quinta-feira, setembro 12, 2013

11 de Setembro de 2001

11 de Setembro de 2001




Aquele 11 de setembro, o primeiro desse século XXI, era um dia comum e ainda estava ainda em casa trabalhando num roteiro, TV ligada, quando entrou a notícia do choque de um avião com uma das torres.
O susto foi enorme e fiquei pensando em qual das torres, pensamento meio besta, sei, mas essas coisas passam pela cabeça. Numa delas, a Torre Norte, a primeira a ser atacada, tinha um restaurante chamado Windows on the World, lá no alto, nas “nuvens”. Pensei e quase tentei ir até para um jantar, com Manhattan aos pés, mas os preços eram tão altos quanto a localização, definitivamente fora dos meus parcos orçamentos. Nunca fui. Pelo menos fui ao terraço uma vez, mas continuei achando o do Empire State mais bonito e charmoso, fora os filmes e o romantismo e o medo de ver o King Kong (o primeiro) ali no alto.
Digressões à parte, como um avião poderia se chocar com aquele prédio? Que coisa maluca! – pensava enquanto ouvia o pessoal pela televisão. Aí veio o segundo avião dos assassinos e tudo ficou claro: era um atentado terrorista.
Veio a informação de Washington e depois da Pensilvânia. Os Estados Unidos da América estavam sob ataque. O inimaginável acontecia.
Quando o segundo avião se chocou ficou claro que a História tinha mudado ali, naquele momento, aos nossos olhos.
De fato mudou, para pior.
Os assassinos de bin Laden conseguiram parte de seus objetivos, ao fazer o governo, o Congresso e a justiça americanos restringirem os direitos civis. Uma perda irreparável. Como irreparável foi a perda de milhares de vidas.
Esses assassinatos tornaram nossas vidas mais complicadas ainda hoje e por muito mais tempo.
Não reconheço nesses assassinatos valor algum. Foram atos da mais pura barbárie, simplesmente. Há muitos outros na História da humanidade e, infelizmente, outros virão, parece ser da nossa natureza.
Tudo que aconteceu só reforça a necessidade de defendermos e investirmos o que de mais precioso desenvolvemos: a ideia, o conceito, a prática da Democracia.


domingo, setembro 01, 2013

Sem choro, nem vela



O domingão começou tarde hoje (é domingão, !), pouco antes das seis da manhã. Mas o Zé já estava recolhendo as vacas para a ordenha.
Ontem ele picou cana demais para o trato das vacas.
Hoje, sobrou cana demais nos cochos, uma curiosa lei da natureza. 
Portanto, o marmitão aqui começou o dia pegando cana sobrada e jogando fora, deixando os cochos limpos para o trato da tarde. 
Isso feito, piquei um pouco de cana para duas vacas separadas das demais e para a bezerrada. Misturei com feno de alfafa e feno de tifton. Chique... E caro. 

Não vou almoçar na sogra, perderei o almoção dominical mais uma vez, pois quero começar o trato da tarde mais cedo, na esperança quase vã de conseguir assistir o São Paulo contra o Botafogo.
Felizmente, hoje à tarde termina o final de semana. Amanhã é segundona – Thank's God – e não terei que fazer o trato das vacas. 
Oba!
Aqui, no final de semana, empregado folga e o patrão pega no pesado braçal, pois ordenhar é tarefa especializada muito além de minha capacidade, suficiente apenas para pegar cana no garfão, jogar na carriola, misturar ureia e levar para os cochos. À noite meus ombros, meus braços, minha cintura, minhas costas, minhas isso, minhas aquilo, doem.
Sem choro, nem vela e nem gelol,


Segunda-feira é o dia de minha libertação semanal, menos quando é feriado santificado. Mas, nesse caso, diz o bom gosto, o bom senso e a boa educação que não é bom reclamar. Afinal, vai saber o que nos espera, ?

domingo, agosto 18, 2013

Águas dominicais


Esse é um domingão marcado pelas águas.
Levantei até meio tarde, final da madrugada, mas cedo para quem está na praia em “férias”. Depois de uma rápida caminhada pela praia, com vento gelado e garoa idem, entrei e tomei um banho quentinho. Reconfortante.
Mais tarde, já na casa de meu amigo Luiz Antonio, enquanto nos preparávamos para cruzar o Canal e visitar seu veleiro, o “Eleonora”, chegou uma mensagem de socorro de seu filho Francisco. Ele estava no meio do Canal, na água, depois que capotara velejando num pequeno catamarã. Saímos às pressas, Luiz e eu, no barco que fica guardado em sua casa.
O mesmo vento gelado da manhã encapelava as águas, que invadiam o barco conforme avançávamos. Um banho em regra, dos pés à cabeça, durante todo o tempo. Chicão capotou ao tentar uma mudança de bordo rápida. O leme escapou de sua mão e o vento fez o serviço inesperado.
Domingão meio cedo, vento leste, frio, garoa... Ninguém no mar e o socorro demorou para chegar. Com o celular encharcado (como disse Chicão, a eterna lei de Murphy: o celular estava fora da capa impermeável, deixada em São Paulo), tudo que restava era esperar a passagem de alguém ou por nós mesmos, ao cruzarmos o Canal de São Sebastião a caminho da Ilhabela. Felizmente, antes que saíssemos passaram uns pescadores e um deles ligou para o Luiz. Foi a deixa para sairmos às pressas.
Depois de localizá-lo e ele embarcar, tentamos desvirar o catamarã para rebocá-lo com o lado de cima para cima e o de baixo para baixo, naturalmente. Até não faria muita diferença, mas seria mais fácil por causa do mastro e das velas.
Tentamos desvirar o catamarã. As primeiras tentativas foram impedidas pelo vento, que na hora agá jogava contra e empurrava-o de volta para a água. Mudamos de lado e ficamos a favor do vento, mas tampouco deu certo, pois agora era o mastro, com as duas velas ainda presas a ele (felizmente), que impedia a virada. O jeito, portanto, foi rebocá-lo emborcado mesmo para casa, lenta e cuidadosamente, com a garoa forte açoitando o rosto, vira e mexe auxiliada pela água das ondas.
Quando saíamos para o mar, tocou meu celular. De um outro mundo, o Cesar chamava para falar sobre uma vaca no cio e perguntar se havia sêmen sexado disponível para ele inseminá-la no final da tarde. Sim, claro, passa por lá e pega. Amigos e vizinhos são para essas horas, mesmo, o que veremos logo mais em sentido reverso.
Curiosamente, uma coisa unia os dois mundos tão diferentes: o mesmo vento leste, cá e lá. Sei disso porque o Cesar falou do vento e perguntei-lhe de onde ele vinha. Do lado do Sandro, foi a resposta. Como a propriedade do Sandro está entre o Sol nascente e o sítio do Cesar...
Tudo resolvido, mais um banho – o terceiro da manhã. Haja água. Enquanto o Francisco desmontava e cuidadosamente lavava peça por peça de seu catamarã, um dedo de uísque, puro, cowboy, pra dar uma esquentada, junto com alguns dedos de prosa com o Luiz, que ainda levou-me para a casa da Carol e do Rodrigo.
Detalhe: a Rosa disse-me que fiquei melhor nas roupas emprestadas (secas, que maravilha) pelo Luiz que nas minhas.
Foi quando liguei para o sítio, para o Dito, para perguntar se estava tudo em ordem.
Tudo. Ou quase tudo: desde ontem a bomba do poço não está puxando água. Que beleza... Só pra variar, em pleno final de semana. Buenas, foi, então, a minha vez de ligar para o Cesar, que prontificou-se a dar um pulo até o Macaúbas e conferir a bomba (o Cesar entende muito de motores elétricos & acompanhamentos). Pelo jeito, porém, solução de fato só amanhã, segundona, dia de soluções para os problemas do final de semana.
A festinha de 4º aniversário (festinha... que trabalheira fazer festa para crianças hoje em dia, coisa de louco, sô!) do Felipe está para começar. E antes mesmo que ela termine estaremos retornando para São Paulo. Amanhã cedo, com a bomba do poço à minha espera, voltaremos para casa sem tempo para “curtir” algo de Sampa. Com sorte, ainda conseguirei pegar uma meia dúzia ou mais de pães italianos, de preferência na 14 de Julho, se o trânsito permitir.
Paro por aqui, nesse domingão marcado pelas águas, tanto as presentes e controladas dos chuvé ton aqui, pois auirei pegar uma meia dem tempo para "se a dar um pulo at auxiliada pela eiros, como a ausente na saída do cano do poço, mas, principalmente, pelas incontroláveis águas atlânticas empurradas pelo vento leste no Canal de São Sebastião.

Tudo isso é um pouco da vida como ela é, com seus imprevistos grandes e pequenos, junto aos amigos, fisicamente ou não, com o futuro sendo festejado na forma de um bolo e quatro velinhas, enquanto ao lado, ainda no útero aconchegante da mãe, outra parte do futuro estará presente, quem sabe (sim, quem sabe?) já participando do aniversário do priminho.


P.s. 1 – Cesar ligou; o problema da bomba está resolvido e a água está caindo nas caixas. Grande Cesar!
P.s. 2 – Dito ligou, falou que o problema está resolvido e que ele não botou uréia na cana, pois já começou a chover; grande Dito!
P.s. 3 – Vou dormir tranquilo.

terça-feira, agosto 06, 2013

Ele chegou, o agosto



O mês tinha começado há alguns dias, mas não tinha chegado. Era agosto, mas não era. Fazia frio durante a noite e os dias estavam frescos, agradáveis, bons para ficar trabalhando fora de casa. Não era agosto, não importa o que dissessem as folhinhas e agendas e sites internéticos.
Ontem, porém, o calor chegou. No meio do dia parecia que estávamos em pleno dezembro, não fosse a secura do ar já presente. Mas não ventava. Era quase agosto, mas ainda não era o agosto.
Hoje venta. Começou durante a madrugada e não parou.
A grama está seca, pode-se andar por ela de chinelo ou sandália e os pés permanecem secos em plena madrugada.
Está seco, tudo seco.
Já ontem o horizonte estava embaçado, sem a transparência cristalina de um governo europeu ocidental social-democrata, mais com cara e jeito da transparência brasiliana: opaca, pouco penetrável, decididamente fechada aqui e ali.
Isso, sim, tinha a cara de agosto.
Enfim, agosto chegou.
Quente, seco, ventoso, desagradável...
O mês do desgosto. Ameniza-o, e muito, os aniversários de meu neto e minha filha. Não bastam, porém, para mudar o estado dos pastos, a opacidade das folhas das árvores, a poeira depositada sobre tudo e toda parte, os olhos secos, vermelhos, irritados, fazendo do colírio ferramenta obrigatória durante o dia inteiro e até no começo da noite. Nesses dias, o lugar mais confortável da casa é o banheiro, durante o banho, com a umidade tomando conta de tudo. Pena que não pode durar muito.
Até na política agosto tem lá seus desgostos, maiores que os gostos. E na noite de ontem, típica noite agostina, um programa tradicional (que já foi muito melhor, mas continua sendo razoavelmente bom) abriu espaço para uns defensores e praticantes de uma tal “mídia ninja”. Foi bom, sempre é bom vermos cair a máscara de quem se traveste em democrata.
Somente num regime democrático é possível vermos os inimigos do regime falando com total liberdade. É chato, mas é bom à bessa (ou à beça, como bestamente quer a Academia).

Numa democracia há vida, o que não se pode falar do resto.

quinta-feira, julho 04, 2013

O inverno da radicalização útil


Hoje à noite estará bom para assistir ou ver de novo “Game of Thrones”.  Porque se por lá “the winter is coming”, aqui no Sítio das Macaúbas ele já chegou. A manhã de hoje foi mais uma a provar isso: fria, com uns onze graus na sombra e sensação térmica de seis ou sete, no máximo oito graus, devido ao vento constante, cortante, penetrante.
O céu está limpo, azul, bem transparente (ao contrário das contas de viagem da presidente da República) e o Sol não aquece, queima. Mesmo assim não deixa de ser gostoso senti-lo sobre o corpo.
Tempo bom para as vacas, que só começam a ficar desconfortáveis quando a temperatura cai alguns graus abaixo de zero, o que, felizmente, está muito longe de acontecer. Boa parte dos animais sofre mais com o calor do que com o frio, como as galinhas, por exemplo.
Inverno ou verão pouco importa, o trabalho é eterno, dentro do que nossa vã filosofia pode entender por eterno em termos práticos. Nunca ficou tudo feito, tudo pronto, sempre ficou alguma coisa, muitas coisas, na verdade, para amanhã. Ou depois, porque o amanhã, como hoje, não é suficiente para tudo fazer.
Dias atrás o Paul Krugman escreveu a respeito dos lucros gerados pela simples força das marcas. Taí uma coisa das mais perigosas. Gerar dinheiro em cima do nada nunca conduziu a nada saudável na história da humanidade, da mesma forma que concentrar toda a riqueza em poucas mãos. Aqui nessa Terra Brasilis temos muito dos dois e sem grandes perspectivas de mudanças concretas, sustentáveis, daquelas que vêm para ficar.
As manifestações diminuíram, arrefeceram, mas não pararam. Não demora muito e teremos outro pico, é só questão de tempo. Impressiona o quanto uma parte da população tenta diminuir a força e representatividade dessas manifestações, dizendo serem coisas de “elite” ou de “classe média”. Coisas de “direita”, vamos usar o adjetivo que já começam a empregar. Uso tolo, pois quem se opõe ao que o povo nas ruas exige está na contramão da história.
Essa radicalização, apesar da aparência negativa, é muito boa. Há momentos em que os lados precisam ficar mais definidos, mais claros, com menos zonas sombreadas.
Dois são os grandes inimigos do Brasil: a corrupção e a falta de educação, aqui entendidas a falta de educação formal, a falta de cultura, a falta de conhecimento. O pensamento é sempre muito raso e limitado às aparências mais gritantes, sem aprofundamento. Campo fértil para o maniqueísmo que imbeciliza e destrói.

É bom termos em mente que o radicalismo útil a que me referi nada tem a ver com maniqueísmo. São coisas distintas, que talvez aborde qualquer outra hora.

segunda-feira, junho 17, 2013


Madrugada molhada, trabalhosa, cansativa

Duas e meia da manhã. Camiseta seca sobre o corpo úmido de suor. Não vou tomar outro banho, minutos depois de ter saído do chuveiro. Horário estranho, não?
Pois é. Culpa de chuva extemporânea e, pior, mal prevista pelo serviço meteorológico, como de hábito.
Depois de um domingo extenuante tomado por trabalho braçal pesado, caí na cama pouco depois das nove da noite. Quando o sono parecia engrenar a segunda, despertei com a chuva chegando. Que coisa mais irritante! Afinal, no início da noite a Lua estava bonita e, apesar de algumas nuvens, não tinha cara de chuva. Chuva meio miúda, fiquei quieto. Dormi. Acordei às onze, pois a miúda engrossou. Passou a chover pesado. Adeus sono.
Nessa época do ano em que a seca (seca?), o frio e o menor tempo de luz paralisam o crescimento dos capins tropicais, a salvação do rebanho para quem não tem e$trutura para fazer silagem é cortar cana, picá-la, acrescentar ureia e fornecê-la para o gado. O problema é que a ureia pode matar uma ou mais vacas em caso de chuva sobre a cana. A água vai lavar a ureia da cana e acumular-se no cocho, formando uma sopa mortífera. O ideal, naturalmente, é fornecer a cana picada em cochos cobertos que não recebam chuvas, o que é fácil de preconizar e difícil de praticar. Aqui no sítio a maioria das vacas comem em um grande cocho em U, coberto. Ou melhor, descoberto desde julho do ano passado, quando um vendaval destruiu o teto completamente. Ainda não consegui recobri-lo, o que espero fazer nos próximos 60 dias. Enquanto isso, em caso de chuva o jeito é correr e tirar a cana porventura ainda existente, juntamente com a água.
Ué, não tem ralo?
Pois é... Ter, tem, mas não funciona, porque o sujeito que o construiu, autointitulado mestre de obras, simplesmente ignorava leis básicas da natureza e o ralo se situa num nível mais alto que o piso do cocho. Esse, por sinal, é um problema extremamente sério. Ainda não conheci pedreiro ou mestre de obras que faça pisos nivelados corretamente. Dizem que existem, mas sou meio cético. Só acreditarei vendo.
Por volta de uma e pouco a chuva amainou. Saí, agasalhado devidamente, lanterna na mão, boné na cabeça, e fui lá pra cima. Mais uma madrugada de trabalho inglório e parciamente infrutífero, no escuro, embaixo de chuva miúda que em certo momento parou (e agora voltou, escuto). E tome trabalho braçal.
Sem chuva, fiquei encharcado. De suor. Tanto que, serviço meio concluído, entrei e tomei a tal ducha. No meio da dita lembrei-me que não tinha ido olhar os cochos das “goiabeiras”. São de madeira, empoçam pouca água, mas...
Lá fui eu de volta para a madrugada úmida do Macaúbas. Parênteses: bota de borracha de cano alto: sem ela não haveria como existir vida na roça. A minha é dinamarquesa, chique, boa, confortável e carésima. Mas não comprei, ganhei. Bem na hora, pois as vacas já estavam voltando para comer o resto da cana e em um dos cochos tinha água empoçada. Mais trabalho. Para não deixar as moças frustradas, abri um piquete ao lado com um arremedo de capim, mas o bastante para elas se atirarem a ele sofregamente. Vaca adora capim, não há nada melhor, nada que se compare.
Agora, tentando fazer o sono chegar, fico aqui escrevendo, pois estou sem paciência para ler sobre a “primavera tupiniquim”.
Talvez ainda vire uma primavera política de fato, mas tenho dúvidas. Tem muita gente instrumentalizando, tem muita gente aproveitando para bagunçar, mas o sentimento difuso de oposição a “tudo que está aí” é forte. O saco anda cheio e não é só o de quem depende de transporte público.

Não demora muito o dia vai chegar e o meu sono não. Já vi esse filme antes.

quarta-feira, maio 22, 2013

Aconchegante barulho, doce perfume, velha preocupação



Depois de mais de 30 dias de estiagem está chovendo.

A primeira pancada chegou de repente, sem as fanfarras chatas, barulhentas e perigosas das tempestades de verão. Hoje ela chegou em silêncio, simplesmente começou a cair sobre a camada de poeira que recobre as folhas das árvores, os telhados, os carros, o capim miudinho.

Enquanto ouvia o barulho aconchegante da chuva caindo e do pinga-pinga nas laterais da casa, tirava o 
pijama e colocava a roupa de trabalho. Na varanda da cozinha calcei a bota de borracha de cano alto e com a lanterna numa mão e guardachuva na outra, fui ver os cochos das vacas, preocupado com a presença da cana picada à qual adicionamos ureia. No cocho de cima nada mais restava, o que significa que precisaremos aumentar a quantidade amanhã, ao passo que os cochos das goiabeiras tinham somente alguns restos, nada que preocupe.
(A chuva agora está mais forte, continuando sem vento, felizmente.)

Talvez agora a terra fique mesmo molhada, pois a primeira pancada mal e mal, ou malemá, como diziam minha avó, minha mãe e minhas tias (como a Dercy, mãe da minha prima Solange Men), molhou a poeira. Agora não, agora chove de verdade e mais um pouco a água começará a se infiltrar no solo. Pouco ou nada adiantará para nossos pastos, uma vez que para os capins tropicais não basta a umidade, há necessidade de calor e bastante luz – do Sol, claro.

Foi bom demais ir examinar os cochos, pois permitiu sentir o perfume gostoso da terra molhada.
Está ótimo para dormir, mas... 
Cadê o sono que me dominava? Certamente perdi-o lá fora, enquanto andava dos cochos de cima para os cochos das goiabeiras. Espero que volte logo o bandido, pois a hora de deitar já passou.

quinta-feira, abril 25, 2013

39º Aniversário da Revolução dos Cravos


39º Aniversário da Revolução dos Cravos


Até hoje canto e sei de cor e salteado a letra de “Grândola, Vila Morena” (aqui, no youtube), a música de Zeca Afonso que “meio” que transformou-se em hino do movimento militar que veio a derrubar a ditadura fascista de Salazar em Portugal, à época comandada pelo professor Marcelo Caetano.

O ano de 1974 foi duro para nós, brasileiros, que ansiávamos por liberdades democráticas e vivíamos sob o tacão da ditadura militar.

Em fevereiro, se a memória não me trai (não vou pesquisar, escrevo com a memória que tenho e posso cometer um erro ou outro), um grupamento militar comandado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho insurgiu-se contra o regime. Foi derrotado sem luta e o major Otelo foi preso. Transformou-se em nosso herói, meu herói, algo mais que natural para quem tinha 19 anos. Mas o levante de Caldas da Rainha foi o sinal que a ditadura salazarista não duraria mais muito tempo.
Os militares estavam organizados no MFA – Movimento das Forças Armadas – que era liderado por um general que tinha lutado nas colônias africanas, Antonio Spinola.

“Em Portugal é a mesma melodia,
Salazar e a sua democracia.
Com Caetano é a mesma porcaria,
As moscas mudam, mas a merda não varia.”

Essa cantiga virou o meu hino e de muitos outros jovens. Cantava-o na escola, para desagrado da direção. Muitos colegas aprenderam e virou um hit (é isso, né?... hehehe).
O clima político em Portugal era tenso – vale uma pesquisa e uma leitura, pessoal – e alguma coisa pairava no ar além dos aviões de carreira. Mesmo aqui, tão longe, com um mar imenso a nos separar, sentíamos isso.
Abril chegou.

De 24 para 25 de abril o movimento eclodiu.
“Grândola” foi uma das músicas transmitidas por uma rádio, sinalizando para as tropas o início do movimento.

E no dia 25 a ditadura caiu.

O general Spinola assumiu o governo, o resto é história. Como disse, vale uma pesquisada e a leitura.

Posteriormente, como é natural e humano, os heróis dos cravos decepcionaram a muitos, a começar pelo major Otelo. A Revolução dos Cravos feneceu, mudou, transformou-se, Portugal evoluiu, cresceu, as colônias d’África viraram nações, outras guerras aconteceram...

É a vida.

Hoje relembro aquele ano, relembro discursos entusiasmados, relembro conhecimentos travados com pessoas que viriam a fazer parte de minha vida por muito tempo.
Aquele foi um ano, foi uma época, em que acreditávamos no Brasil. Lutar por democracia era contagiante e bom demais.
O tempo passou e hoje, muitos lutadores de outrora não passam de reles mensaleiros.
Minha cabeça mudou, minha visão de mundo mudou, meu conhecimento, ainda minúsculo, é menos minúsculo do que era.

Tem um cara que conheci naquela época, em 1973, se não me trai novamente a memória, que permanece fiel aos princípios que já tinha. Embora discorde política e ideologicamente dele em muitas coisas, admiro-o: é o Carlinhos, ou melhor, é o Professor Antonio Carlos Mazzeo, comunista de primeira hora e até hoje fiel às suas crenças e militante do PCB. Como somos modernos, estamos todos no Facebook.

segunda-feira, fevereiro 18, 2013


Bem-vinda, companheira Yoani

Para começo de conversa: companheiro é substantivo e adjetivo e não é sinônimo de membro de grupo político. Companheiro pode ser aquele que acompanha outro numa luta, numa aventura, numa jornada. Yoani Sanchéz, cubana, blogueira, é companheira na luta pela democracia, na luta por direitos básicos, essenciais, como ir e vir, expressar livremente o que pensa, votar e ser votada, entre outros.
Há anos ela luta contra o regime dos irmãos Castro. Sim, é verdade, às vezes sua presença na mídia chega a ser um pouco cansativa, até pensei assim, mas, querem saber? Melhor ser assim do que o contrário. Finalmente, depois de quase seis anos de tentativas inúteis, Yoani conseguiu seu passaporte e deixou Cuba, para uma viagem por vários países.
Sua primeira parada foi em Recife e em pleno Guararapes, nome que homenageia uma batalha de brasileiros contra os que, então, eram considerados invasores, um grupo de brasileiros manifestou-se contra sua presença, manifestou-se contra sua liberdade essencial de ser humano de poder ir e vir para onde melhor lhe aprouver.
Seria irônico se não fosse trágico.
A própria blogueira, porém, disse tudo a respeito:
 "Viva a democracia, quero também essa democracia no meu país."



É triste que os perseguidos pela polícia política do regime militar hoje exerçam papel semelhante no conteúdo, apenas com os (supostos) sinais trocados.
Democracia é valor, é um princípio, é um direito fundamental a todo ser humano, muito acima e além das reles querelas político-partidárias. Por isso mesmo é tão ameaçada e violentada por esquerdistas, direitistas, centristas, fascistas, nazistas e outros istas.
Em nome, portanto, da democracia, bem-vinda ao Brasil, companheira Yoani Sanchéz.

sábado, fevereiro 02, 2013

Regressão continuada




Nossa câmara alta – vou assim chamar o Senado – tem 81 senadores.
São 81 parlamentares que, em tese, deveriam ser da melhor estirpe política, os melhores dentre os melhores, com experiência de vida e das coisas da política e da república.
Deveriam ser o suprassumo dos representantes do povo, algo como, guardadas as diferenças, devem ou deveriam ser os juízes do Supremo Tribunal Federal. Nessa casa da justiça já sabemos que a coisa não é bem assim.
Na câmara alta da política é ainda pior, muito pior, infinitamente pior.
A eleição de Renan Calheiros para exercer a presidência dessa casa pela terceira vez é boa prova disso.
Que o povo das Alagoas tenha reeleito essa figura uma vez mais é perdoável, dado o alto grau de ignorância política do eleitor brasileiro, do Oiapoque ao Chuí. Que seus pares tenham-no reconduzido à presidência de uma casa que deveria ser nobre e exemplar é tenebroso, é assustador e leva-nos a questionar que futuro nos espera.
Dos 81 senadores, 56 votaram nesse personagem de já tristes lembranças, dois anularam seus votos, espero que por decência e vergonha na cara e dois votaram em branco, algo indigno de quem se dispõe a votar. Três dos senadores não se dignaram a comparecer ao trabalho. Nem por isso serão punidos, ao contrário de nós, cidadãos, que não temos o direito de votar e sim a obrigação de votar, troço muito diferente e nem um pouco democrático, daí chamar de troço e não de coisa.
De senadores do PT e do PMDB não esperava nada diferente. Os números, entretanto, dão praticamente a certeza de que senadores eleitos pelo PSDB votaram no candidato vencedor. Mais uma prova do quão calhorda e sem coluna vertebral tornou-se o partido que foi criado para mudar o Brasil.
Aliás, todo grupo político que se organiza com esse discurso mentiroso acaba caindo na vala comum da mesmice e sem-vergonhice de sempre. O partido que se intitula como sendo dos trabalhadores que o diga, não é mesmo?
O Brasil político do Século XXI sequer tem o pouco da decência que, segundo a história, tinha o Brasil político do Século XIX.
Regredimos.
Tal e qual nossa educação e a chamada “progressão” continuada.