Se os japoneses têm suas festas das floradas das cerejeiras, nós podemos ter a nossa festa da florada dos ipês. Santa Rita do Passa Quatro, por exemplo, poderia plantar grandes renques e formar parques com ipês-amarelos, brancos e roxos. São muitas as espécies de ipês-amarelos, cada uma florescendo num momento diferente da outra. O grande ipê no quintal da Casa da Lavoura floresce tarde, com a primavera já a meio caminho do verão. A cidade ficaria muito mais bonita, charmosa e atraente. Sem falar nas sombras durante os meses quentes.
A própria Via Anhanguera já presenteia o viajante com seus muitos ipês. De repente, o cansaço ou uma certa monotonia da estrada é quebrado pela visão de um ipê carregado, uma explosão de cor na paisagem. A vista repousa nas flores, a mente descansa, os pensamentos ganham outros rumos, a vida, ainda que por momentos, torna-se mais suave, mais agradável, mais gostosa de ser vivida.
É nas pequenas estradas vicinais, todavia, e nas estradas de sítios e fazendas, que a gente consegue mais que ver, viver esse presente da natureza.
Gosto de ir para o sítio pela vicinal do Brejão, uma estradinha bonita e gostosa. Ela sai de Porto Ferreira, passa pelo Brejão, um bairro só de sítios e fazendas, e chega a Santa Cruz da Estrela. De Santa Cruz até o sítio são apenas seis quilômetros, agora pela vicinal Santa Rita/Santa Cruz. O primeiro trecho tem curvas fechadas e pequenas pontes apertadas, corta pomares e canaviais, atravessa uma mata e penetra num túnel de bambus. Na mata, já vimos macacos. É uma mata bonita, permite à imaginação projetar como devia ser nos tempos antigos. Algumas árvores ainda se destacam, altas, sobranceiras.
Depois do Brejão, já perto de Estrela, estão as Curvas dos Três Ipês.
É assim que chamo esse trecho de estrada. De um lado e outro, canaviais. Um pouco mais afastada da estrada, uma mata ainda bonita. Macaubeiras esparsas no meio do pasto vizinho. Se olhamos para trás, para a direção de Porto Ferreira, a paisagem se alonga, no horizonte distante sabemos que está São Carlos do Pinhal, hoje sem os pinhais que lhe deram o nome. Mesmo com a névoa acinzentada do inverno esmaecendo a paisagem, ela é bonita. Vale a pena a mirada.
Mas o que domina a tudo são os ipês. Mesmo agora com a maioria das flores já perdidas, é uma visão de sonho. Ao mesmo tempo mínima e grandiosa. A natureza brasileira não se presta ao minimalismo poético dos hai-kai. Já tentei cometer um – parece fácil, são apenas dezessete silabas, sendo cinco no primeiro e no terceiro versos e sete no segundo – mas quem disse que consegui? Parece pouca, mas é muita areia, inda mais pra caminhão tão pequeno como o meu.
Tento fazer um hai-kai com uma foto, mas esse amarelo tropical não se presta à discrição.
Ele é muito explosivo, muito forte, muito intenso.
Está mais para uma feijoada barulhenta e cheia de gente do que para uma cerimônia do chá.
Simplesmente paro tudo por algum tempo e contemplo as árvores, as flores, a paisagem. Talvez eu tenha uma alma em parte japonesa e não saiba.
Olhar ipês, simplesmente.
É o que pede essa alma.
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2 comentários:
Dá gosto olhar essas árvores. Como vc disse é um momento muito especial que quebra a monotonia da estrada.
Voltando a novamente pra ver a foto depois de parar de olhar só pra árvore e olhar o resto vi a terra vermelha e me lembrei de uma musica da época que eu morava no interior de sampa que falava da poeira vermelha, poeira do meu sertão. Conhece essa música? Eu gostava tanto dela mas nem sei quem cantava, me veio a lembraça agora com a sua foto.
abraço
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