quarta-feira, julho 13, 2005

Notícias do sítio

Leite ácido

O laticínio está recusando o leite das três vacas que pariram por último por causa de acidez elevada. É normal que o leite esteja ácido nos primeiros dias pós-parto, mesmo depois que termina a fase de produção do colostro, que dura de 3 a 5 dias. Mas é normal, também, essa acidez desaparecer em poucos dias. Enquanto o leite está ácido a cachorrada se diverte, tem leite à vontade. Os porcos também, na casa do Ismael. E uma parte, acho até que a maior, vai simplesmente pro monte de esterco virar adubo.

Dessa vez, entretanto, o leite continua ácido, dia após dia. E com três vacas nessa situação a coisa começa a ficar complicada, afinal, quem produz leite tem que fazer contas de centavos, obrigatoriamente. O jeito foi apelar pro telefone.

- Bom dia, S, tudo bem?
- Opa, bom dia, Emerson. Tudo bem, e com você?
- Ah, mais ou menos (só pra variar... hehehe). É o seguinte, as três mestiças que pariram esses dias estão com o leite ácido.
- E as outras?
- O leite das outras tá normal, o laticínio tá aceitando normalmente, é só com essas três. O “dornic” tá em 24 e não desce. E o nosso “dornic” é de 17, 16, por aí.
- É a ração. Dá bicarbonato de sódio pra elas.
- Cume qui é? Bicarbonato de sódio?
- É, esse mesmo.
- Mas elas sempre comeram ração.
- Mas agora tão comendo mais, não estão?
- Sim, claro.
- Então, é isso mesmo. Dá uma colher de sopa de bicarbonato na ração de cada uma, tanto de manhã como de tarde, que vai resolver.
- Ô loco, é mesmo?
- É, isso é tranqüilo, tem problema não. O nosso bicarbonato acabou, mas você encontra na cooperativa. Não compra o de farmácia porquê é muito caro.
- Legal. Valeu S, um bom dia procê.

Bom, a cooperativa também estava sem bicarbonato, que chegou só agora há pouco. Amanhã as três começarão a receber o bicarbonato na ração. Já não era sem tempo. com essa brincadeira quase 300 litros de leite foram pro beleléu. Acho que até mais, só que não estou disposto a fazer conta agora.


Queimada

Se há uma coisa da qual sou inimigo é o fogo sobre a terra. Seja em mata, pasto, capoeira, resteva, não importa. Não gosto, sou contra. O fogo é inimigo do solo, é inimigo da vida, é inimigo da boa agricultura. Claro, o fogo tem um importante papel na manutenção do equilíbrio ecológico, na manutenção e reforma dos ecossistemas. O fogo existe na natureza e muitas formações florestais dependem dele para se renovarem e poderem sustentar as cadeias que as têm por base. Mas por aqui, as coivaras decididamente foram e são daninhas, prejudiciais. Até podiam ser compreendidas e em muitos casos aceitas, mas nos dias de hoje não mais. Sem chance.

Falo com o I ao telefone.

- Oi I, tudo bem por aí?
- É... tudo. (Já deu pra perceber que não, um certo friozinho já toma conta da minha barriga.)
- Hummmm... Aconteceu alguma coisa?
- É, eu até tentei ligar pra você três vezes e não consegui.
- Não conseguiu? Ué, mas como?
- Ah, sei lá.
- Bom, tá, mas o que aconteceu?
- Sabe a matinha? Então, domingo quando eu voltei pra cá depois de levar o leite tava pegando fogo nela.
- Qual matinha? A da mina ou a do pasto?
- A do pasto.
- Fogo? Mas como fogo? Que que houve? Foi perto da casa? Pegou muito?
- Então, né, eu voltei e vi a f umaceira e fui lá ver e aí o fogo tava lá embaixo.
- Lá embaixo onde? Perto da casa?
- Não, lá pra baixo, perto das “lima” (o pomar de laranja-lima que começa onde termina o pomar de ponkan, que breve serão cortadas). E tava subindo.
- Subiu muito? Chegou onde?
- Chegou perto dos taiti (o pomar de limão taiti).
- Cacete! E a fiação da Elektro, pegou?
- Não, não pegou, foi pra cima um pouco.
- Bom, meno male. Mas, e daí?
- Ah, eu corri, peguei água, levei, joguei, deu pra controlar.
- E o fogo passou pro outro lado? (Essa matinha é estreita, bem estreitinha, e no meio corre um valo. Durante as águas tem um fiozinho d’água no fundo, mas com a seca ela desaparece. Meu sonho é voltar a pereniza-la. De um lado ficam os pomares de laranja-lima, tangerina e limão, e do outro lado ficam os piquetes para pasto e a capineira.)
- Passou só um pouco, nada demais.
- Pqp, mas nunca tivemos isso, como foi que aconteceu?
- Ah, alguém deve ter jogado uma bituca, né? Alguma coisa assim. Porquê isso foi domingo, eu tava sozinho e fui levar o leite, e eu só vi quando voltei.
- Ta, você falou isso. Mas quem pode ter jogado uma bituca lá?
- Ah, o pessoal da laranja.
- Ah, o pessoal da laranja tava aí no domingo?
- Tava, eles voltaram pra terminar a colheita.
- Pqp! Esses fdp só f¨&%** mesmo! E você falou com essa corja?
- Falar eu falei, mas eles disseram que ninguém jogou nada.
- Ah, tá bom que ninguém jogou nada. Caiu do céu azul, sozinho, um raio e tocou fogo. Devia ter caído nas cabeças desses fdp, isso sim!

Bom, conversamos mais alguns minutos e ainda esqueci de perguntar se a “florestal” não tinha dado as caras por lá. A “florestal” é ótima pra aparecer assim, em sítio bem na beiradinha do asfalto. Só me faltava tomar uma puta duma multa por causa dos vagab..., digo, por causa dos babacas que foram colher laranja. E os caras multam. Não lhes interessa se o fogo foi acidental ou criminoso perpetrado por terceiros. Simplesmente multam e mostram serviço. São bem legais. “Legais”, entre aspas. Um monte de aspas.

Sábado vou ver o estrago. Não dá pra saber se foi grande ou pequeno, só vendo mesmo pra saber.


Bem-vindos à doce vida campestre.

:o)

P.s.: que ninguém se assuste com os palavrões, eles fazem parte da vida.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns nego!

beijo
Chapeira