domingo, fevereiro 07, 2016

Roça, domingão e (o santo) whatsapp



Domingão e de Carnaval, ainda por cima, não que isso faça alguma diferença. Às seis e dez, com pequeno atraso, a ordenhadeira já funcionava.
As baixadas próximas estavam encobertas pela névoa, sinal de mais um dia quente pra burro, com um Sol senegalês. Se bem que, embora não conheça o Senegal, diria que lá o Sol forte é chamado “Sol de Bangu”.  Ou o “Sol de Carinhanha”, igualmente quente, quente pra dedéu.


Estou lavando uns equipamentos e entra uma mensagem no whatsapp. É da Rosa, que foi mais cedo hoje pra casa da sua mãe. Da porteira, onde ela parou para abrir o cadeado e depois deixa-la aberta, ela diz que tem um grande galho caído e que vai impedir a passagem do caminhão do leite, além de dificultar muito a passagem do carro.
Ok, logo mais o marmitão aqui vai lá pra ver o que pode ser feito.


Estou pondo a leitura em dia, preparando alguma coisa pra escrever e entram duas ou três mensagens no zapzap...
É o caminhoneiro do leite.  Está tentando me ligar no celular, mas não conseguiu.
Claro que não! O sinal da TIM é a mesma coisa que uma nota de sete reais.
Aí ele lembrou do zapzap e...


Ele está com o caminhão cravado, atolado, no alto da estrada de ligação da Usina Ferrari com a vicinal do Brejão, cuja continuação é a nossa vicinal, a Jayme Nori. Está tentando ligar pra casa do Rubens e do Renato pra pedir auxílio, mas não consegue.
Normal. Eles têm telefone fixo. Ou melhor, eles “têm”, pois o fixo da Vivo é o mesmo que uma nota de três reais. Passo pra ele os celulares dos dois e digo pra ele ligar via whatsapp. Embora distante, principalmente para ir de trator, é a ajuda mais próxima à qual ele pode recorrer.
Em pleno domingão, claro...


Ligo pra usina... O telefone que tenho só funciona nos horários comerciais. Que beleza...
Ligo pro celular do responsável da prefeitura pelas estradas, mas ele não atende. Pena. Não ia pedir pra socorrer, ia pedir o telefone do “operacional” da usina, pois em 10 ou 15 minutos eles teriam um trator onde o caminhão do Thiago está atolado, poupando o Renato de umas duas horas, ida e volta, só de estrada.


Entra outra msg: o Thiago conseguiu falar com o Renato – santo whatsapp – e ele já está a caminho.
Ótimo.
Ao invés de um domingo estragado, temos dois.



Resolvida essa questão, e agora o Thiago vai chegar aqui tarde pra burro, sem falar que vai chegar de volta no laticínio ainda mais tarde, depois de sair dali no auge da madrugada (legal, né?), vou lá pra fora ver o tal galho.

Pego o celular, claro, não só por ligações, mas pra atender um programa idiota que ele tem que vive me enchendo os picuás pra caminhar mais, ser mais ativo.
Ora, vá se catar, bicho besta!

Enfim, ponho o trem no bolso do calção, pego um facão afiado e lá vou eu em busca do galho caído, um Indiana Jones roceiro e sem chapéu.


Quem me vê de média distância pensa, com certeza, que sou um pescador de atum de mares quentes em plena faina a bordo do barco.
Bota preta, dinamarquesa, de borracha, até o joelho, com biqueira de aço protegida por borracha; calção; camiseta; óculos escuros.
Chique. E, cá pra nós, bonitão. Pelo menos é o que minha avó diria.

(Lembrando da “doce” avozinha do Sheldon, no episódio dessa semana de The Big Bang Theory – esse é um trecho só pros iniciados.)


No caminho vou decepando todos os pés de joá-amarelo que vejo. Malditos joazeiros-amarelos e seus espinhos! Delenda est joazeiros!
Viro a “esquina” das duas figueiras e a meio caminho entre elas e a porteira está o galho tombado, mas ainda preso à árvore.

Saco!

Um galhão cheio de galhos e galhinhos. Vou ter que quebrar galho a dar com o pau.
Nunca serei tão brasileiro como nesses próximos minutos...
Quebrando galhos.

Na verdade, cortando, mas o quebrando ficou mais legalzinho.
Esse pobre braço direito que já dói ao digitar as usuais mal digitadas de todo dia, doía ainda mais pelos ataques aos invasores de frutinhos amarelos e espinhos mortíferos.
Decepar os galhos e empilhá-los acabou de completar  a obra.


Deixando de lado o chororô, finda a quebração de galhos fui até a porteira, mais pra satisfazer o programa imbecil implantado em meu smartphone.

Até que foi bom.
As lofanteras da entrada estão bem floridas.
As pessoas passam e perguntam e até telefonam, como ocorreu duas vezes nessa semana que passou, perguntando que árvore é aquela.

Lofantera. Ou lanterneira. Nativa do Tapajós, mas bem adaptada aqui nessas terras altas de Santa Rita do Passa Quatro.

Fiz as fotos abaixo e voltei pra casa. Agora é esperar o caminhão, lavar o tanque e... ops, já será hora de começar a ordenha da tarde.




(As fotos foram feitas no contraluz; somente à tarde será possível fotografá-las com uma luz favorável; tentarei. Se der, troco, se não der, não troco.)


A vida real e o IPBPP




Bom dia. Nada melhor que começar esse domingo momesco (ainda existe isso?), sétimo dia do segundo mês do décimo-sexto ano do vigésimo –primeiro século da Era Cristã, com essa manchete da Folha de S.Paulo:

“País caminha para a pior recessão de sua história”

Essa, sem dúvida é a maior – e única, analisando bem – conquista do lulopetismo.
E antes que alguém de esquerda ou direita fale alguma coisa, isso não tem a ver com o Bolsa Família, criação de Dona Ruth Cardoso, implementada no governo Fernando Henrique, ampliada no primeiro governo Lula. Até aqui nada demais.
O erro, que leva muita gente a criticar o programa, foi sua transformação em curral eleitoral, ferramenta chique dos modernos “coronéis” de uma esquerda atrasada, ultrapassada e muito mais ignorante que a média das esquerdas burras do planeta. E, transformado em ferramenta eleitoral, foi ampliado além do limite da razão e transformado em esmola ao invés de ferramenta transitória para melhoria de vida de boas parcelas da população.

Há esquerdas inteligentes? Sim, há, e são saudáveis para a democracia, gostem disso ou não os radicais que se julgam de direita.
A verdade, porém, é que não temos direita e esquerda modernas e inteligentes em Pindorama. Pelo menos não organizadas partidariamente.


Há coisa de um ano, já imaginava, pressentia, que o PIB cairia 4%, o dobro do que pensavam alguns analistas sérios.
Pessimismo meu? Antes fosse.
O fato é que “lavouras” como Inflação e Queda do PIB se auto-adubam. Se auto-alimentam. Crescem como bactérias malignas, por multiplicação celular.
Quando a inflação atinge a marca fatal e diabólica dos dois dígitos, as pessoas começam a perder a noção da realidade de custos.
Começam a se defender.

Já contei a história do brócolis que compro muitas semanas do ano de um mesmo fornecedor há pelo menos 3 anos.
Em setembro de 2014, quando esse indivíduo da espécie Mulher sapiens investida em presidente dessa república autorizou o aumento do diesel em 5 ou 5,5% (algo assim), o vendedor de brócolis aumentou o preço de seu produto de 2,00 para 2,50.
Era o “custo do frete”.
Ora, pílulas, o novo custo do frete deveria impactar o preço de venda de seu produto em meros, ridículos, 3 ou 4 centavos e isso já com grandiosa margem de lucro.
Mas, esperto e inteligente, esse agente econômico, que vou chamar de player, gostem ou não alguns puristas, percebeu que se não aumentasse bem o preço de seu produto ele ficaria para trás e começaria a perder dinheiro, pois ele mesmo já começaria a pagar mais caro por outros insumos. E preveniu-se, claro.
De 2,00 para 2,50. Um aumento de 25%.

Há quase um mês, esse mesmo player econômico estava com a cabeça de brócolis a 4 reais.
R$ 4,00
Um aumento de 100% sobre o preço de setembro de 2014, apenas 17 meses antes.
100% de aumento! O produto dobrou de preço.

Nesse mesmo período de 17 meses, a inflação acumulada foi de 15,26% pelo INPC.
Se usarmos o IGP-M, o índice é de 14,15%.
Todavia, se usarmos o IPBPP – Índice do Produtor de Brócolis Prevenido e Preventivo – o aumento foi de 100,00%.


Curiosa, trágica e desgraçadamente, nesses 17 meses caiu o nível de emprego. Caiu a renda média das pessoas. Caiu a produção industrial. Caiu a economia. Caiu o PIB.

O meu fornecedor de brócolis não é o único a se comportar assim.

Como produtor de leite eu vivi um processo inverso: o preço pago pelo meu produto caiu nominalmente aos valores de 2011 e de 2012. Se descontar a inflação acumulada, conta que, por motivos de ordem médica recusei-me a fazer, devo estar recebendo hoje o mesmo ou até menos do que recebia em... 2009. Feliz ou infelizmente, não é a realidade de uma produção primária e basicamente doméstica, como essa, que determina o comportamento do mercado.
O que determina o mercado e o comportamento dos preços, porém, é a postura do player padrão, que vem a ser o meu fornecedor de brócolis.

É isso.




Transcrevo, a seguir, alguns trechos da matéria da Folha:

o 0 o 0 o

A economia brasileira corre o risco de mergulhar em um período de três anos seguidos de contração, fato inédito desde 1901, início da série histórica.
Dados muito negativos de atividade econômica referentes ao fim de 2015 e o início deste ano têm levado as projeções de analistas para o desempenho do PIB em 2016 (Produto Interno Bruto) a continuar piorando.
O banco Credit Suisse esperava contração de 3,5% do PIB, mas agora já trabalha com número mais próximo de 4%, mesma estimativa da instituição para 2015. E, para 2017, projeta um terceiro recuo, entre 0,5% e 1%.
A última vez que o PIB encolheu por dois anos seguidos foi no biênio 1930-1931, quando a economia global passava por crise severa após a quebra da Bolsa de Nova York. Um período de três anos de contração nunca ocorreu.

o 0 o 0 o

O Itaú Unibanco anunciou na sexta (5) esperar contração de 4% do PIB em 2016. Antes, projetava recuo de 2,8%. Para 2017, estima expansão modesta de 0,3%.
A consultoria MB Associados trabalha com cenários alternativos: com e sem a presidente Dilma Rousseff.
Se a presidente deixar o governo, espera queda de 3% do PIB neste ano e expansão de 0,6% no próximo.
Caso Dilma sobreviva ao processo de impeachment, os números mudam para duas contrações de 4,1% e 1%.


Uma observação minha: será que o governo vai pressionar a MB Associados para demitir seu economista-chefe, Sergio Vale, responsável por essas projeções? Lembram do ridículo, grotesco caso da analista do Santander que foi demitida a pedido do grande líder lulopetista?  Pois é... E, vejam só, as previsões daquela profissional revelaram-se até muito mais favoráveis do que o que veio a acontecer realmente.


o 0 o 0 o

“...nações cujos mercados de trabalho se comportam de forma semelhante ao brasileiro tiveram, em média, alta anual na taxa de desemprego de 2,9 pontos percentuais quando viveram contrações maiores que 2% por, pelo menos, dois anos seguidos.
O resultado ajuda a embasar a expectativa do Credit Suisse de que a taxa de desemprego —medida pela pesquisa Pnad Contínua (IBGE)—, que foi de 6,8% em 2014 e deve ter chegado a 8,3% em 2015, alcançará 13,5% em 2017.
O Itaú Unibanco também espera que o desemprego ultrapasse 13% no próximo ano. ”

o 0 o 0 o


Era isso. Bom domingo. Bom Carnaval.