sábado, dezembro 31, 2011

Feliz amanhecer, feliz 2012

Todo amanhecer é como um recomeço, que muitas vezes é o que nos faz seguir em frente, sem esmorecer. Não há, para mim, melhor horário no dia que o amanhecer. Gosto de levantar durante a madrugada, há um silêncio todo próprio daqueles momentos, um silêncio cheio, se é que posso usar tal termo. Cheio da vida que se agita prestes a saudar o novo dia, cheio de expectativas e promessas.
E à medida que a luz do Sol vai surgindo lentamente no horizonte, a passarinhada começa a fazer sua algazarra. A temperatura da madrugada também é própria dela, diferente. Nesses dias de verão, o frescor é um bálsamo e anima o corpo. Nos dias de inverno, um agasalho e o primeiro café trazem conforto e uma felicidade diferente, especial, a cada novo dia igual e diferente, a felicidade de cada amanhecer.

O ano novo é como o amanhecer para o dia, a melhor parte do ano, aquela sucessão de nomes e números que vemos marcados nas folhinhas penduradas nas paredes. Ou víamos, já que hoje só se sabe em que dia estamos depois que o computador ou o celular cheio de teretetês é ligado.
O novo dia é algo natural, fruto do casamento da Terra com o Sol, primitivamente falando (ou, quem sabe, sabiamente falando?).
Assim também é o Ano Novo, mas ele não é natural, foi criado pela nossa mente metida a catalogar e organizar tudo, até a vida e o tempo.
Por isso, organizadamente, é nele que mais crescem as promessas, sonhos, ilusões, desejos...
É o momento em que a Esperança toma conta.
Esperança... Talvez o mais humano dos sentimentos, fusão do irracional profundo com o racional.
É esse o sentimento de todo novo ano, a cada novo ano.
Esperança de manter a felicidade, de ser mais feliz, de encontrar a felicidade, que muitas vezes está bem próxima, bem juntinha, mas nós teimamos em não vê-la. Ou vemos, mas não sabemos que é ela que está ali do lado, meio sorridente, meio como quem nada quer, quietinha e discreta.
Talvez porque crescemos e vivemos num mundo em que felicidade é conjugada com o verbo ter, mas, acreditem, foi falha de impressão no Manual de Busca da Felicidade.
Felicidade se conjuga com o verbo ser.
Ser.
Sejam felizes em 2012.

quinta-feira, agosto 25, 2011

E a Mel se foi...

Aviso aos navegantes: é meio triste.

Se quiser passar batido, passe.

Muitas vezes eu faço isso.

Ela nasceu quando há pouco morávamos na Granja Viana, filha da Belinha com o Bilbo.

Viveu conosco por 17 anos - dizem que isso equivale a 120 dos nossos anos.

De um jeito ou doutro era uma senhora.

Ranzinza, chata com estranhos, ainda a fêmea alfa aqui, apesar da idade.

Desde que mudamos para cá ela dormia dentro de casa. Às vezes, de madrugada, a bexiga apertava e ela ia até nossa cama pedir para sair.

Uma "delícia" nas madrugadas geladas desse Sítio das Macaúbas, mas, ora bolas, era a Mel.

Começou a sofrer e a ter uma série de problemas em rápida evolução.

Hoje cedo a Rosa levou-a ao veterinário, novamente, e voltou com ela e alguma esperança.

Em vão.

Nesse começo de noite voltamos à clínica e ali, com a Rosa acarinhando sua cabeça, foi sacrificada.

Parou de sofrer.

Digo a mim mesmo, à Rosa e aos outros que "tudo bem, ela viveu bem e bastante, chegou sua hora" e coisa e tal.

Tudo verdade, mas, assim mesmo, triste pra burro.

Cachorros fazem parte da minha vida desde que era bebê.

A mesma coisa com a Rosa.

E, pouco depois de nos casarmos, passaram a fazer parte da nossa vida e das vidas de nossos filhos.

A gente sofre nesses momentos, mas é assim que é.

Por aqui estão a Sophia, a Neguinha, a Lily e o Abobrinha, todos eles achados pela Rosa (três) e por mim (o Abobrinha) e recolhidos.

Cada qual com sua própria personalidade.

O veterinário, cara legal, gentil, atencioso conosco e carinhoso com os cachorros, perguntou-nos se queríamos deixar a Mel lá e depois ele mandaria enterrá-la.

Não.

Não é assim que somos, é inconcebível para nós deixar o bichinho partir sem o conforto da nossa presença.

Não sentem medo, não muito, acho, pela frieza do ambiente estranho.

Amanhã vamos enterrá-la aqui, ao lado de seu pai, o Bilbo.

Besteira ou não, é assim que nós gostamos.

E, sei lá, né, vai que ela tem seu espírito...

terça-feira, agosto 23, 2011

As agruras da seca – a queimada criminosa

É calor de mês de agosto, é meados de estação
Vejo sobras de queimadas e fumaça no espigão

Os versos que abrem “Terra Tombada”, de Carlos Cezar e José Fortuna, cantada por Chitãozinho e Xororó, retratam bem esse mês que é sempre chato. Faltou falar do vento, que seca e resseca tudo ainda mais.

O monte de palha que tiramos da cana antes de ser picada para as vacas queima de forma instantânea, mal se encosta nele a chama do fósforo. As labaredas crepitam, a fumaça corre meio deitada no rumo do Sol ainda alto, levada pelo pouco de vento do começo de tarde. Em questão de segundos fica sobre o chão apenas pequeno monte de cinza, fumegando. O ceu, para os lados do oriente, está opaco, tomado por um cinza escurecido com uns toques meio avermelhados, tudo efeito do ar tomado por partículas as mais diversas, sólidas, nem é preciso dizer, que irritam os olhos, a garganta e até a boca.

É agosto.

Dias atrás, dia amanhecendo, o Dito chegou e disse-nos, com ar preocupado, um pouco até assustado, que alguém tocara fogo no capim do barranco na beira do asfalto e as chamas tinham quase chegado no nosso pequeno e salvador canavial, comida única das vacas nessa seca. Só não pegara fogo na cana porque um caminhão da usina jogou água e apagou o incêndio em seu começo. Tudo isso ele viu e deduziu em segundos, enquanto seu ônibus passava ao lado, já reduzindo a marcha para ele descer.

Ordenha finda, fomos lá dar uma olhada. De fato, tudo deve ter acontecido tal e qual disse o Benedito, para não ficar “disse o Dito”. O fogo começou na divisa do acostamento com a estreita faixa de terra antes da cerca. Passou pelos arames e mourões rapidamente, mas deixando suas marcas. Subiu o pequeno barranco tomado por capim e arbustos e entrou no carreador que margeia o canavial.

Foi nesse ponto que apareceu o caminhão-bombeiro salvador. O pessoal da usina sabe dos malefícios que mentes criminosas espalham nessa época e os motoristas dos seus caminhões-bombeiros têm liberdade para debelar esses princípios de queimada. Santa providência! Graças a ela, não perdemos a comida das vacas, o que seria simplesmente catastrófico para nós.

Os caminhões são usados para prevenir e controlar eventuais excessos nas queimadas de cana para colheita, processo em fase de extinção no estado de São Paulo, reduzido mais e mais a cada ano. No alto do tanque, atrás da cabine, é montada uma estrutura com um canhão-d’água. O motorista sobe, senta-se atrás da peça de artilharia aquática e dirige um jato poderoso contra os pontos com fogo. A força da água foi tanta que tombou toda a primeira linha de cana, e também boa parte da segunda. Tombou, mas salvou, e graças ao canhão-d’água da usina minhas vaquinhas Jersey e mestiças continuam comendo a sagrada cana picada duas vezes por dia.

Bom, voltando ao crime propriamente dito: como de hábito, ninguém viu, ninguém nada sabe. Falar com a polícia é tempo perdido, pois nunca fizeram e tampouco virão a fazer algo para prevenir ou punir esse tipo de crime. Pensei em falar com a Polícia Ambiental, que ainda chamamos de “Florestal”, mas seria igualmente inútil. Como seguro morreu de velho, pensei, e nisso fui apoiado pelo Zé Divino e pelo Dito, que seria até melhor não ter polícia enxameando por aqui, olhando, fuçando, pois o resultado mais provável seria apenas atiçar a vontade criminosa, que, certamente, voltaria à carga para terminar o serviço que foi interrompido.

Como de hábito, novamente, e temos muitos desses hábitos, fiquei “na minha”, apenas torcendo para nada acontecer. Claro que à mercê da bandidagem, contra quem não temos defesa. Ter uma arma em casa e disparar meia dúzia de tiros é procurar, e achar, chifre em cabeça de cavalo. Ora, como bem sabemos que cavalo não tem chifre...

Fizemos ligeiro aceiro na beirada do carreador e mudamos o corte da cana. Em poucos dias tiramos toda a cana mais próxima do asfalto, recuando o início do canavial em vários metros.

Para ajudar, caiu chuvinha miúda, raridade para agosto, que ajudou a dormir sem grandes receios.

A seca, porém, ainda não terminou e não sabemos quando isso acontecerá. Tanto gastamos em tantas coisas e não temos um satélite meteorológico próprio, posicionado para cobrir unicamente o que de fato interessa ao Brasil. Se não tivéssemos tantos ministros, tantos assessores, tantas malas (além de cuecas, meias e outros cofres) circulando pelos corredores e ante-salas brasilienses, sem dúvida sobrariam rios de dinheiro para gastarmos em coisas como um satélite meteorológico.

sexta-feira, julho 29, 2011

As agruras – algumas – da seca

Um amigo de Brasília, em troca de mensagens sobre o futebol, sugeriu-me o uso de colírio, ironicamente. O objetivo seria melhorar minha visão da realidade, em sua opinião. A verdade, sem ironia, é que já uso colírio, abundantemente, tanto ou até mais que ele, novamente sem ironia. Afinal, essa Santa Rita do Passa Quatro anda tão ou mais seca que a capital federal, terra de pessoas simpáticas, trabalhadoras, honestas, por nascença ou adoção, e terra de uma gente que mais infelicita que beneficia essa Terra de Vera Cruz. Claro que essa gente última à qual estou me referindo por último, são os muitos, os inúmeros membros das elites de plantão na condução dessa Pindorama.

Elites... Pois sim.

A seca por aqui anda braba, coisa feia, mesmo. A poeira tudo cobre. Uma mera corrida dum galo atrás de uma galinha, para a prática do nobre esporte reprodutivo, levanta nuvens de poeira onde antes havia gramado. As noites secas e frias, não poucas vezes geladas, permitem-nos avistar estrelas a mais não poder, e mais a Via Láctea, esplêndida, fascinante. Pena que bate um vento chato, que seca ainda mais o que já seco está.

Haja paciência, haja muita paciência e perseverança, pois ainda temos agosto a atravessar e setembro. O mesmo setembro que em tempos idos era o mês de plantar, pois é quando começa a primavera e é quando as chuvas chegavam.

Não chegam mais, a não ser por acaso, chuvas perdidas, sem constância.

Ora, como parte das ironias muitas que a vida nos apresenta, é justamente nessa época que a bomba da mina queima. O que aconteceu porque trabalhou tempo demais no seco, vibrou demais, caiu do suporte, quebrou a caixa que armazenava a água que ela bombeava cá para cima e, por fim, entrou em curto e queimou. Adeus bomba.

Comprar nova bomba não é difícil, embora o dinheiro não permita o luxo de cobrir imprevistos, afinal, já não cobre nem mesmo os previstos. O problema é comprar nova caixa para armazenar a água a ser bombeada. O ideal é que tenha ao menos 2.500 litros de capacidade. Ora, como dispor de tal soma é hoje mera ilusão, o jeito foi apelar e fazer uma gambiarra, conduzindo a água do poço que abastece as casas para abastecer, também, os bebedouros das vacas e os demais usos e necessidades.

Embora com 16 metros de profundidade, o poço, responsável por uma água deliciosa que bebo aos litros, literalmente, todo dia, tem sua produção limitada pela seca. Então, anteontem, aconteceu o que eu esperava e temia: ele secou.

Ó ceus, ó vida...

Chamei o Toninho, o homem da água. Foi ele que furou esse poço há 11 anos. Diziam os vizinhos que não tínhamos água por aqui. Alguns poços já tinham sido furados, em vão. Mas o Toninho, ou Tonho, como também é chamado, disse que isso era bobagem. Confiei na sua confiança e contratei-o.

Lembro como se hoje fosse... Ele chegou, desceu do carro, pegou um pedacinho de ferro em Y e disse que era aquele trem que ia dizer-lhe onde furar.

Ai ai ai... Pensei com meus botões, onde é que eu fui botar meu dinheirinho... De repente, num lugar bastante improvável para todos nós, leigos, e pertinho de casa, ainda por cima, a varetinha segura por suas duas mãos apontou para baixo. E com força, aparentemente. É aqui – disse ele. E aqui estamos nós, onze anos depois, a beber e a usar a santa água do nosso poço. Mas agora ela secou. Demos uma noite de descanso, ligamos a bomba... Vinte minutos depois, secou de novo. O jeito foi apelar e chamar o Toninho. Ao telefone já disse-me: Qual seca, nada, seca é só em agosto e olhe lá, o poço tem água, sim.

Santa confiança, e nela confiei, mais uma vez.

Bom, resumindo o que já está muito longo, ele tinha razão: a bomba estava puxando água demais, acima da capacidade de reposição do poço. Regulagem feita, a água voltou a cair e a encher as duas grandes caixas, uma para nós, os macacos sem pelo aqui habitam, outra para as quadrúpedes de muitas tetas e grandes “peitos”, comedoras de capim e cana.

Com a vazão no volume que está, demoraremos uns dez dias para encher as duas caixas com 5.000 litros cada uma. Isso porque ligamos a bomba por duas a três horas e desligamos, para uma parada de duas ou três horas e nova ligação. Durante a noite nem pensar, ela fica desligada. Os banhos dos humanos e a sede das bovinas gastam à noite o que foi acumulado de dia.

Não faz mal, o bom é que temos água. Bendita sensação essa.

sábado, julho 23, 2011

Vãs reflexões

Vãs reflexões

O Brasil está podre, a sociedade está anestesiada, as mais diversas autoridades de todos os tipos e escalões parecem ser cada vez mais, cada dia mais corruptas e descompromissadas com o bem-estar das pessoas, essas que vêm a formar o famoso povo, e pior ainda com a ética, com a moral, com bons princípios.

Ando pensando sobre essas coisas, mas, sei lá, quanto mais penso mais desanimado fico.

Nos anos 70 tudo parecia muito claro: havia o bem e o mal. O bem tinha uns arranhões, o mal tinha uns lampejos bonitinhos, mas era tudo muito claro.

Na verdade não era, mas parecia.

A União Soviética era um modelo, mas descobrimos ser totalmente furado.

Os Estados Unidos eram a encarnação do mal, o que viemos a descobrir não passar de uma grande tolice.

O mal simplesmente é parte em tudo.

A Igreja já era contestada, mas ainda impunha respeito em uns, temor em outros. Hoje, respeito e temor são apenas parte do passado.

O materialismo era combatido, mas era o materialismo histórico, marxista ou, pior ainda, marxista-leninista. O primeiro era meramente reflexivo, o segundo só podia ser ativo ou não era.

O materialismo hoje é dominante, mas não é o histórico, é o reles e vil materialismo do ter por ter, ter muito de tudo cada vez mais usufruindo nada de tudo cada vez mais.

Sentar para conversar e jogar fora, séria ou divertida, só existe se dúzias de cervejas do comercial mais atraente estiverem presentes e forem consumidas. Se litros não forem consumidos individualmente, a conversa não rolou, a festa foi um fiasco, nada se aproveitou.

Não existe o parar para pensar, simplesmente. Pensar incomoda.

No carro, para não pensar, nada melhor que o rádio ou o emepê alguma coisa no máximo volume. Se, assim mesmo, algum pensamento insistir em dar as caras, o jeito é apelar e sacar do celular e falar nada com um monte de pessoas que nada dirão da mesma forma, exceto meia dúzia de frases e expressões consagradas pelo uso e ausência de significados, pois tudo significam, servem para qualquer coisa, mesmo nada dizendo ou justamente por isso.

A internet é parte disso tudo. É agente e é sintoma. Busca-se o mínimo mais e mais, a ponto de ser perigoso que a próxima grande conquista seja a ingestão de comida já digerida, bastando engoli-la e pronto.

sábado, julho 09, 2011

Manhã de sábado

Mais um dia que amanheceu gelado, literalmente. A Tempra, uma vez mais, coberta por uma capa de gelo, assim como os pastos baixos e gramados. Nos termômetros, zero grau. Vacas e bezerros levantando com preguiça e alongando os músculos lentamente. É o que podemos chamar, para seguir o modismo, de inteligência biológica.

O café quente desce gostoso e reanima, estava quase escrevendo ressuscita, mas os dois verbos não são corretos: hoje, ele anima, simplesmente.

Que me perdoem os certinhos de todos os hemisférios, mas cafeína é um motor fantástico.

Eu sou um cara caffeine powered, assumo, desde criança, com 5 ou 6 anos de idade. Bebia café frio e doce em copo, mais de dois por dia. Nos tempos de militância mais pesada, saía de casa de madrugada, depois de duas ou três horas de sono, levando no estômago um copão de café frio da tarde do dia anterior e um pedaço de pão com bastante manteiga. Era a energia que me mantinha ativo até as duas ou três da tarde. Aos 18 anos fazemos coisas impensáveis aos quarenta, cinquenta...

Por sinal, café doce nem pensar, só quando visito alguém que o faz já adoçado. Gosto do café puro, mudança adquirida perto dos trinta, provocada pela eterna gastrite. Sem açúcar, a bichinha diminuiu e desde então temos convivido mais ou menos bem.

Enquanto preparava a cana para picar e fazer o trato da manhã, a Rosa chamou-me para mostrar os Tucanos. Ou melhor, tucanos, pois eram 4 a comer mamões nos nossos mamoeiros carregados. Figuraças. Comem de tudo: frutas, coquinhos, ovos, filhotes de passarinhos e aves... Os Tucanos, denominados T-27 pela FAB, também povoam nosso ceu e, às vezes, fazem manobras bem em cima de nossas cabeças. Em algumas, o barulho é ensurdecedor e dispara a injeção de litros de adrenalina no nosso sistema. Imagino esses bichinhos e outros parentes atacando de verdade, disparando mísseis terra-ar, bombas e tiros de metralhadoras .50. Por pior que consigamos imaginar ainda estaremos a anos-luz da sensação real.

Hoje foi difícil chegar à NewBooks, onde o Leandro até agora não deu as caras. É o frio, ainda bem que a Michele e a Monica não deixam a peteca cair e, mesmo feriado, aqui estamos. Já tomei um expresso e comi um pão-de-queijo bem quente.

Chega um rapaz, mulato alto, forte pra burro, bem falante e começa a conversar com a Monica. A horas tantas, comentando o feriado, dispara que é referente a quando “São Paulo quis se separar do resto do Brasil”.

O mito persiste, devidamente manipulado e perpetuado Brasil afora por interesses paroquiais. Em outros tempos teria feito um discurso e colocado a verdade na cabeça dele. Ou assim pensaria. Hoje, ouço, penso e volto a escrever e liberar comentários no OCE. Desencanei.

A gloriosa prefeitura santarritense – gloriosa, carésima (hummmmmmmm...) e inútil – dividiu a cidade em duas partes. Para chegar aqui tive de dar uma volta enorme, metade dela despejando palavrões cada vez mais cabeludos à medida que novas ruas apareciam bloqueadas, para desespero da Rosa. Paciência.

No OCE, um sujeito escreveu um comentário imenso, mais de 50 linhas, bem mais. Nas quatro primeiras já tinha me ofendido sei lá quantas vezes, inclusive falando dessa bela faccia que ostento. Na quinta ou sexta ofendeu até meu pai, grande pequena figura, a quem devo, em boa parte, ser são-paulino, algo que está no meu DNA. Aí não deu, nem li o restante, deletei tudo. Minha vingança foi dizer ao imbecil que ele escreveu um monte e eu li um tiquinho só. Trabalhou à toa, deu-me chance de dar uma resposta do tipo que gosto e ainda rendeu assunto para encher meia dúzia de linhas com linguiça.

E segue o sábado e outro expresso está a caminho.

terça-feira, junho 28, 2011

Gelo matinal

Os dois graus das duas e meia da madrugada, quando fui dar uma olhada nas bezerras mais novas, evoluíram para menos um grau às seis da manhã, que persistiu até poucos minutos atrás.

Agora, quase sete e meia, já está quente: zero grau.

A Tempra amanheceu coberta por uma crosta de gelo.

Parte dos pastos e o gramado estavam igualmente brancos.

A bezerrinha caçula, nascida na madrugada de sábado, filha da Alvorada e batizada de Madrugada (é, não sou muito criativo nos batismos), resistiu bem: acordou e veio em busca da mamadeira.

Essas temperaturas baixas não são ruins para as vacas e os bezerros, embora já fora de sua zona de conforto.

Dormem bem, permanecem confortáveis, mas consomem mais energia para manter o "aquecimento central" funcionando, daí o fato de estarem fora da zona de conforto.

A partir de menos cinco, entretanto, a situação pode mudar.

E vacas doentes ou subnutridas já sofrem e até morrem com zero grau.

Comida é conforto. E saúde, etc, etc.

Eu já estou confortável, agora: meia caneca de café, seguida por uma caneca de café com leite e um belo pedaço de pão italiano cheio de manteiga.

"Dez quilos" de colesterol... Vou ter que trabalhar um bocadinho pra queimá-lo. A cafeína deve ajudar, eu acho. Sou movido a cafeína desde o berço.

:o)

Antigamente era pior. Ao invés de começar o trabalho às 05:45 ou alguns minutos mais, começava-se às 03:30 ou 04:00.

Coisa de louco, mas ainda há muitos nesse esquema.

Por mim, começaria pouco antes das sete, no inverno, mas há coisas imutáveis na cultura das pessoas.

Pra começar pouco antes das seis já foi uma luta.

Cede-se um pouco aqui e um pouco de lá e pronto.

É o que se chama de negociação e consultores cobram caro à bessa das grandes empresas para ensinar aos executivos que tudo que se precisa, na verdade, é bom senso e respeito às vontades alheias.

Se eu escrever "à beça" o word não coloca o traço vermelho.

O word está errado, valem as duas formas.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Tragédia em Itaipava

Cavalos são uma das mais belas e fantásticas criaturas que a Natureza criou.

Poucos seres humanos dão-se conta de sua importância para sermos o que somos hoje.

Ao domesticarmos o cavalo – domesticar: verbo tenebroso durante séculos, que hoje começa a ter seu significado transformado – ou, também posso dizer, a partir do momento em que aprendemos a conviver com essa criatura, nossa velocidade de deslocamento foi multiplicada.

O comércio beneficiou-se, a troca de ideias, o abastecimento de comida, tanto pela caça como pela troca e a produção, o ir e vir de pessoas, muitas outras atividades foram intensificadas graças ao emprego dos cavalos.

Sim, sem dúvida também as atividades bélicas.

Conhecendo o ser humano, o mais provável é que o primeiro e mais importante uso do cavalo foi nas guerras, pequenas, localizadas, entre tribos, mas sempre guerras.

A humanidade, tal como a conhecemos hoje, tem uma enorme dívida com os cavalos, que não é paga, nunca foi, de maneira digna, outro traço infeliz muito comum ao Homo sapiens.

A notícia trazida pela Folha chocou-me nesse final de madrugada: a morte de oito cavalos num haras de Itaipava, seguidas pelo sacrifício de outros oito.

Mais trágica ainda se torna a notícia quando ela relata que o tratador dos animais, chamado Miguel, não quis fugir da fúria das águas e ficou com seus animais. Não de sua propriedade material, mas de sua propriedade sentimental, infinitamente mais nobre e importante.

Lamento pelo Miguel, lamento pelos cavalos, independentemente de serem bonitos e valiosos, o que, em se tratando de vida, é irrelevante.

Lamento, profunda e sinceramente, pelas centenas de pessoas que morreram nessa tragédia anunciada, nessa tragédia reprisada, nessa tragédia que qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e capacidade de observação sabia que iria acontecer e, pior, muito pior, sabe que irá acontecer novamente.

Não é a primeira vez que escrevo essa obviedade e não será a última, lamentavelmente.

O ser humano, com sua arrogância e sua ignorância, teima em desafiar a natureza e a resposta sempre se dá em forma de tragédias.

Meu respeito, minha admiração, minha dor pelo Miguel, a quem dedico esse texto.


(Abaixo, a transcrição da notícia da Folha de S.Paulo)

São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

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Cavalos de até R$ 500 mil são levados na enxurrada

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A PETRÓPOLIS

Entre os mortos do vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, estão dezenas de cavalos de corrida que valiam até R$ 500 mil.
No haras Vale da Boa Esperança, um centro de treinamento do Jockey Clube Brasileiro, o cocheiro Miguel foi tragado pela tromba d'água porque não quis abandonar os animais.
Foi levado junto com oito cavalos de raça, que também morreram afogados na enchente. Ontem, ainda se viam alguns deles atolados na lama, mortos, só a cabeça de fora. O corpo do tratador ainda não foi encontrado.
Outros oito cavalos do mesmo haras tiveram lesões graves, como fraturas expostas, e foram sacrificados ontem com injeções letais.
Uma equipe de dez veterinários do Jockey veio ontem do Rio de helicóptero para matá-los e aplicar medicação nos 120 bichos sobreviventes. Cada um deles custa, em média, R$ 50 mil.