Política?
Não, nem pensar.
Hoje, 4a-feira, 6 de julho, é importante para mim por causa do primeiro jogo decisivo pela Libertadores de America.
São Paulo x Atlético Paranaense, às 21:45 no estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
Não há como evitar, estou meio aéreo, meio em transe. Trabalhar, obviamente, está difícil, mas aos trancos & barrancos vai saindo.
O coração palpita. Descargas de adrenalina são meio freqüentes. A ansiedade é forte e o tempo não passa, se arrasta.
É dia de decisão.
O São Paulo pode perder. Esse "pode" faz uma diferença danada. Não basta confiar no próprio taco, ou no próprio time, melhor dizendo. Ele tem que ser superior ao outro. Ou o outro tem de ser inferior ao nosso. Parece a mesma coisa, mas não é a mesma coisa, longe disso.
Há, também, o fator sorte.
E há, inevitavelmente, os deuses dos estádios. Os pobres de espírito desconhecem os deuses dos estádios, chamam a todos os eventos de sorte ou azar. Pobreza...
Esses deuses existem e são terríveis. Como os deuses gregos, sábios deuses gregos, são mais humanos que nós, humanos propriamente ditos. Isso porquê eles têm nossas paixões exacerbadas. O que é meramente humano em nós, neles transforma-se em divino. Paixões divinas. Com todos os poderes associados, é claro.
Não dá pra saber se os nossos deuses foram pra Porto Alegre junto com o time, de avião, ou se foram com torcedores, distribuídos por ônibus, cruzando o gelo sulista em plena madrugada. Todo deus é um gozador e um bon vivant. Sendo assim, quem garante que eles voltaram de Buenos Aires depois do nosso jogo e brilhante vitória contra o River?
Uma coisa sei com certeza: eles não foram pra Campinas, sábado, onde os meninos da reserva enfrentaram a Ponte Preta e foram derrotados por 1x0. Mas lá estavam os deuses chatésimos do Moises Lucarelli, aboletados em cima da trave do São Paulo, de onde manipularam a lambança entre nosso semi-deus Rogério e o jovem zagueiro Flavio. Do choque dos dois nasceu o gol da Macaca. E os mesmos deuses, com certeza, estavam em cima da trave do Lauro, goleiro da Ponte, quando o Rogério cobrou o pênalti que nos daria o empate ou, quem sabe, até a vitória. Rogério foi, cobrou e voltou, pois Lauro defendeu. E bem. Típico, típico produto da ação desses deuses.
Nessa altura espero que os bons vinhos de Buenos Aires tenham acabado. Assim como os melhores cortes de carne. Algo me diz que só assim pros nossos deuses voltarem. Mas pode ser que já tenham chegado em Porto Alegre. Afinal, como deuses, já sabiam desse desfecho e, por isso mesmo deixaram-se ficar em terras argentinas, esperando a hora de ir pro Rio Grande do Sul querido. O porquê disso não sei, já que não pagam passagem, não entram em filas, não apresentam documentos, nada disso, e podem ir e vir à vontade, sem problemas, sem aborrecimentos. Mas vá alguém querer entender os deuses... É capaz de virar história, mais um causo mitológico.
Já tentei escrever sobre os sentimentos em torno de uma partida de futebol. Não consegui, é muita areia pro meu caminhãozinho. E tivesse eu tamanha capacidade, estaria agora no Tahiti, gozando os merecidos lucros de alguma super-negociação com as forças do poder atual.
Não, que tolice escrevi. Magina... Estaria agora refestelado numa boa churrascaria porto-alegrense, comendo um churrasco, tomando duas taças de um bom tinto e mineral com gás Charrua. Voltaria pro hotel depois de passear pela Rua da Praia e ver as gaúchas elegantes, agasalhadas, bonitas. Um pouco de leitura, um pouco de tv, um muito de nervosismo, mais um pouco de leitura e tv. Colocaria a camisa do São Paulo sobre as camisetas, por cima uma blusa de zíper ou botão, pra ficar aberta e mostrar à gelada Porto Alegre que eu sou, sim, são-paulino, e por cima de tudo um bom casaco, já que o frio dessa noite é capaz de chegar aos 3 ou 4 graus. Impaciente, iria chegar ao Beira-Rio umas duas horas antes do jogo.
Depois, bom, depois não sei. Mas acho que iria tomar uma sopa quente naquela senhora que as servia de madrugada perto da óspa, ou OSPA – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Mas isso é coisa antiga, nem sei se existem ainda. Inclusive a OSPA. E depois, feliz, com certeza, de bem com a vida e com o mundo, iria pro hotel tentar dormir sem conseguir, já esperando pelos jornais de São Paulo, Rio, Porto Alegre. Todos saudando a brilhante vitória do Tricolor do Morumbi.
Ah, claro (pobre é fogo, né?)... Tudo que escrevi sobre ler e ver tv, misturem com navegando pela internet no meu poderoso notebook – sim, eu teria um poderoso notebook. Seria ainda mais feliz.
Como nunca conheci um ganhador de loteria, qualquer loteria, pra ter tanto dinheiro assim, ao ponto de trocar o Tahiti por uma gélida Porto Alegre, só mesmo tendo a capacidade e arte que têm certas pessoas para ganhar rios infindos de dinheiros diversos. Pena que eu não tenho, mas, pelo menos, continuo dormindo bem e acordando sem olho roxo e hemorrágico.
Dá-lhes, São Paulo!
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