terça-feira, agosto 12, 2014

Boniteza, secura & medo e mais o chique e o cafona


A madrugada estava uma coisa linda.

Até para quem gosta de ficar na cama valia a pena deixar o calor das cobertas e enfrentar o frio para ver a luz intensa do luar banhando tudo, criando uma sensação meio irreal, como se nossos sentidos transmitissem sinais descoordenados para as profundezas da mente.

O dia amanheceu como vem amanhecendo: céu azul, aberto, luminosidade  intensa logo cedo e o Sol... ah, o Sol, inteiraço no firmamento, quente, chocando com o frio ainda reinante deixado pela noite e madrugada.

Coisa linda de ver e de sentir.

Passarinhada fazendo uma barulheira danada, com cantos diversos misturados. Esse ano, por sinal, é enorme a presença de canários-da-terra aqui em casa. O bando chega em peso para comer um pouco da quirera das galinhas. Pelo alto, mas por baixo, creio que são pelo menos uns doze casais. Das árvores vêm cantos, pios e gritos que desconheço, o que me irrita um pouco. Não gosto de não saber.

As vacas ficam tranquilas. O frio lhe faz muito bem. A bezerrada berra cedo demais querendo leite quente para rebater o frio matinal. Lembro de meu finado tio Zé, tomando “uma” pra rebater o frio. Ou o calor. Ou o frescor ou qualquer outra coisa.

É...
Temos um belo dia à nossa frente, mais um.


Santa Rita do Passa Quatro amanheceu hoje sem água.

O fornecimento foi cortado às seis horas da manhã e será retomado às sete da noite.

Doravante assim será: treze horas sem água, onze horas com água.

Em comunicado, a prefeitura pede o óbvio: que toda água seja usada duas vezes.

É justo.

E nesse momento é irrelevante acusar a autoridade daqui, dali, d’acolá de culpa nesse e em outros cartórios. Fundamental, mesmo, é colaborar. 

Economizar. Usar na medida estrita da necessidade.

Pra rebater o pretenso viés poético das linhas iniciais, digo que não há necessidade de apertar a descarga toda vez que se fizer o número 1. Pode deixar acumular. Cheiro? Ninguém vai morrer por causa dele, até porque a urina, como nos ensinou Gregory House, médico de reconhecidíssimo saber, a urina é estéril. Pudera, com tanto nitrogênio em amoniacal não é para menos. Então, menos frescura e menos descargas. Isso vale para a capital de todos os paulistas e para todas as demais cidades.

Querem outro exemplo de economia e destinação da água servida? Sabe aquela enxaguada prévia e também aquela enxaguada posterior ao ensaboamento ou ensabonetamento do corpo? Então... Pega um balde, bota o bicho embaixo do corpo, entre as pernas, e deixe a água escorrer na maior parte para dentro dele. Depois disso é só deixa-lo ali, do lado e ao lado da privada e despejar sua água na dita cuja para mandar embora os números 2 da vida.

Isso é chique! Acredite.

Cafona, brega, burro e ignorante é desperdiçar água.

Chato mesmo é o medo de ficar sem o mais precioso de todos os elementos, fora o ar: a água.

Vai por mim.
Bom dia a todos.



Vida na roça entre choques e suavidade

Sexta-feira, quase uma da tarde, acabáramos de almoçar. Atrasado, dedilhava um texto pro OCE no notebook, caneca com café cheiroso e fumegante ao lado. Em outra era, estaria batucando e comandando o matraqueado metálico de uma parruda Remington, maço de folhas em branco ao lado do café e do cigarro, esse também fumegante, mas nada cheiroso.
Clichê, já que nunca fui fumante, mas, vai saber, né?
Entretido com tanta coisa e escrevendo sobre dinheiro, dívidas, gestão e confusão no futebol, tomei um baita susto com o estouro.
Forte, seco, daqueles barulhos redondos.
Com ele caiu a luz.
Treinado e pronto, levantei-me com o celular na mão procurando o fone de emergência da fornecedora de eletricidade. Enquanto passava pelo interminável “atendimento” automático, orientei o Zé a desligar o tanque de refrigeração do leite da tomada. Prevenir para não ter que remediar.

Empresa comunicada, começou a espera, como sempre chata e plena de ansiedade, pela viatura com os profissionais e seus equipamentos.
Demorou. Pouco depois das três da tarde chegaram. Fomos para o poste com as chaves, logo antes do transformador. Vasculhando o chão descobrimos o autor, melhor dizendo, o causador do estouro e da falta de luz: um pica-pau. No chão, morto mortinho esturricado, embora sem aparência de torresmo.


O choque foi fortíssimo, tão forte que ele nem percebeu que já morreu e deve estar, ainda, sobre um fio e tentando pegar um inseto no outro fio com o bico. Ao pegá-lo, fechou a corrente, gerou o curto-circuito, foi torrado e deixou-nos sem força para manter o leite gelado, funcionar a picadeira de cana, começar a ordenha das vacas, além, é claro, de deixar-me sem internet e com as geladeiras e freezers desligados.
Toda a vizinhança que usa a mesma rede também foi afetada. Ao contrário de outras vezes, a queda na corrente aqui em casa desligou o fornecimento em vários vizinhos. E todos ligaram para a empresa reclamando, como tem que ser. Funcionou.

Ao fim e ao cabo salvaram-se todos, exceto o pica-pau, bonito e simpático, mas azarado, e a rotina das vacas, atrasada em quase uma hora.
De quebra, o pessoal da empresa disse-me que em breve trocarão os cabos expostos por outros protegidos, o que impedirá esse tipo de acidente e a morte de maritacas (useiras e vezeiras, inclusive aqui mesmo), pica-paus e outras aves.
Meno male.


Hoje cedo, o sábado começando, fui buscar o Dito em sua casa, em Santa Cruz da Estrela ou, simplesmente, Estrela. No caminho, nas primeiras luzes do dia, a paisagem bonita de um amanhecer na roça.

Não resisti e parei o carro para olhar meio minuto.
E mais meio minuto para algumas fotos, afinal, para que ter um smartphone com câmera se não for para usar?
Fim. Até porque, antes de postar isso, vou preparar o café da tarde. Depois, mais dez minutos de computador e aí é levantar de novo e ir pra lida lá fora, começando o trato das bezerras.
Fui.



terça-feira, abril 08, 2014

Uma questão interessante e as questões que ela provoca


Recentemente, a mídia foi tomada de assalto pela questão dos rolezinhos.
Uau!
A maioria não sabia o que era isso. Eu nem imaginava a existência de tal termo e a situação a que ele se refere. E olhem que não sou um sujeito de todo desatento ao que rola na sociedade. Mas, convenhamos, dada minha idade, local de moradia, as esporádicas idas para a grande cidade e seus shoppings, nada mais normal, né?
Os rolezinhos vieram, estouraram, tiveram seus 15 ou 30 minutos de fama (ahhhh, isso todo mundo conhece, afinal, foi criação de um artista americano, morador da Grande Maçã, também conhecida como Big Apple) e meio que saíram de cartaz. A vida continua.

O lance agora é outro (nem sei se ainda se fala “lance”, nesse sentido; se não falar mais, paciência, peço perdão, sou de uma geração já meio antiga, mas – epa! – ainda dentro do prazo de validade), o momento é do “bateu de frente”.

Ao ler a questão da prova da escola de Brasília, dei risada e achei legal. Sem saber dos teretetês todos, mas já imaginando, gostei do professor ou professora que tinha bolado a questão.
Continuo gostando.

Uma das coisas mais chatas e ao mesmo tempo preocupante que vemos na internet todo santo dia é a virtual incapacidade de boa parte dos leitores compreender um texto. Já fui severamente criticado por escrever textos longos, por usar frases longas, por parênteses, vírgulas, crases, palavras... Ah, as palavras... Se depender de parcela que já disse razoável da população, a última flor do Lácio reduzir-se-á à meia dúzia de palavras e uns “par” de dúzias de expressões de usos múltiplos, até contraditórios, dependendo o significado do contexto, do tom de voz, de detalhes que passam despercebidos para a maioria, para os não iniciados.
Nem vou comentar o uso de mesóclises, pois aí o bicho pega.
Quando estudante, e já lá se vão “trocentos” anos, eu detestava questões com versos de Gonçalves Dias ou Castro Alves ou trechos de Joaquim Manoel de Macedo e outros. Achava um pé no saco. Estávamos nos anos 60, mas só usávamos exemplos de autores mortos do século XIX.
Beatles? Cruz credo, nem pensar.
Depois, passados vários anos, em muitas escolas e da parte de professores moderninhos, virou moda usar versos de Chico, não o Bento, mas o Buarque de Hollanda. Indoutrodia, por sinal, escrevi em algum lugar, para ilustrar o que penso de nosso brilhante momento político e nosso mais ainda brilhante estágio social e cultural, que “essa terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso bananal”. Então, o Chico podia e pode. Fica até chique e moderninho e, vá lá, revolucionário. O mesmo com Caetano, Tom, quem sabe o Gil.
Bom, mas Valesca Popozuda não!
Onde já se viu tamanho despropósito, tamanho acinte à fantástica cultura tupiniquim?
O diabo, todavia, é que a gurizada conhece e ouve a moça. E por gurizada, parece-me, pode-se entender uma camada ampla, que supera algumas barreiras, como, por exemplo, a da renda familiar.
Isso me lembra que vi foto da Gisele Bundchen com a Valesca, a quem teria pedido que mostrasse como dar um beijinho no ombro.
Então, a Srta. Valesca pode até não ser uma grande pensadora, mas ela, certamente, é alguém que transmite alguma coisa e é vista e ouvida por um bom bocado de milhões de jovens, usualmente chamados ou tidos como... desmiolados.
Ora, a questão proposta pelo professor Antonio Kubitschek, foi muito interessante porque, com certeza, atraiu a atenção dos estudantes e, mais que isso, levou-os a parar e pensar a respeito.
É pouco? Talvez, talvez seja muito pouco, mas, repito, para quem conhece e vive o ambiente de internet e nele dialoga com internautas do país inteiro e das mais diferentes idades e condições sociais e de conhecimento, esse pouco já é alguma coisa.
Entonces, na boa, gente, menos frescura, menos chilique, menos preconceito com a questão e seus personagens.
Xiiiiiii, usei a palavra proibida, aquela que começa com “pre”, algo que, unanimidade, todo mundo diz que não tem. Ufa, ainda bem!


domingo, março 30, 2014

Internet forever



Há quase nove anos, mais precisamente em 11 de abril de 2005, postei um texto nesse Um Olhar Crônico falando dos pardais – atenção, senhores motoristas: passarinhos e não estações de radar, ok? – e como evitar que entrassem em casa: O fim dos pardais (aqui).

O tempo passou e aqui em casa os pardais deixaram de ser problema, não só devido à solução apresentada no post, como também pelo fato de, em 2010, termos colocado um forro no teto da cozinha.

No decorrer desse tempo foram muitos os leitores que me escreveram perguntando e pedindo mais informações a respeito, informações que, de resto, não tinha e não tenho. O método dos barbantes ou fios é extremamente simples: é só colocar e pronto, os bichinhos param de entrar em casa e fazer uma sujeirada de dar gosto. Sem venenos, sem repelentes, nada disso.


E hoje, como disse no início, quase nove anos completos depois do post, um leitor de Gravatá, em Pernambuco, escreve-me a respeito. Na verdade, o Evandro – esse é o seu nome – não é leitor do Um Olhar Crônico, mas aborrecido com os pardais e procurando um método para espantá-los, fez uma pesquisa no Google e caiu nesse post tão antigo.

Pois é, a gente escreve, esquece o que escreveu, mas está tudo lá, onde quer que seja esse lá. Às vezes um texto deletado por alguém ainda sobrevive porque foi copiado ou transcrito ou compartilhado por outros. 

Isso é bom, não tenho dúvidas, mas pode ser terrível, ?

Muitas vezes alguém escreve um monte de besteiras, seja por acreditar, seja por brincadeira ou por mera bobeira, e de repente, anos depois, justamente numa entrevista de emprego... Uma pesquisinha básica revela a bobagem de outrora. Certo, tem que explicar, mas tudo que precisa ser explicado... bom, se precisa ser explicado é porque não foi entendido, por falha de quem escreveu ou de quem leu, não importa e, portanto, já causou um prejuízo.

É o lado museu da internet.

Think about.


domingo, março 09, 2014

Saudade ilusória ou a saudade enganada de um tempo que não existiu



A cada dia leio artigos e comentários das mais diversas pessoas falando bem da ditadura.

Isso, da ditadura militar implantada em 1964 que destroçou e atrasou o desenvolvimento do país. Que matou e torturou em nome – absurdo – de uma liberdade que não existia.

Dizem que a memória é seletiva e é mesmo. Esquecemos o que é ruim e lembramos do que nos parece ter sido bom.

Houve, é verdade, crescimento econômico apreciável durante a ditadura. É o chamado, ainda hoje, “milagre econômico”.

Abobrinha.

Como abobrinha é, não se iludam, toda a pataquada chata e repetitiva que temos que ler e ouvir sobre o “crescimento” do Brasil nos governos petistas. Aliás, nesse ponto, o da mistificação, da mitificação, da enganação via propaganda (que é muito mais que “anúncios e reclames” nas mídias), a ditadura dos militares e os governos petistas são rigorosamente idênticos. Ironia histórica, vejam só.

O Brasil teria crescido a mesma coisa, ou mais ainda, sob um regime democrático. Tal como teria ocorrido nesse começo de século XXI, independentemente do governo de plantão em Brasília (a menos que fosse uma ditadura como a de Chávez, na Venezuela).

Porque, meus amigos, o Brasil sempre cresceu de forma reativa.

Reagindo, com atraso e lerdeza, aos pulsos de crescimento da economia mundial. Nunca fomos pró-ativos nessa questão.  Nunca fomos agentes de nossa própria história.

“Duela a quien duela.”

Hoje, com infelicidade e temor crescentes, leio escritos de gente supostamente inteligente e com visão do mundo e da história, clamando pela volta da ditadura e seus capatazes e feitores. Foi durante a ditadura militar que prosperaram a corrupção.

Dizem que eles próprios, os generais de plantão na presidência, morreram pobres ou algo próximo disso. 

Pode ser, pouco me importa, pois o que importa é que perpetraram crimes contra a cidadania e contra o progresso e deram guarida ao crescimento da corrupção que hoje desgraça o país.


Não se iludam. A ditadura foi uma merda – e ao dizer isso estou sendo generoso, pois ela foi assassina, ela foi criminosa, ela cassou nossas liberdades, cassou nosso sagrado direito à palavra e dizer que ela foi uma grande merda é muito pouco e redutor.


Não se iludam. É muito melhor viver sob um regime democrático (e não somos, como nunca fomos, plenamente democráticos, até porque o sistema econômico dominante não é o capitalismo, e sim uma variante desse sistema, uma variante doente, deturpada, distorcida – e grande parte disso pode e deve ser creditada aos militares ditadores, que se não entendem de democracia, história e política, tampouco entendem de economia), ainda que com um Congresso chamado de lixo – e aqui nos esquecemos do óbvio: o Congresso somos nós – do que sob uma “boa” ditadura.


Não se iludam, não há ditadura boa. São todas terríveis e maléficas. São assassinas, tanto de pessoas fisicamente, como de ideias e do progresso real das pessoas, das nações, da humanidade. Hitler, Stalin, Mao, Franco, Salazar, Pinochet, nossos generais-presidentes, os assassinos generais argentinos, são todos iguais, claro que com diferentes números, amplitude e intensidade de malefícios. Coloquem os irmãos Castro nessa lista, podem colocar Chávez e outros déspotas menores e maiores. É tudo farinha do mesmo saco.


Querem progresso?

Querem uma vida melhor?

Querem maior renda e mais benefícios reais?

Simples: peguem a lista dos países mais ricos e mais desenvolvidos do mundo, sob todos os aspectos, e vejam o que todos eles têm em comum...


Democracia.

sábado, fevereiro 22, 2014

Vida marvada... ou não



Nesses últimos anos acostumei-me a vê-lo ao levar o Dito para sua casa, sempre com o chapelão tipo Stetson, sempre sentado no portão de sua casa ou na escadinha do alpendre e, principalmente, a ouvi-lo. Fosse cantando e tocando sua viola, ou ouvindo, em alto volume, músicas sertanejas num potente equipamento, daqueles que nos acostumamos a ver nos ombros de amantes do hip hop, rock, funk e – por que não? – sertanejo.
Seu nome é Mato Grosso, é o que sei. Nem creio que por nascimento (alguém já viu mato-grossense fora do Mato Grosso?), mas talvez por paixão a uma terra que povoa os sonhos de quem gosta dos grandes espaços dos sertões, terra que povoa as letras de músicas sertanejas, escritas por sonhadores ou saudosos dos sertões.
Na minha cabeça, o quadro do Mato Grosso ficou meio delineado: a viola, chapéu, o som e o carro na garagem, limpinho e brilhante, sempre o oposto do meu próprio e judiado carro. O carro foi a concretização brigada de um sonho. Quando recebeu um dinheirinho, tempos atrás, teve a opção de comprar a boa casinha onde morava. Não quis, preferiu o sonho, comprou o carro.
Coisas da vida.
Ultimamente, reparei que ele não estava lá na frente da sua casa. E o som não se ouvia. Estranho. Apesar disso, não perguntei ao Dito o porquê das ausências, por mero esquecimento ou porque estávamos no meio de alguma conversa e não queria mudar o assunto. Numa das vezes em que levei-o para casa, nessa semana, perguntei-lhe do Mato Grosso.
- Ué, o senhor não sabe? Ele estava se queixando fazia tempo de uma dor na perna (e o Dito aponta para a sua própria perna direita) e não ia no médico, não ia, não precisava, ia tomar um comprimido e foi levando. Aí, outro dia, a dor piorou e ele foi pra Santa Casa, só que não tinha mais jeito: mandaram ele pra Ribeirão Preto e cortaram a perna dele, logo aqui, ó (e mostra com o dedo um ponto pouco abaixo do joelho).
Bateu uma tristeza grande. Chateado, perguntei ao Dito que diabo era aquilo, como foram cortar a perna do cara assim, sem mais nem menos?
- Mas não foi assim sem mais nem menos, seu Emerson, a dor vinha atormentando ele há muito tempo.
- Puxa vida, mas que coisa, hein? E como ele está?
- Ah, eu perguntei a mesma coisa pra ele, outro dia, e ele respondeu que tava bem, tava sem a perna, mas tava sem dor.
E assim segue a vida, pensei cá com meus botões. Sem dor, o que deve ser muito bom. Mas, agora, de que lhe servirá o carrinho bonito e brilhante? Melhor teria sido comprar a casinha, não?
Vida marvada.
Será mesmo tão marvada assim?
Sei lá, já tive muitas respostas para muitas coisas em outros tempos, em outras eras. Hoje tenho muitas perguntas para muitas, infinitas coisas. E não tenho mais as respostas... que achava que tinha.

Gostaria de ver novamente sua figura, chapelão na cabeça, viola na mão, cantando e tocando. Curiosamente, nunca parei para ouvi-lo, mas, passando devagar, cada vez mais devagar, ouvia um bocado do que cantava. Deu saudade.

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Notícias de um campo que já foi bucólico... mas ainda tem seus momentos


O carro tem ficado ao relento. Ontem e hoje amanheceu sequinho, como se tivesse pernoitado numa garagem fechada. Duas madrugadas secas, mas frescas, o que não é bom para as plantas e animais, mas é confortável para nós, os humanos.
Durante o dia vi a fumaça de uma grande queimada, coisa estranhíssima, já que estamos em janeiro, a safra de cana acabou há muito, não há cana disponível por perto, pronta para corte, sem falar que as usinas queimam pouquíssimos talhões, cada ano menos, até chegarem à queimada zero (no ano que vem ou no próximo, não tenho certeza). Ao levar o Dito para casa, no final dessa tarde, vimos o estrago: o canavial de um de nossos vizinhos, na parte alta de sua propriedade, foi queimado. Tudo indica ter sido mais um incêndio criminoso e o fogo foi tocado num dia e hora em que o caminhão-bombeiro mais próximo (a usina Ferrari mantêm caminhões de plantão; um deles salvou meu pequeno canavial e a comida das vacas, ao avistar um fogo criminoso aqui no sítio; o motorista parou e, sozinho, com o potente canhão-d’água, conseguiu debelar o malfeito). Quando o caminhão chegou o fogo já se alastrara. Um prejuízo para a usina, um gigantesco prejuízo para o vizinho, que tem parte de sua renda oriunda do arrendamento da terra para a usina.

(A foto foi tirada de casa, com a resteva do milho em primeiro plano, onde será plantado sorgo; a fumaça ao fundo é do incêndio do canavial.)

Depois de deixar o Dito em casa fui para o Estrelão, o mercadinho do Sergio, no distrito de Santa Cruz da Estrela.
- E aí, chegou a carne? – perguntei-lhe, pois sexta-feira é dia do caminhão do Friboi abastecê-lo.
- Você não imagina o que aconteceu com a minha carne – respondeu-me.
- Que foi, roubaram os bois? – perguntei brincando.
- Um bando de caras armados parou o caminhão na estrada do Porto (Porto Ferreira) para cá, levou pro meio do canavial e roubaram a carne. Não sei se toda, mas roubaram.
- Caraca, Sergio! Sério mesmo?
Sim, era sério mesmo. Essa carne é fácil de roubar, transportar, comercializar. O caminhão já entrega cortada em peças, dentro de caixas de papelão pesando entre 24 e 30 quilos. Somem no meio dos canaviais, desembocam em outras estradas e aí é correr pro churrasco.
Assim vai seguindo a vida no varonil Brasil desse começo de século XXI.
Ah, é verdade, você está pensando por que diabos terá sido criminoso o incêndio no canavial, ?
Quando há motivo, é vingança, mas é raro. É apenas manifestação da doença que cresce a galope por aqui. Mas chamar de doença é perigoso, vão dizer que é psicopatia e não é caso de polícia e sim de tratamento.
Não é doença, é apenas o mal se manifestando por prazer. Nada mais.

Agora à tarde a Boneca pariu. Nasceu Cybele, que fará companhia para a Cynara. Que estava sem nome até essa tarde, mas como o Zé foi categórico com o Cybele... concordei. E tasquei Cynara na filha da Brahma, para quem um amigo indicara Didinha e, confesso, eu havia pensado em Devassa.
Pode isso?
Não, né? Cynara é muito melhor.



(Boneca e Cybele, uns quarenta minutos depois do parto.)