quarta-feira, setembro 07, 2005

Procura inútil



Conta-se que na Atenas do século IV aC, viveu um filósofo grego chamado Diógenes. O que o tornava diferente de tantos outros filósofos é que andava por Atenas e outras cidades do mundo helênico com uma lanterna acesa em plena luz do dia. Procurava por um homem honesto. Ao que consta, não o encontrou.

O Congresso Nacional é constituído, se a memória não me falha, por 594 parlamentares, dos quais 81 são senadores e 513 são deputados (talvez o número de deputados seja maior, realmente não recordo). Arredondemos tudo para 600, fica mais barato, até porquê, como é coisa com dinheiro público, aumentar esse número em mais meia dúzia ou duas dúzias, mossa nenhuma fará aos nossos bolsos privados. Estabelecido o número, voltemos a Diógenes. Solto, hoje, nos salões de mármore e nos corredores acarpetados do Congresso, o filósofo com a lanterna teria uma trabalheira enorme para nada encontrar. Voltaria para Atenas com as mãos abanando.

Ou nem tanto. Em meio a tanta gente esperta e bem-sucedida na atividade parlamentar, ele provavelmente voltaria por via aérea, com uma passagem patrocinada e o direito a acompanhantes, tudo na primeira classe, e ainda com direito a um mensalinho por conta do uso de seu nome pela companhia aérea, numa negociação envolvendo um dos grandes marqueteiros tupiniquins, cujos estipêndios seriam depositados em Atenas. E tudo isso, naturalmente, seria, digamos, gerenciado por um nobre deputado entre os muitos ansiosos por gerenciar qualquer coisa assim, huummmm, com alguma sustança, alguma substância.

Em poucos meses seremos obrigados, sob pena de multa e processo, a votar. Ou a justificar porquê não o fizemos. Nesse momento, essa me soa como a mais patética, a mais irônica, a mais imbecil, a mais inútil lei dessa república de muitas leis e mais ainda descumpridores das leis.

Pode ser que algo mude até lá, que um cometa do qual só a NASA tem conhecimento caia sobre a terra, ou que um mega-terremoto gere a mãe de todas as tsunamis, ou que surjam políticos efetivamente honestos, mas, nada disso acontecendo, o máximo que farei para não correr riscos burocráticos/judiciais, será dar um pulo de má vontade à escola mais próxima do sítio e ali “justificar” meu voto. Não terei estômago sequer para olhar a cara da urna eletrônica e anular meu voto.

Pois acho que nem mesmo a urna Diógenes encontraria.

Feliz Dia da Pátria para todos.

:o)

.

4 comentários:

Anônimo disse...

Inútil,

a gente somos inútil,

Inútil,

a gente somos inútil!!!

Anônimo disse...

Esse artigo deveria ficar pendurado na parede de todas as escolas onde se fosse votar, e ser leitura obrigatória, pois brasileiro tem memória curta. Parabéns

Anônimo disse...

Eu voto na Rikinha, que não nos arrastará pro brejo. :)

Vi os últimos ipês floridos de Brasília e lembrei do fotógrafo de palavras/escritor de imagens.

Emerson disse...

Maria Helena e Ana, muito obrigado.

Gostei desse "fotógrafo de palavras/escritor de imagens".

:o)