sexta-feira, abril 15, 2016

A verdadeira história da Vale

Recebi o texto abaixo de um grande amigo, carioca há muito residente nas Geraes. Como não consegui contato com seu autor para colocar seu nome, vou deixá-lo, ao menos por enquanto, sem essa menção.
O texto é um pouco longo para esses tempos "tuiteros", mas é uma leitura preciosa e muito interessante. Não fiz nenhuma alteração, segue exatamente como está o original.

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A VERDADEIRA HISTÓRIA DA VALE

O rompimento das barragens em Minas Gerais provocou uma avalanche de publicações no sentido de tentar fazer a sociedade ver a tragédia como resultado do capitalismo, já que a Vale, controladora da Samarco, é apontada como uma empresa privada − privatizada por FHC!
Se considerarmos que um partido político é uma instituição privada, sim, a Vale foi privatizada. A Vale é do PT. A Samarco também.
O processo de tomada do controle da Vale pelo PT é muito bem descrito num dos capítulos livro Reinventando o Capitalismo de Estado, de Aldo Musacchio e Sergio Lazzarini.
Um resumo:
A privatização da Vale promovida por Fernando Henrique Cardoso em 1997 foi parcial. O governo vendeu pouco mais de 41% das ações da empresa para a Valepar, holding que na época era liderada pelo empresário Benjamin Steinbruck. Porém, o governo manteve o controle das golden shares, ações que lhe davam poder de decisão em vários assuntos, por exemplo, sobre os objetivos da empresa.
No ano de 2001, o conselho de administração da Vale aprovou a nomeação de Roger Agnelli como CEO da empresa. Um ano depois, a privatização foi concretizada com o BNDES vendendo 31,5% de sua participação. No entanto, no ano seguinte, 2003, início do governo Lula, o mesmo BNDES recomprou 1,5 bilhão em ações da empresa. Nesse mesmo ano, Lula apadrinhou a nomeação do ex-sindicalista e ex-vereador petista Sergio Rosa (hoje investigado pela Operação Lava Jato) como CEO do Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil.
Sob a liderança de Agnelli, a Vale deu um salto de produtividade, de rentabilidade, de admissão de funcionários e de pagamento de impostos e de royalties.
A partir de 2009, o grupo que reúne fundos de pensão de empresas estatais controlados pelo PT (Previ, Petros e Funcef) se utilizou da Litel, holding criada por eles mesmos, para assumir o controle da Valepar e por meio dela obter 49% das ações da Vale, o que somados aos 11,5% que já estavam nas mãos do BNDESPAR, braço de investimentos do BNDES, deu ao PT o controle sobre mais de 60% das ações da empresa.
Começou, então, a pressão de Lula sobre Agnelli para que a Vale fizesse mais investimentos no Brasil, principalmente na aquisição de siderúrgicas e na encomenda de navios, mesmo que os similares estrangeiros custassem a metade do preço.
Lula também tentou fazer um certo Eike Batista chegar à presidência da Vale. Não conseguindo, tentou substituir Agnelli por Sergio Rosa. Também não conseguiu.
A despeito das pressões, Agnelli continuou seus projetos na Vale, incluindo a encomenda de navios na China e na Coreia do Sul, o que enfureceu Lula. Em 2011, logo após a Vale registrar um lucro trimestral quase 300% acima do trimestre anterior, Agnelli foi demitido.  Seu sucessor e atual presidente, Murillo Ferreira, foi indicado por Lula – e até dois meses atrás, Ferreira também ocupava uma cadeira no conselho de administração da Petrobrás. Desde então, os rumos da Vale são ditados pelos interesses do PT.
Ignorando normas de licitação e do TCU, a mineradora firmou diversos contratos com empresas beneficiadas pelo programa de proteção e de incentivo à indústria nacional iniciado por Lula e que, obviamente, formava o grupo de financiadores (Odebrecht, por exemplo) de seu partido e de todos os movimentos que o apoiavam.
Não por acaso, desde então, a Vale vem registrando perdas. Hoje, a Litel tem, sozinha, 52,5% das ações da Vale.
Em tempo: Todos os setores que foram beneficiados pelo protecionismo do PT estão hoje em colapso e todos os fundos de pensão de empresas estatais controlados por petistas estão deficitários.
Três perguntas:
O grupo que detém o controle acionário da Vale não seria o maior responsável pelos projetos de suas empresas?
O governo não foi negligente na concessão de alvarás e na fiscalização?
O PT, que controla a Vale, que governa Minas Gerais e o Brasil não tem nada, absolutamente nada a ver com isso?
E assim, mais uma vez, nos deparamos com a razão de o estado não poder participar do mercado. Quando participa, o próprio estado se torna o mais interessado em abafar as responsabilidades em caso de incompetência e de negligência, deixando a sociedade completamente desamparada institucionalmente. As pessoas que perderam suas casas, suas fontes de renda e familiares na tragédia com toda certeza ouvirão muitas promessas do governo e talvez recebam algum dinheiro, mas a probabilidade é de que não verão ninguém sendo punido.
A realidade que deveria ser vista pela sociedade é que a maioria das grandes empresas brasileiras está sob influência direta ou indireta do governo, essas empresas estão sujeitas aos interesses de militantes do PT e de políticos de sua base aliada que geram lucros para si mesmos e prejuízos para a sociedade. Os bancos, os fundos de pensão e as agências regulatórias do estado não passam de instrumentos políticos. Para saber quais são as empresas que estão sob o controle do PT, basta checar seus quadros acionários, os benefícios fiscais, a quantidade de dinheiro que receberam do BNDES e os valores que doaram aos partidos nos últimos anos.
Se estivéssemos num país regido pelo livre mercado, a Samarco e a Vale seriam empresas realmente privadas e suas responsabilidades nesse acidente seriam realmente levantadas, julgadas e punidas, já que o governo não teria interesse em livrá-las do peso da justiça. Se fossem privadas, o estado iria com toda sua força contra as empresas. Se fossem privadas, alguém iria para a cadeia.
Como se fosse pouco mortes e prejuízos ambientais, a tragédia também levará consigo muitos bilhões de reais investidos pelos fundos de pensão que controlam as duas empresas, ou seja: os prejuízos serão estendidos aos funcionários da Caixa, da Petrobrás e do Banco do Brasil.
Um acidente como o ocorrido em Minas poderia ter acontecido com qualquer empresa e em qualquer lugar do mundo, como já ocorreu tantas vezes, porém, o caso em questão evidencia mais uma vez que a participação do Estado na Economia potencializa a impunidade. Ninguém será punido pela tragédia em Minas, assim como ninguém foi punido pelos acidentes nas plataformas da Petrobrás nem pelos prejuízos sociais e ambientais provocados pela falência das empresas de Eike Batista, o ilustre filho bastardo das políticas "desenvolvimentistas" do PT.
Para evitar problemas, dias depois da tragédia em Minas, Dilma assinou o decreto 8572 que diz que "...considera-se também como natural o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens que ocasione movimento de massa, com danos a unidades residenciais". Com uma simples canetada, Dilma tirou da Samarco e da Vale toda a responsabilidade sobre a tragédia.

sábado, abril 02, 2016

As bundas dos cavalos da Roma antiga e as viagens espaciais


Nem sempre prestamos atenção ou damos valor ao passado. Nosso dia-a-dia é mais frenético do que jamais calhou de ser e mal temos tempo para o presente. Como o passado são águas passadas e o futuro promete ser mais frenético do que é o presente, que já não deixa tempo para nada... Adeus passado?

O passado, porém, é muito importante, ele é fundamental para sabermos quem somos. Existimos porque temos passado, o que pode parecer óbvio ou redundante ou até tolo, mas não é. Basta parar um pouco e pensar.

Ok, mas isso aqui não é texto de autoajuda ou coisa que o valha, é só uma crônica para o fim de semana. Na verdade, pretendo contar para vocês uma curiosidade que, sinceramente, achei fantástica quando dela tomei conhecimento há muitos anos. Nunca mais a esqueci e vez ou outra releio, mudo uma palavrinha ou outra e passo adiante novamente. Não será de estranhar, portanto, se um ou dois dos que agora me leem já a conhecerem.
Vamos lá.


Bitolas, bundas equinas e viagens espaciais

A bitola padrão (distância entre os trilhos) das estradas de ferro
americanas é de 4 pés e 8 1/2 polegadas. É um número bem esquisito.
E por que essa bitola é usada?

Porque essa é a bitola que é usada na Inglaterra, e as ferrovias americanas
foram construídas por ingleses, que simplesmente fizeram as ferrovias americanas iguais às inglesas.
Ok, mas por que os ingleses usam essa bitola?

Porque as primeiras linhas férreas foram construídas pelos engenheiros que
fizeram os primeiros bondes, e foi essa a bitola usada, a mesma dos bondes.
Certo, mas então por que era essa a bitola?

Porque o pessoal que construiu os bondes usava os mesmos gabaritos e
ferramentas usados na construção das diligências, e elas tinham essa bitola.
Tá bom, entendi, mas por que as diligências usavam essa bitola?

Porque se usassem qualquer outra bitola, suas rodas quebrariam nos sulcos
das estradas inglesas, que têm seus sulcos muito uniformemente cavados.
Hummmm... Mas por que as estradas inglesas têm sulcos tão uniformes?

Porque as estradas inglesas, como a maioria das velhas estradas
europeias, foram construídas pelos romanos para a movimentação de suas
tropas. E as carroças e as bigas romanas tinham sempre a mesma bitola justamente para não quebrarem nos sulcos cavados nas estradas.

Chegamos, então, finalmente, à resposta da pergunta original.

A bitola padrão das ferrovias americanas é de 4 pés e 8 ½  polegadas porque deriva das especificações originais das carroças militares do exército romano. 
E essas carroças foram projetadas para a largura de duas bundas de cavalos, lado a lado, que as tracionavam.
Portanto, 4 pés e 8 ½ polegadas era a medida padrão dos quartos traseiros dos cavalos de tiro romanos.




Veja, agora, o que isso veio a provocar muitos séculos mais tarde.


Quando você vê o Space Shuttle em sua base de lançamento, há sempre dois
foguetes propulsores auxiliares presos a ele perto dos tanques de
combustível, chamados de SRB (Solid Rocket Booster).



Os SRBs são feitos pela Thiokol, numa fábrica em Utah.

O projeto original dos engenheiros era para fazê-los um pouco mais gordos, com uma aerodinâmica diferente. Entretanto, de Utah para Cabo Canaveral, na Florida, eles deveriam ser transportados de trem. Como existem vários túneis nessa rota, e esses túneis foram construídos para comportarem um
trem, cuja largura é determinada pela bitola da ferrovia, que tem, é claro, aproximadamente a mesma largura da bitola das ferrovias inglesas que, por sua vez...

Chegamos à conclusão que o desenvolvimento de um dos maiores projetos
de transporte da humanidade foi originalmente determinado pela largura
de duas bundas de cavalos de tiro romanos, lado a lado, puxando uma carroça.

Bem-vindos ao futuro.