segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Trevas

As mesmas trevas que imperaram no século XX em muitos países, inclusive nessa república tupiniquim, continuam presentes e fortes em pleno século XXI.



Ano: 1973.

Local: São Paulo.

Situação: auge do governo Médici, general de plantão no comando da nação. Estudantes, operários, intelectuais, jornalistas presos por crimes de opinião. Não falo dos que estavam presos por participarem de movimentos armados contra o regime, vejam bem. Refiro-me aos presos por discordarem e manifestarem suas opiniões. Nessa altura, muitos já tinham deixado o país.

Ação: um estudante secundarista (atrasado, atrasado... e ainda por cima numa escola tipo supletivo) começa a fazer um mural em sua escola, no comecinho de março, no comecinho das aulas. Um jornal mural.

Ok, em 73 computador era um troço gigantesco, que ficava em salas ultrarefrigeradas, operados por uns carinhas esquisitos que ganhavam uma puta grana e falavam em cobol, assembler e outras coisas estranhas. O grande inimigo das ditaduras era o mimeógrafo. Acho que a maioria agora nem sabe o que é, o que era isso. Um jornal mural, à época, talvez fosse algo equivalente a um blog hoje. Ou, se não, com alguns pontos de semelhança.

A direção da escola perseguiu o mural. Retirou-o da parede. Os alunos, milagre, protestaram, exigiram, o mural voltou. A direção exigiu ver os artigos antes. Censura, jamais! Já bastava a censura acampada no Estadão, o único a gozar de tal privilégio, o jornal da resistência democrática contra a ditadura. A direção da escola, uma vez mais, foi derrotada. O Jornal Mural seguiu avante.

Eu segui avante e o ódio que eu tinha por ditaduras e censuras só ficou maior.


Ano: 2005

Local: Irã

Situação: a ditadura teocrática dos aiatolás ignora a liberdade de imprensa, ignora direitos fundamentais a todo ser humano, como a livre expressão de seus pensamentos e a discussão sobre seus próprios destinos.

Ação: Arash Sigarshi, jornalista, manteve um blog por três anos, discutindo cultura e política, denunciando arbitrariedades. Como a prisão de outros jornalistas e blogueiros. Dia 17 de janeiro ele foi preso. Terça-feira da semana passada, foi condenado a 14 anos de prisão.

Seu crime (é bom enfatizar): lutar, através do blog, pela liberdade de informação e discussão.

Abaixo a repressão!

Viva a liberdade!

Fora com a religião do poder!

Qualquer religião!

Democracia, sim!
Teocracia, não!


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4 comentários:

Anônimo disse...

Esse é daqueles casos em que concordamos em 100%. Não raras foram as vezes em que a gente se espezinhou por conta de divergências, mas tenho que dar o braço a torcer. É isso aí.

Pra melhorar, só faltou falar: PENA DE MORTE AOS MALDITOS TEOCRATAS DE PLANTÃO!!

:)

Emerson disse...

Pois é. Pensar que em 2005 a gente ainda vê coisas como essa. Hummmm... E, pelo que sei, a situação na China é ainda pior.

Emerson disse...

Embora a muitos não seja agradável, a verdade é que o companheiro Fidel mantém, também, vários usuários de internet presos por delito de opinião. Mas ainda não sei se há, entre eles, blogueiros.

Anônimo disse...

Parece incrível que entrando por 2006 ainda se fale em censura, mas não seria a mesma coisa essa proposta de ter um órgão que controle a imprensa como se tem proposto atualmente? Claro que guardando as devidas proporções...