O contra-ataque da
falsa verdade
André Singer foi porta-voz e secretário de imprensa na presidência
de Luiz Inácio Lula da Silva. Consta em seu currículo que é “cientista político”
e é professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo.
Singer é colunista do jornal Folha de S.Paulo, um jornal que
tem um corpo de colunistas tão grande quanto variado em suas tendências ideológicas,
representando, creio que bem, o pensamento político brasileiro.
Na edição de ontem, sábado, 24 de junho do Ano da Graça de
2017, como se escrevia em priscas eras, Singer escreveu o texto que transcrevo
integralmente mais abaixo.
O título é poderoso: “Delação da JBS revela corrupção selvagem”;
poderoso, forte, não é mesmo?
Sim, muito forte, mas atrasado muito tempo, afinal, a “corrupção
selvagem” foi revelada na delação de Marcelo Odebrecht e nas delações dos então
virtuais donos da Petrobras, a estatal que foi usada como caixa pagadora de
roubos que fariam Ali-Babá e seus 40 ladrões se esconderem nos chinelos com
vergonha de suas insignificâncias.
A “corrupção selvagem”, que nada mais é que a transformação
da velha, doméstica, histórica e comezinha corrupçãozinha em programa,
ferramenta e estratégia de poder, além de enriquecimento pessoal, teve seu
início com a chegada dos “companheiros” do PT e seus aliados ao poder. Ao poder
federal, pois no nível municipal ela já era prática corriqueira, como prova o
assassinato até hoje não esclarecido do então prefeito de Santo André, Celso Daniel.
E, muito provavelmente, o assassinato de outro prefeito petista, o de Campinas,
Toninho do PT. Entre os dois assassinatos decorreram pouco mais de 3 meses...
Três meses... Há quem acredite em coincidência.
Bem, voltemos à “corrupção selvagem” em seu viés singerista.
O texto de Singer tem 418 palavras. Nelas, ele refere-se a Michel
Temer de forma direta ou indireta, 4 vezes. E a Aécio Neves refere-se 3 vezes.
Em um trecho, o “cientista político” diz “o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$
170 bilhões entre 2006 e 2016”, mas não diz uma palavra sobre o que
permitiu tal crescimento.
Ou melhor, diz, sim: “A
cada obstáculo, os empresários iam comprando, igualmente, homens públicos por
baciada. Não espanta que tenham terminado com uma carteira de 1.800 deles no
bolso”...
Não é elegante essa escrita?
E despudorada?
Talvez por ser “cientista político” Singer tenha esquecido,
se é que o soube, que esse crescimento deu-se com dinheiro tomado ao BNDES a
juros de 4% ao ano.
Para abastecer o caixa do banco de desenvolvimento, o
Estado, na forma do governo petista, pegava dinheiro no mercado e pagava por
ele 14% ao ano. A falta de conhecimento (?) de Singer das coisas vis da vida,
como é o dinheiro, impediu (?) que ele soubesse que o joesley, seu irmão e
cúmplices, pegaram dinheiro no BNDES mesmo tendo ficha suja, mesmo aparecendo
como maus pagadores do – pasmem! – INSS. Maus pagadores, grandes devedores do
INSS e o governo emprestou/deu-lhes bilhões e bilhões...
Apesar de colocar o período de crescimento de joesley et
caterva, colocando como fonte a revista Exame, Singer mostrou o boi, mas
não falou o nome do boi.
Ganha um doce quem acertar o nome desse boizão...
É o boi lula-rousseff.
Em minúsculas,
escriba? São nomes próprios, tal como Joesley, e portanto devem ser escritos
com inicial maiúscula.
Ah, é? Ora pílulas, por que cargas-d’água eu devo escrever
esses nomes respeitosamente com iniciais maiúsculas?
São bandidos. São ladrões. São enganadores. Que diabo de
respeito merecem?
Por mim, apenas o respeito da lei. É o máximo e é o mínimo,
ao mesmo tempo.
E já está bom demais, vá saber que tipo de respeito
existiria em situações semelhantes na RPC ou na Coreia subdesenvolvida, a
nortista...
Como dizia, os nomes Lula e Rousseff (ah, o respeito às normas
gramaticais...), cujos portadores abriram os cofres republicanos para os donos
do JBS, com as necessárias contrapartidas, é claro, para cofres pessoais e
partidários (será que o ministro do Supremo que fez campanha por Rousseff irá
atrás desses cofres pessoais ou vai se contentar com as denúncias do
dinheirinho “di pinga” entregue para os atuais denunciados?), não aparecem no
texto do cientista político, ex-porta-voz e secretário de imprensa de um dos
nomes ocultos.
Um mero esquecimento é que não foi...
Ao ler o texto do Singer mais abaixo, atentem para o
elegante “corrupção à moda antiga...”
Atentem, também, à culta, esperta, malandra citação de Abraham
Lincoln...
E tirem as ilações devidas.
Esse texto do Singer é importante, é muito importante.
Ele sinaliza a palavra de ordem do momento: força total
contra Aécio e Temer.
Delenda est PMDB!
Delenda est PSDB!
Nesses dois partidos (o PMDB não é um partido na acepção da
palavra) reside a semente, a árvore e os frutos do mal.
Nada mais se fala do PT. Ou, quando muito, muito pouco se
fala.
Singer, por exemplo, nem o nome do partido cita.
Se alguém disser que não é isso sintomático, não sei mais o
que seja sintomático.
A ideia é, simplesmente, igualar o PT aos outros.
O PT é só
mais um, todos são iguais, todos são igualmente ladrões, o que é lindo num país
em que a mulher pobre que rouba alguns produtos de supermercado pega 7 anos de
cana brava e o joesley (de volta à minúscula) pega zero cana e fica livre,
leve, rico e feliz em Noviorqui, frequentando pontos chiques, inclusive,
segundo imagens que correram pelas redes sociais, sex shop.
Pois é, todos são ladrões, todos são iguais.
Direta já!
O grito pelo qual tanto lutamos durante a ditadura militar
está agora prostituído.
“Direta já!” interessa, de fato, a um só grupo, o mesmo
grupo que açambarcou o poder entre 2003 e 2016. E que, tecnicamente, ainda detém
o poder, pois o atual presidente foi eleito por esse grupo.
Como se diz em moderno português...
#ficaadica
...x...x...x...x...x...x...x...
Delação
da JBS revela corrupção selvagem
A delação de Joesley Batista,
recém-validada pelo STF, bem como a entrevista do mesmo à revista
"Época", permite vislumbrar aspectos novos do processo em curso no
Brasil. A narrativa dos Odebrecht revelava detalhes do sistema sedimentado que
ligava empreiteiras e candidatos desde os anos 1940. Já as peripécias contadas
pelo dono da JBS parecem dizer respeito a modalidades meio improvisadas,
típicas de certo novorriquismo da corrupção recente e, ainda, em estágio de
provas.
Perto do "departamento de
operações estruturadas" do conglomerado baiano, a sistemática onívora da
JBS soa caótica. Tomados por uma febre juvenil de crescimento, os donos do
frigorífico adquiriram, em poucos anos, não apenas congêneres em dificuldade no
exterior, mas indústrias de alimento em geral, e até a tradicional Alpargatas,
para não falar de uma fábrica de celulose e de uma usina termelétrica. Com
isso, o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$ 170 bilhões entre 2006 e
2016 ("Exame", 7/6/2017). Enriquecimento súbito.
Uma expansão tão acelerada implica
também centenas de problemas urgentes a resolver, desde a obtenção de
empréstimos e coinvestidores de alto poder financeiro até a compra de gás
direto da Bolívia, bypassando a Petrobras. A cada obstáculo, os empresários iam
comprando, igualmente, homens públicos por baciada. Não espanta que tenham
terminado com uma carteira de 1.800 deles no bolso.
Uma vez compreendido o mecanismo,
torna-se fácil remontar o que ocorreu. Políticos dispostos a se vender existem,
e sempre existiram, em todas as democracias do mundo: havendo dinheiro, o
negócio fecha. Lembre-se, caro leitor ou cara leitora, do filme
"Lincoln", já citado aqui, e o modo como se deu a conquista da emenda
que, finalmente, declarou extinta a escravidão nos Estados Unidos da América.
Surpreende, contudo, a facilidade
com que personagens tradicionais, experientes e alocados no topo do Estado,
como Michel Temer ou Aécio Neves, caíram na rede estendida pelos Batista. A
serem verdadeiras as histórias contadas, o presidente da República era pródigo
em pedidos domésticos, como o pagamento de um aluguel ou a ajuda a um amigo.
Nas palavras do delator, apresentava seus pleitos de maneira despojada. Se não
fossem atendidos, paciência; depois, viriam outros.
De fato, o diálogo gravado com Temer
no Palácio do Jaburu em março trai o clima ameno de "eu te ajudo, você me
ajuda, e está tudo bem". Do mesmo modo, o pedido fatal do presidente
afastado do PSDB —igualmente grampeado— destinava-se a gastos pessoais.
Ambos acabaram, no fim, mais
expostos do que os envolvidos na "corrupção à moda antiga".
...x...x...x...x...x...x...x...
Delação
da JBS revela corrupção selvagem
A delação de Joesley Batista,
recém-validada pelo STF, bem como a entrevista do mesmo à revista
"Época", permite vislumbrar aspectos novos do processo em curso no
Brasil. A narrativa dos Odebrecht revelava detalhes do sistema sedimentado que
ligava empreiteiras e candidatos desde os anos 1940. Já as peripécias contadas
pelo dono da JBS parecem dizer respeito a modalidades meio improvisadas,
típicas de certo novorriquismo da corrupção recente e, ainda, em estágio de
provas.
Perto do "departamento de
operações estruturadas" do conglomerado baiano, a sistemática onívora da
JBS soa caótica. Tomados por uma febre juvenil de crescimento, os donos do
frigorífico adquiriram, em poucos anos, não apenas congêneres em dificuldade no
exterior, mas indústrias de alimento em geral, e até a tradicional Alpargatas,
para não falar de uma fábrica de celulose e de uma usina termelétrica. Com
isso, o faturamento do grupo subiu de R$ 4 para R$ 170 bilhões entre 2006 e
2016 ("Exame", 7/6/2017). Enriquecimento súbito.
Uma expansão tão acelerada implica
também centenas de problemas urgentes a resolver, desde a obtenção de
empréstimos e coinvestidores de alto poder financeiro até a compra de gás
direto da Bolívia, bypassando a Petrobras. A cada obstáculo, os empresários iam
comprando, igualmente, homens públicos por baciada. Não espanta que tenham
terminado com uma carteira de 1.800 deles no bolso.
Uma vez compreendido o mecanismo,
torna-se fácil remontar o que ocorreu. Políticos dispostos a se vender existem,
e sempre existiram, em todas as democracias do mundo: havendo dinheiro, o
negócio fecha. Lembre-se, caro leitor ou cara leitora, do filme
"Lincoln", já citado aqui, e o modo como se deu a conquista da emenda
que, finalmente, declarou extinta a escravidão nos Estados Unidos da América.
Surpreende, contudo, a facilidade
com que personagens tradicionais, experientes e alocados no topo do Estado,
como Michel Temer ou Aécio Neves, caíram na rede estendida pelos Batista. A
serem verdadeiras as histórias contadas, o presidente da República era pródigo
em pedidos domésticos, como o pagamento de um aluguel ou a ajuda a um amigo.
Nas palavras do delator, apresentava seus pleitos de maneira despojada. Se não
fossem atendidos, paciência; depois, viriam outros.
De fato, o diálogo gravado com Temer
no Palácio do Jaburu em março trai o clima ameno de "eu te ajudo, você me
ajuda, e está tudo bem". Do mesmo modo, o pedido fatal do presidente
afastado do PSDB —igualmente grampeado— destinava-se a gastos pessoais.
Ambos acabaram, no fim, mais
expostos do que os envolvidos na "corrupção à moda antiga".