sexta-feira, dezembro 31, 2010

Felicidade em 2011

De novo, último dia do ano.

Não é que eu tenha deixado essa mensagem para a última hora, é que simplesmente calhou de ser assim.

Na roça, o tempo é escasso, insuficiente para fazermos tudo que precisamos.

No campo, aquela coisa idílica com que a gente sonha quando está na cidade, é o contrário: o tempo abunda e precisamos caçar o que fazer para ocupá-lo. Gosto da roça, mas confesso que de vez em quando, bem de vez em quando, ao sobrar um raro tempinho, dá uma certa vontade de mudar da roça e morar no campo. Felizmente, é vontade passageira.

E assim, no ritmo da roça, mais um ano passou e 2011 bate à nossa porta. Por sinal, recém-falei com um amigo que está em 2011, pelo simples fato de morar no Japão, onde o novo ano já é quase velho. Isso mesmo, nos dias de hoje o ano só é novo de verdade no dia 1º de janeiro, pois no dia 2 já é ano em curso, ano velho.

Ainda há pouco, enquanto limpava a cana para ser picada e o Dito e o Zé Divino descansavam (é ótimo descansar vendo alguém trabalhando, principalmente se esse alguém tem o cargo de patrão; no meu caso, só o cargo e os encargos, pois as benesses, supostas, ainda desconheço), conversávamos sobre a data de hoje e o Dito, dois anos mais velho que eu, bateu o martelo: Ah, quando eu era moleque o tempo demorava muito pra passar, era uma espera danada até chegar o Natal e a gente poder tomar guaraná.

Bingo!

Eu mesmo venho dizendo a mesma coisa.

Será que o tempo hoje passa mais depressa porque consumimos de tudo e tudo que queremos, ao passo que outrora o consumo era básico e qualquer coisa que fosse especial era aguardada com tanta ansiedade que o tempo demorava a passar?

Não sei, mas há até uma teoria científica (ou pseudo) que diz que o tempo realmente está passando mais depressa.

Pouco importa se o tempo está de fato acelerado, passando mais depressa, isso não muda nossos sentimentos e nossas esperanças.

O ano começará com novos governantes e novos parlamentares. Espero, sinceramente, que todos se esforcem e deem o melhor de seus esforços e capacidade para construir um país melhor. Em quem cada um votou ou deixou de votar não é relevante nesse momento, tudo que importa é trabalharmos por um país melhor para todos nós.

Então, é isso novamente:

Feliz Ano Novo. Feliz 2011.

Que seja um ano repleto de saúde e paz.

Ok, se sobrar um espaço, prosperidade também.

E felicidade acima de tudo.


quarta-feira, julho 28, 2010

O Sol e a Lua e o frio do final da madrugada

Essas últimas manhãs ou, mais precisamente, finais de madrugada, têm sido preciosos. O frio é quase forte, gostoso sem ser cortante, exigindo camiseta, camisa e blusa. Antes das nove horas, só restou a camiseta. As colinas a oriente são delineadas pelo brilho do Sol, ainda invisível, mas a ocidente a Lua cheia brilha soberana, intensa, prateada, bonita de ver, e por mais que a gente veja não dá cansaço.

Quando o Sol finalmente aparece, ela, a rainha dessas noites de claridade intensa e sombras fortes, continua brilhante. Enquanto vou trabalhando sempre consigo alguns segundos para olhar ao redor. As galinhas estão descendo das árvores onde passaram a noite, algumas mais ativas e outras, definitivamente, boas vidas, sossegadas, para não dizer preguiçosas. No alto do barbatimão as angolas ficam batendo papo. Impossível sequer imaginar o que tanto conversam. As vacas que entram mais tarde para a ordenha ficam deitadas. A cada respirada, o ar exalado forma uma nuvem de vapor. O touro dorme profundamente, a cabeça aninhada de encontro às pernas dobradas junto ao peito. Lobos e tigres-dente-de-sabre são lembranças perdidas somente no código genético. Claro, tem toda a passarinhada começando a se assanhar. Melhor dizer toda a bicharada de pena, pois além dos muitos passarinhos – como os canarinhos-da-terra que vêm num grande bando comer a quirera que as galinhas deixam – tem as garças-brancas-pequenas, a família de seriemas – cada vez mais folgadas, íntimas e atrevidas, o suficiente para pegarem ovos num ninho no meio de um piquete a poucos metros de onde eu colocava o trato da tarde nos cochos – e um grande bando de barulhentas curicacas, que passam horas no meio dos pastos.

Há momentos durante o dia que falar ao telefone é tarefa ingrata, pois é comum vários galos cantarem ao mesmo tempo, fazendo uma algazarra ainda maior com os “to fraco tô fraco tô fraco” das angolas. Nas pausas, o canto dos passarinhos toma conta.

Viver na cidade é bom, inegavelmente, por tudo (de bom) que a cidade oferece. Mas nunca me enganei, nunca tive a menor dúvida: viver no campo é incomparavelmente melhor.

terça-feira, julho 06, 2010

Enquanto isso, na roça...

Um de meus vizinhos comprou sua propriedade há muitos anos. Era, então, terra de cana, meio devastada. A lavoura encostava nas margens dos dois pequenos córregos que fazem parte das divisas da propriedade. Vegetação ciliar, mata ou não, era quase um mito.

Cuidaram da terra e plantaram laranja. Também plantaram árvores em muitos lugares. E as laranjeiras ficaram longe, para os padrões da época, das margens, coisa aí de pouco mais de 30 metros.

Ontem cedo, pouco antes de eu chegar para pegar milho, o pessoal da Polícia Ambiental chegou e aplicou-lhes uma multa de R$ 1.500,00. Motivo: três pés de laranja estão dentro do limite legal de 30 metros que devem ser ocupados por matas ciliares.

É o caso de rir para não fazer besteira.

O novo Código Florestal está em vias de ser aprovado. Apesar de alguns exageros, espero que isso aconteça, pois, caso contrário, estarei na ilegalidade. Eu e quase todo produtor rural desse país. De acordo com os desejos dos povos das cidades, que gostam de comer e beber à tripa forra sem nada saber sobre seus comes & bebes, toda propriedade em diversas regiões brasileiras deve manter um mínimo de 20% de sua área como reserva. Ora, isso é aplicável, mesmo assim a duras penas, em áreas de colonização nova. Onde a agricultura é praticada a cem, duzentos, trezentos anos, pretender tal coisa é absoluta sandice.

Apesar da gritaria dos comedores e bebedores urbanos, o deputado Aldo Rebelo (nunca pensei que viesse a escrever isso) teve a visão e o bom senso de deixar fora desse texto urbanoide as propriedades onde tal situação já é antiga.

Se assim não fosse, eu teria que pegar 20% de minha área, já por si minúscula, e deixar o mato tomar conta. Ou, pior ainda, comprar mudas florestais e plantá-las, numa atividade cuja renda não permite o pagamento de um mísero plano de saúde.

Os povos urbanos nada conhecem da realidade que faz suas vidas confortáveis e suas barrigas imensas, mas adoram, desculpem a expressão, cagar regras sobre ela.

E enquanto isso, no maravilhoso mundo da roça...

Dias atrás, uma bela, aliás, belíssima fazenda da nossa região foi vendida. Cada um de seus quarenta alqueires (área de respeito para o estado de São Paulo) custou a seu novo e felicíssimo proprietário a bagatela de setenta mil reais. Preço baixo, sem dúvida, pelo que é contém a fazenda.

O total da operação ficou em 2,8 milhões de reais, pagos à vista.

E daí? – deve estar se perguntando o leitor impaciente com essa lenga-lenga.

Daí, estimado e pobre leitor, que como eu não deve ter condições de bancar tal compra, é que o comprador da fazenda em questão é figura de notória importância no mundo da política de Pindorama, grande e atrasado país localizado em sua maior parte, ao sul do Equador. Oriundo do que em Pindorama se chama classe média, esse personagem teve o dom fantástico de, ao mesmo tempo, crescer na política e amealhar patrimônio grande o bastante para dar-se a tal luxo, o de comprar uma fazenda para transformá-la em haras. Que beleza. Nessa hora, seu heroi e guia político e intelectual, o velho Leon, deve estar maluco de raiva, se revirando em sua tumba, ao ver tão promissor discípulo tornar-se tão... tão... tão competente, vá.

Em tempo: o sobrenome desse mítico Leon é Trotsky.

sábado, fevereiro 27, 2010

Cenas do Macaúbas - I

Algumas cenas do Sítio das Macaúbas.



Na extrema direita, Minuto, o touro Jersey. Ao seu lado, algumas vacas secas, ou seja, que não estão produzindo leite e já estão na reta final de gestação. A vaca malhada, a Bordada, é uma exceção nesse grupo, onde está por facilidade de manejo nosso.



A mesma situação e momento em ângulo diferente. O Minuto, agora, é o que está atrás.
Ao fundo a casa do Zé Divino, o retireiro. Na esquerda a ponta do galpão e o buracão onde falta a porta e por onde o vendaval entrou...



Durante o dia, entre as duas ordenhas, as vacas vão para um pasto de braquiária, na parte baixa do Sítio.



Algumas vacas estão em um dos piquetes de capim tanzânia, recém-aberto.
Toda tarde um novo piquete é aberto e que foi usado é adubado com ureia.




Essa é uma vista geral do Sítio das Macaubas. O traço branco, pessimamente desenhado, mostra as divisas. O ângulo em que a foto foi tirada distorce a perspectiva. No lado esquerdo da foto pode-se perceber a estrada, que faz uma divisa de 600 metros.

O estrago do vendaval do Carnaval

Difícil não falar isso: o tempo tem andado muito estranho, às vezes assustador.
Para nós, o susto tem se dado na forma de tempestades acompanhadas por ventos, nuaa frequência acima do que seria normal.




Uma das paisagens mais comuns do Macaúbas nos últimos tempos: pesadas nuvens de chuva a oeste e noroeste, como essa da foto. Essas chuvas, para nós, são as piores, pois sempre vêm acompanhadas por ventos fortes ou fortíssimos, verdadeiros vendavais, como o que tivemos na noite da Segunda-feira de Carnaval. O resultado dele vocês podem ver abaixo.



Essa é a visão traseira do galpão que sequer está em uso, ainda.
O vento foi tão forte que simplesmente arrancou vigas que sustentavam e prendiam as telhas.
Uma delas foi parar a cerca de 40 metros, no meio do canavial.



Essa foi a porta de entrada do vento: um grande buraco, com três metros de largura e pouco mais que isso de altura, onde deveria haver uma porta... Algum dia haverá.
O vento entrou e, encurralado, subiu, arrancando vigas e telhas. Essa é a ponta do galpão, o paiol, projetado para guardar milho, farelo de soja e adubos, além de feno que usamos na alimentação dos bezerros.