quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Carnaval no campo e na roça – III

Tudo isso foi no sábado. Segunda-feira cedo, depois de levar o leite pro laticínio, deixando a Xênia curtir seu pastinho sossegada sem puxar carroça, fui pro pra cidade com o Toninho Simões. Grande figura o Toninho. O tipo de gente que admiro mas não invejo: ele participa ativamente da comunidade, trabalha, organiza, enfim, essas coisas todas. Já fui assim, não sou mais. Ainda não tenho claro se involuí ou se evoluí. O Toninho vai fazer a casa número dois do sitio (acho que não é politicamente correto chamá-la pelo nome usual – “casa de empregado”). Sobre ela, a casa, falarei em outra hora. De antemão, comunico: farei a indelicadeza de construí-la justamente na rota de acesso dos vagabundos ao sítio.

(Ops... por favor, onde lê-se “vagabundos” é favor ler “brasileiros desfavorecidos pela fortuna e vitimados pelo sistema, buscando meios alternativos de sobrevivência. Obrigado.)

São longas essas saídas. Cada lugar que a gente pára a conversa rola. Sempre interessante. Difícil parar de conversar e ir cuidar da vida. O interior tem dessas coisas. Numa de nossas paradas, termino um assunto no balcão e vou ao encontro do Toninho, que conversa animadamente com dois homens. Um me é vagamente conhecido, mas não identifico. Chip defeituoso na minha memória RAM, com certeza. Chego, a conversa se abre. Um deles me viu na Globo. O assunto cai sobre a estrada interrompida. Falamos todos. Eu, naturalmente, dou lá meus pitacos (pitacos? – um dia ainda vou cair do cavalo com essa mania de falar o que penso sem olhar pra quem). Critico a péssima agricultura feita pela usina (nem sei se a Santa Rita ou se a Ferrari, mas ambas são usinas, logo...). E, do alto de toda minha ignorância, decreto: parte da culpa pela estrada ter sido arrombada pelas águas cabe à usina. Afinal, há 5 anos passo por ali de duas a três vezes por mês. Religiosamente. E há 5 anos acompanho o plantio da cana na terra arenosa. E, a cada chuva, a cada chuvinha, montes de areia recobrem o asfalto ao lado do canavial. Decreto: isso de erosão é que nem rato, quando você vê um, tem mais 30 ou 40 escondidos do lado. Ali também, a areia que a gente vê é uma parte pequena da areia que já foi pro córrego.

Comento, também, que a administração anterior podia ter cuidado da conservação um pouco melhor, limpando os tubulões. Vou parar aqui e abrir a parte IV.

Mas, antes, uma vista da areia que o canavial da usina “produz”, já escorrendo em direção ao córrego que explodiu.





Um comentário:

Anônimo disse...

Querido, a vida em cidade pequena tem ritmo diferente, a prosa é compassada, os olhares são profundos e corajosos. Viver em comunidades assim é ter a identidade confirmada todo o tempo....E, entre palpites e comentários, a vida só flui. Bom demais, sô!!!!!!