Um Olhar Crônico sobre os dias de hoje e alguns de ontem. Um Olhar Crônico sobre a vida nas cidades, a vida na megalópole, a vida na roça, quando é dura, e no campo, quando é lírica. Textos, Idéias & Coisas diversas, aquelas que passam pela cabeça e a gente acaba registrando, sabe-se lá pra que ou mesmo porquê.
segunda-feira, agosto 08, 2005
Armadilha!
Uma das coisas que gosto no sítio é a diversidade de seus habitantes não-humanos e não ligados aos humanos. Ou seja, os ditos habitantes nativos. É uma gentinha pequena de pelos, penas, escamas e até espinhos, que nada mais são que pelos metidos a bestas.
As seriemas passeiam pelo sítio e cantam à vontade de manhã. Elas, que só andam em casal, têm tudo para fazer brilhante carreira na política tupiniquim. Bom, se não tem tudo, tem o mais importante: sabem cantar aos gritos, coisa tão em moda e tão ao gosto de um monte de gente. Desconfio que as danadas, além de comerem algumas cobras e cobrinhas, quando estariam jogando no time do “bem”, estão comendo, também, alguns pintinhos. Nesse caso, inapelavelmente estão jogando no time do “mal”. Ou seja, as safadas se banqueteiam com uma cobrinha não-venenosa, inofensiva, granjeiam boa fama entre os incautos e aproveitam para deixar sem vida e sem futuro montes de pintinhos. Ora, com tais predicados tá mais que na cara que as seriemas do Macaúbas e alhures têm tudo, sim, para brilhantes carreiras nos grandes e gélidos palácios brasilienses. Quem duvidar há de?
Entusiasmei-me.
Dizia que são muitos os habitantes do sítio. Ouriços-cacheiros, daí os espinhos, macacos, gambás, teiús – eméritos comedores de ovos e, se bobear, pintainhos também – e jibóias. Tucanos sobrevoam e comem nossos coquinhos e coquinhos de macaúba. Uma festa. O nambu canta no fim da tarde, deixando mais gostoso o que já é bonito e gostoso. Saracuras berram, sabiás cantam, gaviões diversos fazem suas incursões, e às vezes são perseguidos por um casal de siriris, bichinho que o que tem de pequeno tem de valente. Temos nossos próprios “sentinelas dos pampas”, os quero-quero. Há que se precaver com eles, pois defendem bravamente o ninho com ovos ou filhotes. As corujas e morcegos são parte de nossa população. Muito útil, por sinal.
Maritacas... sim, maritacas. Palradoras, invasoras, abusadas. Há 5 anos elas vêm criando seus filhotes no forro de casa. Até aí tudo bem. O diabo é a barulheira que fazem de madrugada. E os fios que desencapam, provocando despesas e gerando riscos. Como não iria expulsa-las, tive de mudar a fiação que passava pelo teto. Ficou caro. Se plantamos milho, sorgo ou girassol, aparecem parentes de tudo quanto é canto e aparecem bandos de seus primos baixinhos, os periquitos. Deliciam-se com as espigas e os cachos e as sementes. Azar meu e das vacas.
E os passarinhos, além dos sabiás e siriris, são muitos. De sabiás, temos o poça e o laranjeira, isso que eu vi. Tem viuvinhas, tico-tico e tico-tico-rei. Tizius e coleirinhas, bem-te-vis, as elegantes, brilhantes, barulhentas e terríveis gralhas, eméritas comedoras de ovos, voltaram de viagem esses dias. A plumagem está mais bonita que nunca: o branco-creme com o azul metálico brilhante. Estão sempre em bando, ou gang, pois seu negócio é a rapina pura e simples: atraem-nas os ovos de nossas galinhas. Outra turma que prima pela elegância e beleza da “vestimenta” é o bando dos chopins-do-brejo. Um amarelo puxado pro laranja, combinando bem com um preto cerimonioso mas alegre. Os pardais, chatos e invasores, cambacicas delicadas e bonitas, mas conhecidas por um nome feio pra burro: caga-sebo. E muitos, muitos beija-flores.
Há muitos outros passarinhos e aves por lá. Falei dos que já vi, mas esqueci de citar um monte deles, outros só ouvi e nunca vi, sem falar dos muitos que nem vi e tampouco ouvi. Mas estão por lá. Nos dois pedaços de mata que sobraram, nas jabuticabeiras, nos pomares de laranja, limão, ponkan e goiaba. No pasto, comendo, cantando, criando, encantando a gente.
De repente, no meio de um trabalho, encontramos isso...
... um alçapão duplo, armado, pronto para a captura. O piso dos dois lados está meio esbranquiçado, sinal deixado pelas muitas vítimas dessa armadilha. No passado, quando guri com menos de onze ou doze anos, também tive meus alçapões. Também tive meus passarinhos em gaiolas. Até um dia... Até um dia que contarei qualquer dia desses. Não sabemos quem o colocou ali. Também não estou interessado em saber. Hoje, meu passado não contou e não fui condescendente: o alçapão foi direto do pomar para o fogo.
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2 comentários:
O ipê tá deslumbrante, conhecer a "gentinha pequena" que habita o sítio é fascinante, todo alçapão é indigno e merece fogueira.
PS: sobre a faixa etária dos leitores de "Viagem...": sou leitora assídua de Walt Disney.
Beijo
Porra, maritaca ta virando uma praga.
Tem mais é que matar esse bixos.
Pra você que queimou o alçapão, durma bem com o grito desses seres demoníacos.
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