sexta-feira, setembro 30, 2005

Stanley


E, perto dele, Titica, meio cortada na foto. Aliás, a foto não é grande coisa, mas é difícil fotografar o danado. Essa, pelo menos, mostra sua característica principal: orelha em pé, orelha caída. É seu sinal e seu charme.

O Stanley é um cachorro que amedronta os que chegam no sítio. Mas, logo em seguida, feitas as apresentações de praxe, relaxa.

Curiosamente, a Sophia gosta muito dele, e deixa que ele chegue perto dos filhotes, inclusive. Coisa de centímetros. Já a Titica ela não suporta, principalmente agora, com os filhotes. Ela simplesmente, sem aviso, sem motivo, ataca a Titica que gane desesperada e foge. Eu dou risada, a Rosa fica brava. Mas a cena é divertida, fazer o que? E já com o Stanley, é toda amores. Vai entender.

Ele está bem melhor da picada da cobra, já foi atrás do Ismael no curral.


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Parceiro em close





Bonito ele, não?

Bom cavalo.

Parceiro...



Esse é o Arpuy, um PSI (puro sangue inglês) que faz o favor de me suportar em meu aprendizado – eterno – hípico.

Tranqüilo, forte, obediente, mas de vez em quando tem lá seus “cinco minutinhos”. Nada demais.


Segurando-o, Raimundo, tratador da hípica e gente fina.

Liberdade sempre!




Livre, o cavalo se transforma, cresce, ganha volume e leveza, parece flutuar quando galopa.

Brinca, como criança depois da reclusão da escola, às vezes aparentando violência, mas não, longe disso, é só alegria.

Liberdade!


Um cavalo em liberdade é poesia em movimento, magia pura.

Como a Bianca, aproveitando a liberdade do piquete, o capim sob as patas, o vento gelado da manhã de primavera com frente fria “esquentando” ainda mais sangue e músculos.

terça-feira, setembro 27, 2005

Depois do apito final

É costume dizer que o jogo só termina quando o juiz apita o final. Há controvérsias, entretanto, aproveitando o bordão da televisão. Eu lembro de um jogo que não foi bem assim.

Estava em Marilia, matando as saudades dos parentes e amigos e da cidadezinha onde passei muitos de meus melhores momentos, Padre Nóbrega, à época, ainda, um pequeno distrito de Marilia. Sábado de Carnaval, em 24 de fevereiro de 2009, sem ter o que fazer, eu e meu primo fomos para o Bento de Abreu Sampaio Vidal, o estádio da cidade, assistir ao jogo do MAC – Marilia Atlético Clube – contra a Ponte Preta, de Campinas. Jogo importante, jogo do Campeonato Paulista. Naquele ano o MAC tinha um belo time, do qual recordo bem dois jogadores: o meio-campista Jorginho, que depois foi para o Palmeiras, e um ponta chamado Ferreira, que não sei para onde foi depois que saiu do MAC. Jorginho era uma grande promessa, e ainda garoto de tudo. Tinha jogado a Taça São Paulo de juniores e se destacado. A Ponte tinha mais que um simples bom time: era quase um esquadrão, uma equipe que disputava títulos e vencia os grandes da capital em seus domínios. Seu quarto-zagueiro era o Juninho ao lado de Oscar, com quem fez uma grande dupla, e que já servira várias vezes a Seleção brasileira. Tinha Dicá e outros excelentes jogadores. Seu goleiro era o titular da Seleção brasileira, Carlos.

O jogo foi animado, bom, muito movimentado. E mais para o final tornou-se meio duro, como acontece com freqüência. A Ponte vencia por 3x2 e já nos minutos finais, o MAC empatou. Dada a saída, um contra-ataque rápido e virou o jogo: 4x3. A torcida enlouqueceu de felicidade e queria o final do jogo imediatamente, mas o juiz deu seqüência à partida. A Ponte cresceu em campo, atacou e marcou: 4x4. O jogo já estava uma loucura e a essa altura a torcida estava totalmente revoltada com a arbitragem. A gritaria era ensurdecedora, ainda mais porquê o estádio estava lotado. Como meu tio era anunciante, tinha placa na lateral do campo, tínhamos direito a duas cadeiras cobertas, onde eu estava com meu primo; também esse setor estava lotado. Os vestiários ficavam por baixo de onde estávamos e os jogadores e o trio de arbitragem entravam e saíam do campo bem à nossa frente. Todo mundo gritava e nós também, é claro.

Nesse momento presenciei uma das cenas inesquecíveis que o futebol me proporcionou. Os jogadores da Ponte comemoravam, a torcida urrava de ódio, os jogadores do MAC estavam meio atarantados, mas nem todos. Jorginho pegou a bola no gol e correu para o círculo central. O juiz apitou, o centroavante deu um toque na bola para o lado e para trás até o Jorginho. Ele parou a bola, olhou e chutou dali mesmo, um passo antes da linha de meio-campo.

Tudo isso em frações de segundo. O goleiro Carlos estava na meia-lua de sua área, lembro de vê-lo, ainda, com os braços levantados comemorando com o Polozzi. Ele viu a bola e pressentiu a tragédia. Começou a correr para trás, tentando adivinhar a trajetória correta da bola e chegar a tempo de impedir sua entrada no gol. Que parecia uma coisa líquida e certa.

A bola chegou primeiro que ele. Caprichosamente, porém, passou a reles centímetros do travessão e bateu no alto da rede. Tinha ido para fora. E o juiz apitou o final do jogo.

Então, tudo começou. Outro tio, policial militar, estava em campo e tentou proteger a saída do juiz. Foi difícil, pois chovia. Não água, até porquê o céu era azul e bonito, mas pedras, garrafas, copos, pilhas, tudo e qualquer coisa que aquele povo das cadeiras cobertas, povo de elite, tivesse à mão e pudesse atirar. Naquele momento, eu e meu primo que víamos tudo isso acontecer ao nosso redor, a poucos metros de distância do nosso tio, do trio de arbitragem e dos outros policiais, ficamos preocupados com a segurança dele. Ainda que a muito custo e protegendo as cabeças, saíram todos do gramado.

Os dois times também tinham conseguido sair e já estavam nos vestiários. Foi quando ouvimos o primeiro barulho forte, metálico. Soubemos depois, e vimos no chão, eram paralelepípedos empilhados na frente do estádio sendo jogados nas portas metálicas que davam acesso às cadeiras e também nas janelas dos banheiros e vestiários. As pancadas nas portas se misturavam com as pancadas nas janelas, vidros quebrando, aumentando a confusão. Muitas pedras, principalmente, mas também alguns tijolões, passavam pelos portões e caíam ali por perto.

Fora do estádio, centenas de pessoas, a maioria delas vindas da arquibancada do outro lado do campo, protestavam e queriam sangue. Naquela altura, acho eu, qualquer sangue. Situação clássica: quem está fora não entra, quem está dentro não sai. Nós estávamos dentro. E choviam pedras nas portas. Isso se arrastou por longos minutos, coisa de quase meia-hora, que foi o tempo necessário para a chegada de algumas viaturas policiais com reforços.

Saímos, mas talvez tivesse sido melhor ter ficado lá dentro mesmo. Eram poucos policiais para muitos torcedores. E muita gente que saiu pegou pedras e começou a atirar também. Inclusive na polícia. Eu e meu primo nos separamos no meio da confusão. O certo era aproveitar a brecha e ir embora, mas não conseguia me afastar, ficava olhando tudo. É, mas devia ter me afastado rapidinho quando pude. Em certo momento, a polícia se reorganizou (eu tinha participado de um monte de manifestações em São Paulo contra a ditadura e mais ou menos conhecia o jeitão da coisa, mas, mesmo assim...), fez uma linha e veio para cima dos torcedores, ou seja, para cima da gente, pois naquele momento eu fazia parte do mesmo pessoal que desafiava a polícia.

Pronto! Era só o que me faltava, executivo de uma revista agrícola de prestígio ser preso e acusado de sei lá o que. Sebo nas canelas. Mas eu não contava, tampouco o povo ao meu redor, com a ação policial completa. E de repente saíram vários policiais de uma rua lateral, bem à nossa frente. Presos entre dois fogos, ou entre duas cassetadas.

O pau comeu. Tive sorte. Não fui preso e só levei uma cassetada nas costas. Pernas? Para que vos quero! Corri feito seriema assustada até nosso carro. Meu primo já estava por lá e além da dor nas costas tive que ouvir o sermão, que me deixou com os ouvidos doendo. Fomos para Nóbrega. A confusão continuou. O pessoal tocou fogo em três viaturas policiais: uma Veraneio e dois Fuscas. O juiz e o time da Ponte saíram do Bento de Abreu tarde da noite, quando os ânimos serenaram. Também, pudera, tinham chegado dois ônibus de Bauru com a Tropa de Choque.

Naquela noite, Marilia apareceu no Fantástico. Eu fui dormir cheio de dores. E o jogo que começou às quatro da tarde acabou lá pela meia-noite. Muitas horas e pancadas depois do apito final.


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segunda-feira, setembro 26, 2005

Queimada matinal





A primeira imagem do domingo foi... uma queimada.

Que deu não só o visual como também a trilha sonora. Apesar de estar acontecendo a cerca de 2 km e meio, o crepitar da vegetação seca chegava forte, como se fosse logo ao lado. Essa foi a vista que acompanhou meu café-da-manhã, por volta de seis e meia.

Assim que os dois fogos se encontraram e morreram, a chuva começou.




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Chuva sobre Santa Rita do Passa Quatro



A chuva começou cedo no domingo e continuou pelo dia todo.

Uma beleza.

Fui até a cidade abastecer e comprar jornais e a paisagem era essa.

É primavera - 2005

Sintonize seu cérebro.
Ligue aquela rádio imaginária ou o toca-discos, lembra dele? A gente chamava de vitrola, quando era grande e imóvel num móvel, ou de sonata, quando pequena, e a gente levava pra cima e pra baixo.
Ah, você não lembra mais e só vê tv?
Ok, sintonize, então, o player de CD. Hummm... Coisa ultrapassada? Tá grave, hein? Então, tá. Acesse seu aipoud (é assim mesmo?)...

Vamos lá, “É primavera” – Tim Maia – primeira gravação num ano qualquer do terço final do século XX. Achou? Excelente, play it, Sam. Ops, essa fala é de outro roteiro e só vale para “As time goes by”. Bom, toque logo a música do Tim Maia em background, é a trilha sonora desse texto que, fosse ele bom, não precisaria dessa frescura. Ou alguém já viu alguma coisa do Verissimo com esse nhenhenhém? Ao texto, pois. E à foto da Primavera.






Opa, opa! Você acha que errei de foto? Esperava flores com abelhas e beija-flores? Céu azul, nuvens brancas, dia brilhante? Ihhhh, então errou de texto. Essa é a mais bonita e esperada imagem da Primavera: o céu cinzento em todos os quadrantes e a chuva caindo, ora mansa, ora nem tanto, sem chegar a extremos de violência, sem virar temporal. Só chuva e chuvinha.

O curral vira um lamaçal – coisa que um dia corrigirei. A cozinha fica com o chão marcado o tempo todo. As galinhas zanzam menos e vira e mexe se abrigam numa das varandas. Onde deixam sinais inequívocos da estadia. Aumento o número de idas ao fogão a lenha. Aumento o número de doses de café gostoso, doce e forte. Café de sítio, coado no pano, ao contrário da cidade grande, onde bebo o café que passa pelo papel sem açúcar, sem adoçante. Aqui, bebo café gostoso. É diferente.

Verdade seja dita: é ruim trabalhar na roça embaixo de chuva. Pior: é péssimo. O que salva a gente é a bota de borracha de cano alto. Com ela, dá pra pisar na lama – não, lama não, lama é exclusividade de políticos, na roça a gente pisa é no barro – e dá pra passar incólume pelos montinhos de bosta de vaca meio que flutuando no barro, tarefa assaz facilitada pelos litros de urina que as simpáticas moçoilas de 400 kg – as Jersey – ou 600 – as mestiças – costumam despejar por toda parte. Aí, bom, aí o jeito é dar uma fugidinha pra cozinha, mergulhar a bota num balde d’água, entrar, tomar mais um café e sair novamente.

Outra coisa detestável nesses dias é choque na cerca elétrica. Claro que ela é bem feita, isolada, e coisa e tal, mas é nos dias úmidos que algo sai errado e – záz – tome choque. Choque e palavrões, combinação impossível de ser evitada. Quanto mais forte e surpreendente for o choque, mais cabeludos serão os palavrões. Nenhum ouvido escapa, nem mesmo os das bezerrinhas e jovens vacas. Algumas coisas – como o balaio com cana picada – ficam mais pesadas. Muito mais pesadas. Muito mais desagradáveis de pegar e carregar, inda mais chapinhando no barro. Sempre ele, o barro.

Já falei e repito: a chegada das chuvas tem o dom de nos mostrar como estamos atrasados com tudo. Ou quase tudo. Mais um cafezinho quente ao lado da quentura do fogão a lenha (numa de minhas raras crises de previdência, mandei os rapazes juntarem uns tantos pés de guandu seco e deixar tudo na varanda; temos lenha, aleluia!). Esse, certamente, não está atrasado.

As chuvas provocam o sumiço dos tratores: todos, de repente, ficam super-ocupados. E não sobra mais um tempinho pra vir até aqui fazer alguma tarefa. Claro que a necessidade não atendida gera mais atraso e gera algo pior: desejo. Como uma guria de primeira cria, me encho de desejos: trator, pulverizador, espalhadeira de calcário e adubo, plantadeira, carreta...


A grandeza, dificuldade e diversidade dos pequenos problemas e percalços teve uma coisa boa: sossegou minha vontade de comprar mais um pedaço de terra ao lado. É um sossego temporário, bem sei, por isso mesmo é bom aproveita-lo. Comprar um trator usado e muito velho é um bom substituto. Até porquê esse objeto de desejo conquistado irá gerar novos e diferentes problemas, substituindo, com ampla vantagem, o elenco de problemas que ele solucionou. Ou seja, mesmo com trator no sítio a vida continuará interessante.

Ah, a primavera... Estação linda... Tem flores, sim. As ficheiras estão carregadinhas, algumas muito bonitas no meio de pedaços de mata. Mas o tempo disponível para olha-las é suficiente apenas para um rápido olhar. Na primavera, corre-se. Atrás de tudo, mas, principalmente, atrás de mais tempo para fazer as coisas que o tempo não permite fazer.

O calor está trazendo velhas conhecidas de volta. Essa semana o Rael surpreendeu uma jibóia na beirada do pomar. Interrompida em seu jiboiar tranqüilo, afastou-se no rumo da mata. E sábado à tarde, uma representante do gênero Bothrops – provavelmente uma jararacuçu ou jararaca – picou o Stanley na perna dianteira direita. O Scarpa, pai do Ismael, meu funcionário, demorou para nos avisar. Só chegamos ao veterinário quase 3 horas depois do acidente. Agora, a torcida pela recuperação do Stanley, nosso guarda permanente, assustador com os estranhos e brincalhão com a gente.

Tudo isso é Primavera.

Desliga o aipôudi, a música do Tim Maia já acabou. Mas a estação, finalmente, comecou.


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P.s. - a Imagem pariu uma bezerrinha Jersey PO logo depois que vim embora; criativo como sou, acho que vou batizá-la de ... Primavera.

:o)

quarta-feira, setembro 21, 2005

Sinais da primavera - Unha-de-gato



Essa é a unha-de-gato ou unha-de-morcego. É uma planta trepadeira nativa e que muitas vezes se transforma em praga.

Seu florescimento se dá na primavera e ela fica totalmente tomada pelas flores. Já vi uma árvore toda amarela, parecendo um ipê, mas era a unha-de-morcego.

Esse exemplar está na cerca do vizinho, ainda não vi nenhuma no sítio.

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É primavera... (2004)


Esse texto é velho, já tem um ano de vida, mas acho que tem muito a ver com o atual momento, afinal, os sinais da primavera abundam (cruzes...) em Santa Rita do Passa Quatro.


"É primavera!


Com esse título dá pra fazer poesia, texto poético, madrigais, serenatas, alegorias mil celebrando a vida e a beleza. Como pano de fundo, a beleza e suavidade das flores, suas cores e formas. Muitos poetas e incontáveis poetastros fizeram isso. Muitas donzelas percorreram o caminho da sacada ao altar, com uma ou mais passagens sub-reptícias pela alcova, no doce embalo das palavras melosas de poetas de ocasião, literatos menores e interesseiros. E muitas mais não completaram o trajeto, ficando pelo meio do caminho nos quartos da vida.

Dito isto, posso dizer que a primavera, enfim, chegou ao Sítio das Macaúbas. Primeiro, porque eu estava lá. Gosto de achar que as coisas acontecem quando eu estou presente (acho que isso pede uma hora de analista). Segundo, porque choveu. Choveu bem, a ponto de a primeira chuva na tarde de domingo ter derrubado duas árvores: uma sobre o galinheiro e outra sobre um trecho de cerca elétrica. Com tanto espaço e tanta árvore pra cair, é claro que caíram aquelas que estavam próximas de algo útil. Normal. Sina de produtor rural, inda mais em noites chuvosas. Na cidade o povo fala em Lei de Murphy. Fossem pro campo sentiriam na pele e nos ossos o que é essa tal lei importada que nosotros, tupiniquins mesmo, já conhecemos de longa data. Aliás, bem a propósito, terminada a chuva de tempestade e depois de desgalhar no escuro parte da árvore caída sobre o galinheiro, fomos visitar uns vizinhos. No caminho, mais paradas pra tirar pés de guandu e galhos diversos do meio da nossa estradinha.

No caminho pro sítio vizinho, uma árvore tombada sobre a estrada. Deu pra passar, espremido, mas deu. Logo depois encontramos o alvo de nossa visita, no trator, com um dos genros pendurado atrás, equilibrado sobre a barra do hidráulico, embaixo de uma garoinha chata. Estavam indo limpar a estrada. É bom ter genro disponível nessas horas. Principalmente genro novo, que ainda está na fase “é bom agradar o pai dela”.

E, terceiro e não menos importante, os besouros chegaram. No sábado cobriram o chão de marrom claro. Aqui e ali uma pinta preta. Na segunda-feira, um susto. Jantamos fora, chegamos lá pelas onze e sequer pude parar o carro na varanda/garagem. O piso estava literalmente coberto pelos rola-bostas pretos, grandes e pequenos, de ponta a ponta. Entrar com o carro significaria dois largos rastros de patê de besouro, coisa nada agradável de ver, pisar e limpar, inda mais depois de um belo jantar. Sem falar, claro, na felicidade de moscas e vermes que ficariam livres desses terríveis destruidores de ovos desses bichos desagradáveis e anti-econômicos. Da mesma forma estavam as outras varandas que cercam a casa, inclusive a da cozinha, por onde entramos.

Felizmente, não bebi no jantar, o que me permitiu vencer com facilidade as curvas assassinas do Rola-Abóbora e, depois, empunhar uma vassoura e varrer montes e montes de besouros. Ainda tive a pachorra de coletá-los em balde e jogar todo mundo nos arredores do curral, onde a bosta abunda (nossa, cada coisa feia que a língua portuguesa permite, né!).

Não são apenas os besouros que chegaram. Siriris, içás e vagalumes também. Temo-los de todos os tamanhos. Nesse final de semana foi a vez dos siriris grandes, uns bitelões bem criados que fizeram a festa da passarinhada e das galinhas. Também apareceram içás, mas não o bastante para garantir uma boa fritada de tanajuras – que, confesso, nunca comi e não sei se tenho vontade de.

Envergonhado, confesso que outro dia tomei um susto e não foi pequeno. Voltava do curral, distraído, e pelo canto do olho vi uma luz no carreador de entrada do sítio. Era meio forte, a meia-altura, e vinha em minha direção. Meus centros nervosos alojados em algum buraco da caixa craniana, responderam do jeitinho para o qual foram criados, ou seja, mandaram uns litros de adrenalina pra corrente sanguínea. Na mesma hora, parou tudo na barriga e deu aquele frio. Pois é. Talvez devido à proximidade do dia em que completarei meio século, minha velocidade de análise deixou a desejar. Esse retardo na compreensão do evento permitiu a instalação do sentimento feio, mas muito útil, chamado medo. Inda bem que durou coisa aí de dois segundos, não mais. Mas durante esse tempo, muito longo pro meu gosto, tive medo da tal luz que vinha célere em minha direção. Mas era só um vagalume. O diabo é que os vagalumes por aqui estão com uma luz grande e forte, nada daquela luzinha delicada de outrora. Isso me cheira a determinação nova de algum departamento de trânsito. Pensem bem: se todos tiverem que andar com luzes maiores e mais brilhantes, vai rolar uma grana doida na substituição das referidas. Sem falar na vistoria, certo? Oras, pois sim, esse filme é velho e está entrando em cartaz novamente.

Quem ainda não deu o ar da graça em peso é a sapaiada. Já vi vários pela estrada e em vizinhos, mas lá em casa só apareceram os pequenos, até agora. Sorte dos besouros. Azar meu, no caso dos siriris e içás. Mas, coisa curiosa e que vi pela primeira vez, pelo menos no sítio: as galinhas comeram os besouros. Mais que isso, atiraram-se a eles com voracidade, comendo dos pretos e dos marrons, dos pequenos e dos grandes. Não satisfeitas, conseguiram escavar toda a volta das varandas, enchendo o piso de terra e pedras, atrás de mais besouros.

O gramado amanheceu todo pontilhado pelos montinhos de terra mostrando a entrada da toca de mais um besouro. Cada montinho de terra é uma lápide dos ovos enterrados e que não gerarão novas gerações de moscas-do-chifre, moscas-do-estábulo, moscas, simplesmente, e vermes diversos. Não que tenhamos muitas, felizmente, pois a homeopatia já dá boa conta do recado, mas um ajutório desses não é de se desprezar. Sem falar nos benefícios dos túneis e do esterco enterrado mais fundo, ao lado do raizame das plantas.

Perto do curral, o esterco não recolhido já estava parcialmente enterrado. Esses besouros não perdem tempo, trabalham rápido e bastante. E dizem que os africanos trabalham ainda mais e carregam muito mais bosta para suas tocas. Não é à toa que já tem gente criando e vendendo casais de rola-bostas africanos. Mais uma conquista da globalização, até porque essa história ganhou destaque com uma grande empresa veterinária dando casais de besouros africanos como brinde para quem comprasse seu carrapaticida, terrível contra os carrapatos e inofensivo para os besouros.

Pra não dizer que não falei de flores, temos muitas no sítio, pra felicidade dos beija-flores, abelhas e cambacicas, também conhecidas por caga-sebo, nome tão feio pra passarinho tão bonito. As mini-grevíleas estão com flores. Nas sibipirunas, ainda dá pra achar uma ou outra flor. Vários arbustos estão floridos, nem sei quais, pra nós é tudo erva daninha ou “de mato”, pra espanto dos europeus que gostam de jardinagem e se encantam com elas.

Flores não faltam nesse início de primavera. Mas, com sinceridade, nem reparei direito nelas. Minha atenção ficou toda com o capim nos pastos, com as nuvens carregadas, com a água caindo. O pluviômetro foi a menina dos meus olhos. Meu bem-querer maior. Chato foi pegar enxada e enxadão e ir arrumar as valetas pra controle da erosão por onde as vacas passam. Embaixo de chuva.

Ah, doce e molhada vida campestre.


Santa Rita do Passa Quatro, primavera de 2004."



E agora, por um misto de preguiça, falta de inspiração e oportunidade, ele, texto, volta ou vê a luz do dia. Ou das lâmpadas...

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segunda-feira, setembro 19, 2005

Nem dá pra pôr título!

Peraí, gente, peraí... Não, não, não... Volta a fita. Volta o filme. Volta a história. Chama o Superman e volta o tempo.

Isso! Vamos voltar o tempo e apagar tudo, desde 1500.

Vamos deixar a Terra de Vera Cruz como Pindorama. Vamos deixar Pindorama intocada, habitada por tupiniquins, carajás, botocudos, guaranis, tupinambás, coroados, caingangues, etc, etc, etc.

I’m so sorry, crentes.

I’m very sorry, otimistas.

I’m realy sorry, patriotas e patrioteiros.

Mas isso aqui tem jeito não. Tem jeito nenhum. Sem chance. Esquece.

Acabo de saber pela internet que sumiram 2 milhões de reais apreendidos em operação contra o tráfico de drogas e guardados na sede da PF. Repetindo: guardados na sede da Polícia Federal.

Falar o que depois disso?

Fui.

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Final da madrugada de hoje no sítio.

As nuvens, em boa parte, foram embora, infelizmente.

Com sua ausência, a presença da lua cheia.

É difícil voltar.






A casinha já está habitada.

Um casal jovem, começando a vida.

Espero que combinem.

Sinais de primavera

Fim-de-semana como há muito eu sonhava e desejava.



O céu cinzento, o vento fresco com cheiro de terra e frescor de chuva, saracuras cantando animadas o dia todo felizes, como disse o seu Alcindo.

E chuva, claro.









O jatobá já se vestiu de roupa nova, verde-clara.

Comemora a chegada da primavera antecipada.









As ficheiras florescem nas matas e campos, sucedendo os ipês.

Menos espetaculares, mas também bonitas, colorindo a paisagem.

Perigo e promessa à vista


Quatro coisas interessantes nessa foto, sendo uma inútil, uma perigosa, uma promissora e outra essencial.

Inútil, é a placa. Sem comentários.

Perigosa, é a faixa de terra à vista, mostrando que a seca afetou o volume da represa.

Promissora é a cobertura de nuvens, típica de frente fria úmida.

Essencial é a água que abastece a cidade de Santa Rita do Passa Quatro.

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sexta-feira, setembro 16, 2005

Síndrome da Crise Não-Resolvida



Como tenho andado meio desarvorado, meio desanimado nos últimos dias, ora radical de um lado, ora de outro, ou seja, ora querendo tocar fogo em tudo, ora querendo conduzir tudo com civilidade, consultei um daqueles livros gigantes que os médicos consultam escondidos da gente e depois nos dizem tudo que temos. Esse que consultei não foi o manual das doenças do corpo, foi o manual das doenças da alma, ou da psique, algo assim.

Seria mais fácil se fosse via micro, pois eu digitaria os sintomas e não teria de procurar. Mas, apesar disso, consegui.

Síndrome da crise não-resolvida” – esse é o nome da fera que me tomou a alma. Ou a psique.

Toda crise é dividida por etapas, como dizem, unanimemente os especialistas em crise, também conhecidos por criseologistas (não conhece esse termo? - então, atualize-se) e elas são as seguintes:

- começo
- meio
- enrolação
- encerramento - a) final
- b) final aberto

Segundo os especialistas, essa síndrome manifesta-se, principalmente, na fase “enrolação” e na fase “final aberto”. É bom frisar que aqui, nesse ponto, há um conflito visível entre duas correntes de pensamento dos criseologistas: uma diz que esse final é, na verdade, final inconcluso, e relacionam-no, freudianamente, ao coitus interruptus. A outra corrente, menos freudiana e menos sexista, considera que o correto é falso final, ou seja, algo que parece ter acabado, mas não acabou, algo que parece ser, mas não é. Essa corrente abriga uma subcorrente que considera o “parece ter acabado sem acabar” semelhante ao quadro vivido por parceiros amorosos que vão e vêm, vão e vêm, vão e vêm e nunca se resolvem. Há controvérsias a respeito das reais influências dessa corrente, que se diz lacaniana, mas, desconfiam os membros da ala freudiana, nada mais são que freudianos reprimidos por traumas infantis, até porquê Lacan nada tem a ver com isso. Bom, cada uma dessas correntes e subcorrentes divide-se em duas alas ideologicamente distintas: uma, que se coloca mais à direita, identificada claramente com sexistas mecanicistas, e outra, mais à esquerda, é identificada, um tanto quanto jocosamente, com palradores ininterruptos (pensei que tivesse algo a ver com o coitus interruptus, mas me asseguraram que não, essa ala das correntes e subcorrentes nada tem a ver com sexo, seja em teoria, seja na prática; são, simplesmente, adeptos do discurso). Bom, é isso, entenderam?
Ótimo, vamos em frente.

Como? Não entenderam? Ah, ótimo, vamos em frente. (Eu também não entendi, mas segui em frente, segui até aqui já.)

Trocando em miúdos, finalmente, a crise está na fase enrolação (em inglês – enrolation; em espanhol – enrolación). É uma fase, ou etapa, meio chata. Nada acontece, a atenção se dispersa, os personagens da crise entram em estados semi-catatônicos, novos personagens são chamados à cena, falta entrosamento, falta ritmo, os novos, geralmente, deixam a desejar, ficamos com saudades dos velhos protagonistas, já habituados aos palcos e às luzes. Sentimos a perda de ritmo. O velho nos seduz, o presente nos entedia, o futuro é incerto e é futuro, o que não é e talvez nem venha a ser.

Resultado: pegamos a Síndrome da Crise Não-Resolvida.

Damos pouca importância ao presente. Chegamos a desdenhar o passado. E o futuro... Ah, o futuro... Como o futuro a Deus pertence, lavamos nossas mãos, passamos manteiga no pão e lemos o jornal. Alguns, só a seção de esportes. Algumas, só os segundos cadernos, aqueles da frescura toda. Um ou outro lê o primeiro caderno. Desconfie. Não está lendo, está procurando seu nome na seção de cartas dos leitores.

Embora importante, essa fase enrolación é importante, pois é justamente em sua vigência que as crises se resolvem, têm seus caminhos definidos e bem marcados. É nesse momento que os bastidores mais fervem sem levantar fervura. Ferve-se nos bastidores.

Voltando à primeira e humilde pessoa, estou com a Síndrome. Na bula do livro, descobri que não há remédio para ela, exceto aquele que de todos é o melhor, o tempo. Associado a uma certa dose de alienação, algo muito saudável em muitas ocasiões. É dessa forma, semi-alienada, semi-antenada, que pretendo deixar passar o tempo e revelarem-se as ações dos personagens da crise. Ações que serão determinadas pelas conversas que agitam os bastidores e das quais nada sabemos.

Sonhei com isso essa noite: fui a uma festa da crise e um dos personagens deixou cair uma carteira que trouxe para casa por motivos não sabidos. Lembro de olhar a carteira, abrir, ver o conteúdo. O resto do sonho me fugiu, como a água do mar na praia se esvaindo por entre os dedos. Fiquei sem saber se devolvi ou não a carteira. Espero que tenha devolvido, mas não sei, não. Nem sei o que é que eu fazia numa festa da crise...

É, essa crise pega mesmo! Até em sonho. Vade retro.

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A crise e seus resultados



Ótimo, tudo vai bem.

Temos, finalmente, uma musa que, a respeitosa distância, me parece nada ficar a dever a outra musa de priscas eras, esposa, também, como essa de agora, de outro denunciante de maracutaias & ações assemelhadas. Morena como a outra – a cor do Brasil – e igualmente dona de belas pernas, que os fotógrafos não se cansam de “flagrar”. Aliás, não há como ser musa sem belas pernas. Finalmente, a crise ganhou status, porquê, vamos e venhamos, não há crise que se preze que não tenha sua musa.

Essa crise andava chinfrim, tal como tinha começado, crise barata, suborno de três mil reais, coisa de pobre, não é mesmo? A primeira tentativa de musa, inclusive, deu com os burros n’água. A candidata não era dona de predicados “a nível de” uma crise de primeira classe. Nesse quesito dos predicados essenciais a uma musa, ela estava mais para o Marinho dos Correios do que para o Pedro de outrora. Mas agora com Diana, a musa, a coisa vai. Finalmente.

Eu já andava irritado com essa crise que me parecia de meia pataca. Suborninho de três mirréis, Fernanda Karina pra cá, Gabriela Kenya pra lá, gente que só sabe dizer “num sei” e os mais instruídos e desenvoltos só sabendo falar “não sei”, torturador de galinhas ganhando destaque, virando muso e as desculpas esfarrapadas. Ah, cada desculpa. Teve um que disse que a mulher foi ao Banco Rural pagar a conta da Sky. E saiu de lá com cinqüenta mil reais! Que beleza isso, e eu aqui, besta e pobre, pagando a mesma conta da Sky em débito automático na conta-corrente. Mas já mudamos isso. Combinamos que, doravante, minha mulher irá todo mês ao banco para pagar a Sky na boca do caixa. Previdente que sou, fui ao meu camelô de confiança, que negocia o melhor dos produtos do jet set, e já comprei uma bela valise tipo 007, com fecho de segredo e tudo, daquelas mais altas, mais gordinhas. Ali cabem com folga os cinqüenta mil que esperamos ganhar num dos pagamentos da conta da tv paga. Falando nisso, só me falta descobrir uma agência do Banco Rural aqui em São Paulo. Alguém sabe onde tem uma?

Essa crise tem provocado coisas incríveis. A mais espetacular delas foi, sem sombra de dúvida, o silêncio de dona Marilena, famosa intelectual orgânica do partido no poder. Calou-se a sábia por não saber o que dizer. Instada a dizer alguma coisa, e sem o auxílio de algum texto adrede preparado que pudesse usar como cola, digo, como guia, dona Marilena abriu a boca e falou um monte de asneiras. Nem vou repeti-las, pois me senti pessoalmente atingido. Mas seu silêncio, enquanto durou, foi de ouro. Pena que acabou.

No Estadão, Arnaldo deitou e rolou, espojou-se, mesmo, em cima da crise. A ponto de provocar uma resposta de Luiz Fernando, bem escrita, claro, que ele não é de escrever mal, ao contrário do infeliz que digita essas mal traçadas, mas chocha, me lembrando aqueles panfletos incendiários que rodávamos em mimeógrafos clandestinos preparando a Revolução, a Queda de Brasília e a tomada do poder. Mas de uma frase eu gostei: “Filósofos de porta de federações de indústrias que dizem aos donos do poder o que eles gostam de ouvir e dão respeitabilidade intelectual à rapinagem de um país pela sua própria elite...” Linda, não é mesmo? Ah, quem me dera ter escrito algo parecido nos áureos tempos de outrora! Quem sabe, por conta de tanto talento tivesse eu permanecido a bordo da política e hoje, por que não, poderia ser o escrevinhador dos discursos do príncipe – ops, príncipe é o outro, esse é o companheiro líder – e beneficiário da generosidade delúbio-valeriana. Na pior das hipóteses teria corrido mundo, fumado muitos Cohibas, bebido algumas taças de Romanée Conti (coisa que não hei de morrer sem antes fazer), viajado a bordo do FAB 01 (pronuncia-se fábi zero um, AeroLula é pura maldade) e, finalmente, e mais importante, poderia já começar a receber polpuda aposentadoria, garantia de dias futuros felizes e despreocupados, independente do leite custar xis ou ipsilone.

Filósofo de porta de federação... Taí, gostei mesmo.

Ainda no Estadão, mais bonitinho, mais levezinho na aparência, mas ainda vetusto, grandes avanços na linguagem. Além dos termos sexuais que o Arnaldo vira e mexe introduz em seu texto (epa! Alto lá! Se o dele se dá a esses despautérios, esse aqui não, esse é um texto sério e careta...), ninguém menos que o Damatta, antropólogo de nomeada, introduziu um sonoro e bonito PQP em seu texto. Um PQP! Tá certo que desse jeito, abreviado, mas em caixa alta, sonoríssima, e sempre um PQP, né? Um grande avanço. Na falta de melhorar umas trinta posições no IDH, esse avanço já é alguma coisa. Ninguém poderá dizer que o país ficou estagnado nesse governo.

Completando o quadro de avanços e conquistas da atual administração e da atual legislatura, temos a introdução (esse cronista anda lendo demais o Arnaldo e o Dalton) de novos vocábulos na língua: mensalão e mensalinho. A par desses dois, toda uma série de termos foi redefinida em seus significados. Como caixa-dois, suborno, corrupção e outros. Gente, sem má vontade, por favor. Isso tudo não é pouca coisa. Não é feito pra qualquer um, demanda muita ciência e desprendimento. E é, também, a prova definitiva de que esse governo e legislatura não entrarão para a história pela porta de despejo de lixo: entrarão pela abertura das capas dos futuros dicionários e inquéritos policiais.

A vida segue seu curso, ligeira, rumando para o fim do inverno e a chegada da primavera.

Diana, a musa, voltou a sorrir.

Tudo vai bem.

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quinta-feira, setembro 15, 2005

quarta-feira, setembro 14, 2005

Balaio de ipês



Balaio de gatos ou balaio de ipês?

Balaio de ipês em Santa Rita do Passa Quatro.

Bonitinha, né? Simpática... Limpa... Uma cidade muito agradável e que tem uma pizzaria do nível de São Paulo, ou seja, uma pizzaria do primeiro mundo da pizza.





O ipê bonito em destaque está no quintal da Casa da Lavoura. Bem localizado.

Normalmente floresce por último.

Essa foto é do final de outubro ou começo de novembro do ano passado.



Já as outras duas fotos - da mesma árvore - são de alguns dias atrás.

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Mensalinho poético

Desinspirado como estou, valho-me da inspiração alheia e saco mais um pouco da conta "obra poética" do meu amigo Roberto Barreto de Catende, a Catende que já é personagem de poesia da melhor que esse país andou produzindo...

(Sacando dessa conta e publicando aqui, seria essa minha ação preguiçosa um mensalinho poético?)



MORTE ENVIDA SEVERINO

Roberto Barreto de Catende – 12.9.2005

Política a morte envida
A Cavalcanti, Severino
A quem dediquei um hino
Em atitude atrevida

Toda rematada em ino
A alguma coisa serviu
A troça até incluiu
Ligeiro, limoso, ladino

Antecipei no limoso
A lama sob o tapete
No piso doGabinete
Do Severino seboso

Mentira é tudo mentira
É uma trama macabra
Esconjuro do Pé-de-cabra
É coisa de quem delira

Sapateia na cantina
Nosso Rei do Baixo Clero
Como se dançasse bolero
Com o pistom em surdina

Nos salões do Fiorella
Em caráter emergencial
Fechou um acordo ilegal
Com o dono da panela

Agora surge o extrato
Fedido que nem gambá
Cheira a toma-lá-dá-cá
A estrume de peculato

Excreta odor conhecido
Por toda sociedade
Mas escorre na cidade
Por grosso cano embutido

Já pelo visto em Brasília
Onde Deputado abunda
A céu aberto inunda
Com seu olor a tal ilha

Se o olfato não sente
E tanto ilustre não vê
Que dirá eu ou você
Que eles julgam demente

Ciente de que propina
Em restaurante é caixinha
Severino se aporrinha
Seu cofre não é latrina

Severino então resiste
Em defesa do seu ouro
Ao Diabo com o decoro

Se la plata lhe assiste

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segunda-feira, setembro 12, 2005

Os deuses cruéis

(Esse é um texto antigo, já vai fazer cinco anos, mas tem sua atualidade. É, também, muito mais um texto pra quem gosta de futebol, pra quem vai aos estádios mais ainda.)


Acho que sou ateu. O mais correto é que eu seja simplesmente “à toa”. Ou, mais chique e menos agressivo, digamos que eu seja agnóstico. Mas qualquer que seja o adjetivo, há divindades em que acredito: são os deuses dos estádios. E esses deuses estão mais para os mitológicos deuses gregos, com seus humores, raivas, invejas, amores, intrigas e tudo o mais. Deuses gozadores, e o diabo (opa !) é que, por serem divinos, fica meio complicado até entender esse senso de humor.

Provavelmente nessa altura do campeonato quase tudo já foi dito sobre os Jogos Olímpicos de Sydney. Espero que quase tudo e não tudo, senão fico sem meu assunto. E nesse quase tudo, vou botar minha colherzinha. Pretensiosa, claro, mas é como dizia um amigo: pretensão e água benta, cada um tem o quanto agüenta.

Cabeça fria, passado o estupor – nem raiva deu, aquilo foi estupor mesmo – causado pelo fatídico Brasil x Camarões, quero falar do personagem do jogo.

Ele esteve perto, pertíssimo de ser consagrado como o Herói. Um verdadeiro herói olímpico, digno descendente dos atletas e guerreiros gregos que faziam acontecer os primeiros jogos. Mas os deuses resolveram que ele não seria herói. Nem ele nem ninguém do time do Wanderley (ou devo dizer Vanderlei?). Deixaram essa glória praqueles “meninos” camaroneses.

Ao invés de herói, “dramatis personnae”. Ou, preferirem, vítima. Vítima dos humores divinos.

Ele participou do primeiro gol de Camarões. A bola cruzada pelo camaronês foi interceptada por seu peito, não tão suavemente, mas com a categoria possível no calor daquela luta, no calor daquele momento. Incontinenti, um camaronês levanta a mão e grita. Um ou mais, não sei. Tampouco ouvi os gritos, mas é claro que gritaram. E o juiz – marquem bem esse personagem – apitou. Falta. Inexistente, mas falta.

Gol.

E assim se arrastou o jogo. Eles na frente, a gente atrás. A horas tantas, nosso personagem dramático ganha as cores do drama. Um soco no supercílio (mas como são fortes esses “meninos” camaroneses!), sangue, médico, e nosso herói – ops ... ato falho – nosso personagem volta a campo, cabeça enfaixada. Parecia usar um capacete.

No melhor estilo do Fiori Gigliotti : “O tempo passa, torcida brasileira ... 48 minutos do segundo tempo, 1 para Camarões, 0 para o Brasil. É a última chance do Brasil ...” Aí, os deuses gozadores, pegaram o Ronaldinho que nada fizera durante o torneio inteiro, colocaram-no lá e ... gol.

Agora virá a redenção. Foi o que pensamos nós, brasileiros.

Começa a prorrogação, poucos segundos de jogo, bola cruzada na área, Fabiano fura ... perde o “gol de ouro”. Perde nossa redenção, perde a chance, primeira, de ser o herói.

Minutos depois, Fabiano troca bola na entrada da área, penetra entre a zaga, recebe limpamente e ... GOL !!!!!!!!!!!!!!!! E É DE OUUUUUUUUUURO torcida brasileira.

Mas a bandeira levantada do assistente (nome besta, melhor bandeirinha mesmo) é vista pelo juiz. Tolamente ele desacredita em seus olhos e acredita nos olhos – míopes ? fechados ? – do assistente. Anula o gol de Fabiano.

A glória lhe escapou ali, no gesto errado, tolo, destruidor de um juiz e de um bandeirinha. O herói olímpico do Brasil – autor do gol de ouro com a cabeça enfaixada, jogando no sacrifício – não se realizava como herói. Simplesmente, alguns minutos depois, virou mais um mercenário, mais um perna-de-pau, mais um incompetente jogador de futebol que perdeu o ouro olímpico. Nem perdeu, pois ninguém garante que chegaríamos lá. Mas é como se diz. Perdemos o ouro olímpico, o ouro que nunca ganhamos. O ouro ausente que desmente nossa arrogância enganosa de melhores do mundo. Somos bons, mas nem tanto.

Agora Fabiano volta ao Brasil. Não sei se ele já caiu na realidade da perda. Não sei como ele irá lidar com ela. Mas como ele esteve perto de entrar para a história ! Como esteve próximo da glória, tão próximo que a teve nas mãos ! Por segundos, na verdade, por mágicos segundos. Ele que seria cantado em prosa e verso como nosso maior Herói Olímpico.

Nós também tivemos a glória em nossas mãos. Pelos mesmos segundos (dois, três ?) maravilhosos. Pena que nos foram tirados.

E para Fabiano restou a lembrança súbita na mente de todo mundo: ele é namorado da filha do deus.

Os deuses são cruéis.


São Paulo, 29/9/00


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domingo, setembro 11, 2005

Algo estranho no ar...

Ah, um título enganador. Não é sobre o ar de Brasília, mas sim sobre a Via Anhanguera. E era, mesmo, algo estranho, um dirigível. Aliás, velho conhecido, o mesmo que sobrevoa os grandes eventos esportivos, principalmente.

Ali estava ele, sobrevoando a Anhanguera, um objeto estranho no ar.

Avistei-o de longe, coisa impossível de não fazer. E meu olhar foi atraído e levou junto a imaginação. Bem que eu gostaria de estar lá em cima, me deslocando lentamente, velocidade civilizada, podendo olhar tudo com atenção, fotografar, filmar, recostar na poltrona e ficar sossegado, deslizando sobre o mundo lá de baixo.

Bom, agora misturei estação, pois já estava me imaginando no “Hindemburg” e não nesse charuto voador onde cambem, apertadas, 2 ou 3 pessoas apenas.

Parei, fotografei e segui viagem. Mas que seria bom viajar no “Hindemburg”, ah, isso seria, com certeza.

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Objeto de desejo

Um refresco em meio à crise.

No momento, esse é o meu objeto de desejo. Mais que isso, é a minha maior necessidade, além de comida para o rebanho atual e mais uma meia dúzia de vacas no leite pra poder pagar as contas básicas de salários, taxas, contabilidade e uma parte da comida. O resto, pra variar, eu seguirei bancando. Afinal, sonhar custa caro, ainda mais se tiver vacas e leite no meio.

Sim, sim, a foto, esqueci da foto.





Pronto, eis a foto. Perdido no meio do canavial da usina, que arrendou as terras dessa fazenda e “canaviou” tudo, está esse retiro pra leite. Em bom estado, bom tamanho – 15 metros de comprido por oito de largura – e boas madeiras, com colunas 20x20 de concreto. Coisa fina. Preciso desse trem para tirar o leite das vacas com mais higiene e conforto do que é feito hoje, além de reduzir a trabalheira e melhorar o rendimento do pessoal. Em teoria, ao menos. Além disso, numa ponta terei espaço para guardar equipamentos, para colocar a picadeira de cana e capim e a trituradora de grãos, guardar os tambores de ração, etc. Um sítio sempre precisa de mais instalações, de mais adubo, de mais isso, mais aquilo, é um precisar infinito.

Pra fazer um retiro novo, bem simples, zero quilômetro, terei um custo por volta de oito mil reais. Esse aqui, que o dono pensa em vender, até pra desocupar o terreno, desmontado e remontado, com mão-de-obra, mais algumas coisinhas, me sairia por volta de quatro mil reais. A metade do preço, portanto. Muito atraente.

Como o dólar está baixo – girando na casa dos dois e trinta - o leite argentino fica muito barato para importar e os nossos laticínios ficam muito caros para exportar. Resultado? O preço pago pelos laticínios aqui dentro, para os produtores, despencou. Hoje, a maioria está recebendo entre quarenta e quarenta e cinco centavos por litro de leite em plena seca, quando o preço, historicamente, sempre foi alto. Até poucos meses atrás, recebíamos entre cinqüenta e oito e sessenta e cinco centavos. Qual a indústria urbana que sobrevive a uma queda como essa?

O produtor de leite vai tocando a vida, até porquê é o que ele sabe fazer e está preparado para fazer. Mas eu tenho vizinhos que, além desse preço aviltante, ainda estão com o pagamento atrasado e muito. E é gente que depende do leite para viver. O que se consegue vendendo vacas para o açougue, vendendo bezerros e novilhas, tudo a preço vil, naturalmente.

Ah, esqueci de dizer: o custo de produção do leite mais barato, mais barato, mais barato mesmo, tirado do nada, gira em torno de quarenta centavos o litro. Mas o produtor por menos tecnificado que seja, já tem um custo a partir de cinqüenta centavos por litro. Daí pra muito mais. É só fazer uma continha simples pra descobrir que o produtor de leite, em boa parte do tempo, produz leite a bem dizer de graça para o povo desse país severino. E lulino. E fernandino. E etc e tal.

Bom domingo per tutti.


P.s. – eu disse lá no alto que era um refresco em meio à crise?; então, pirei.



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quarta-feira, setembro 07, 2005

Procura inútil



Conta-se que na Atenas do século IV aC, viveu um filósofo grego chamado Diógenes. O que o tornava diferente de tantos outros filósofos é que andava por Atenas e outras cidades do mundo helênico com uma lanterna acesa em plena luz do dia. Procurava por um homem honesto. Ao que consta, não o encontrou.

O Congresso Nacional é constituído, se a memória não me falha, por 594 parlamentares, dos quais 81 são senadores e 513 são deputados (talvez o número de deputados seja maior, realmente não recordo). Arredondemos tudo para 600, fica mais barato, até porquê, como é coisa com dinheiro público, aumentar esse número em mais meia dúzia ou duas dúzias, mossa nenhuma fará aos nossos bolsos privados. Estabelecido o número, voltemos a Diógenes. Solto, hoje, nos salões de mármore e nos corredores acarpetados do Congresso, o filósofo com a lanterna teria uma trabalheira enorme para nada encontrar. Voltaria para Atenas com as mãos abanando.

Ou nem tanto. Em meio a tanta gente esperta e bem-sucedida na atividade parlamentar, ele provavelmente voltaria por via aérea, com uma passagem patrocinada e o direito a acompanhantes, tudo na primeira classe, e ainda com direito a um mensalinho por conta do uso de seu nome pela companhia aérea, numa negociação envolvendo um dos grandes marqueteiros tupiniquins, cujos estipêndios seriam depositados em Atenas. E tudo isso, naturalmente, seria, digamos, gerenciado por um nobre deputado entre os muitos ansiosos por gerenciar qualquer coisa assim, huummmm, com alguma sustança, alguma substância.

Em poucos meses seremos obrigados, sob pena de multa e processo, a votar. Ou a justificar porquê não o fizemos. Nesse momento, essa me soa como a mais patética, a mais irônica, a mais imbecil, a mais inútil lei dessa república de muitas leis e mais ainda descumpridores das leis.

Pode ser que algo mude até lá, que um cometa do qual só a NASA tem conhecimento caia sobre a terra, ou que um mega-terremoto gere a mãe de todas as tsunamis, ou que surjam políticos efetivamente honestos, mas, nada disso acontecendo, o máximo que farei para não correr riscos burocráticos/judiciais, será dar um pulo de má vontade à escola mais próxima do sítio e ali “justificar” meu voto. Não terei estômago sequer para olhar a cara da urna eletrônica e anular meu voto.

Pois acho que nem mesmo a urna Diógenes encontraria.

Feliz Dia da Pátria para todos.

:o)

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Sobre "tudo isso que está aí"


Está difícil escrever sobre “tudo isso que está aí”, confesso. Quando vou escrever alguma coisa, o tamanho do monturo de esterco, a profundidade do mar de lama é tamanha que desisto.

E agora? Até Severino, quem diria. Ele que, a princípio, passou a imagem de bronco porém honesto, amigo dos amigos, introduziu Dona Amélia na cena pública e seus bolos de fubá ficaram famosos. O Moreno saboreou-os, contou em seu blog e deixou-me com vontade, pois adoro bolo de fubá e uma caneca de café com leite. Será que Dona Amélia sabia que o fubá de seus bolos vinha do restaurante da Câmara? Será que até ela?

Mirem, estou tendo um grave ataque da síndrome conhecida como “Morte da Velhinha”.

Sempre "soubemos" que o Congresso Nacional é uma casa suja, que seus membros se distinguem de presidiários apenas por estarem em liberdade. É a impressão geral que sempre se teve dessa gente em quem, sabe-se lá porque, votamos. Assim como sempre se "soube" que a prefeitura de Ribeirão Preto já era um antro de negociatas. Sempre se "soube", nunca se provou. Apesar, porém, desse "saber" eterno, meio intuitivo, é muito triste quando provas vêm à superfície. Desculpem a imagem, mas é como tomar uma sopa "sabendo" que a cozinha do restaurante não é lá essas coisas, mas a sopa parece ok. De repente, lá do fundo do prato, emerge uma barata asquerosa.

O único jeito é correr ao banheiro e vomitar.


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terça-feira, setembro 06, 2005

Olhar inquisidor



Quando apareço com a câmera, fazendo o tipo "pai coruja", a Rikinha me olha curiosa.

Jersey pura de origem (PO), ela é filha da Imagem e seu pai, por inseminação artificial, é um touro americano ou canadense, agora não recordo.

Será uma bela vaca quando crescer.


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Palmito


As palmeiras macaúba crescem bem no Sítio das Macaúbas. Ainda bem, pois são consideradas indicativo de terra fértil. Maritacas, tucanos e outros membros da ilustre fauna alada, bem como, desconfio, alguns peludos da fauna terrestre, como ouriços, se encarregam de dissemina-la por toda parte. Como, por exemplo, bem embaixo da rede elétrica que corta uma parte do sítio, levando eletricidade para os vizinhos de baixo.

Periodicamente, uma turma da Elektro passa pelo sítio e, sem avisar ou falar qualquer coisa, entram e vão cortando toda a vegetação embaixo da rede. Inclusive no trecho em que ela atravessa as duas “matinhas”. Como as macaúbas crescem rapidamente, de vez em quando dá para cortar uma e aproveitar seu palmito. É diferente do palmito da palmeira Jussara, mas também gostoso.

Fizemos bom uso desse, garanto.


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Ipês em Pirassununga e um perdido em Leme



A Via Anhanguera oferece visões súbitas e espetaculares nessa época do ano. Mas cada uma dura pouco, dois dias, talvez. Fora desse período, deixam de ser espetaculares, ficam apenas bonitas.

Claro, falo da florada dos ipês. Nesse último final de semana surgiram os ipês-brancos. São, sem sombra de dúvidas, os mais bonitos entre todos os ipês. E o mais espetacular de todos (quantos adjetivos!) não fotografei. Ele está na entrada de Leme, bem no trevo de acesso, mas cercado por outras árvores. É grande, mas ainda vai crescer. Deve estar com sete a oito metros de altura, copa em forma piramidal. Estava totalmente tomado pelas flores. Uma obra-prima da natureza. O trânsito intenso, uma certa pressa em chegar, a localização, sei lá mais o que, me impediram de parar e fotografar. Lamentável... Mais uma cena registrada apenas na memória.

Entrando em Pirassununga para comprar farelos, um ipê-branco igualmente florido, bonito, mas bem menor que o da entrada de Leme. Esse, na foto , está na entrada do Aeroclube.

E um pouco antes, num pasto à beira da estrada, um ipê-amarelo solitário. Um entre muitos vistos e entrevistos.



quinta-feira, setembro 01, 2005

Explosão sem bomba – o terrorismo ISO 9000

Osama bin Laden, o Hammas e outros terroristas, pessoas e grupos, conseguiram. Atingiram a excelência em terrorismo. Algo como um ISO 9000 ou outro atestado de qualidade e eficiência qualquer. Já não precisam mais de mártires doutrinados para morrer em nome de Alá e ir para o paraíso, ao encontro das dezenove virgens, do mel, das tâmaras, das nozes.

Agora, um simples grito ou mesmo um sussurro: “Homem-bomba!” – é o suficiente.

O pânico instala-se e se propaga na velocidade do pensamento. Independente de ter ou não um homem-bomba, as pessoas enlouquecerão, matar-se-ão umas às outras na ânsia de fugir, de escapar, de não serem vítimas de um atentado suicida. E acabarão todas como vítimas. Uma nova modalidade de terrorismo, o terrorismo virtual, sem pistas.

Outro nome possível para essa modalidade pode ser auto-terrorismo. Em nome do terror e fugindo dele, as pessoas praticarão auto-atentados, ainda mais eficientes que os originais.

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Tempo estranho, tempos estranhos

O tempo anda estranho. E esses tempos atuais também.

Nada tem a ver com o tempo por tudo que sabemos, mas como faz parte dos grandes eventos trágicos da natureza, começarei por ele, o tsunami de dezembro. Centenas de milhares de mortos. Mais de trezentos mil, algo inimaginável para esses tempos modernos, internéticos na conexão, a jato na velocidade, a satélite na cobertura. E mesmo assim, a grande onda matou tantas pessoas em vários países diferentes. A internet, os jatos e os satélites para nada serviram antes das tragédias.

Temia-se um novo verão assassino no hemisfério norte, mas a coisa não está tão feia como em 2003. Não há notícias das centenas e centenas de mortes pelo calor, principalmente entre os idosos. Mas em vários pontos da Europa os incêndios estouram e se alastram.

Agora, o Katrina. Lembrando que na temporada anterior de furacões, em poucas semanas a Florida foi assolada por meia dúzia deles, sendo dois de grande intensidade, grandes prejuízos. Meu primo, residente em Tampa, perdeu sua casa completamente. Ainda está reconstruindo, com ajuda do governo americano, mas é difícil. Todo mundo reconstruindo, mão-de-obra mais cara e mais escassa, materiais idem, o dinheiro não dá pra tudo, etc, etc.

As imagens vindas de Biloxi e New Orleans, a bela New Orleans, são terríveis. Mas, também, pudera, viver embaixo d’água é pra peixe e não pra gente. Nunca consegui entender – tendo tanta terra em volta ao contrário da Holanda - essa coisa de fazer a cidade onde fizeram, abaixo do nível do Mississipi e dos lagos Pontchartrain e Borgne, tendo, então, de represar o rio gigantesco e construir diques ainda mais gigantescos para segurar a água no rio e nos lagos e não dentro da cidade, seu lugar natural. Não se contesta a natureza assim e, por enquanto, pelo menos, não se constroem cidades embaixo d’água, mesmo que seja “só” abaixo do nível da água. Já é demais.

Nesse caso do Katrina, estou espantado com a demora dos americanos em socorrerem seus próprios cidadãos depois do furacão. Eles foram mais velozes no socorro às vítimas do tsunami. Os relatos dão conta que em plena New Orleans, em território continental dos Estados Unidos, faltam água, comida e medicamentos para as pessoas flageladas. Um quadro inimaginável.

As autoridades estão evacuando a cidade totalmente. É um cenário de guerra, onde uma bomba explodiu, talvez a N, que foi chamada de “bomba capitalista”, pois não destruía a maioria dos prédios, garantindo, assim, uma rápida retomada da produção. Essa “rápida retomada” era mais uma piada, pois os efeitos da radiação demorariam muito tempo para desaparecer. Enquanto isso, ratos, baratas e cupins fariam verdadeiras festas orgíacas nas construções intactas. Até que... Até sei lá o que.

Mas aqui mesmo estamos às voltas com maluquices meteorológicas. Um tufão arrasou Muitos Capões e trouxe esse pequeno município do nordeste gaúcho, com um nome tão diferente, para as manchetes. As imagens vindas de lá também são tristes, a destruição foi braba. E por aqui, na Terra de Vera Cruz, não temos a magnitude da ajuda do governo americano. Conhecendo o que temos por governo, o melhor é os muito-capoenses cuidarem de suas próprias vidas e reconstruir tudo. Não esquecendo, porém, de pagar seus muitos impostos, pois, com certeza, burocrata ou político nenhum irá lembrar-se de isenta-los das muitas taxas por um, dois ou mais anos. É assim que Pindorama funciona.

Enquanto Santa Catarina já está em sobreaviso e sobressalto pelo risco do Figueirense cair para a 2a Divisão, o Crisciuma cair para a 3a e a chegada na madrugada dessa quinta para sexta-feira de um ciclone com cara de ser dos poderosos, tal como o Catarina do ano passado, o norte do Mato Grosso foi assolado por um vendaval que botou abaixo torres de transmissão de eletricidade, deixando às escuras e sem energia a próspera Sorriso além de Vera, Feliz Natal e 21 municípios da região. E há previsão de mais ventos fortes, talvez virando vendavais.

Juro que não era minha intenção tocar nesse ponto, até porquê, bem sei, não há conexão entre uma coisa e outra, mas, sabem como é, né? – quem resistir há de? - então, vamos lá.

Ô, governinho calamitoso esse um! Além de ser a calamidade ele próprio, parece ter o dom de atrair as da natureza. Por isso e por tudo que agora sabemos, o ciclone ou furacão que passou por Santa Catarina ano passado deveria chamar-se Valdomiro e não Catarina. E esse um, previsto para amanhã, pode, com toda a propriedade, ser chamado de Valério ou Delúbio ou ainda, se for muito forte, daqueles metidos a besta e mais destrutivo que o Katrina da Louisiana, pode ser chamado de Dirceu.


Agora, um que possa ser chamado de Ignácio é melhor que não apareça. O nome alternativo poderia ser Armagedon.

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