sábado, setembro 30, 2006

Orgulho e Vergonha


Apenas US$ 19,999,000.00 (dezenove milhões e novecentos e noventa e nove mil dólares) separam-me de Anousheh Ansari e sua viagem à ISS, em órbita da Terra. Ela pagou 20 milhões pelo passeio e eu só poderia pagar, com algum esforço, mil dólares. Um mil dólares, ou, em gramática bancária, “hum” mil.

Irrelevante, mero detalhe sem importância, como tudo que é definido por ter mais ou menos dinheiro. Como ser humano, senti-me orgulhoso por sua viagem, acompanhei seu blog e arrependi-me por não ter deixado ali nenhum comentário.

E que belo blog! Para mim, e sem trocadilho, um dos pontos altos da jovem história da blogosfera.

“I was finally able to take a look outside and saw the Earth for the first time… Tears started rolling down my face. I could not catch my breath… Even thinking about it now still brings tears to my eyes. Here it was this beautiful planet turning graciously about itself, under the warm rays of the Sun… so peaceful…so full of life… no signs of war, no signs of borders, no signs of trouble, just pure beauty…


How I wished everyone could experience this feeling in their heart, specially those who are at the head of the governments in the world. May be this experience would give them a new perspective and help bring peace to the world.”



(Finalmente pude olhar para fora e ver a Terra pela primeira vez. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Minha respiração ficou descompassada. Só de pensar nesse momento me enche novamente de lágrimas. Aqui está esse lindo planeta girando graciosamente ao redor de si mesmo, sob o calor dos raios do Sol. Tão pacífico, tão cheio de vida, sem sinais de guerras, sem sinais de fronteiras, sem sinais de problemas, apenas pura beleza.

Como eu gostaria que todas as pessoas pudessem experimentar esses sentimentos em seu coração, especialmente aqueles que estão à frente dos governos
em nosso planeta. Talvez essa experiência desse a eles uma nova perspectiva e ajudasse a trazer paz ao nosso mundo.)

“...sem sinais de fronteiras...”

Todo o orgulho, emoção, satisfação que as palavras de Anousheh proporciona, são destruídos pela leitura da nota informando que, ontem, o Congresso dos Estados Unidos aprovou verba no valor de 1,2 bilhão de dólares para a construção de um muro duplo em boa parte dos 1.226 km de comprimento da fronteira com o México.

Junto com o conhecimento dessa infâmia, vem a lembrança do muro construído pelos israelenses em Jerusalém, separando israelenses e palestinos.



Que vergonha...

Cresci lendo sobre o vergonhoso Muro de Berlim, uma afronta à democracia, ao entendimento e ao livre trânsito das pessoas. Durante muito tempo aquele ignominioso muro foi, para mim, símbolo de opressão e vergonha.

Parecia que ele nunca cairia, nunca sairia dali, deixando o mundo engessado e dividido. Até que um dia o muro maldito foi derrubado. Não caiu por podre ou velho, foi derrubado pelas pessoas comuns, sem tratores ou explosivos, simplesmente usando martelos e picaretas, e, sobretudo, idéias. De liberdade, fraternidade, igualdade... Idéias velhas e bonitas, que hoje parecem fora de moda.

Agora, o símbolo da vergonha está no Oriente Médio, na cidade onde nasceram três grandes religiões. E, em breve, estará instalado na terra da liberdade, no país que por muitas décadas, por mais de dois séculos, foi a tradução para milhões e bilhões de pessoas de terra da liberdade e das oportunidades.

Não mais. O terrorismo e a intolerância venceram.

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sexta-feira, setembro 29, 2006

Antevéspera...


Domingo é dia de votar. Esta será, tenho certeza, a eleição mais importante desta república no pós-guerra. A menos de 48 horas já da abertura das salas com as urnas, a impressão é que o resultado já é conhecido. Espero, sinceramente, que não. Espero que a decisão vá para o segundo turno e esse país tenha mais uma oportunidade para pensar e se repensar.

Nesse momento, falar em ética e honestidade parece uma coisa totalmente sem sentido, parece um discurso vazio, contrário à natureza, pois nada mais abriga que o nada, o vácuo. A prática política de Luiz Inácio Lula da Silva, que prefiro chamar de lulla da Silva, reduziu-nos a isto. Parece que vivemos um momento, que espero passageiro, de amoralidade. Um momento em que o impossível se torna corriqueiro no dia-a-dia. Para quem lembra ou para quem, por algum acaso, consulta um jornal ou uma revista de 2001, 2002, e compara com o que aconteceu nesses últimos quatro anos, o choque é uma brutalidade.

Assassinatos, roubos, falcatruas, acordos políticos onde a sujeira aparece acima de tudo, extorsões, enfim, todos os capítulos piores e mais indecentes do código penal parecem ter sido contemplados pela prática do governo lulla da Silva e do PT.

A começar pelos incríveis – no sentido de impossível acreditar – assassinatos dos prefeitos de duas das maiores e mais ricas cidades brasileiras, ambos do mesmo partido ora no poder. E prosseguindo mandato afora, com assessor de primeiro escalão achacando contraventor, ministro organizando a compra de votos com dinheiro saído do Tesouro Nacional, recursos não-identificados usados em campanhas eleitorais, pagamentos em moeda de outro país de fonte desconhecida, e por aí vai.

O governo lulla da Silva é, na verdade, uma boa cartilha de introdução ao crime. Sua história precisa ser contada e analisada nas faculdades. Mas não nas de história ou sociologia, e sim nas de direito, mostrando aos futuros advogados, promotores e magistrados, como um governo agiu à margem da lei e dos princípios (supostos) éticos e morais de toda uma sociedade.

Eu confesso que não tenho mais estômago para ver e ouvir esse presidente. Não consigo. Há pessoas que vão mais longe: ficam nauseadas, tão grande é a irritação e o desconsolo por sabe-lo presidente dessa nação. Tenho vergonha, não por ele, mas por nós, brasileiros, que o elegemos. O fato de não ter votado nele é irrelevante, pois sou brasileiro e os brasileiros, majoritariamente, elegeram-no.

Pode ser que essa figura infeliz de nossa história vença. É bem possível, quase provável. Paciência. Seguirei respeitando o desejo da maioria, mesmo que lamentando profundamente. Se eleito, ele o será pelos votos de quem nada tem, a começar por estudo, e pelos votos de uma parcela da população iludida e perdida em devaneios.

Temo pelo futuro.

Até porque, mesmo eleito, lulla da Silva estará sub judice, aguardando decisão do Tribunal Superior Eleitoral, por conta das recentes atividades criminosas de seus principais assessores pessoais, além de seu coordenador de campanha, também presidente de seu partido.

E mesmo que nada resulte desse julgamento, seu governo (se acontecer) estará manchado pelo crime, pela maracutaia, pela sem-vergonhice, pela baixeza. No Congresso, com toda a certeza, o bombardeio de S.Excia. e suas ações será constante, permanente.

E esse país perderá mais quatro anos, no mínimo, em sua lenta e arrastada corrida rumo ao futuro. Aquele ao qual pertencemos e nunca chegamos.

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quinta-feira, setembro 28, 2006

Subsídios - um outro porquê

Nunca passamos por uma situação de falta de comida nos mercados.

Creio que o mais próximo que estivemos disso foi durante o malfadado Plano Cruzado, no governo Zé Ribamar. A carne sumiu dos mercados devido ao controle artificial de preços. Mas estava viva, em pé, abundante, nos pastos de todo o Brasil. Ou seja, foi uma falta artificial que só gerou matérias nos noticiários e permitiu a geração espontânea de um monte de espécimes de “fiscais do sarney”, uma nova variedade da espécie Homo sapiens var. brasiliensis.

Mas os relatos da vida cotidiana nas cidades européias durante a I e a II Grande Guerra são dramáticos. A ausência total de gêneros alimentícios, o mercado negro, o desespero da fome levando a cenas inimagináveis, como gente comendo ratos... E não só. A memória difusa, o inconsciente coletivo ou o que quer que seja do europeu, tem marcadas lembranças de períodos de fome aguda até mesmo na ausência de guerras. Ainda no século XIX, a fome grassou e provocou vítimas em muitos cantões da atual Suíça. Todos os países europeus passaram por provações terríveis, com a fome trazendo a reboque doenças e mortes.

Acredito que eventos como esses ficam marcados no “DNA” das sociedades.

E também nas práticas e crenças dos governos, que nada mais são do que porções organizadas das sociedades a que servem.

(Aqui na Terra de Vera Cruz é a sociedade que serve ao Estado, numa lamentável inversão de valores...)

Talvez por fatos assim, os europeus, bem como japoneses, chineses e outros povos asiáticos, dêem tanta importância à manutenção de um pouco que seja de agricultura em seus países. Em nome de um mínimo de segurança alimentar numa emergência.

Claro, estamos no século XXI, e coisas assim, emergências desse tipo são inimagináveis. Pode ser. Mas era esse o pensamento dominante no final do século XIX, o Século das Luzes, e pouco depois o continente era mergulhado em verdadeira carnificina, que repetir-se-ia duas décadas depois.

A manutenção dos subsídios é sempre apontada como fruto dos grupos de pressão e acredito nisso. Esses grupos existem e são fortes, defendendo ferrenhamente seus interesses. Mas não acredito que seja só isso. Tenho cá comigo a certeza que, na hora do executivo encaminhar o projeto e na hora do parlamentar votar o projeto, lá do fundo, de algum lugar remoto do ser, vem a determinação clara e simples: vamos garantir um mínimo de comida nossa para nós mesmos.

E aí, azar nosso nesses terceiros mundos fadados a produzir comida barata e minerais idem, ao lado de industrializados poluentes.

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quarta-feira, setembro 27, 2006

A armadilha e o mito

O texto abaixo é a reprodução da coluna do Roberto Pompeu de Toledo, publicada na Veja dessa semana.


Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo

A armadilha e o mito

Quando se pensa que, pior do que
com Lula, pode ser sem ele, tem-se
o tamanho da arapuca a enredar o país

O Brasil está enredado numa armadilha. Essa armadilha se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Um governo apanhado com a mão na massa* como nesse episódio do dossiê contra seus adversários teria necessariamente seu chefe submetido a processo de impeachment em países onde vigore um mínimo de ordem constitucional e de respeito pela lei penal. Foi o que ocorreu com Richard Nixon nos Estados Unidos. Foi o que ocorreu com Fernando Collor no Brasil. É o que não ocorrerá com Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula tem um invencível escudo a protegê-lo: a popularidade. Não se fazem processos contra presidentes no vazio político. Tanto Collor quanto Nixon só foram destituídos depois que as escoras políticas que os sustentavam, a popularidade em primeiro lugar, desmoronaram. Lula continua contando com ambiente político favorável. Freqüentemente se diz que a oposição errou ao não ter avançado um processo de impeachment lá atrás, no ponto alto do escândalo do mensalão. A oposição não errou. Não se atira com arma de tal calibre contra um presidente que tem a escora do povo, sob pena de fazer um mártir que, fora do governo, teria o poder de infernizar o país mais do que dentro. Eis a armadilha em que o Brasil está enredado: Lula, por ação ou por omissão, pode continuar a cometer seus desmandos, que o país está impedido de puni-lo.

Tem-se atribuído a popularidade de Lula a razões que vão das benesses do Bolsa Família à desinformação da maioria da população. É mais que isso. Lula não é um político. Não é nem mesmo uma pessoa. É um mito. É o retirante nordestino e operário metalúrgico sem um dedo que virou presidente, discursa na ONU e passeia de carruagem com a rainha da Inglaterra. Vá se derrotar um mito! Vá se querer destituir Hércules depois de ele ter cumprido os doze trabalhos! Vá se desafiar Teseu depois de ele ter derrotado o Minotauro!

Os que implicam com ele dizem que Lula deveria ter aproveitado o longo tempo ocioso que teve entre o abandono do torno mecânico e a posse na Presidência para estudar. Santa ingenuidade. Lula sabia que, se assim fizesse, estaria assacando contra o mito. Um Lula com diploma de advogado, falando inglês ou mesmo, mais singelamente, sabendo concordar o sujeito com o verbo, em português, não valeria metade do Lula que fala errado e tem como maior requinte intelectual as metáforas com o futebol. Seria mais um, como Juscelino ou Brizola, que começou de baixo e virou doutor. A construção do mito exigia a distância dos livros e o sacrifício da concordância verbal.

Lula foi igualmente sábio ao desprezar, depois de uma malsucedida candidatura ao governo de São Paulo e uma obscura passagem pela Câmara dos Deputados, qualquer cargo que não fosse a Presidência. A construção do mito também exigia um salto. Tinha de sugerir o movimento, vertiginoso como o de um foguete, irreal como o do sapo que vira príncipe, da condição de retirante à glória da Presidência. Degraus no meio do caminho amorteceriam a surpresa, para não falar no desgaste que os inevitáveis aborrecimentos em cargos menores poderiam trazer.

Mitos também morrem, é verdade. Mas, no caso do mito Lula, não há sinal do mínimo desgaste. Pelo contrário, sua posição nas pesquisas, num quadro de quase permanente estado de crise no governo, indica que está forte como nunca. Há quem especule com a hipótese de vir a querer um terceiro mandato, por meio de uma reforma constitucional que, à Chávez, revogue o limite de dois mandatos consecutivos. Talvez seja exagero. Mas, se tiver paciência para esperar quatro anos fora do poder, quem diz que não ressurgirá, vigoroso, aos 69 anos, na eleição de 2014? E que, vitorioso, parta para a reeleição em 2018, aos 73? O Brasil é culpado pela criação do mito. Não fossem suas mazelas, a começar pela pobreza e pela desigualdade, ele não encontraria terreno propício para prosperar. Agora, vê-se embrulhado na armadilha que o mito continha.

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Suponhamos, contra todas as evidências, que Lula não seja eleitoralmente tão forte. Suponhamos, contra o que indicam as passadas experiências, que desta vez o escândalo o engolfe, e que venha a perder a eleição. Ainda assim, o mito será forte o suficiente para fazer nascer um líder da oposição capaz de empalidecer o desempenho de Carlos Lacerda nesse papel. Imagine-se o que pode aprontar Lula, à frente de sua formidável equipe de sabotadores e caçadores de dossiês, contra o ocupante do Planalto que tiver a audácia de derrotá-lo. Imagine-se seu poder de incendiar o país, uma vez restituído ao posto de maestro da CUT e do MST. Vale a pena ver Lula derrotado? Quando se chega a cogitar que, pior do que com ele, pode ser sem ele no poder, aí se tem a idéia do tamanho da arapuca em que o país está enredado.

* "Massa", por especial cortesia às autoridades e respeito às donzelas, vai em lugar da palavra antigamente chamada de "palavra de Cambronne", hoje mais identificável como "palavra de Paulo Betti".

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domingo, setembro 24, 2006

Que ousadia!


Com certeza todos vocês já repararam nos anúncios “google” no alto da página.

Pois bem, estamos em época eleitoral e muitos candidatos descobriram os anúncios google. Ótimo, bom para eles e bom para os editores de blogs.

A princípio não me incomodei. Deputado fulano, deputado sicrano... Va benne.

Também não me dei ao trabalho de pesquisar se os candidatos eram mensaleiros ou sanguessugas. Devia ter feito isso, reconheço arrependido.

Mas não fiz, paciência.

Mas hoje, há poucos minutos, levei um choque.

Meu blog trazia no alto da página um anúncio de Antonio Palocci.

Não!

Mil vezes não!

Sob nenhuma hipótese.

E mais não falarei para não correr certos riscos.

Incontinenti, abri meu “template” e deletei a autorização e código para anúncios no Um Olhar Crônico.

Ora, francamente, era só o que me faltava!

Para quem chegou a ver tal coisa infeliz, minhas desculpas.

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Correndo atrás de bola


Já vai correr atrás de bola? Estudar que é bom, nada, né?

Quantas e quantas vezes todo brasileiro não ouviu essa frase na infância e adolescência? Incontáveis vezes, com certeza.

Mas correr atrás de bola não é prazer apenas de garotos, adolescentes e marmanjos de todas as idades.


Isso mesmo. A cachorrada adora correr atrás de uma bola.


Aqui em casa é uma bolinha de tênis, que um dia foi amarela.

Elas (4 fêmeas e um macho) ficam loucas pela brincadeira, esperam por ela e, se demora, pedem. Resmungam, fazem ar pidão, o terrível ar pidão que os cachorros são mestres em fazer. Resistir não há como.

E, no gramado, atiram-se atrás da bolinha com voracidade, como nenhum atleta por mais bem pago que seja consegue fazer.

Chocam-se, batem-se, rolam no chão, disputam duramente a posse do objeto tão cobiçado...

Tudo jogo limpo, todos os contatos são válidos, ninguém xinga, ninguém morde. Na disputa pela bola os cachorros são de uma civilidade que dá gosto de ver. E inveja.

A posse dela é transitória, como as taças valiosas. Dura o tempo necessário para correrem até o lançador, depositarem a bola aos seus pés e se colocarem de prontidão, à espera do novo arremesso.

São felizes assim.

Correndo atrás de bola.

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Bom partido suíço

Esta é a Roxane.


Ela é uma vaca Simental, vive na Suíça, em bonita fazendinha nos pés dos Alpes. Coisa de paisagem de cartão-postal, aquele tipo de postal e imagem que aprendemos a associa
r com bem-aventurança, abundância, paz e beleza.


Roxane tem outra característica: é um bom partido. Ganha 3 dólares por dia do governo suíço simplesmente para ser o que é: uma vaca.

Na Noruega também há bons partidos, ganhando seus 1.000 dólares por ano.

Esses pagamentos são ilustrativos dos famosos subsídios que os países ricos pagam aos seus produtores rurais para que possam manter-se no negócio de produzir alimentos. Enquanto eles se mantêm, seus colegas por todo o Terceiro Mundo vivem mal e porcamente às custas do mesmo negócio , essa coisa atrasada e sem charme ou importância que é produzir alimentos.

Esses mesmos países ricos que dão mil dólares por vaca, por ano, dão entre 61 e 84 centavos de dólar por habitante, por ano, como ajuda aos países pobres do planeta.

Os mil dólares de noruegueses e suíços representam o topo da tabela, mas os outros países não ficam muito atrás, inclusive a França e a Holanda e os Estados Unidos. Periodicamente, milhares de toneladas de manteiga e queijos produzidos por essas potências inundam o mercado internacional, derrubando drasticamente os preços e até inviabilizando a venda dos produtos locais. Ao charme insuperável de passar uma manteiga holandesa no pão nosso de cada dia, e comer um pedaço de um queijo americano ou francês, junta-se o preço convidativo, quase de graça, se pensarmos em toda a aura de qualidade e pureza que acompanham produtos de tão nobres origens.

Tais subsídios chegam ao cúmulo, em muitos casos, de serem pagos em dinheiro mesmo! Pena que produtor rural é tudo igual, e os caras usam o dinheiro para melhorar uma coisa aqui, consertar outra ali, na propriedade. Se pelo menos embarcassem para esses trópicos convidativos, deixando para trás o gelo do Wisconsin e da Noruega...

Por aqui o produtor de leite tupiniquim vai tentando sobreviver, recebendo entre 40 e 50 centavos de real por litro entregue. E recebendo com atraso, o que já é considerado bom negócio, pois não receber é parte do negócio. Na hora de comprar um farelo de alguma coisa – soja ou algodão, por exemplo – a faca entra fundo e remexe, matando o bolso do pobre coitado. E isso porque temos farelos pra dar e vender. Na hora de comprar uns tantos quilos de adubo para dar um trato, fazer um agrado aos pastos combalidos, nova cacetada. Deveria até escrever Cacetada, pois a danada é maiúscula de tão grande e bem desenvolvida que é.

Enfim, ontem começou a primavera.

No Sítio das Macaúbas já caíram umas garoinhas. Pouco, quase nada, longe de dar alguma garantia para jogar um pouco de adubo no chão. Mas já é um alento. Os preços continuam do mesmo jeito, baixo para o leite, altos para os insumos todos.

Enquanto isso, na Suíça, as vacas já começam a passar mais tempo em belos e climatizados estábulos. Um deles custou a bagatela de US$ 600,000.00 – mas é uma beleza. Daniel Jouan, o feliz dono da não menos feliz Roxane, tem um lucro líquido de US$ 80,000.00/ano. E diz, sem constrangimento, que 70% de seu faturamento é dado pelo governo, e não pelo que produz e vende para o mercado.

É... ser vaca na Suíça e na Noruega é muito bom.

E como toda vaca dessas terras é um bom partido, melhor ainda é ser dono de vaca em tão aprazíveis países.

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quinta-feira, setembro 21, 2006

Vai bem o bananal

No decorrer do governo Fernando Henrique, acostumei-me a ler o Clóvis Rossi, articulista da Folha de S.Paulo. De vez em quando ele falava bem do governo. Do presidente falava bem mais vezes do que do governo. Não gostava muito, mas era importante para me manter centrado, acompanhando e defendendo o governo, mas sem estar desatento ao que a oposição falava.

E a oposição falava, falava, falava. Falava demais da conta, falava muita besteira, tanta que, sinceramente, era até difícil acompanhar. Mas o Clóvis Rossi acompanhava tudo, filtrava e dava destaque ao blábláblá que não era muito inútil. Confesso que até concordava com uma coisa e outra.

Conto essas coisas para situar um pouco esse jornalista. Mesmo não concordando com sua visão generosa sobre o PT, Lula (atual lulla) e petistas diversos, confiava nele e em sua honestidade.

Confio até hoje.

“Só em um país de seriedade zero, como o Brasil, o presidente da República pode continuar a pretender ser inocente quando os seus mais graduados assessores têm contas a prestar à polícia e à Justiça.
Com a queda de Ricardo Berzoini, presidente do PT, do cargo de coordenador de campanha, tem-se o seguinte: todos os dois homens que exerceram papel idêntico ou similar nas duas campanhas de Lula caíram por algum tipo de trambique. Antonio Palocci, coordenador do programa de governo na campanha de 2002, por abuso de poder, ao determinar a violação do sigilo bancário de um caseiro.”

A citação acima é o primeiro parágrafo da coluna de hoje, 21 de setembro, de Clovis Rossi, na Folha de S.Paulo. Tem mais um pouco.

“A queda de Berzoini atinge o terceiro presidente consecutivo do PT, depois de José Dirceu e José Genoino, todos também baleados pela onda de escândalos em que se especializou o lulo-petismo.”

E mais um pouquinho, para finalizar.

“Como se não bastasse, cai também um assessor de Aloizio Mercadante (que, não surpreendentemente, diz que de nada sabia). Prova definitiva e cabal que meter a mão em matéria fecal tornou-se hábito disseminado por todos os cantos e correntes do PT. Nem em república bananeira se vê mais uma história tão sórdida, tão baixa.”

“Nem em república bananeira se vê mais uma história tão sórdida, tão baixa.”

Há muito tempo alterno minhas referências a Pindorama entre bananal, imenso bananal, Terra de Vera Cruz e, de vez em quando, talvez por preguiça – sou bananeiro! – até o nome Brasil eu uso. Mas nada como bananal. Explica tudo. Agora com aval do Clóvis Rossi.

É chato dizer, mas isso também significa que somos todos bananeiros. Não há como negar, não há como fugir a isso.

Infelizmente.

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quarta-feira, setembro 20, 2006

Primavera?



Será que ela tá mesmo chegando?

Não como data da folhinha, mas como realidade?

A previsão que aparece aqui no blog indica 11 mm para amanhã, em Santa Rita do Passa Quatro.

E aqui na Granja as trovoadas deram lugar ao barulho da chuva caindo forte.

Bom demais!

Chuva, chuva, chuva...

Que tenha vindo para ficar.

Todos os homens do presidente

Nos Estados Unidos é título de livro e de filme.

No Brasil do século XXI é a resposta a uma pergunta simples:

- Afinal, quem são as pessoas envolvidas em tantos crimes e falcatruas?

- Todos os homens do presidente.

Todos os homens do presidente...

Desculpem pela repetição, mas ela atordoa. Experimentem, repitam mentalmente.

Não é atordoante?

Da posse, em 1º de janeiro de 2003, até hoje, nada menos de 21 pessoas próximas ao presidente foram envolvidas em crimes, inclusive os dois ministros mais poderosos da república. Se somarmos a essas pessoas os homens e mulheres do partido do presidente, aí a coisa fica mais interessante.

E daí?

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terça-feira, setembro 19, 2006

Dossiê Serra

Um amigo pergunta: por que um candidato praticamente eleito, faria tamanha bobagem para favorecer um candidato praticamente derrotado?

Simples, meu amigo: porque fazer o malfeito é da natureza do pt – sigla que já significou Partido dos Trabalhadores e hoje significa partido dos trambiqueiros.

É como o escorpião da fábula, que ferroa o sapo que o leva de uma margem à outra do rio. À pergunta do sapo agonizante:

- Mas por que você fez isso? Agora morreremos os dois...

Responde o escorpião:

- Porque é da minha natureza.

Nesse caso do dossiê, à natureza bandida juntou-se o desejo de atingir a candidatura Serra.

Tudo explicado.

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sexta-feira, setembro 15, 2006

Estranho cheiro no ar

Há um cheiro de intolerância no ar. Demorei pra descobrir porque nunca imaginei que a intolerância cheirasse. Mas cheira. É azedo e rançoso, mas é também rancoroso e amargo. É nauseabundo, mas nem sempre a gente percebe isso, porque ele é envolvente a tal ponto que deixa de ser percebido, passa a ser apenas mais um componente do ar que respiramos.

Depois que tomamos conhecimento de sua existência, ele deixa sua invisibilidade e revela-se para nós a toda hora, em toda parte.

Na internet, nos blogs e chats, sua presença é de uma normalidade assustadora. Onde ele chega, normalmente, provoca a retirada da civilidade. Naturalmente, sua presença elimina por oposição a tolerância. Que vira fumaça, ou nem isso, e desaparece.

Se tudo está bem, no melhor dos mundos, e por algum motivo a política e as eleições entram na conversa, ela, a intolerância, automaticamente entra e se faz presente em questão de minutos.

Não anda sozinha a bacana. É vista com freqüência quase absoluta ao lado do desengano, também conhecido por desencanto. Se por acaso cruzarem, nossa! – nem quero imaginar o fruto de tal união.

Ontem à noite, um jovem jogador do Botafogo, perdeu um pênalti durante a disputa por penalidades para definir o vencedor do jogo com o Fluminense. Cobrou mal, muito mal, tão mal que só pode ter sido um acidente. Em poucas horas, sua página pessoal no orkut recebeu quase 5.000 (cinco mil!) recados, um pior que o outro. Um portal de notícias definiu como “linchamento pela internet”.

A intolerância está feliz, nadando de braçada. O que não é nem um pouco ruim com esse calorão senegalesco. Espero que o desencanto não se junte a ela e nade em outra praia.

terça-feira, setembro 12, 2006

500!

Já se vai pouco mais de 20 meses do começo desse blog.

A primeira frase de meu primeiro post tem lá seus significados:

Hoje é dia de escrever. Não sei porquê, mas sei que hoje é dia de escrever.”

E hoje, tal como em 31 de janeiro de 2005, e tal como sempre antes dele, continua sendo dia de escrever.

Deveria ter escrito ontem, onze de setembro, 11 do 9, ou 9/11, nine-eleven. Quinto aniversário do assassinato em massa de milhares de pessoas, aniversário, triste, do dia em que o mundo foi mudado para pior por um bando de assassinos loucos.

Recuso-me sequer a chamá-los de terroristas. Não passam de reles assassinos. Motivos? Inexistem. Assassinos não têm motivos.

Aquele dia começou bonito e gostoso como muitos outros. Levantei cedo e fui montar na hípica próxima de casa. Um começo de manhã como deveriam ser todos. Temperatura fresca, o aquecimento do cavalo no chão e depois montado, o sol subindo e com ele a temperatura. Nessa Granja Viana a temperatura é mais amiga, um presente das árvores ainda abundantes.

Banho tomado, café da manhã com o sagrado jornalão do dia, meia hora de trânsito e estava no escritório começando a trabalhar.

O trabalho naquele onze de setembro limitou-se a ser começado. Nada foi terminado. Como de hábito, liguei a tv da minha sala para acompanhar os programas rurais e, como de hábito, dei uma olhada na programação, inclusive na CNN. Foi logo no início da transmissão ao vivo de Nova York.

Naquele momento ninguém sabia o que havia acontecido. Até se falava de um avião que tinha se chocado contra a Torre, mas, como assim? Um avião? Impensável, claro, pois o avião em que pensávamos era um teco-teco de algum maluco se exibindo em meio aos prédios. E um aviãozinho daqueles jamais faria algo parecido a uma torre como aquela.

Não me lembro se a primeira imagem do 767 indo de encontro à Torre apareceu no ar antes ou depois do segundo avião. Acho que foi antes, porque, por alguns poucos minutos, ainda deu para pensar que o piloto tinha morrido, o co-piloto também, algo assim, hipóteses malucas trazidas à mente pela lembrança de “Aeroporto”, filme de sucesso já perdido no tempo.

Ver o segundo 767 indo de encontro à Torre Sul desfez, definitivamente, toda e qualquer ilusão de acidente.

Aquela imagem destruiu nossa visão do mundo. Uma visão que já não era muito boa, toda cheia de rachaduras e remendos, estilhaçou-se de vez, quebrada definitivamente.

E ainda entraram no ar as cenas do Pentágono, em Washington, e o United 93 em pedaços no solo, em algum lugar da Pensilvânia. Durante muitas horas vivemos em vigília, aguardando pela notícia de outro choque, outro atentado, outro assassinato. Que, felizmente, não aconteceu, sabemos hoje que por motivos operacionais.

Um dia terrível.

A primeira imagem da Torre Norte em chamas...

O segundo 767 chocando-se contra a Torre Sul...

Uma camisa branca sendo agitada de uma janela quebrada em algum andar no alto de uma das torres...

Essas três imagens estão vívidas em minhas lembranças.

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Nunca fui jantar no Windows of the World, o restaurante que ficava no alto da Torre Norte.

Mas subi ao Top of the World, o observatório para turistas no alto da Torre Sul. Foi numa manhã de inverno e o dia estava claro. Uma vista impressionante, inesquecível. Tanto quanto a vista da noite anterior, do alto do Empire State, com o mesmo céu limpo, mas com a lua cheia.

Confesso que ainda não consegui captar toda a dimensão dessa tragédia. Fico pensando que preciso voltar a Nova York para ver o vazio e tomar consciência, de fato, da realidade.

Mas...

Era fácil ir para Nova York. Não é mais. Uma das piores heranças dos assassinos foi a restrição a muitos direitos civis nos Estados Unidos e restrições ainda maiores à entrada de estrangeiros em território americano. Nem pedi renovação de meu visto quando venceu. Por enquanto, Nova York continuará sendo apenas imagens nas telas e na memória.

...

É, e assim termino meu post número 500.

Do mesmo jeito como começou:

Hoje é dia de escrever.

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sexta-feira, setembro 08, 2006

Muito nobre

Passei pelo Parque do Ibirapuera um dia desses.

O sinal fechou, parei o carro e olhei para os lados. Dei de cara com um grande sobrado, imponente, localizado bem na frente do Parque, naquela pontinha que tem num lado a nobre Avenida Brigadeiro Luiz Antonio e no outro a nobilíssima Avenida República do Líbano (na verdade, seu curto prolongamento, cujo nome não sei). À frente, estende-se a praça que tem na direita a Assembléia Legislativa e adiante o QG do II Exército, com muitas árvores, espelhos d’água, etc. Se o olhar dirigir-se mais para a direita da Assembléia, tem o Monumento às Bandeiras e, um pouco mais, emoldurado pelo arvoredo do Parque, o Lago do Ibirapuera, onde, nos finais de dia e em dias especiais, funcionam os jorros da Erundina e da Marta. Bonito. Nobre, muito nobre.

Nobre + Nobilíssimo = Muito Nobre (no mínimo)

Esse casarão, nobre de tudo, abriga o escritório eleitoral de poderoso personagem republicano. Digo, “republicano” e peço atenção às aspas.

É bom diferenciar essa gente – que hoje se intitula a troco de não sei o que como republicana – dos autênticos republicanos que, em Itu, em 1873, realizaram a Convenção de Itu, na raiz de nossa passagem – infeliz, pela forma como se deu – da monarquia para a república. Há muitas e enormes diferenças entre os de outrora e os de hoje. E respeito só tenho pelos antigos.

Meses atrás, movido por mórbida curiosidade (sempre quis usar essa expressão consagrada em policiais classe B), anotei o telefone de imobiliária que alugava sobradão grande, mas não tão grande, em endereço também nobre, mas muito menos nobre, muito menos.

Liguei. Atendeu-me gentil mocinha, cujo cargo e função não sei precisar, e ao dizer-lhe que gostaria de saber o aluguel do nobre casarão, mais solícita ainda ficou, além de sorridente (não, não era videofone, mas deu pra “ver” o sorriso dela), saindo a perguntar meu nome, endereço, telefone, essas coisas. Não perguntou coisas mais íntimas e que não vêm ao caso aqui. Tanto ela como eu somos sérios. Inventei. Claro, inventei tudo a meu respeito, inclusive a serventia do imóvel.

Passou-me para um corretor que se desmanchou em sorrisos telefônicos. Conversa vem, conversa vai, chegamos aos finalmentes: aquela mansão magnífica estava por uma pechincha: apenas R$ 36.000,00 por mês.

Trinta mil reais por mês. Daria para chegar a esse valor, tenho certeza, bastava negociar. Certo, certo... Sem dúvida, grande e boa pechincha. Chamou-me de doutor e só faltou me pedir um descontinho para uma “geral” em sua senhora. Ah, é mesmo, esqueci de contar que disse à gentil guria ter a intenção de lá instalar uma clínica de cirurgia plástica.

Pois bem, se aquele endereço menos nobre e menor custava isto, quanto custará o escritório eleitoral desse poderoso republicano?

Conversei com um conhecido, corretor imobiliário dos bons, e ele chutou, por baixo, cinquentinha.

Cinqüenta mil reais por mês. Ou, seiscentos mil por ano. Colocando isso em moeda mais compreensível à nossa realidade, a bagatela anual de US$ 280,000.00.

Puxa vida, o importante na vida é ter boas amizades, sem dúvida. Nada como um bom plantel de amigos. Fiquei pensando no poderoso personagem “republicano”, vindo de família de classe média mais pra baixa que pra média. Rapaz inteligente, esforçado, meteu-se em política, virou militante. De extrema-esquerda, vejam só. Trotsquista. É...

Mas subiu na vida, ficou famoso, importante, respeitado. Deu sorte, vamos falar a verdade. Estava no lugar certo, na hora certa. Não era para ser o que foi, não tinha sua cara, não tinha seu jeito e ele próprio não tinha, aparentemente, a menor qualificação acadêmica, profissional ou mesmo política para vir a ser aquilo que acabou sendo.

Como eu disse, teve sorte. Quem deveria ser o que ele acabou sendo, morreu.

Morreu de morte matada. Foi assassinado.

Ah, esse Brasil violento, essa violência já endêmica, da qual ninguém escapa. Nem mesmo prefeitos de grandes e ricas cidades, como os falecidos prefeitos de Santo André e Campinas.

Dias atrás disse a senadora Heloísa Helena que, se eleita, mandaria investigar a fundo o assassinato de Celso Daniel, o que foi prefeito de Santo André. E disse mais: investigado a fundo, “tristes verdades” viriam à tona. Heloísa Helena disse, eu transcrevo. Não podemos esquecer do assassinato do Toninho, à época prefeito de Campinas. Foi próximo, no tempo, ao assassinato de Celso Daniel. Uma epidemia, talvez? Na Idade Média, no tempo da Peste Negra, queimavam os corpos e as moradias, queimavam tudo, era a queima da peste. Nem sei porque pensei nisso agora.

Celso Daniel seria o coordenador econômico da campanha de lulla da Silva à presidência. Com sua morte, o cargo passou para o então prefeito de Ribeirão Preto, Toninho Palocci. Contavam muitas histórias sobre ele e sua administração, mas, sabem como é o povo, né? Fala demais.

Palocci virou ministro da Fazenda.

Inteligente, preservou a política de seu antecessor. Saiu-se bem, não há como negar. A política herdada era boa, é boa. Mas falhou na continuidade, o que é normal, pois quem não sabe e copia, não sabe desenvolver.

Maior autoridade monetária e financeira da república – e maior autoridade da república para muitos – Toninho Palocci foi envolvido por braços gentis e graciosos, dizem, os mesmos que depois enlaçariam um seu amigo e assessor. De braço em braço, descobriu-se a hoje famosa “República de Ribeirão”, embora em fase de esquecimento progressivo. Em certo momento, Toninho Palocci, Ministro da Fazenda, quebrou o sigilo bancário de Francenildo, caseiro da mansão onde se abrigava a tal “República”. Esse crime, que em países civilizados levaria seus autores à cadeia, sem choro nem vela e muito menos fiança, só não reverteu porque a brava polícia federal resolveu investigar o próprio caseiro. Vale dizer que o chefe dessa polícia, o ministro da justiça, colega ministerial de Toninho, soube do crime e não prendeu seus autores. Num país civilizado... Ah, deixa pra lá.

Enfim, Francenildo está sem dinheiro, sem emprego e sem futuro. E, só pra complicar ainda mais, é tido por meia dúzia de crédulos como sem-caráter.

Toninho Palocci é candidato a deputado federal. O escritório político localizado em ponto tão nobre, nobilíssimo, mesmo, da capital de São Paulo, é seu.

Podia ao menos dar um emprego pro Francenildo pra ele cuidar desse nobre casarão.



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quarta-feira, setembro 06, 2006

Ouro Preto d'Oeste



No começo desse ano andei novamente por Rondônia.

Escrevi a respeito na época.

Naveguei pelo Madeira como das outras vezes e fui para regiões que ainda não conhecia, como Cerejeiras e Colorado d'Oeste.

Uma vez mais passei por Ouro Preto d'Oeste. Dessa vez com alguns minutos a mais, o bastante até para permitir uma parada na beira da estrada e uma foto ao lado do símbolo do município, uma grande vaca preta e branca com um retireiro fazendo a ordenha. Senti-me em casa.

Desde a primeira vez que passei por ali fiquei com vontade de mudar com malas, cuias e vacas e estabelecer-me por ali mesmo, numa fazendinha leiteira.

Ah, os sonhos que as paisagens despertam. Nesse ponto sou meio cigano. Tão cigano que até fazenda no Nepal, no sopé do Himalaia, sonhei em ter. Ora, francamente, tirar leite de iaques embaixo do Everest? Coisa de maluco.

Ouro Preto d'Oeste tem vacas, tem leite, tem castanheiras, tem florestas, é uma terra cheia de coisas bonitas. Mas é quente pra burro!

Quando lembro do calor, o lado rondoniense - ou rondoniano? - do meu coração se volta para Vilhena.

Mas que Ouro Preto d'Oeste é bonita, ah, isso é. E cheia de vacas.

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P.s.: fico devendo a foto, ou melhor, o sistema blogger fica devendo; desde que mudou e entrou a versão beta, tudo ficou mais difícil; agora, nem foto sozinha estou conseguindo postar.

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terça-feira, setembro 05, 2006

Reta final

O inverno entra em sua reta final em grande estilo.

Vários dias com temperaturas baixas e até algumas chuvas.

Em breve chegará a Primavera. Poucas vezes esperei por essa estação com tanta ansiedade.

Dias quentes, dias longos, dias chuvosos...

Anseio por ver o capim crescer vigoroso, verde, viçoso, alimentando as vacas e tirando minhas preocupações. Por algum tempo.

Há muito tempo eu venho temendo a aparição de secas tão prolongadas. Há dois anos, ao tentar planejar as atividades do sítio (aí o dinheiro acabou de novo e sem dinheiro... não há planejamento que dê certo), estimei produzir silagem para sete meses. Vagner, o agrônomo que me dá assistência, disse que era demais, cinco meses estaria de bom tamanho. Esse ano mostrou que cinco meses é pouco e sete é bom.

O comportamento do tempo tem sido errático demais nos últimos anos, o que é muito preocupante.

Não estou certo, ainda, que isto se deva à ação humana, não pelo menos na totalidade. A verdade é que pouco conhecemos dos processos climáticos, que são, eles sim, globalizados. Nosso conhecimento a respeito é muito limitado, ainda. Por outro lado, a história mostra que já tivemos no passado alterações climáticas significativas, e o homem pouca coisa era a mais que um macaco sem pelo, com reduzido poder transformador sobre a natureza.

Um período seco, com a conseqüente falta de água, a redução da umidade do ar, o desconforto e o aumento de doenças provocadas por essa situação, mostram a fragilidade dos sistemas que sustentam nossa vida, que sustentam toda a vida do planeta.

Felizmente, é uma fragilidade aparente.

O termômetro da varanda marcava 6 graus há pouco, e caindo. Ontem cedo, terça-feira, a temperatura perto das oito horas da manhã era de 5,5 graus centígrados.

A Lua está cheia, brilhante, bonita.

Uma linda noite de inverno.

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domingo, setembro 03, 2006

Não à censura, Fora Sarneys!



A meia dúzia de leitoras e leitores que acompanha este blog sabe de minha ojeriza a tudo quanto significa Sarney.

Sabe de meu espanto ao ver o Maranhão, estado lindo e potencialmente rico, apresentar o pior IDH entre todos os estados brasileiros.

Sabe de minha revolta e indignação por ver um grupo, ao qual chamo clã, o Clã Sarney, dominar a vida desse estado há mais de três décadas.

Sabem também esses leitores de minha revolta por ver os tentáculos do clã se estenderem sobre o Amapá.

Sabem de minha alegria com a descoberta, pela PF, da montanha de dinheiro no escritório da moça do clã, à época candidata à presidência desse bananal.

Sabem que uma das muitas coisas que abomino nesse dito governo de lulla da Silva é a ressurreição de Zé Ribamar et caterva, ops, digo, família.

Pois bem, esse blogueiro e esse blog julgam-se no dever mínimo de estampar aqui a charge aí detrás.

Saibam que essa charge inocente e divertida provocou a censura, por medida judicial, do blog de Alcinéa Cavalcante, jornalista e blogueira amapaense. A justiça mandou tirar do ar 6 posts do blog. O portal UOL, em medida nojenta e descabida, tirou do ar o blog inteiro da jornalista.

Isso é um atentado à liberdade de expressão, ou melhor, são atentados, pois a medida judicial requerida pelo “pai da pátria” e poderoso chefe do clã nada mais é do que um atentado à livre expressão garantida (?) pela constituição do bananal em que vivemos.

Força, Alcinéa!

Xô, Clã Sarney!

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Xô, Clã Sarney!

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sábado, setembro 02, 2006

Itá – Santa Catarina

Itá ou ita significa pedra, em tupi-guarani.

Itá era o nome de uma cidade do sudoeste catarinense, fundada por imigrantes alemães e italianos, vindos do Rio Grande do Sul, em 1916, às margens do Rio Uruguai. Viveu pacatamente, às custas da exploração de madeira e da agropecuária, até o começo dos anos 80, quando desapareceu sob as águas da Barragem de Itá, represamento do Rio Uruguai para a produção de eletricidade.

A velha cidade era pequena, com uma rua principal que vinha da direção do rio e terminava em frente à igreja, já num local mais, e atrás da qual começava a morraria. Com a inundação, apenas as duas torres da igreja permaneceram fora d’água. Diante disso, a Eletrosul criou uma “ilha”, soterrando a nave e mantendo as torres, que se erguem da terra como se nela estivessem plantadas. Virou atração turística.

A Nova Itá foi pensada, planejada e criada num alto de colina. Suas ruas são largas, modernas, é uma cidade agradável. E mais salubre, mais arejada – aliás, muito arejada – e, provavelmente, até mais bonita. Não conversei com seus moradores, não posso dizer que são mais felizes ou infelizes no alto do que eram na baixada. Mas, se conheço um pouco do ser humano, se sentem bem agora, mas lamentam o passado perdido, sempre muito melhor que o presente. Só na imaginação, claro.

Gravamos na granja que aparece nas fotos 1 e 2, de propriedade do Ildo Dalla Lastri. Além dos frangos, ele, como muitos outros proprietários, tem umas vaquinhas Jersey.

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As torres de Itá Velha

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As torres, cercadas pela água.
Nas outras fotos, feitas nessa semana, a água está mais baixa, bem mais baixa.
Efeito da seca.
(Foto do site da cidade de Itá.)

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Sob as águas...

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Sob essas águas, em meio a essa morraria, a Velha Itá repousa.
Por cima dos velhos tetos, os barcos navegam.

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Itá – Santa Catarina

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