terça-feira, fevereiro 01, 2005

Ainda sobre os tsunamis

Já é fevereiro...

Estou com vontade de escrever, quero escrever mas não quero falar mal do governo. De nenhum deles.

Também não quero reclamar do tempo ou da vida.

Tampouco quero escrever sobre o sítio, sobre as vacas, sobre as plantas.

Tsunamis... Talvez eu possa escrever sobre eles.

Nos últimos anos vimos alguns grandes tsunamis nas telas. Como em “Armagedon”, por exemplo. E naquele outro disaster-movie, “Deep Impact” (não lembrava desse nome, quebrei a cabeça, aí fui ao Google, digitei “asteroids movies” e... voilá! Viva o Google!), onde um grande tsunami com dezenas ou centenas de metros de altura cobre toda a costa leste americana. Chocante. A cena da jornalista com o pai, na praia, aguardando a chegada da grande onda é qualquer coisa. Fake, eu sei, mas é impactante. Lembro-me bem dela. O povo foge pro alto das montanhas, as águas chegam junto e chegam perto dos topos. O garoto que primeiro avistou o asteróide se salva. Por centímetros, como pede a boa dramaturgia hollywoodiana, mas se salva.

Mais recentemente tivemos outro no “O dia depois de amanhã”. Também interessante. Aliás, esse foi um filme interessante, gostei dele. Sou de opinião que não custa a gente ver um pouco dos riscos e conseqüências a que estamos expondo o planeta.

E, por algumas semanas, a tv mostrou um comercial de uma seguradora, se não me engano, em que um jovem casal vai pulando as ondinhas da praia... 1... 2... 6... E aí vem uma ondona, a sétima e última. Ela passa e a gente vê os dois no chão, a mulher com um peixe vivo na mão. Eu gostava de ver esse comercial justamente por causa da grande onda. Ele ainda estava no ar quando os tsunamis de verdade arrasaram o sul da Ásia e provocaram a morte de um número inimaginável de seres humanos. O mais provável é que esse total chegue ou passe de 300.000 pessoas mortas. Impensável.

Talvez, depois disso, os tsunamis cinematográficos nunca mais voltem a ser os mesmos. Ou voltem ainda mais constantes e terríveis, tudo é possível.

Acabo de passar por um site com uma série de fotos aéreas “antes e depois”. É realmente chocante. Algumas das fotos são terríveis, principalmente as que mostram penínsulas ou braços de terra completamente esvaziados de sinais da intensa ocupação humana que ali existia. Mas, assim mesmo, são fotos “limpas”. A distância atenua a tragédia. Algo que os pilotos de caça-bombardeios e bombardeiros conhecem muito bem. Os pilotos americanos, ingleses, russos, principalmente. Disparam os mísseis e bombas de longe, muito longe. Nada vêem, nada sabem do que ocorre no solo, quando seus artefatos explodem. Não há imagens de corpos, membros, sangue, vísceras, crianças decapitadas para assombrar suas noites. Alguns, poucos, imaginam e piram. Entram na lista dos pacientes psiquiátricos dos hospitais militares. A maioria, todavia, segue em frente, come, bebe, dorme, ama, trabalha, e não pensa naquilo. Como essas fotos aéreas do antes e depois dos tsunamis: elas impressionam, assustam, mas se a gente não parar e pensar um pouco, elas chocam pouco. Não como as fotos feitas no solo, ou as imagens terríveis das pessoas na praia, totalmente desprevenidas, e a segunda grande onda chegando.

A água continua sendo o mais enganador de todos os grandes agentes de transformação da face do planeta.

De maneira geral, usei tsunami no masculino. Outros usam no feminino. Eu mesmo, às vezes, uso dos dois jeitos. Grandes órgãos de imprensa, depois de reuniões com seus gurus gramaticais, passaram a usar a forma feminina. Outros, igualmente grandes, sérios e cultores da boa língua lusitana, passaram a usar a forma masculina. Ou seja, não importa o gênero, estará correto.

Você pode ver as fotos “antes e depois” no excelente blog da Cora Rónai, post “Tsunami”, de 31 de janeiro:

http://www.cronai.com/

No site do Washington Post há excelentes matérias sobre essa tragédia. E links para ajuda, mas, que adianta? De toda a ajuda coletada por aqui, só 15% seguiu para lá, pois não há transporte e nem verbas para as viagens.

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