domingo, agosto 18, 2013

Águas dominicais


Esse é um domingão marcado pelas águas.
Levantei até meio tarde, final da madrugada, mas cedo para quem está na praia em “férias”. Depois de uma rápida caminhada pela praia, com vento gelado e garoa idem, entrei e tomei um banho quentinho. Reconfortante.
Mais tarde, já na casa de meu amigo Luiz Antonio, enquanto nos preparávamos para cruzar o Canal e visitar seu veleiro, o “Eleonora”, chegou uma mensagem de socorro de seu filho Francisco. Ele estava no meio do Canal, na água, depois que capotara velejando num pequeno catamarã. Saímos às pressas, Luiz e eu, no barco que fica guardado em sua casa.
O mesmo vento gelado da manhã encapelava as águas, que invadiam o barco conforme avançávamos. Um banho em regra, dos pés à cabeça, durante todo o tempo. Chicão capotou ao tentar uma mudança de bordo rápida. O leme escapou de sua mão e o vento fez o serviço inesperado.
Domingão meio cedo, vento leste, frio, garoa... Ninguém no mar e o socorro demorou para chegar. Com o celular encharcado (como disse Chicão, a eterna lei de Murphy: o celular estava fora da capa impermeável, deixada em São Paulo), tudo que restava era esperar a passagem de alguém ou por nós mesmos, ao cruzarmos o Canal de São Sebastião a caminho da Ilhabela. Felizmente, antes que saíssemos passaram uns pescadores e um deles ligou para o Luiz. Foi a deixa para sairmos às pressas.
Depois de localizá-lo e ele embarcar, tentamos desvirar o catamarã para rebocá-lo com o lado de cima para cima e o de baixo para baixo, naturalmente. Até não faria muita diferença, mas seria mais fácil por causa do mastro e das velas.
Tentamos desvirar o catamarã. As primeiras tentativas foram impedidas pelo vento, que na hora agá jogava contra e empurrava-o de volta para a água. Mudamos de lado e ficamos a favor do vento, mas tampouco deu certo, pois agora era o mastro, com as duas velas ainda presas a ele (felizmente), que impedia a virada. O jeito, portanto, foi rebocá-lo emborcado mesmo para casa, lenta e cuidadosamente, com a garoa forte açoitando o rosto, vira e mexe auxiliada pela água das ondas.
Quando saíamos para o mar, tocou meu celular. De um outro mundo, o Cesar chamava para falar sobre uma vaca no cio e perguntar se havia sêmen sexado disponível para ele inseminá-la no final da tarde. Sim, claro, passa por lá e pega. Amigos e vizinhos são para essas horas, mesmo, o que veremos logo mais em sentido reverso.
Curiosamente, uma coisa unia os dois mundos tão diferentes: o mesmo vento leste, cá e lá. Sei disso porque o Cesar falou do vento e perguntei-lhe de onde ele vinha. Do lado do Sandro, foi a resposta. Como a propriedade do Sandro está entre o Sol nascente e o sítio do Cesar...
Tudo resolvido, mais um banho – o terceiro da manhã. Haja água. Enquanto o Francisco desmontava e cuidadosamente lavava peça por peça de seu catamarã, um dedo de uísque, puro, cowboy, pra dar uma esquentada, junto com alguns dedos de prosa com o Luiz, que ainda levou-me para a casa da Carol e do Rodrigo.
Detalhe: a Rosa disse-me que fiquei melhor nas roupas emprestadas (secas, que maravilha) pelo Luiz que nas minhas.
Foi quando liguei para o sítio, para o Dito, para perguntar se estava tudo em ordem.
Tudo. Ou quase tudo: desde ontem a bomba do poço não está puxando água. Que beleza... Só pra variar, em pleno final de semana. Buenas, foi, então, a minha vez de ligar para o Cesar, que prontificou-se a dar um pulo até o Macaúbas e conferir a bomba (o Cesar entende muito de motores elétricos & acompanhamentos). Pelo jeito, porém, solução de fato só amanhã, segundona, dia de soluções para os problemas do final de semana.
A festinha de 4º aniversário (festinha... que trabalheira fazer festa para crianças hoje em dia, coisa de louco, sô!) do Felipe está para começar. E antes mesmo que ela termine estaremos retornando para São Paulo. Amanhã cedo, com a bomba do poço à minha espera, voltaremos para casa sem tempo para “curtir” algo de Sampa. Com sorte, ainda conseguirei pegar uma meia dúzia ou mais de pães italianos, de preferência na 14 de Julho, se o trânsito permitir.
Paro por aqui, nesse domingão marcado pelas águas, tanto as presentes e controladas dos chuvé ton aqui, pois auirei pegar uma meia dem tempo para "se a dar um pulo at auxiliada pela eiros, como a ausente na saída do cano do poço, mas, principalmente, pelas incontroláveis águas atlânticas empurradas pelo vento leste no Canal de São Sebastião.

Tudo isso é um pouco da vida como ela é, com seus imprevistos grandes e pequenos, junto aos amigos, fisicamente ou não, com o futuro sendo festejado na forma de um bolo e quatro velinhas, enquanto ao lado, ainda no útero aconchegante da mãe, outra parte do futuro estará presente, quem sabe (sim, quem sabe?) já participando do aniversário do priminho.


P.s. 1 – Cesar ligou; o problema da bomba está resolvido e a água está caindo nas caixas. Grande Cesar!
P.s. 2 – Dito ligou, falou que o problema está resolvido e que ele não botou uréia na cana, pois já começou a chover; grande Dito!
P.s. 3 – Vou dormir tranquilo.

terça-feira, agosto 06, 2013

Ele chegou, o agosto



O mês tinha começado há alguns dias, mas não tinha chegado. Era agosto, mas não era. Fazia frio durante a noite e os dias estavam frescos, agradáveis, bons para ficar trabalhando fora de casa. Não era agosto, não importa o que dissessem as folhinhas e agendas e sites internéticos.
Ontem, porém, o calor chegou. No meio do dia parecia que estávamos em pleno dezembro, não fosse a secura do ar já presente. Mas não ventava. Era quase agosto, mas ainda não era o agosto.
Hoje venta. Começou durante a madrugada e não parou.
A grama está seca, pode-se andar por ela de chinelo ou sandália e os pés permanecem secos em plena madrugada.
Está seco, tudo seco.
Já ontem o horizonte estava embaçado, sem a transparência cristalina de um governo europeu ocidental social-democrata, mais com cara e jeito da transparência brasiliana: opaca, pouco penetrável, decididamente fechada aqui e ali.
Isso, sim, tinha a cara de agosto.
Enfim, agosto chegou.
Quente, seco, ventoso, desagradável...
O mês do desgosto. Ameniza-o, e muito, os aniversários de meu neto e minha filha. Não bastam, porém, para mudar o estado dos pastos, a opacidade das folhas das árvores, a poeira depositada sobre tudo e toda parte, os olhos secos, vermelhos, irritados, fazendo do colírio ferramenta obrigatória durante o dia inteiro e até no começo da noite. Nesses dias, o lugar mais confortável da casa é o banheiro, durante o banho, com a umidade tomando conta de tudo. Pena que não pode durar muito.
Até na política agosto tem lá seus desgostos, maiores que os gostos. E na noite de ontem, típica noite agostina, um programa tradicional (que já foi muito melhor, mas continua sendo razoavelmente bom) abriu espaço para uns defensores e praticantes de uma tal “mídia ninja”. Foi bom, sempre é bom vermos cair a máscara de quem se traveste em democrata.
Somente num regime democrático é possível vermos os inimigos do regime falando com total liberdade. É chato, mas é bom à bessa (ou à beça, como bestamente quer a Academia).

Numa democracia há vida, o que não se pode falar do resto.