sexta-feira, setembro 16, 2005

A crise e seus resultados



Ótimo, tudo vai bem.

Temos, finalmente, uma musa que, a respeitosa distância, me parece nada ficar a dever a outra musa de priscas eras, esposa, também, como essa de agora, de outro denunciante de maracutaias & ações assemelhadas. Morena como a outra – a cor do Brasil – e igualmente dona de belas pernas, que os fotógrafos não se cansam de “flagrar”. Aliás, não há como ser musa sem belas pernas. Finalmente, a crise ganhou status, porquê, vamos e venhamos, não há crise que se preze que não tenha sua musa.

Essa crise andava chinfrim, tal como tinha começado, crise barata, suborno de três mil reais, coisa de pobre, não é mesmo? A primeira tentativa de musa, inclusive, deu com os burros n’água. A candidata não era dona de predicados “a nível de” uma crise de primeira classe. Nesse quesito dos predicados essenciais a uma musa, ela estava mais para o Marinho dos Correios do que para o Pedro de outrora. Mas agora com Diana, a musa, a coisa vai. Finalmente.

Eu já andava irritado com essa crise que me parecia de meia pataca. Suborninho de três mirréis, Fernanda Karina pra cá, Gabriela Kenya pra lá, gente que só sabe dizer “num sei” e os mais instruídos e desenvoltos só sabendo falar “não sei”, torturador de galinhas ganhando destaque, virando muso e as desculpas esfarrapadas. Ah, cada desculpa. Teve um que disse que a mulher foi ao Banco Rural pagar a conta da Sky. E saiu de lá com cinqüenta mil reais! Que beleza isso, e eu aqui, besta e pobre, pagando a mesma conta da Sky em débito automático na conta-corrente. Mas já mudamos isso. Combinamos que, doravante, minha mulher irá todo mês ao banco para pagar a Sky na boca do caixa. Previdente que sou, fui ao meu camelô de confiança, que negocia o melhor dos produtos do jet set, e já comprei uma bela valise tipo 007, com fecho de segredo e tudo, daquelas mais altas, mais gordinhas. Ali cabem com folga os cinqüenta mil que esperamos ganhar num dos pagamentos da conta da tv paga. Falando nisso, só me falta descobrir uma agência do Banco Rural aqui em São Paulo. Alguém sabe onde tem uma?

Essa crise tem provocado coisas incríveis. A mais espetacular delas foi, sem sombra de dúvida, o silêncio de dona Marilena, famosa intelectual orgânica do partido no poder. Calou-se a sábia por não saber o que dizer. Instada a dizer alguma coisa, e sem o auxílio de algum texto adrede preparado que pudesse usar como cola, digo, como guia, dona Marilena abriu a boca e falou um monte de asneiras. Nem vou repeti-las, pois me senti pessoalmente atingido. Mas seu silêncio, enquanto durou, foi de ouro. Pena que acabou.

No Estadão, Arnaldo deitou e rolou, espojou-se, mesmo, em cima da crise. A ponto de provocar uma resposta de Luiz Fernando, bem escrita, claro, que ele não é de escrever mal, ao contrário do infeliz que digita essas mal traçadas, mas chocha, me lembrando aqueles panfletos incendiários que rodávamos em mimeógrafos clandestinos preparando a Revolução, a Queda de Brasília e a tomada do poder. Mas de uma frase eu gostei: “Filósofos de porta de federações de indústrias que dizem aos donos do poder o que eles gostam de ouvir e dão respeitabilidade intelectual à rapinagem de um país pela sua própria elite...” Linda, não é mesmo? Ah, quem me dera ter escrito algo parecido nos áureos tempos de outrora! Quem sabe, por conta de tanto talento tivesse eu permanecido a bordo da política e hoje, por que não, poderia ser o escrevinhador dos discursos do príncipe – ops, príncipe é o outro, esse é o companheiro líder – e beneficiário da generosidade delúbio-valeriana. Na pior das hipóteses teria corrido mundo, fumado muitos Cohibas, bebido algumas taças de Romanée Conti (coisa que não hei de morrer sem antes fazer), viajado a bordo do FAB 01 (pronuncia-se fábi zero um, AeroLula é pura maldade) e, finalmente, e mais importante, poderia já começar a receber polpuda aposentadoria, garantia de dias futuros felizes e despreocupados, independente do leite custar xis ou ipsilone.

Filósofo de porta de federação... Taí, gostei mesmo.

Ainda no Estadão, mais bonitinho, mais levezinho na aparência, mas ainda vetusto, grandes avanços na linguagem. Além dos termos sexuais que o Arnaldo vira e mexe introduz em seu texto (epa! Alto lá! Se o dele se dá a esses despautérios, esse aqui não, esse é um texto sério e careta...), ninguém menos que o Damatta, antropólogo de nomeada, introduziu um sonoro e bonito PQP em seu texto. Um PQP! Tá certo que desse jeito, abreviado, mas em caixa alta, sonoríssima, e sempre um PQP, né? Um grande avanço. Na falta de melhorar umas trinta posições no IDH, esse avanço já é alguma coisa. Ninguém poderá dizer que o país ficou estagnado nesse governo.

Completando o quadro de avanços e conquistas da atual administração e da atual legislatura, temos a introdução (esse cronista anda lendo demais o Arnaldo e o Dalton) de novos vocábulos na língua: mensalão e mensalinho. A par desses dois, toda uma série de termos foi redefinida em seus significados. Como caixa-dois, suborno, corrupção e outros. Gente, sem má vontade, por favor. Isso tudo não é pouca coisa. Não é feito pra qualquer um, demanda muita ciência e desprendimento. E é, também, a prova definitiva de que esse governo e legislatura não entrarão para a história pela porta de despejo de lixo: entrarão pela abertura das capas dos futuros dicionários e inquéritos policiais.

A vida segue seu curso, ligeira, rumando para o fim do inverno e a chegada da primavera.

Diana, a musa, voltou a sorrir.

Tudo vai bem.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Estava sentindo falta dos seus comentários políticos. Vamos saudar a musa que o tornou falante.