Um Olhar Crônico sobre os dias de hoje e alguns de ontem. Um Olhar Crônico sobre a vida nas cidades, a vida na megalópole, a vida na roça, quando é dura, e no campo, quando é lírica. Textos, Idéias & Coisas diversas, aquelas que passam pela cabeça e a gente acaba registrando, sabe-se lá pra que ou mesmo porquê.
quarta-feira, julho 20, 2005
Inverno colorido (só colorido)
Esse é um período do inverno ainda pleno de belas cores em Santa Rita do Passa Quatro. Os pomares de laranja estão patrióticos, verdes e amarelos na medida, verde intenso, amarelo idem, aquelas cores carregadas, fortes. Combinam bem com patriotas chorosos – daqueles que batem no peito, juram inocência e se debulham em patéticas lágrimas - em tribunas diversas, às vezes açodados por jornalistas ansiosos e malvados. É um verde-cpi e um amarelo-cpi. Mas, com isso, já estraguei o que se pretendia um texto leve, agradável de ler e informativo. Como se pode ver, pretensão pouca é bobagem.
Aliás, esse é um país e um povo de extremos. Ou somos indigentes e nos colocamos no rodapé de classificações interessantes, como conhecimentos matemáticos entre escolares e diversos índices de qualidade de vida, ou nos colocamos no topo, de forma definitiva e consagradora. Como no futebol e no vôlei, onde somos a referência mundial. Ou na roubalheira e corrupção, onde a medalha de ouro me parece favas contadas. Ihhhh, pronto, já desviei de novo, que coisa mais chata essa. Se não posso controlar sequer o que escrevo, como posso pretender controlar meia dúzia de vacas e dois retireiros? Mas preservo intacta minha pretensão em escrever algo agradável de ser lido (do tamanho já desisti, vai sair com o tamanho que sair, abaixo a censura do bom gosto e do pouco esforço pra leitura).
O largo da matriz está muito bonito nesses dias. Os dois ipês-roxos estão carregados de flores, bem em frente à igreja, enorme, bonita, principalmente por dentro. Pegando um pouco da sombra de um dos ipês, o busto de Zequinha de Abreu. Sob ele, dizem que estão seus ossos ou o que deles restou. Já me disseram que, por conta disso, o largo é assombrado. Sei lá, se for para ouvir Tico-tico e Branca na interpretação do autor, acho que vou me arriscar ser assombrado qualquer noite dessas.
É só agora que a gente vê quantos ipês há por essa terra! E mais ainda veremos em agosto, quando os amarelos, muito mais abundantes que os roxos, começarem a florescer. As árvores parecem explosões de cor, como a gente vê nos filmes, aquela bola colorida e forte de uma explosão. Já dei tratos à bola procurando por adjetivos que traduzam o prazer de avistar um ipê florido em meio à paisagem. Passei por vários e não me fixei em nenhum. Que fique, então, sem adjetivos, não farão falta. Cada um pode imaginar à vontade o roxo ou o amarelo marcando a paisagem. Momentos que fazem a vida valer a pena.
O laranja vigoroso das flores do cipó-de-são-joão se espalha por barrancos, cercas e árvores. Consideramos como mato, como planta daninha. Na Europa, mais ainda na Inglaterra, seria uma planta preciosa, cultivada e cercada de mil cuidados. Cheia de simbolismos a começar pelo nome. Nessa época, é uma boa fonte de alimento para os beija-flores. Alguns pomares de laranja e limão têm uma florada precoce, muito prematura e sem futuro. Vai faltar água e sobrar frio para o desenvolvimento dos chumbinhos, como chamamos os pequeninos frutos que surgem a partir das flores. Enquanto há flores, porém, as abelhas se divertem e no pomar só se ouve o zumbido forte de seu vai e vem. Mel de flor-de-laranjeira tem um perfume delicioso, até um troglodita como eu consegue perceber a diferença. Todo ano eu espero ansioso pela florada das laranjeiras. Nem tanto pelo visual, que é discreto, nada como a beleza exuberante e até excessiva de um campo de girassol, como o do Sandro, logo depois da nossa divisa de baixo. Mas pelo perfume que a gente sente nas estradas, seja a 60 ou a 100 por hora, entrando pelo carro e trazendo muito prazer. Em casa são dias especiais. Dias de parar por momentos várias vezes, só para ficar parado e sentir o perfume que sobe do pomar.
O inverno em Santa Rita do Passa Quatro tem outras coisas bonitas e gostosas, e outra hora falo sobre elas. Por agora, fico só com o colorido desse inverno. Um colorido de um só ele. Um colorido pra afastar o pensamento das coisas da política.
Ou já seria pollítica uma vez mais?
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3 comentários:
Tá devendo um ipê. Na foto só aparece um. Muito bonito, por sinal.
Lindo! Aliás, as fotos todas estão um deslumbramento só.
Obrigado, Cora.
Na verdade, devo a você a descoberta do "picasa" e ver suas fotos no InternETC foi decisivo para eu me animar e colocar as fotos aqui. Valeu! :o)
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