Vira e mexe a gente encontra por aí o povo que fala de existências paralelas, mundos paralelos em outra dimensão de tempo e espaço. Coisas fascinantes pra gente ficar pensando um pouco, botando a imaginação pra trabalhar.
Todavia, independente de dimensões e mundos paralelos, invisíveis e fora de nosso alcance, basta um olhar ligeiro ao nosso redor para descobrirmos que tais mundos são reais mesmo. Por exemplo, no meu caso o mundo das favelas e o mundo daslusiano são tão esotéricos e invisíveis quanto o mundo paralelo de amigos esotéricos de fato (alguém pode ser esotérico de fato ou isso é mero artifício de linguagem e um paradoxo em si?). Até enxergo a Daslu, bem como as mil favelas de todo dia, toda hora. Mas não sei como se vive nesses mundos, apenas imagino, pois mesmo quando militei e passei parte do meu tempo em favelas, uma certa blindagem me protegia, impedindo-me de imaginar a fundo como era a vida ali, longe das nossas visitas, das nossas conversas, dos nossos sonhos traduzidos em palavras, sonhos de transformar tudo e todos numa grande classe média feliz, onde os chefes de família teriam as mãos sujas de graxa e usariam macacões ao invés de paletós e gravatas. Pueril, pueril, muito pueril. Cruzes, como fomos pueris! Ainda bem, ao que dizem, que Deus protege as crianças e os tolos.
Há outros mundos em nosso mundo. Por exemplo, o mundo formal das leis, o mundo formal que rege a aplicação da justiça. Vou me ater um pouco a esse mundo formal, lógico, um mundo de certezas matemáticas ainda que ressalvadas por julgamentos, que nunca são matemáticos.
Pelo que temos lido, visto e ouvido a partir das declarações prestadas por membros da quadrilha ora em fase de investigação e julgamento político, pelo menos uns 10% dos prefeitos brasileiros foram eleitos com o auxílio ou, pior ainda, graças ao auxílio luxuoso e valoroso do dinheiro maracutaiado por valérios e delúbios. Talvez até dinheiro público, esse sacrossanto bem adorado e defendido por todos, e vilipendiado por muitos, muitos mesmo, talvez por todos que se apressam a dizer que o defendem.
Ora, crime de tal magnitude só pode ter uma resposta de igual magnitude: cancelar as eleições de 2004, defenestrar da vida política todos que participaram da maracutaia gigante e realizar uma nova eleição.
A mim parece simples e lógico, uma coisa elementar. Simples aplicação da justiça a partir da constatação, no mundo formal das leis, que crimes foram cometidos e devem ser corrigidos e punidos.
Esse seria um bom momento para que a elite política tupiniquim repensasse sua própria existência, repensasse o sistema atual e, principalmente, partisse para uma reforma séria e radical de “tudo isso que está aí.” Começando, por exemplo, com a anulação do “pacote de abril”, criado por Golbery e decretado por Geisel. Eliminando o terceiro senador de cada estado e, acima de tudo, devolvendo à maior parte dos brasileiros sua plena e legítima representação política proporcional. Um cidadão, um voto, de igual peso e valor em qualquer unidade da federação. Acabar com essa aberração ditatorial de o voto de um acreano valer o voto de dez ou doze paulistas. Basta de entulho ditatorial!
Valorizar os partidos políticos e impedir o troca-troca de sigla, coisa que, como podemos ver agora, é sempre criminosa. Vá lá, quase sempre criminosa. No meio de quinhentas trocas é possível que tenha havido uma honesta. Sim, é possível, estatisticamente falando.
Se fizesse isso, a classe política tupiniquim estaria se imolando. Apeando de seus privilégios. Coisa impensável, portanto, impossível.
Consequentemente, de volta ao mundo real, tudo isso não passa de mais um sonho pueril.
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