Pensando bem, são belos nomes, mesmo. Talvez por serem tão estranhos, pelo menos para quem, como eu, é de São Paulo.
Não-me-toque!
O ponto de exclamação foi colocado só pra criar um clima. É certo que não sou muito chegado a ser tocado, nem mesmo por conhecidos, quanto mais por estranhos, mas nada a ver com isso agora. Como todos devem ter deduzido, estou falando do município gaúcho.
Há muitos anos, alguns cidadãos não-me-toquenses houveram por bem fazer campanha contra esse nome e a favor de uma mudança. Queriam porque queriam Campo Real, só porque por lá se plantava muito trigo. Sinceramente, nome mais besta esse um. Não gostavam de Não-me-toque. Não deviam gostar de que se referissem a eles como não-me-toquenses. Nem lhes tiro toda a razão, afinal, usava-se dizer que algumas pessoas muito melindrosas eram cheias de não-me-toques. Isso era comum nas bocas de futuras sogras em relação a futuras noras. Não me perguntem porque, não faço idéia. Minha família dizia também, desse tipo de gente, e das gentes cheias de cerimônias, serem “cheios de nove horas”. Nunca soube o porque, mas fica registrado. Pois voltando a Não-me-toque, de onde, aliás, não saímos, os cidadãos pró-mudança tanto fizeram que conseguiram. Em dezembro de 1971, um decreto mudava o nome do município para o insípido, insosso, Campo Real.
Mas essa história não ficou assim, ah, não. Os não-me-toquenses de coração não se conformaram. E batalharam pelo retorno do nome original. Finalmente, depois de anos de luta, conseguiram realizar um plebiscito em 1976. E venceram, claro. E lá está Não-me-toque, o Jardim do Alto Jacuí.
Ah, sim, por que esse nome? Dizem que por conta dum arbusto cheio de espinhos, muito abundante na região na época da colonização e que tinha esse nome. Dizem outros que por conta de estancieiro poderoso, dono de muito gado e patrão de muita gente, que teria gritado, não sei o motivo “não me toque nessa terra!”
O Rio Grande do Sul é rico em municípios com nomes curiosos. Muitos eu tive o prazer de conhecer, como Tapes, na beira da Lagoa dos Patos, onde comi deliciosas traíras em barzinhos à beira da Lagoa que parece um mar. Tapes que não esqueço, também por conta das centenas, talvez milhares de casas de forneiros, como alguns chamam o joão-de-barro. Na estrada de Tapes para Barra do Ribeiro, cada poste tinha ao menos uma casa construída. Mas era raro uma só casa, o comum era ter duas ou três em cada poste. Sem falar dos condomínios horizontais e verticais em alguns. Coisa de louco. Nunca mais vi nada parecido em minhas andanças pela Terra de Vera Cruz.
O jornal on line de há pouco fala de Muitos Capões, município pequeno, só três mil habitantes. E desses, nada menos que 10% perderam as casas no todo ou em parte, por conta de um tornado que o que teve de rápido teve de destruidor. Agora é torcer para que não faça frio, pois, se não conheço Muitos Capões, conheço a região onde fica, no nordeste do Rio Grande do Sul, onde o frio é campeão.
E há outros: Faxinal do Soturno, Alegrete, onde sempre fui muito bem recebido por “seu” Eurico Dornelles e muito mal recebido certa madrugada por um frio de matar pingüim. Era tanto o frio que não agüentei seguir viagem. Parei na entrada “do” Alegrete e dormi no Texacão do Caverá, simpático posto à beira da estrada plantado. Quer dizer, nem dormi, fiquei deitado embaixo de dois cobertores, com roupa e tudo, lendo e tremendo de frio às vezes.
E, finalmente, Anta Gorda. Tem Poço das Antas, mas perde longe em beleza e sonoridade pra Anta Gorda. Até tive o prazer de passar por Anta Gorda duas vezes, mas nem cheguei a parar. Mesmo pequeno, Anta Gorda deu sua contribuição para a diáspora gaúcha. Certa feita, em Balsas, interior do Maranhão, terra de soja, estava de converseio com um gaúcho e o papo caiu em algo parecido com esse texto. Pois não é que quando falei em Anta Gorda o gaudério me exclama que era de lá? Ali estava eu a conversar com um anta-gordense, com pouco de anta e muito de gordo, embora fosse o caso do roto falando do rasgado.
E com tudo isso, bateu uma saudade imensa do Rio Grande.
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