quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Cerrado infindo




No cerrado, durante dia,
fugazmente avistada
aqui ali acolá,
a vida é fugidia

O cerrado tem vida própria,
se alimenta da imensidão
a gente olha olha olha
não cansa nunca de olhar

Do nosso olhar ele se alimenta
se preenche e se basta;
quando cai a noite
e o horizonte se estreita

a vida surge, tímida,
pede licença para invadir
aquele mundo de terra e céu
e às vezes água.

Na soalheira tremeluzente
os troncos distorcidos cascudos
ganham mais volutas,
enganam acalorado vivente

Parece que não acaba mais,
a chapada se alonga
e o calor, subindo em ondas,
esconde e disfarça o detrás.

Longe, numa lonjura infinda,
um vislumbre cinzentado
que confunde céu e terra
é só mais uma chapada.

Alhures um homem surge,
encurvado encarquilhado lento
torcido e retorcido sob a imensidão.
Assim sobrevive, assim, tremelicante.

Nessa terra de céus
e chapadas e sol
não há lugar pras miudezas,
não há lugar pras gentes.

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