sábado, setembro 29, 2012

Chegou o fim de ano - é o que diz o chocotone




Opa, mas é 29 de setembro ainda! – já sei que tem gente falando, até consigo ouvir. Sim, ainda estamos no mês de começo da primavera (com uma cara de inverno atrasado depois de um final de inverno com cara de verão antecipado), mas há pouco, no sacrossanto café da manhã já passei da metade do primeiro chocotone dessa temporada.
Isso mesmo, para mim chocotone é sinônimo de fim de ano, mesmo chegando ao mercado em pleno setembro, apenas para reforçar o caixa da empresa com o dinheiro dos gulosos impacientes. Obviamente, estou mais que dentro dessa categoria, como já foi possível perceber.
Apesar do acepipe natalino achocolatado, ainda faz frio, ainda restam 12 rodadas para o Campeonato Brasileiro acabar, meu bolso e minhas contas ainda não estão assustados com a necessidade de caixa para o 13º e nada mais distante de Papai Noel e suas gastanças do que minha cabeça... E meu bolso, é claro.
Opa, opa, falei de bolso duas vezes num único e mísero parágrafo... Preocupante. Mas hei de sobreviver, porque sobreviver, mais que verbo da moda, é a saída melhor.
Mais uns trinta ou quarenta dias e já poderemos desmamar as últimas bezerras: Carminha, Menina, Teimosa e Valentina. Estou relutando muito em fazer uma permuta de todas as bezerras por algumas novilhas que estão por parir agora em outubro. Embora um reforço no leite fosse muito bem-vindo, a verdade é que será muito agradável passar quatro meses inteiros sem a necessidade de cuidar de bezerras novas duas vezes por dia, todo dia. Além disso, mais dia, menos dia, as chuvas voltarão para valer. Com elas, o barro e os mosquitos e os carrapatos e o calorão e mais um monte de coisas que mais atrapalham do que ajudam quem cria vacas e bezerras e produz leite. Portanto, não ter bezerras novas tem um forte lado positivo.
As chuvas e o calorão têm, entretanto, um maravilhoso lado positivo: os pastos voltam a ser pastos. O capim cresce aceleradamente, o volume de massa verde enche os olhos da gente e o rúmen das vacas, a produção de leite sobe um pouco... E o preço cai um bocado.
Com as chuvas vêm as tempestades e com essas vêm as quedas no fornecimento de energia.
Como os dias já estão ficando mais longos, o Sol nascendo mais cedo e se pondo mais tarde, teremos a volta do tenebroso horário de verão.
Ó, céus... – diria Hardy, a hiena. Quando morava na grande cidade eu gostava, todos nós gostávamos imensamente do horário transtornado, digo, mudado. Era uma delícia ver o dia de serviço acabar tão cedo, passava uma sensação gostosa de férias ou antecipação das ditas cujas. Hoje, morando na roça e dependente mais do que nunca dos ciclos e tempos da natureza, acho esse horário besta uma tremenda amolação, um atraso de vida.
E paro por aqui, começando, mais que uma sentença, todo um parágrafo com uma conjunção aditiva. Paciência.

terça-feira, setembro 25, 2012

Declaração de voto e posição




Há muitos anos uma frase marcou época e marcou também a mim:
“Bandido é bandido, polícia é polícia.”
Seu autor foi um dos mais famosos bandidos da época, ainda nos anos 70, Lucio Flavio, referindo-se ao fato de que devem manter-se separados e quando se misturam coisa boa não sai.
Estado é Estado, Igreja é Igreja.
Não devem, não podem sob hipótese alguma misturar-se.
Sempre que isso ocorreu os resultados foram péssimos, nos casos mais leves, e trágicos na maioria das vezes.
Religião é questão de foro íntimo, nada é mais pessoa que a fé e a prática religiosa de uma pessoa.
Estado é o braço operacional da sociedade. De toda a sociedade, nunca de uma parte dela.  Seus membros devem obediência e lealdade à constituição, vale dizer, portanto, ao povo, a cada um dos cidadãos.
Claro que o Estado extrapola, por meio de seus funcionários, mormente em países atrasados cultural, política e socialmente, como é o caso dessa Terra de Vera Cruz. Mas corrigir os desmandos do Estado é muito menos difícil que corrigir os desmandos de uma instituição religiosa.
No que me diz respeito, igrejas não devem possuir meios de comunicação de massa. A doutrinação e a pregação são individuais ou em grupos de quem pensa e sente de forma semelhante.
O alcance da Igreja, qualquer que seja ela, deve dar-se somente em relação às pessoas, jamais à sociedade em seu conjunto.
Por tudo isso e muito mais, não consigo enxergar nada de bom na candidatura Russomano na cidade de São Paulo, independentemente até da qualidade do candidato – que deixa muito a desejar.
Penso da mesma forma em relação a candidato que represente qualquer religião, qualquer uma.
Se ainda morasse em São Paulo meu voto seria, uma vez mais, do PSDB e de José Serra. No mais, que Chalita crie juízo e mude sua prática partidária. É um bom candidato perdido pelas más, pelas péssimas companhias.

terça-feira, setembro 18, 2012

Um caronista falante sob o Sol queimante


Nesse setembro com cara de agosto, o Sol parece multiplicado, o calor maior que nunca. Claro que não é bem isso, mas é essa a nossa percepção imediata. Às dez e meia da manhã a estradinha que desce a “serra” da Conceição parecia queimar, sensação aumentada pela poeira e pela secura do ar. Mais à frente, vi um homem descer de um trator, que em seguida entrou numa propriedade. Tão logo me aproximei o homem acenou-me, pedindo carona.
Falante, ouvi-o ainda antes de parar a bravíssima Tempra 94, veterana a caminho do milhão de quilômetros. Entrou, ajeitou-se, ajeitou suas tralhas, típicas de quem deu um pulo até a cidade e agora volta para casa com algumas comprinhas. Conversa vem e conversa vem, pois com certa frequência dou descanso à minha boca e trabalho aos meus ouvidos, contou-me o básico sobre ele.
Aposentado, mora com sua “velha” no sitio do “seu” Fulano, com quem tinha um bom acordo. Já tentara morar na cidade, mas seu salário de aposentado revelou-se muito insuficiente para pagar o aluguel de uma casinha, mais as contas de luz e água. O que sobrava mal dava para a comida de meio mês e, com muito esforço, bastava para comprar os remédios. É, tem uma fase na vida de todos em que remédios são mais importantes que todo o resto.
Pois foi então que surgiu o “seu” Fulano, o dono do sítio. Meu passageiro, sabedor que o sítio do dito cujo estava sem gente, procurou-o e fizeram um acerto: ele moraria no sítio, que tem uma casa muito boa para empregado e receberia a luz sem pagar. Quanto à água, provinda de fonte própria e infinitamente melhor que a água “química” da cidade, era só uma questão de ligar a bomba elétrica.
E o acordo foi feito para a felicidade e, quem sabe, a sobrevivência do meu carona e sua “velha”.
Meu falante passageiro tem todo aquele jeito tranquilo de um cara gente boa e leva jeito de quem trabalha tão bem quanto fala.  Vi o sítio ao deixá-lo na porteira. Bem cuidado, cercas em ordem, gado tranquilo, ruminando pachorrentamente, a parabólica ao lado da casa, a casa sede (que certa vez, há alguns anos, conheci por dentro) parecendo em excelente estado.
Disse meu passageiro que a vida vai bem, obrigado. Seu salário mínimo de aposentado é o bastante para os remédios e umas comprinhas de coisas que a roça não dá. Não são muitas. Carne ele tem e não é pouca. Tem seus porquinhos, galinhas e frangos. O “seu” Fulano matou um porco outro dia e, como sempre faz, deu para ele um quarto do bicho e mais as miudezas suínas, que os povos urbanos desdenham, tal como desdenham as miudezas galináceas. Aliás, como desdenham as coisas miúdas da vida e só têm olhos para as grandes coisas, grandes somas, grandes compras... E grandes dívidas que alimentam e retroalimentam o processo e o sistema. Parece meio falso, não parece. E é, mas deixa quieto, mexe com isso não.
Agradeceu-me efusivamente, além, muito além do necessário. Gentil, claro, mas até meio chato. Embora prolixo no escrever, em certos casos e ocasiões sou amante do resumo resumido. Assim pensando e sob suas bênçãos, lá fui eu buscar mais feno para as bezerras no sítio da famosa e simpática atriz.