É, estava mesmo na hora de voltar ao Paraná. Tem gente por aqui conseguindo produtividades fantásticas nas terras vermelhas e pesadas do oeste. Ontem vi uma lavoura de 70 a 72 sacas por hectare. Coisa linda de se ver. Pena que o preço despencou e o valor recebido também, por conta de um crescimento significativo da safra americana, da safra argentina e da nossa própria safra, sem falar na paraguaia e na boliviana. Com o mercado mundial bem abastecido e os preços baixos, a guerra pela colocação dos grãos, farelo e óleo se torna mais dura, mais encarniçada. É briga de cachorro grande. A China vai nadar de braçada, inda mais se o governo tupiniquim for tão inepto como foi há alguns meses.
Outro problema para o produtor: nos últimos doze meses, o real foi a moeda que mais se valorizou no mundo. Com isso, tudo que exportamos fica mais caro. Já para o produtor de soja, uma commodity cujos preços são estipulados em dólar, a consequência imediata é a entrada de menos reais para cada saca de soja vendida. Enquanto isso, os insumos usados, como adubos, sementes, combustível, defensivos, não têm seus preços reduzidos, acompanhando o dólar.
"Oras, azar desses caras, já estão cheios de dinheiro" - pensarão e dirão alguns. Errado. A margem deixada pela soja é boa, mas uma propriedade planta e colhe ao longo de 60 a 90 dias, o que significa que o produtor vende diferentes sojas, a diferentes preços e, pior, a diferentes custos de produção. Quando os preços e o câmbio ajudam é um excelente negócio. Se um desses dois fatores não ajuda, sai de perto. O risco é grande de dar com os burros n'água.
A importância da soja para o Brasil, hoje, transcende em muito os interiores e sertões. O complexo soja é responsável por uma parte significativa de nossa saúde econômica, já bem combalida. Sem a soja... nem é bom pensar.
Um grupo enorme de canadenses no hotel. Gente simpática, na maioria. Agricultores em visita-prêmio. Saíram de até menos 20 graus centígrados pros 37 a 38 que enfrentamos nesses dias. Da neve branca e do gelo escorregadio pra terra vermelha e a poeira que penetra por onde pode e entope tudo que toca. Mas as manhãs são bonitas e gostosas. Já é alguma coisa. Agora se foram pro Mato Grosso, com escala em Foz. Não ficarei surpreso se um dia encontrar um ou mais deles plantando soja e milho no cerrado.
Apesar de tudo, e bota tudo nisso, esse país fascina. Ainda. Mas, por quanto tempo mais?
Bom, hora de voltar pras estradas do oeste e pegar o rumo do norte. Fui.
3 comentários:
Sabe o que fascina mais ainda?
O seu olhar que parece descortinar plantações e grãos para aqueles que só têm sua narrativa prá pesnr esses cenários. Obrigada.
Jesus. Pykareta's Fan Club está abrindo inscrições. Falar com o Trankera.
Bom dia Emerson.
Como expandiu essa cultura da soja hein?? Aqui no Tocantins, foi uma explosão, tanto de lavouras como do aumento de preços de terras, agora é que estão retornando à realidade. Até que é bonito ver a imensidão verde, mas confesso, meio que preocupado, com uma possível desertificação na região. Tanta areia, tão propensa a virar deserto, e com a substituição da vegetação nativa, acho que pode acelerar ainda mais o processo. Um abraço.
Ailton Gomes
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