segunda-feira, julho 11, 2005

Outra carta para outra amiga também distante


Bom dia, boa semana.

Fácil de desejar mas meio difícil de conseguir no tempo presente.

Tenho andado preocupado com medo de uma possível, embora não provável, ruptura institucional. Às vezes dá medo tudo isso porquê a carga de esperanças e desejos criadas e depositadas na figura de Lula foi grande demais. Um velho defeito nosso, diga-se de passagem, o de estarmos sempre à espera do retorno de Dom Sebastião. Ainda não caiu a ficha que Alcácer-Quibir foi real e foi há muito tempo e dela não há retorno, temos de andar com nossas próprias pernas.

Estou verdadeiramente impressionado com a economia. Olho os indicadores que realmente contam – dólar paralelo, bolsa, índice de inflação – e fico admirado. Como é possível tamanha calmaria? Mesmo que seja aquela que antecede a tempestade, não importa. Em outros tempos, recentíssimos, por sinal, já estaríamos navegando em mar tormentoso, velas recolhidas, enxergando a cada vagalhão o risco do naufrágio. Sem dúvida há nisso a herança não-maldita dos 8 anos de FHC/Malan /Fraga, mas há também, e muito, a postura e as ações – ou inações, mas nesse caso positivas – de Lula/Palocci/Meirelles.

Embora preocupado, assustado, não nego que um vago sentimento de segurança proporcionado pelo sítio me conforta. Tolice, né? Tô quase dizendo que na hora do aperto o homem se volta mesmo é para o básico, e o básico é a terra e sua posse. Acho que isso demonstra com boa clareza minha origem, tanto em termos etários como sociais. Está fora de cogitação que tal sentimento passe pela cabeça da maioria dos profissionais urbanos de hoje.

Olhando tudo que está acontecendo, diferentemente (ao menos, é o que parece) do que ocorreu em outros governos, em todos os outros governos, é bom que se diga, não enxergo o enriquecimento pessoal como finalidade primeira e única das maracutaias & achaques. Não deixa de haver esse objetivo, é claro, mas a coisa toda tá dirigida, mesmo, é para o aparelhamento do estado, o fortalecimento do partido e a manutenção do poder. Os meios são irrelevantes, o que importa são os fins. Uma postura, uma visão messiânica bem ao gosto e de acordo com a crença em dogmas. Exagero quando digo não ver diferença entre um regime de esquerda e um regime religioso. Há diferenças, obviamente, mas estou mais propenso a crer que não exagero do que o contrário.

Os próximos tempos prometem nada de bom, apenas mais e mais revelações. Nossa perplexidade tende a aumentar. O que mais me irrita, me desgosta, me dá vontade de reagir com violência, até, é a desfaçatez com que políticos de ontem, hoje e sempre se dirigem a nós, explicando o inexplicável, negando o inegável. Revoltante, essa é a verdade.

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