bom, respeitando aquele período, o certo é escrever Collor x Lula. Usar as minúsculas para expressar minha falta de respeito pelos nefandos personagens e acrescentar um “l” ao nome do atual presidente, são coisas corretas, na minha opinião, mas só a partir de eventos ocorridos depois das revelações que mancharam indelevelmente suas reputações, embora lulla da Silva e seus seguidores não se dêem conta disso. Pois bem, anular o voto quando somos obrigados a escolher entre o “muito ruim” e o “ruim demais”, ou simplesmente quando nenhum dos candidatos atende às nossas aspirações, é um ato perfeitamente válido, é a manifestação livre e soberana de nossa vontade. O mesmo, porém, não se aplica ao parlamento, onde, felizmente, ainda conseguimos encontrar nomes de pessoas honestas, de bons políticos, capazes de nos representar sem que, por isso, venhamos a morrer de vergonha. É também para o parlamento que devemos escolher nomes que representem nossa vontade, nossa postura, nossa visão sobre o Brasil. Anular o voto para o parlamento é uma medida a ser tomada em casos terminais. Ainda não chegamos a tanto.

A conversa foi rápida, teremos outras até o 2 de outubro. Felizmente, minha ressaca não aumentou com tão deprimente tema. Meu estômago está vacinado contra as imundícies da política tupiniquim.



Surge uma luz...

Pois é, de onde menos se espera que venha alguma coisa, de repente até vem, mesmo. Para minha surpresa, seis deputados renunciaram a seus cargos na Comissão de Ética da Câmara, em protesto contra a absolvição em plenário do mensaleiro João Paulo Cunha. É bom que se frise que, no dicionário prático da vida real, mensaleiro e corrupto são palavras com o mesmo significado. Seis deputados que renunciam e deixam a Comissão de Ética é pouco, mas já é alguma coisa. Como disse ao meu filho, sempre se encontra alguém no parlamento digno de receber nossos votos. Há que procurar, e muito, mas encontra-se.

Não é nada, não é nada, já é alguma coisa. Por conta disso, o título desse texto mudou e recebeu o acréscimo da repetição seguida de uma interrogação.


E por falar em estrelas

O presidente lulla da Silva falou com nosso astronauta. Foi filmado, foi gravado, foi fotografado, foi reproduzido. Pronto. Nosso excelentíssimo presidente, cujo nome recuso-me a escrever com maiúscula, exceto o sobrenome, afinal, milhões de Silvas não têm culpa por esse único, nome ao qual acrescentei um “l” para recordar outro nefando presidente e também para não confundir e desonrar os nobres e úteis habitantes dos mares, fez sua ligação de dez milhões de dólares. Esse é um valor que pode ser acrescido à compra do Aerolulla, que ficou em 69 milhões de dólares, incluindo as mudanças e os equipamentos de comunicação e não sei que mais, melhor indicados para o Air Force One do que para o presidente de um bananal.

É bom deixar claro que nada tenho contra o programa espacial brasileiro, muito pelo contrário. Mas o programa que era sério e previa a ida de nosso astronauta para a estação espacial em troca da participação na montagem da mesma com 6 equipamentos construídos no Brasil, foi suspensa. Porque não cumprimos nossa parte no acordo, vergonhosamente. Aí, o que era sério, científico, planejado, virou galhofa e virou turismo travestido em ciência, com meia dúzia de “experiências” mambembes e marqueteiras. Uma vergonha, mas que atendeu aos desejos presidenciais.

Como gosta de gastar esse elemento! E como gosta, também, de dar esmolas com dinheiro alheio. Já perdoou várias dívidas de nações mais pobres – aparentemente - do que esse bananal, mas não por caridade ou amor ao próximo, não, nada disso. Sua, nossa, excelência, perdoou em troca de votos por um assento no Conselho de Segurança. Votos que não vieram, não viriam e não virão.

Enquanto nosso astronauta viaja um pouco mais próximo das estrelas do que nós, mortais comuns, o Palácio da Alvorada é reaberto com um coquetel para 200 pessoas. Eitcha, que o cara além de ex-pobre é metido a besta! A reforma custou 19 milhões de reais e foi paga por empresas privadas. Com esse mesmo dinheiro, poderiam ser construídas 20 boas escolas ou uns 10 bem aparelhados centros de saúde. Mas isso, da minha parte, é demagogia, pela qual peço desculpas.

Nossa excelência reformou o palácio, mas não o jardim, onde a horrenda estrela vermelha de seu partido continua dando o ar de sua desgraça. Espero que o próximo presidente tome posse a bordo de um trator e passe com ele por cima desse símbolo de uma era tão suja. Não que outras tenham sido limpas, mas, sei não, pelo jeito nenhuma outra chegou perto.

Puxa, que final mais rancoroso! Um trator passando por cima de um jardim. A que nível cheguei, a que nível chegamos.

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quarta-feira, abril 05, 2006

Pobre Maranhão


No interior de São Paulo começou a colheita da cana já há alguns dias. Ela foi antecipada em alguns dias em função da forte demanda por álcool e açúcar e também para aproveitar os estoques de cana que sobraram nas lavouras em 2005. Com a colheita, volta o trânsito pesado nas nossas estradas vicinais e voltam as queimadas e a fuligem que entra em casa por tudo quanto é fresta.

Voltam, também, dezenas de milhares de empregos para o pessoal que faz a colheita manual, cuja área diminui ano a ano, mas que ainda é grande e garantia de emprego pra muita gente.

Parte dessa gente toda vem de fora de São Paulo. Até pouco tempo atrás, o grosso da mão-de-obra temporária vinha de Minas, um pouco da Bahia. Hoje, o contingente maior vem de mais longe, de diversas áreas do Nordeste. E muita gente vem do Maranhão.

Pobre Maranhão... Grande, bonito, rico e miserável. Rico nos recursos e no potencial, miserável na gente que o habita. O estado com o pior IDH do Brasil, país que, como sabem todos, não se destaca por ter bons números nesse moderno quesito que mede qualidade de vida. Talvez o Maranhão esteja assim, seja assim, por ser, ainda, uma capitania hereditária, cujo donatário é o clã Sarney. Por isso mesmo, irrita-me profundamente ver as aparições do chefe do clã, travestido em pai da pátria, respeitado e reverenciado por um monte de gente. Jornalistas políticos admiram-no, falam bem dele, de sua educação. É... Grande coisa, digo eu daqui do meu canto. Vamos ao que interessa.

Ano após ano mais gente deixa o Maranhão – homens jovens, em sua maioria, mas muitos já entrados em anos – e chegam aos municípios próximos a Ribeirão Preto, casa-matriz de famosa república recentemente envolvida em escândalos políticos-financeiros-sexuais. Nessa região temos o melhor cultivo de cana de todo o mundo. Produtividades fantásticas, fruto da terra e da tecnologia nela empregada. E a qualidade não fica atrás, pelo contrário, galopa à frente. Aqui o Brasil real é mais real e é mais ilusório, mesmo sendo tão real. Porque o que aqui se vê não se vê por boa parte do resto. E muito do que aqui se vê, perde-se e é perdido pelos desvãos republicanos.

Muitos maranhenses que para cá vieram, voltaram para suas pequenas cidades sertanejas com fortunas incalculáveis, coisa aí da ordem de cinco mil reais. Dinheiro de sonho para quem sobrevive com cem reais mensais. Nessa safra já são seis mil trabalhadores vindos do Maranhão. Moram amontoados em “repúblicas”, verdadeiros palacetes para quem nasceu, cresceu, vive e morrerá em palhoças de barro e palha, co-habitadas por barbeiros e outros hóspedes; sim, ainda há barbeiros, e como, pelos sertões da vida. A safra vai até novembro. No meio dessa trajetória passarão pelo inverno, e sofrerão. São frias as noites no interior, e são geladas as madrugadas, mais geladas justamente no momento de acordar, trocar e sair de casa a caminho do ônibus e da roça. Pra quem vem das terras baixas lá pras bandas do Equador, um suplício terrível. Aguça a saudade, aumenta a tristeza, deixa o corpo fraco, fácil de cair doente, justamente a única coisa que não pode acontecer. É dura a vida nessas horas, nada de romantismo, nada de poentes coloridos e alvoradas estimulantes com passarinhos cantando. A única coisa estimulante é um gole, são dois goles, três goles ou mais de pinga.

Pra chegar à Califórnia paulista, viajam quase seis mil quilômetros, com desvios e rotas alternativas que tirem os ônibus clandestinos e sua carga idem dos olhares das polícias diversas pelo caminho. A maioria traz, pra comer, farinha de mandioca ralada. E nada mais.

Mesmo uma pequena cidade do interior paulista é um universo grande e diferente para quem deixou os sertões maranhenses. Aprendizados são necessários: água encanada, privada, chuveiro, até mesmo fogão a gás.

Quando a safra acabar, voltam para suas casas. É difícil ajuntar tanto dinheiro assim, como os que juntaram cinco mil reais. Mas mesmo que voltem com dois mil, já é o bastante para viver dois anos, somando com o pouco que conseguem ganhar por lá.

Por lá... O bonito, grande e rico Maranhão, Capitania Hereditária do clã Sarney, há tantos e tantos anos no poder. Enquanto o clã prosperou, o Estado definhou. Empreendimentos vieram, um grande porto foi construído, os turistas chegaram, a soja chegou. Por todo o Brasil, estados pobres continuam pobres, mas não tão pobres quanto o Maranhão.

E eu ainda sou obrigado a ver o chefe do clã ser ressuscitado politicamente.

Sou obrigado a ver o chefe do clã ser reverenciado como raposa política.

Sou obrigado a ver o chefe do clã ser tratado e respeitado como grande líder político.

Sua filha já foi candidata a presidente desse bananal. Pena que abortou sua candidatura. Bananal e o clã Sarney tem tudo a ver.

E seu filho é respeitado líder ambientalista nos corredores sombrios do parlamento bananeiro.

É, é difícil às vezes, né?

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