sexta-feira, julho 29, 2011

As agruras – algumas – da seca

Um amigo de Brasília, em troca de mensagens sobre o futebol, sugeriu-me o uso de colírio, ironicamente. O objetivo seria melhorar minha visão da realidade, em sua opinião. A verdade, sem ironia, é que já uso colírio, abundantemente, tanto ou até mais que ele, novamente sem ironia. Afinal, essa Santa Rita do Passa Quatro anda tão ou mais seca que a capital federal, terra de pessoas simpáticas, trabalhadoras, honestas, por nascença ou adoção, e terra de uma gente que mais infelicita que beneficia essa Terra de Vera Cruz. Claro que essa gente última à qual estou me referindo por último, são os muitos, os inúmeros membros das elites de plantão na condução dessa Pindorama.

Elites... Pois sim.

A seca por aqui anda braba, coisa feia, mesmo. A poeira tudo cobre. Uma mera corrida dum galo atrás de uma galinha, para a prática do nobre esporte reprodutivo, levanta nuvens de poeira onde antes havia gramado. As noites secas e frias, não poucas vezes geladas, permitem-nos avistar estrelas a mais não poder, e mais a Via Láctea, esplêndida, fascinante. Pena que bate um vento chato, que seca ainda mais o que já seco está.

Haja paciência, haja muita paciência e perseverança, pois ainda temos agosto a atravessar e setembro. O mesmo setembro que em tempos idos era o mês de plantar, pois é quando começa a primavera e é quando as chuvas chegavam.

Não chegam mais, a não ser por acaso, chuvas perdidas, sem constância.

Ora, como parte das ironias muitas que a vida nos apresenta, é justamente nessa época que a bomba da mina queima. O que aconteceu porque trabalhou tempo demais no seco, vibrou demais, caiu do suporte, quebrou a caixa que armazenava a água que ela bombeava cá para cima e, por fim, entrou em curto e queimou. Adeus bomba.

Comprar nova bomba não é difícil, embora o dinheiro não permita o luxo de cobrir imprevistos, afinal, já não cobre nem mesmo os previstos. O problema é comprar nova caixa para armazenar a água a ser bombeada. O ideal é que tenha ao menos 2.500 litros de capacidade. Ora, como dispor de tal soma é hoje mera ilusão, o jeito foi apelar e fazer uma gambiarra, conduzindo a água do poço que abastece as casas para abastecer, também, os bebedouros das vacas e os demais usos e necessidades.

Embora com 16 metros de profundidade, o poço, responsável por uma água deliciosa que bebo aos litros, literalmente, todo dia, tem sua produção limitada pela seca. Então, anteontem, aconteceu o que eu esperava e temia: ele secou.

Ó ceus, ó vida...

Chamei o Toninho, o homem da água. Foi ele que furou esse poço há 11 anos. Diziam os vizinhos que não tínhamos água por aqui. Alguns poços já tinham sido furados, em vão. Mas o Toninho, ou Tonho, como também é chamado, disse que isso era bobagem. Confiei na sua confiança e contratei-o.

Lembro como se hoje fosse... Ele chegou, desceu do carro, pegou um pedacinho de ferro em Y e disse que era aquele trem que ia dizer-lhe onde furar.

Ai ai ai... Pensei com meus botões, onde é que eu fui botar meu dinheirinho... De repente, num lugar bastante improvável para todos nós, leigos, e pertinho de casa, ainda por cima, a varetinha segura por suas duas mãos apontou para baixo. E com força, aparentemente. É aqui – disse ele. E aqui estamos nós, onze anos depois, a beber e a usar a santa água do nosso poço. Mas agora ela secou. Demos uma noite de descanso, ligamos a bomba... Vinte minutos depois, secou de novo. O jeito foi apelar e chamar o Toninho. Ao telefone já disse-me: Qual seca, nada, seca é só em agosto e olhe lá, o poço tem água, sim.

Santa confiança, e nela confiei, mais uma vez.

Bom, resumindo o que já está muito longo, ele tinha razão: a bomba estava puxando água demais, acima da capacidade de reposição do poço. Regulagem feita, a água voltou a cair e a encher as duas grandes caixas, uma para nós, os macacos sem pelo aqui habitam, outra para as quadrúpedes de muitas tetas e grandes “peitos”, comedoras de capim e cana.

Com a vazão no volume que está, demoraremos uns dez dias para encher as duas caixas com 5.000 litros cada uma. Isso porque ligamos a bomba por duas a três horas e desligamos, para uma parada de duas ou três horas e nova ligação. Durante a noite nem pensar, ela fica desligada. Os banhos dos humanos e a sede das bovinas gastam à noite o que foi acumulado de dia.

Não faz mal, o bom é que temos água. Bendita sensação essa.

sábado, julho 23, 2011

Vãs reflexões

Vãs reflexões

O Brasil está podre, a sociedade está anestesiada, as mais diversas autoridades de todos os tipos e escalões parecem ser cada vez mais, cada dia mais corruptas e descompromissadas com o bem-estar das pessoas, essas que vêm a formar o famoso povo, e pior ainda com a ética, com a moral, com bons princípios.

Ando pensando sobre essas coisas, mas, sei lá, quanto mais penso mais desanimado fico.

Nos anos 70 tudo parecia muito claro: havia o bem e o mal. O bem tinha uns arranhões, o mal tinha uns lampejos bonitinhos, mas era tudo muito claro.

Na verdade não era, mas parecia.

A União Soviética era um modelo, mas descobrimos ser totalmente furado.

Os Estados Unidos eram a encarnação do mal, o que viemos a descobrir não passar de uma grande tolice.

O mal simplesmente é parte em tudo.

A Igreja já era contestada, mas ainda impunha respeito em uns, temor em outros. Hoje, respeito e temor são apenas parte do passado.

O materialismo era combatido, mas era o materialismo histórico, marxista ou, pior ainda, marxista-leninista. O primeiro era meramente reflexivo, o segundo só podia ser ativo ou não era.

O materialismo hoje é dominante, mas não é o histórico, é o reles e vil materialismo do ter por ter, ter muito de tudo cada vez mais usufruindo nada de tudo cada vez mais.

Sentar para conversar e jogar fora, séria ou divertida, só existe se dúzias de cervejas do comercial mais atraente estiverem presentes e forem consumidas. Se litros não forem consumidos individualmente, a conversa não rolou, a festa foi um fiasco, nada se aproveitou.

Não existe o parar para pensar, simplesmente. Pensar incomoda.

No carro, para não pensar, nada melhor que o rádio ou o emepê alguma coisa no máximo volume. Se, assim mesmo, algum pensamento insistir em dar as caras, o jeito é apelar e sacar do celular e falar nada com um monte de pessoas que nada dirão da mesma forma, exceto meia dúzia de frases e expressões consagradas pelo uso e ausência de significados, pois tudo significam, servem para qualquer coisa, mesmo nada dizendo ou justamente por isso.

A internet é parte disso tudo. É agente e é sintoma. Busca-se o mínimo mais e mais, a ponto de ser perigoso que a próxima grande conquista seja a ingestão de comida já digerida, bastando engoli-la e pronto.

sábado, julho 09, 2011

Manhã de sábado

Mais um dia que amanheceu gelado, literalmente. A Tempra, uma vez mais, coberta por uma capa de gelo, assim como os pastos baixos e gramados. Nos termômetros, zero grau. Vacas e bezerros levantando com preguiça e alongando os músculos lentamente. É o que podemos chamar, para seguir o modismo, de inteligência biológica.

O café quente desce gostoso e reanima, estava quase escrevendo ressuscita, mas os dois verbos não são corretos: hoje, ele anima, simplesmente.

Que me perdoem os certinhos de todos os hemisférios, mas cafeína é um motor fantástico.

Eu sou um cara caffeine powered, assumo, desde criança, com 5 ou 6 anos de idade. Bebia café frio e doce em copo, mais de dois por dia. Nos tempos de militância mais pesada, saía de casa de madrugada, depois de duas ou três horas de sono, levando no estômago um copão de café frio da tarde do dia anterior e um pedaço de pão com bastante manteiga. Era a energia que me mantinha ativo até as duas ou três da tarde. Aos 18 anos fazemos coisas impensáveis aos quarenta, cinquenta...

Por sinal, café doce nem pensar, só quando visito alguém que o faz já adoçado. Gosto do café puro, mudança adquirida perto dos trinta, provocada pela eterna gastrite. Sem açúcar, a bichinha diminuiu e desde então temos convivido mais ou menos bem.

Enquanto preparava a cana para picar e fazer o trato da manhã, a Rosa chamou-me para mostrar os Tucanos. Ou melhor, tucanos, pois eram 4 a comer mamões nos nossos mamoeiros carregados. Figuraças. Comem de tudo: frutas, coquinhos, ovos, filhotes de passarinhos e aves... Os Tucanos, denominados T-27 pela FAB, também povoam nosso ceu e, às vezes, fazem manobras bem em cima de nossas cabeças. Em algumas, o barulho é ensurdecedor e dispara a injeção de litros de adrenalina no nosso sistema. Imagino esses bichinhos e outros parentes atacando de verdade, disparando mísseis terra-ar, bombas e tiros de metralhadoras .50. Por pior que consigamos imaginar ainda estaremos a anos-luz da sensação real.

Hoje foi difícil chegar à NewBooks, onde o Leandro até agora não deu as caras. É o frio, ainda bem que a Michele e a Monica não deixam a peteca cair e, mesmo feriado, aqui estamos. Já tomei um expresso e comi um pão-de-queijo bem quente.

Chega um rapaz, mulato alto, forte pra burro, bem falante e começa a conversar com a Monica. A horas tantas, comentando o feriado, dispara que é referente a quando “São Paulo quis se separar do resto do Brasil”.

O mito persiste, devidamente manipulado e perpetuado Brasil afora por interesses paroquiais. Em outros tempos teria feito um discurso e colocado a verdade na cabeça dele. Ou assim pensaria. Hoje, ouço, penso e volto a escrever e liberar comentários no OCE. Desencanei.

A gloriosa prefeitura santarritense – gloriosa, carésima (hummmmmmmm...) e inútil – dividiu a cidade em duas partes. Para chegar aqui tive de dar uma volta enorme, metade dela despejando palavrões cada vez mais cabeludos à medida que novas ruas apareciam bloqueadas, para desespero da Rosa. Paciência.

No OCE, um sujeito escreveu um comentário imenso, mais de 50 linhas, bem mais. Nas quatro primeiras já tinha me ofendido sei lá quantas vezes, inclusive falando dessa bela faccia que ostento. Na quinta ou sexta ofendeu até meu pai, grande pequena figura, a quem devo, em boa parte, ser são-paulino, algo que está no meu DNA. Aí não deu, nem li o restante, deletei tudo. Minha vingança foi dizer ao imbecil que ele escreveu um monte e eu li um tiquinho só. Trabalhou à toa, deu-me chance de dar uma resposta do tipo que gosto e ainda rendeu assunto para encher meia dúzia de linhas com linguiça.

E segue o sábado e outro expresso está a caminho.