Uma amiga me escreve comentando o que eu escrevi sobre estar assustado.
A dinâmica dos acontecimentos é muito intensa. A velocidade é rápida demais, adaptada aos dias que correm, adequada à internet.
Sigo assustado, sigo visualizando fantasmas no futuro próximo. Espero estar errado, espero estar delirante.
Resolvi transcrever o grosso de minha carta pra ela (carta = e-mail):
"... que bom ter notícias, embora o quadro não seja dos mais agradáveis.
Não estou conseguindo colocar no papel, digo, na tela, a multiplicidade de sentimentos e pensamentos que me dominam nesse momento. Acredite, não gosto do que está acontecendo e me preocupa o que está por vir.
Falando ao vivo e a cores me expresso mais e talvez melhor, pois falo e penso e penso e falo, o pensamento funciona melhor pra mim no calor de uma discussão. Aqui, quieto, pensativo, o sono querendo chegar, os olhos meio irritados, não é a mesma coisa.
A manchete do Globo de amanhã é sintomática: O Brasil está à deriva. Não é uma manchete de direita, embora vá ser tomada como tal. É uma frase pinçada de entrevista com Hélio Bicudo.
Os quartéis estão quietos, um benefício nítido e claro da globalização. Mas o populacho, a plebe dita ignara, começa a falar em voz baixa que só os militares pra dar um jeito nisso tudo. Não demora nada e as falas transformar-se-ão em brados.
O MST está quieto, mas não acredito que vá continuar assim por muito tempo, até porquê aqui, ali e acolá pipocam vozes dizendo ser tudo isto um golpe branco, uma armadilha da direita.
Não é. A dita direita ou o que quer que seja não teria tanta criatividade, ou melhor, não seria tão tacanha a ponto de escrever roteiro tão mambembe e inverossímil. Até pro esculacho criativo há limites. Que, no caso, foram atropelados pelos fatos, pela realidade.
Assinatura em documento sem ler partindo de quem partiu é algo impensável.
Cem mil dólares na cueca, idem.
E por aí vai.
Tudo isso só explica porquê é a América Latina a terra do realismo mágico.
Bom, deixa eu ir dormir."
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