No cerrado, durante dia,
fugazmente avistada
aqui ali acolá,
a vida é fugidia
O cerrado tem vida própria,
se alimenta da imensidão
a gente olha olha olha
não cansa nunca de olhar
Do nosso olhar ele se alimenta
se preenche e se basta;
quando cai a noite
e o horizonte se estreita
a vida surge, tímida,
pede licença para invadir
aquele mundo de terra e céu
e às vezes água.
Na soalheira tremeluzente
os troncos distorcidos cascudos
ganham mais volutas,
enganam acalorado vivente
Parece que não acaba mais,
a chapada se alonga
e o calor, subindo em ondas,
esconde e disfarça o detrás.
Longe, numa lonjura infinda,
um vislumbre cinzentado
que confunde céu e terra
é só mais uma chapada.
Alhures um homem surge,
encurvado encarquilhado lento
torcido e retorcido sob a imensidão.
Assim sobrevive, assim, tremelicante.
Nessa terra de céus
e chapadas e sol
não há lugar pras miudezas,
não há lugar pras gentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário