quinta-feira, fevereiro 03, 2005

Mar de soja




Um mar de soja. Ao longe, no horizonte, ele continua, depois de quebrado por larga faixa de cerrado e cerradão nativos. Na baixada, corre um córrego, um rio, na verdade. Águas do cerrado, cristalinas, transparentes. A gente enxerga os pacus nadando a um metro ou pouco mais de profundidade.

Aqui é o Noroeste do Mato Grosso. Toda essa soja, da safra de 2004, percorreu um caminho longo até seu destino. Que pode ter sido a Europa Ocidental, ou mesmo algum país asiático. Nesse caso, o caminho terá sido ainda mais longo.

De Sapezal, a soja segue por caminhão até Porto Velho. Até chegar na BR 363 a estrada, estadual, é boa. Longas retas, a perder de vista. De um lado e outro, soja. Ou milho, depende da época. Com muitos quilômetros entre uma e outra, grandes baixadas. Não na profundidade, mas na distância entre o topo e o fundo, onde um rio corre. Sempre. Com isso, em muitos lugares dá pra soltar o bicho (uma carreta carregada) na banguela e só engatar a marcha 6 ou 7 km depois.

Um dia, paramos a van Mercedes que usávamos como transporte na beira dessa estrada. Abrimos as portas traseiras, duas, e ali deixei instalado o monitor e alguns filtros ao lado. A alguns metros de distância, a câmera, registrando alguma coisa parecida com essa foto, só que, ao invés de soja, o milho. Aí, veio uma carreta. Cinquenta mil quilos se deslocando a 100 km/h. Uau! Sai de perto. Não saí. O deslocamento de ar da carreta fechou a porta da van ao lado da estrada com tamanha violência que me jogou no chão, deixando belas equimoses em meu braço e ombro. Num primeiro momento pensei em fratura, mas tive sorte: a porta bateu chapada, pegando uma área grande, sem quinas ou cantos. Meno male. Mas doeu pra burro e fiquei com o braço esquerdo meio duro, sem movimentos, por 3 dias. E dá-lhe Cataflan! Foi uma bisnaga inteira.

A BR 363 é uma desgraça. Em fevereiro ano passado percorri-a de carro, desde Sapezal até Porto Velho. A mesma rota da soja nas carretas. Buracos, buracos, buracões, buraquinhos, dois trechos curtos em terra, muitos buracos. Ridícula. Mil quilômetros nessa tranqueira. Haja paciência, sorte e pneus.

Em Porto Velho a soja deixa as carretas, vai para os silos e armazéns e deles para as barcaças no Madeira. Meses atrás, um comboio desceu o Madeira com 32.000 toneladas de soja até Itacoatiara. Mais de meio navio-graneleiro classe Panamax, que transportam por volta de 60.000 toneladas. Com essa carga, eles ainda passam pelo Canal do Panamá. Dali, Japão, China, Tailândia, Austrália...

É bonito isso. Eu gosto.


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