domingo, setembro 11, 2005

Objeto de desejo

Um refresco em meio à crise.

No momento, esse é o meu objeto de desejo. Mais que isso, é a minha maior necessidade, além de comida para o rebanho atual e mais uma meia dúzia de vacas no leite pra poder pagar as contas básicas de salários, taxas, contabilidade e uma parte da comida. O resto, pra variar, eu seguirei bancando. Afinal, sonhar custa caro, ainda mais se tiver vacas e leite no meio.

Sim, sim, a foto, esqueci da foto.





Pronto, eis a foto. Perdido no meio do canavial da usina, que arrendou as terras dessa fazenda e “canaviou” tudo, está esse retiro pra leite. Em bom estado, bom tamanho – 15 metros de comprido por oito de largura – e boas madeiras, com colunas 20x20 de concreto. Coisa fina. Preciso desse trem para tirar o leite das vacas com mais higiene e conforto do que é feito hoje, além de reduzir a trabalheira e melhorar o rendimento do pessoal. Em teoria, ao menos. Além disso, numa ponta terei espaço para guardar equipamentos, para colocar a picadeira de cana e capim e a trituradora de grãos, guardar os tambores de ração, etc. Um sítio sempre precisa de mais instalações, de mais adubo, de mais isso, mais aquilo, é um precisar infinito.

Pra fazer um retiro novo, bem simples, zero quilômetro, terei um custo por volta de oito mil reais. Esse aqui, que o dono pensa em vender, até pra desocupar o terreno, desmontado e remontado, com mão-de-obra, mais algumas coisinhas, me sairia por volta de quatro mil reais. A metade do preço, portanto. Muito atraente.

Como o dólar está baixo – girando na casa dos dois e trinta - o leite argentino fica muito barato para importar e os nossos laticínios ficam muito caros para exportar. Resultado? O preço pago pelos laticínios aqui dentro, para os produtores, despencou. Hoje, a maioria está recebendo entre quarenta e quarenta e cinco centavos por litro de leite em plena seca, quando o preço, historicamente, sempre foi alto. Até poucos meses atrás, recebíamos entre cinqüenta e oito e sessenta e cinco centavos. Qual a indústria urbana que sobrevive a uma queda como essa?

O produtor de leite vai tocando a vida, até porquê é o que ele sabe fazer e está preparado para fazer. Mas eu tenho vizinhos que, além desse preço aviltante, ainda estão com o pagamento atrasado e muito. E é gente que depende do leite para viver. O que se consegue vendendo vacas para o açougue, vendendo bezerros e novilhas, tudo a preço vil, naturalmente.

Ah, esqueci de dizer: o custo de produção do leite mais barato, mais barato, mais barato mesmo, tirado do nada, gira em torno de quarenta centavos o litro. Mas o produtor por menos tecnificado que seja, já tem um custo a partir de cinqüenta centavos por litro. Daí pra muito mais. É só fazer uma continha simples pra descobrir que o produtor de leite, em boa parte do tempo, produz leite a bem dizer de graça para o povo desse país severino. E lulino. E fernandino. E etc e tal.

Bom domingo per tutti.


P.s. – eu disse lá no alto que era um refresco em meio à crise?; então, pirei.



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