domingo, novembro 25, 2007

Limpeza, silêncio e aquecimento global na Paulicéia

Pois é, ninguém dava muita bola para as promessas do prefeito, primeiro o Serra, depois o Kassab, mas os resultados são visíveis ou não audíveis, num caso e noutro.



Cidade Limpa

Eu mesmo estou espantado com a aparência nova da Paulicéia. Trafegar pela Avenida Rebouças continua chato e irritante, pois, tirando as madrugadas, ela vive congestionada, inclusive os túneis “da Marta”, que para nada servem e muito caro custaram. Bom, dizem que para alguma coisa serviram e essa “alguma coisa”, dizem, apenas reproduzo, estaria ligada ao tão alto custo. Tão alto que o Serra bloqueou os pagamentos e pediu uma averiguação no começo de sua gestão. Não sei no que deu, se em alguma coisa deu. Mas, falava de trafegar pela Rebouças, coisa chata como sempre, mas agora muito menos desagradável: a sujeira visual, as inúmeras placas, faixas, cartazes, outdoors, foram varridos para longe de nossos olhos. A avenida está limpa, as casas visíveis, a paisagem existe. Como é importante existir paisagem! Não faz mal que seja de casas e prédios, mas tem que existir.

A limpeza e a paisagem não são exclusividade da Rebouças, longe disso: por todas as partes da cidade por onde andei nos últimos meses, o resultado é o mesmo e o prazer também. Conseguimos até prestar mais atenção em monumentos e obras de arte.

É uma pena que os postes e os milhões de quilômetros de fios e cabos continuem à vista. Tudo seria ainda mais bonito se eles ficassem, como deveriam, embaixo da terra, mas aí já seria pedir demais.

Quem sabe no futuro?



Psiu!

Funcionou. Muita gente anda reclamando, principalmente donos de bares, restaurantes e casas noturnas, mas desde o começo de 2005 o nível de ruído nas noites paulistanas diminuiu. Também diminuiu a atividade noturna, ou melhor, está acabando mais cedo.

A atividade noturna não está proibida, mas apenas o barulho excessivo por ela gerado. Um estabelecimento desse tipo só pode gerar um máximo de 55 decibéis (o barulho de um caminhão – regulado – ou de uma máquina de lavar), ou melhor, só pode deixar “escapar” de seu interior esse nível máximo de decibéis. Para que isso aconteça é necessário que seu interior tenha isolamento acústico. O nome disso é civilização.

A grande reclamação dos empresários da noite é pela proibição das mesas nas calçadas. A lei exige, também, que esses estabelecimentos tenham estacionamento próprio e segurança. Novamente, isso é chamado de civilização em qualquer parte do mundo.

Os moradores de muitos bairros que viraram “da moda” agora podem dormir.

Repetindo, mesmo correndo o risco de ser chato, o nome disso é civilização.



Aumentando o aquecimento global

Prestes a entrar na já citada Rebouças, na hora do almoço de ontem, sabadão, fiquei parado por uma espera de sinal. Olhando para cá e para lá, vi uma cena triste, burra e criminosa: um gari tocando fogo num monte de folhas secas, verdes e mais ou menos, juntamente com papeis e outros resíduos varridos da calçada e do meio-fio.

Ora, tal ação, praticada por um funcionário da municipalidade ou por ela contratado através de empresa prestadora de serviços, é triste por todo o contexto em que vivemos e por tudo que sabemos hoje.

É burra porque o melhor uso para esses resíduos é a reciclagem. As folhas, a grama cortada, os galhos das árvores, as flores que o vento derruba das azáleas, tudo isso é matéria orgânica e seu melhor destino é virar um adubo orgânico por meio de compostagem.
É tarefa fácil e sem mistérios, já efetuada por algumas prefeituras de cidades não muito grandes, por universidades e por milhares de agricultores. Numa cidade como São Paulo, a produção desse composto geraria um rico material para ser usado nas praças e parques públicos, ajudando a recuperar, manter e ampliar as áreas verdes. Custaria caro, sem dúvida, mas há despesas que são caras na aparência e baratas nos resultados. Essa é uma delas, estou certo.

É criminoso porque nenhuma autoridade pública, ainda mais de uma metrópole como a Paulicéia, pode ser agente do aquecimento global. A acreditar nos relatos científicos, e a maioria de nós acreditamos, inclusive nossos representantes eleitos, é dever de todo e qualquer cidadão, e mais ainda daqueles que têm poder e influência, no mínimo não colaborar para o crescimento desse monstro. No mínimo. Ao queimar as folhas, galhos, flores, pedaços de papel e, pior ainda, de plásticos diversos, a prefeitura de uma das cinco maiores metrópoles do planeta está contribuindo para aumentar o aquecimento global.
Além de criminoso, um ato insano.

O mesmo prefeito que tão bem trabalhou pelo visual da cidade e pelo silêncio, precisa, agora, trabalhar também em prol da preservação do ambiente.

Começar por essa coisa tão pequena é um bom caminho.


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quarta-feira, novembro 21, 2007

Notícias roceiras, até alvissareiras (algumas)


O leite abaixou novamente. O Gilberto reclamou, dizendo que seu cheque do leite veio com cinco mil reais a menos em relação ao mês anterior. Ele está tirando mil litros por dia, e chegou a receber oitenta e cinco centavos por litro, e agora está com pouco mais de sessenta. É, faz sentido e a conta bate. Dizem alguns que essa queda é por conta das chuvas que chegam e da produção que aumenta. Balela! Essa queda tem que ser debitada aos imbecis e criminosos que – não confundir com criminosos imbecis – que tascaram água oxigenada e soda cáustica no leitinho “longa vida” que as donas-de-casa adoram comprar. Fosse eu o Gilberto e tentaria cobrar os cinco mil desses vagabundos. Com essa história de baixa, ele acabou pagando menos por umas vacas que precisei vender.

Que dor no coração! Quem cria não pode ter dó de vender, de se desfazer de seus animais. Já me questiono se posso ser criador. Vida que segue, mas fiquei triste com a venda e nem por isso mais rico ou menos pobre. Do dinheiro não vi e nem verei a cor e a cara. A parte maior já foi pra pagar a conta atrasada de farelos e adubos, e a parte menor, que vai entrar na conta em alguns dias... bom, o máximo que posso dizer a respeito é que já está comprometida. Vou ver se tiro uns “dez real” só pra ver a cara da cédula e comprar alguma coisa com ela, talvez uma revista, que a gente lê e vai pra reciclagem ou pro lixo. É, tem a ver mesmo, tudo a ver.

Mas falei em notícias alvissareiras e começo com esses parágrafos, triste um, desanimador o outro. Coisas da vida, em especial de quem cria e produz leite.

Mas, vamos às alvissareiras.

As chuvas chegaram, a princípio mansas, comportadas, molhadeiras, até surpreendentes pela mansidão. Anteontem à tarde, porém, enquanto um pé-d’água violentíssimo com ventos idem, deixava-me com cinco ou seis metros de visibilidade em plena Anhanguera e, claro, devidamente apavorado, apesar do ar blasé para não assustar a Rosa e minha mãe, outro igualmente forte e com ventos violentos, chegava ao sítio e, além de mais uma ou outra árvore derrubada, destelhou parte da casa em que mora o Almir. Como já é o terceiro ou quarto destelhamento entre a casa dele e a nossa, as telhas mantidas na reserva foram pra cucuia.

Hummmmmmmmmm...

Sim, eu sei, prometi alvissareiras novas e até agora...

As vacas vão bem, umas mais que as outras, que sentiram mais a seca e a falta de pasto, de comida volumosa de boa qualidade. O pasto de tanzânia está bonito, pena que seja pouco para todas as vacas que nele comem. Creio que, finalmente, encontrei alguém para cortar as laranjeiras do pomar velho, em boa parte já mortas ou perto disso. Se dessa vez tudo der certo, terei a área livre no dia 15 de dezembro, podendo entrar com uma grade e, em seguida, plantar o capim com um “cheirinho” de adubo.

Estou em déficit com minha consciência e com a natureza: já deveria ter começado o plantio de parte das 500 árvores que prometi a mim mesmo. Até agora foram plantadas somente 14, das quais duas morreram. Com um pouco de sorte, ainda conseguirei plantar, digamos, 88 árvores. O ideal é fazer isso até o reveillon, pois assim as plantas aproveitam bem a estação das águas e chegam fortes e bem enraizadas na entrada do inverno e da seca.

Dessas árvores, 200 serão, necessariamente, eucaliptos. As demais serão de espécies variadas, a maioria das quais nativas. Sobre elas pretendo escrever um post específico, pois é um tema fascinante.

O Decon (Conrad), filho de meu vizinho de cerca, Miro, e expert em informática, colocou o sítio deles na internet:

http://www.sitiomandarim.com.br/

O site está bonito e muito bem feito, valendo a visita.

Na página de abertura tem duas fotos. Na segunda, as árvores ao fundo já são do Sítio das Macaúbas.

É a roça na internet, sinal inequívoco das mudanças intensas e rápidas dos últimos vinte anos.

Outro vizinho, o César, voltou para os braços da Seara. Ele produz frangos pelo sistema “integrado”, que é bem descrito pelo Decon no site do Sítio Mandarim. A Seara é extremamente exigente com seus integrados em todos os aspectos, da sanidade aos cuidados ambientais, da higiene à proteção dos galpões, tudo integrado num grande guarda-chuva chamado biossegurança. Mesmo a ração que a empresa fornece é diferente, com maior qualidade e sem o menor traço de produtos animais em sua formulação. Parte da produção Seara é exportada, mas a totalidade é tratada como se fosse para exportação.

A Rose, sua esposa e grande amiga, virou uma queijeira de mão cheia. Os queijos estão ótimos, artesanais, saborosos, produzidos com todos os cuidados de higiene. Dá gosto comer. O coitado do César já está ordenhando duas vaquinhas, uma delas, a melhor, uma mestiça jersey. Já falei pra ele que não demora muito e os frangos dos dois galpões serão apenas um complemento de renda. Ele dá risada e descrê. Sei não...

Fomos à casa da Raquel e do Henrique, e também da Gabriela e do Pedrinho, para comprar mel. O Henrique produz mel e a Raquel cria sites, morando num sítio. Roça mais hightech que essa tô pra ver, até porque, na casa do César e da Rose, enquanto comia um pedaço do queijo “da casa” seguro numa mão, usava a outra para dedilhar o teclado e navegar pela internet.

Voltando ao mel: o Henrique abre a torneira do tonel cheio e o mel desce em ondas dentro dos vidros. Mel bonito, claro, perfumado, bem suave, mel de flores de laranjeiras. Olho os vidros contra a luz e as ondas criadas na queda do mel são visíveis.

Fico sabendo pelo Henrique que nem todas as abelhas norte-americanas sumiram do mapa. Ele participa de algumas listas de discussão com apicultores do Canadá e Estados Unidos. Na nossa roça até as abelhas são hightech e pós-modernas. Mas o que aconteceu com as abelhas do Grande Norte parece-me, ainda, ser um mistério, já que nenhuma das hipóteses formuladas até agora foi confirmada.

A grande voçoroca numa fazenda próxima foi corrigida pela usina que arrendou a terra, mas sobre isso fiz um post à parte. Ficou mais bonita a paisagem, sem a cicatriz feia e assustadora da grande voçoroca.

Os gatos parecem nem sentir nossa ausência prolongada. Tão logo chegamos já se aproximam e ocupam a cozinha. Sabem que vão ganhar peixe, e ganham. Sabem que vão ganhar mais leite, mais ração, mais comidinhas diversas, mais mimos. E ganham. De barriga cheia, uma fica no sol matinal dentro da cozinha. Outra, prefere a varanda da frente. Em comum, os olhos fechados e o sono leve, de ouvidos ligados na passarinhada.

O Stanley acuou um quati perto da matinha e levou bela patada no focinho.

O quati fugiu e ele ficou com o focinho e o peito machucados. Como pena, tem que agüentar o spray do mata-bicheiras e conviver com o cheiro do dito cujo.

E assim vai seguindo a vida nesse começo de estação de chuvas.

Pastos verdes, telhados destelhados, lavouras bonitas, erosões querendo aparecer, sol forte, tropicalíssimo, seguido por ventos de respeito.

Entre prós e contras, vida que segue.


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terça-feira, novembro 20, 2007

Voçoroca – um antes triste e um depois feliz


Decididamente não morro de amores pela lavoura de cana e pelas usinas de açúcar e álcool. São industriais demais para o meu gosto, mecanizadas demais para minha mentalidade pré-Revolução Industrial (às vezes, nem sempre). Apesar dessa postura, não critico a expansão da lavoura canavieira e das usinas, pelo contrário, defendo ardorosamente por motivos muitos e variados. A começar pelo emprego de bons contingentes de mão-de-obra em troca de salários e condições de trabalho mais gratificantes uns e saudáveis outras do que existe nesse imenso – ainda – bananal.

Trabalho escravo? Trabalho excessivo? Trabalho em más condições?

Sim, os dois últimos até podem existir, o primeiro já é coisa diferente e dá-se o nome de trabalho “escravo” com muita facilidade. Curiosamente, quando as denúncias, inúmeras, de trabalho dito “escravo” chegam aos tribunais e provas são julgadas, de fato, nenhuma condenação aparece, apenas multas por situações em desacordo com legislação trabalhista. Aliás, pela concepção de trabalho “escravo” que é aplicada no campo, o popular instituto de pesquisas “DataCrônico”, órgão estreitamente ligado a esse blog e ao blog Um Olhar Crônico Esportivo, constatou que nada menos que 98,63% das domésticas brasileiras podem ser enquadradas como trabalhadoras “escravas”.

Uma usina de cana é investimento de porte monstruoso no tamanho e na quantidade de dinheiro envolvida. Não dá para brincar com isso ou, pior ainda, fazer uma administração incompetente e perdulária. Se na vida política e na administração pública coisas desse tipo conduzem ao sucesso, ao estrelado, a inúmeras vitórias eleitorais, na vida real conduzem tão somente à bancarrota, à falência, ao desemprego e opróbrio de quem mal administrou.

Agricultor nenhum, pequeno ou gigante, pode dar-se ao luxo de ver seu adubo pago a preço de petróleo (ouro é bobagem, petróleo é mais valioso) escorrer enxurrada abaixo por conta de agricultura mal feita. Existe, claro, mas não nos grandes projetos. Até pelos valores envolvidos, ou somente por conta disso, os cuidados com o solo são grandes e bons, o que já é muito bom, fantástico, mesmo, pois cuidar bem do solo é proteger a natureza. Bem ao lado do sítio, a coisa de dois ou três mil metros de distância, apenas, pude acompanhar a recuperação de um pedaço de terra condenado à erosão. Como vocês poderão ver, as próprias fotos falarão por si próprias.

A voçoroca, no final de janeiro/2007 - reparem nas vacas em sua beirada, dão uma boa idéia de seu tamanho


Essa enorme voçoroca crescia a olhos vistos chuva após chuva. Toda a terra tirada do enorme buracão era carregada para o coitado do Rio Clarinho, já muito assoreado. Os muitos poços de outrora, cheios de lambaris graúdos, carás, bagres, piaus e traíras, deixaram de existir, pois a água foi trocada pela areia e os peixes foram expulsos, perderam seu habitat e desapareceram. Historinha típica do interior do Brasil, com casos infinitamente maiores e mais graves, de uma tristeza imensa, como o Rio Taquari, uma das principais calhas pantaneiras. Muito, muito triste, mesmo.


Há poucos dias, uma das usinas que operam na região, plantando cana em terras arrendadas, chegou nesse pasto com seu exército de máquinas: tratores de esteiras, motoniveladoras, tratores pesados de pneus, grades, adubadeiras, carretas com adubos, caminhão-oficina, etc. Um pequeno corpo de exército, mesmo, só faltando os fuzis e metralhadoras para deixar de ser metáfora e virar realidade.

A mesma área em meados de novembro/2007, já recomposta, sem o buracão criado pelas águas graças à incúria humana


Em poucos dias de serviço os estragos provocados pela péssima gestão de proprietários anteriores da área, foram corrigidos, a um custo impossível de ser pago por um produtor rural comum e inviável para uma prefeitura (algumas até têm, em teoria, serviços parecidos... mas, quem consegue usá-los?).

A voçoroca foi eliminada, a área está recuperada e em cerca de sessenta dias o tom claro do solo pobre e arenoso estará transformado no verde-esmeralda de um canavial bem plantado e cultivado, que vai produzir, por baixo, 90 toneladas de cana por hectare, com o número mais para cima de 100 toneladas do que para baixo. Em termos de massa verde, esse valor deverá ser ainda maior (na conta da produtividade não entram as partes verde e a que já está seca da planta, mas que são importantes em termos de seqüestro de carbono atmosférico), algo, talvez, como até 120 toneladas de massa total por hectare. Desse número, a maior parte da massa seca, ou seja, sem a água, será constituída por carbono. E o destino final dessa produção será, com certeza, a produção de etanol, aliviando duplamente o ambiente e colaborando duplamente na questão do aquecimento global.

Ao mesmo tempo, a chuva passará a se infiltrar no solo, deixando de escorrer pela superfície, arrastando terra para o curso dos rios.

Verdade seja dita: o ambiente agradece.

A paisagem volta ao normal, sem buraco, e em breve estará coberta pelo verde da cana


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sexta-feira, novembro 09, 2007

Reunião de Cúpula em Washington

(Ou: uma obra de ficção política. Ficção? Tem certeza?)

Washington, DC, um dia qualquer de janeiro de 2012. Na sala da direção de tv lotada com equipamentos eletrônicos, o clima é de tensão e nervosismo. O diretor de tv repete a mesma pergunta a cada dez minutos.

- Onde está o avião da comitiva brasileira? A nevasca está se aproximando e se demorar muito vão ter que desviar para o sul e a reunião de cúpula será um fracasso.

- Calma, Doug, os caras da Força Aérea disseram que está a quinze minutos de vôo, agora. Relaxa, cara, relaxa.

As telas mostram a chegada há uma hora da Presidente Hillary Clinton, ou simplesmente Presidente Hillary, como prefere ser chamada. Deve ter lá seus motivos para essa quebra da tradição, do protocolo e da educação. Apesar do frio e do vento, ela dirigiu-se à pista e recebeu com um caloroso abraço a presidente da Argentina, Dona Cristina, recém-reeleita para mais quatro anos. As duas mulheres dirigiram-se apressadamente para o salão do Aeroporto especialmente preparado para a ocasião. Agora, as câmeras mostravam os diversos grupos espalhados pelo salão em animadas conversas. A roda mais numerosa reunia os primeiros-cavalheiros dos Estados Unidos e da Argentina. Os outrora poderosos presidentes ocupavam agora papéis secundários, apesar dos esforços do Senhor Kirchner em aparecer ao lado e um pouco atrás de sua esposa em todas as solenidades. O comentário geral em Buenos Aires era de isso já era parte de sua campanha para suceder a esposa. Curiosamente, a menor rodinha era formada por apenas duas pessoas, coincidentemente as mais poderosas em seus respectivos países.

- Pombas, mas por que esse avião atrasou tanto? O que foi que houve? O protocolo, as agendas, os horários, tá tudo quebrado, detonado, tudo terá que ser refeito.

- A CIA disse que o atraso foi porque Mr. Lula estava reunido com seu amigo Ricardo Teixeira, aquele que manda em tudo por lá, no Comitê Brasil 2014.

- Mas a Dona Marisa Letícia não alertou-o para o horário?

- Olha, os informes da CIA dizem que ela perdeu poder sobre ele. Agora ele vive mais para essa Copa do que para Brasília e os interesses do Brasil.

- My God...

- Três minutos para o pouso! – o alerta veio do fundo, do rapazinho sardento com um comunicador digital ligando a boca à orelha ou vice-versa. Não importava, o bom é que o negócio funcionava.

Doug olhou para o lado ao ouvir um resmungo. Era o coronel da Força Aérea encarregado de supervisionar o pouso do avião presidencial brasileiro. Percebendo o olhar, o coronel virou-se para ele e começou a reclamar.

- Veja só, um Airbus, uma droga dum avião europeu comprado com o dinheiro que pagamos para eles pelo álcool e pelo café. Deveriam ter tido a decência de comprar um Boeing.

Sem vontade para responder Doug acenou, um gesto que poderia significar qualquer coisa, da concordância total à desconcordância absoluta. Não tinha mais paciência para ouvir as eternas reclamações fardadas.

O avião taxiou e dirigiu-se para a frente da torre. O piloto parou o monstrengo voador exatamente no tapete vermelho parcialmente coberto pela neve. Rapidamente, a porta do aparelho foi aberta e dois agentes da segurança presidencial brasileira apareceram, olhando para tudo. Enquanto um permaneceu ao lado da porta, exposto ao vento ártico, o outro desceu e encontrou-se com seu colega americano, mergulhando em tão profundas quanto desnecessárias conversas sobre a segurança da comitiva.

Um rápido olhar da comissária-chefe, que encostou-se à fuselagem, dando passagem para a Presidente do Brasil, Dona Marisa Letícia. Nesse momento, a banda do Corpo de Fuzileiros Navais começou a executar “Aquarela do Brasil”. Dona Marisa Letícia tinha feito questão de ser recebida com toda a pompa e circunstância a que tinha direito. No pé da escada, as duas presidentes dos dois maiores países das Américas encontraram-se, trocando um abraço e beijos nos rostos. Com aquele vento gelado e os flocos de neve essa não era uma boa idéia, mas,costumes são costumes, e se os brasileiros gostam de se beijar, beije-se, então.

O primeiro-cavalheiro desceu logo depois e trocou demorado e efusivo com Bill, o primeiro-cavalheiro americano. Conversando animadamente com um intérprete entre ambos, dirigiram-se para o salão atrás de suas presidenciais esposas.

Começava naquele momento, para valer, a Reunião de Cúpula das Américas. Em pauta, a invasão da Colômbia comandada pessoalmente por Hugo Chávez, Presidente e Protetor Eterno da República Bolivariana da Venezuela.

- Emerson, Emerson... Emerson... Emerson!

- Hummm? Que é, que foi?

- Levanta, você perdeu hora, já passa das oito.

- Saco!


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segunda-feira, novembro 05, 2007

Beija-flores: alimentar ou não?


(Há algum tempo vinha adiando a publicação desse post, até que recente comentário da Lilly fez-me ver que já era mais que hora.

Lilly, embora eu também não goste muito das garrafinhas, creio que é melhor enfatizar a necessidade dos cuidados diários que devem ser tomados por quem quiser mantê-las.)

Não vou nem discutir a beleza, graça e o prazer que proporciona a visão de um beija-flor se alimentando num bebedouro estrategicamente colocado numa varanda ou numa janela. Aliás, não se deve começar um texto com “não”. Bom, tem um monte de coisas que tampouco são recomendáveis, muito mais sérias que não começar um texto com “não”. Uma dessas coisas, sem dúvida, é pôr o bebedouro com água adoçada com açúcar ou dextrose e não cuidar dele da maneira correta.

O que é essa maneira correta?


Tesourão em flor de mini-grevilea, no Sítio das Macaúbas - Julho 2007.


Reconheço minha ignorância e busco o auxílio não dos “universitários”, mas de Johan e Christian Dalgas Frisch. O trecho que vem a seguir é a transcrição do que eles publicaram no belíssimo e extremamente útil “Jardim dos Beija-Flores”:

O uso de bebedouros artificiais exige cuidados dos quais o amador de aves não pode descuidar, sob pena de infectar toda a população de beija-flores que freqüenta sua área. Em primeiro lugar, deve-se prestar especial atenção à mistura que será oferecida aos traquilídeos.

Renomadas organizações conservacionistas dos Estados Unidos recomendam a seguinte fórmula: uma parte de açúcar refinado para cada quatro partes de água. Ferve-se a água, adiciona-se o açúcar, espera-se que dissolva completamente e deixa-se esfriar. A mistura deve ser guardada no refrigerador para evitar a fermentação do néctar. A adição de quaisquer outras substancias, como o mel, por exemplo, pode provocar a proliferação de um fungo que infecta o aparelho bucal dos beija-flores e causa morte por asfixia.

Pronto para matar a fome e a sede - bebedouro na chácara dos meus sogros, em Santa Rita do Passa Quatro. Esse pequeno é "invasor", pois quem manda nesse bebedouro é um tesourão.


A higienização dos bebedouros é fundamental para garantir a saúde das aves, já que os fungos se formam em frascos sujos (desenvolvem, ao invés de formam, é mais correto; nota do blog). A água com açúcar deve ser trocada diariamente, para evitar fermentação. Pelo menos duas vezes por semana deve-se colocar as garrafinhas em um balde com água e cândida, para desinfectá-las.

... Tão logo as aves estejam acostumadas com eles (os bebedouros), não se deve mudá-los de lugar. Há tipos de colibris bastante territoriais, que defendem a área bravamente contra representantes da mesma espécie ou outros congêneres, as flores ou o frasco onde estão acostumados a se alimentar. Assim sendo, cada garrafa é verdadeira “propriedade particular” de determinados beija-flores e modificações no seu posicionamento desencadeiam verdadeiras guerras pela posse do espaço vital bruscamente alterado.

Animais, todos eles, têm amor à rotina. Felicidade é um dia igual ao outro todo dia, ou seja, comida e água à vontade todo dia no mesmo lugar e horário. Colibris não exceções a essa regra, portanto, colocar um bebedouro implica em assumir e manter um compromisso extremamente sério, pois a estabilidade de uma população é sempre definida, em primeiro lugar, pela estabilidade do fornecimento de alimentos de qualidade.

Em Santa Rita do Passa Quatro, minha sogra e meu sogro têm um bebedouro há muitos anos. Mas eles são extremamente “caxias” e cumprem rigorosamente a rotina – frequentemente, no verão, mais de uma vez ao dia – de lavar e abastecer o bebedouro; e lavagem séria, bem feita, e duas ou até três vezes por semana com “banho” em água misturada com água sanitária.

O bebedouro é palco de incontáveis visitas e, naturalmente, brigas diárias. As visitas não se resumem a três ou quatro diferentes beija-flores, mas incluem, também, as cambacicas. Outro cuidado que eles têm é a manutenção de várias plantas com flores do agrado dos bichinhos, principalmente arbustos de camarão.

Eu, particularmente, não sou muito adepto das garrafinhas, e prefiro o plantio de vegetais cujas flores sejam fontes de alimento pelos beija-flores. Temos várias espécies já plantadas no sítio, desde a russélia e o camarão,

Tesourão em flores de russelia, a cerca de 50 centímetros do chão - Sítio das Macaúbas - Julho 2007.


até os ipês e patas-de-vaca, passando pelas mini-grevíleas e diademas, fora as plantas nativas que surgem do nada, como o cipó-de-são-joão e os maracujazeiros nas bordas da matinha. Um plantio de espécies úteis a eles, é muito mais gratificante do que a garrafinha e, por incrível que pareça, dá menos trabalho, e esse pouco de trabalho pode ser muito gratificante. Muitas plantas nem precisam da terra de um jardim e dão-se muito bem em bancadas e vasos, como a russelia e o camarão.

Fornecer alimento a um ou mais animais implica em compromisso. Muitas vezes quem faz isso não entende que está interferindo no curso normal da natureza e que se retirar essa oferta de alimentos, vai interferir ainda mais. Portanto, se possível, ofereça mais flores e menos água com açúcar. Se possível, mesmo fornecendo a água como se deve, não deixe de plantar espécies que alimentem esses pequenos e lindos seres voadores.

Beija-flor em eritrina ou suinã-do-litoral, em alameda na Fazendinha - setembro/2007.


(As fotos desse post foram feitas pelo autor no Sítio das Macaúbas ou nas ruas e alamedas na Granja Viana e na Fazendinha, no município de Carapicuíba, Grande São Paulo.)

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Cuidado! Capivara



A Marginal Pinheiros tem duas situações: parada ou com o trânsito em alta velocidade, alta intensidade, alto número de veículos. Muitos motoristas nunca devem ter reparado nas placas que o pessoal do Projeto Pomar, que fez um belíssimo trabalho de formação de pequenos maciços de árvores e arbustos ao longo de toda a Marginal, colocou para orientação dos motoristas que utilizam a estrada de serviço, e terra, que acompanha o rio.



O trânsito parado permite o tempo de uma rápida olhada, com o capim entre os motoristas e a placa.



Ao fundo, na outra margem, o complexo de prédios do World Trade Center, sede de empresas hightech, como Microsoft e Monsanto, entre muitas outras. Entre a placa e os cérebros, o rio poluído, os trilhos da CPTM, a outra pista da Marginal...
Mundos muito distintos.



Outro dia vi um filhote de capivara. Estava deitado ao lado de um arbusto, tranquilo, talvez pensando na vida ou na morte da bezerra, ser que ele nunca viu e só deve conhecer de ouvir dizer. Vi de relance, o trânsito, aleluia, andava e andava bem.

Elas estão por ali e em outros pontos da Marginal. Bichinhos resistentes, vamos falar a verdade. Mas com algum gosto, afinal, moram ao lado dos metros quadrados que estão entre os mais caros e descolados de Latino América.



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sexta-feira, novembro 02, 2007

Cambacica


Essa simpática figura se alimentando numa flor de eritrina, também costuma visitar os bebedouros para beija-flores.
As duas espécies não se bicam, nos dois sentidos: não são
"amiguinhas", mas tampouco se atracam em brigas ferozes. Apenas convivem na mesma área, visitando as mesmas flores, suportando-se uma à outra.


É a cambacica. Não sei, ainda, porque cargas-d'água, seu outro nome popular é caga-sebo. Se bem que essa história de nome popular está virando lenda. A maioria das pessoas, hoje, desconhece o nome de quase todos os pássaros. Alguns, mais "informados", ainda conhecem as pombas e os pardais, e acho que pára por aí.
Uma pena, pois conhecer é fundamental para preservar.
Ninguém preserva o que não conhece.





A cambacica é outra habitante aqui da Granja Viana e também lá do sítio.



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