quinta-feira, novembro 17, 2005

Pantanal, ministra e governador: balaio de gatos




Não gosto da ministrinha Marina Silva (mas gosto de começar texto com um “não”, palavra que, segundo os especialistas, afugenta os potenciais leitores). Acho que ela é fraca politicamente, tem algumas posições equivocadas sobre a Amazônia, é omissa e covarde na questão da transposição das águas do São Francisco, o sonho de consumo de seu chefe, acho que ela fala muito e age pouco, não cuida dos seus fiscais, sabidamente corruptos em boa parte, acho que ela aparelhou o ministério e seu braço direito, o IBAMA, com gente cuja única qualificação é ser petista da linha certa. Entretanto, quando o elemento que é governador do Mato Grosso do Sul acusa-a de “falar besteira” sobre o Pantanal, sou obrigado a defender a ministrinha.

Primeiro, porque, ao que se diz e já foi levantado pela imprensa, Zeca do PT, além de nomear a parentada toda, tem, também, sua coleção de histórias mal explicadas. Embora a ministrinha também tenha as suas – como o seu marido, por exemplo, e outros mais – o estrago zequiano é maior e mais despudorado. E toda vez que gente assim abre a boca atacando alguém violentamente, eu fico curioso em saber o porque. Eu fico desconfiado.

Feita essa introdução, ao Pantanal.

Dias atrás, Francisco Anselmo de Barros imolou-se em praça pública, ateando fogo às próprias vestes, em protesto contra a tentativa de Zeca do PT aprovar a instalação de usinas de álcool nas cabeceiras de rios pantaneiros e em áreas pantaneiras. Não apoio, mas respeito o gesto do defensor do Pantanal. E sou, como ele, totalmente contrário à instalação dessas usinas; motivos para isso não faltam, pelo contrário, abundam.

Dos argumentos favoráveis apresentados por S.Excia., um foi decisivo, e nenhum outro me pareceu tão favorável como quatro. Sim, porque é um argumento tão forte que de um vira quatro: três usinas de álcool e uma distribuidora de combustível, que foram quatro dos cinco maiores contribuintes oficiais para a campanha de S.Excia. ao governo do estado no ano de 2002. Argumento de peso, este, dos bons.

Diz o governador que as usinas gerarão empregos e trarão renda. Não duvido. Conheço bem as usinas de açúcar e álcool, conheço suas práticas agrícolas, conheço o mundaréu de gente envolvida em suas operações. Mas também conheço o turismo pantaneiro, em franca ascensão. Conheço o mundaréu de gente envolvida nas lides turísticas de bem atender à Sua Majestade, o Turista. Conheço, também, os níveis salariais médios de um setor e de outro. E digo com tranqüilidade: melhor o turismo que o canavial.

A cana e as usinas podem ser plantada e implantadas por tudo quanto é parte do Mato Grosso do Sul. O que não falta no estado é pasto velho, degradado, pronto para ser preparado para o plantio da cana. Que gerará renda e empregos do mesmo jeito. Assim como as usinas implantadas em municípios não-pantaneiros. Portanto, Sr. Governador, não precisa quebrar lanças com a oposição em defesa dessas localizações.

Estou cercado por grandes usinas de açúcar e álcool. Usinas tidas e havidas como boas e eficientes. A maior parte da região tem solos parecidos com os solos do Pantanal e entorno, com grande teor de areia. Solos leves, solos fracos, solos facilmente erodidos e mais facilmente ainda transportados para os cursos-d’água, assoreando-os. Venho presenciando esse crime ano após ano na região, ao redor do Sítio das Macaúbas. Até fotos andei fazendo por conta duma chuvarada que destruiu a nossa linda estrada vicinal. O preparo pesado do solo abre as portas para a erosão. Vejo o areião arrastado das lavouras de cana cobrindo a estrada e assoreando os pequenos córregos. E nem vou falar dos malefícios do sol e do vento sobre os solos expostos, senão esse texto vira uma desgraceira só. E, como já me disse um agrônomo de uma das usinas, “eles se empenham e conseguem produzir preservando o solo”. Hum hum... É, bem vejo a preservação que eles praticam. Por conhecer tudo isto, não só ao redor do sítio, mas por todo o interior de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, é que eu tenho certeza que a implantação dessas usinas próximas ou dentro do Pantanal vai comprometer seriamente, mais que isso, dramaticamente, a sobrevivência dos rios pantaneiros.

Voltando à ministra e ao governador, pra não perder a viagem ela deita falatório sobre os agrotóxicos e envenenamentos e não sei que mais. Ah, se todo o mal fosse esse, que bom que seria. Nesse quesito, movida pela posição ideológica, a ministrinha extrapola e fala inverdades, bobagens, meias-verdades. Mas isso, repito, é um mal que, se chegar a ocorrer, será inócuo sobre a natureza, pois as outras forças terão agido antes com muito maior virulência e eficiência destrutiva. Até porque, quem aplica defensivos absurdamente caros de forma delinqüente e perdulária, já fez coisa muito pior com o solo.

Há muito mais pra falar, mas nem eu tenho tempo e muito menos vocês teriam paciência. Em essência, é isso. Fui obrigado a defender a ministra do Meio Ambiente (quando teremos um ambiente inteiro nessa república?) porque uma força maior e mais sinistra se levantou. Fiz isso porque sou apaixonado pelo Pantanal, apesar de sua maldita fauna alada zumbidora e picadora, atraída por repelentes e assemelhados. Porque o inteligente, nesse caso, é preservar e até recuperar o Pantanal, pois é assim que ele rende muito para nós todos. Fiz esse texto e fiz a argumentação baseado em fatores puramente financeiros. Não falei de preservar borboletinha ou jacarezinho. Falo em preservar solos e águas como fatores de produção de renda turística. Não é um texto ambientalista, ou preservacionista, ou texto de bicho-grilo. Deus me livre! É um texto em defesa do ganhar dinheiro com a natureza. A curto, médio e longo prazo.

Afinal, eu sou um cara materialista e interesseiro. Mas eu ainda aprendo, e um dia hei de mirar-me em exemplos de desprendimento e pureza como tantos que hoje vemos nas manchetes. Um dos quais até mencionei aqui.



Ops, à guisa de post-scriptum: o governador que disse que a ministra “fala besteiras”, como diz seu “nome” – do PT – é do mesmo partido que a ministra, o PT; e fico me perguntando quais desconhecidos fatores teriam levado um governador de estado a falar assim de uma ministra de estado e colega de agremiação?
.

Nenhum comentário: