Esta é a Roxane.
Ela é uma vaca Simental, vive na Suíça, em bonita fazendinha nos pés dos Alpes. Coisa de paisagem de cartão-postal, aquele tipo de postal e imagem que aprendemos a associar com bem-aventurança, abundância, paz e beleza.
Roxane tem outra característica: é um bom partido. Ganha 3 dólares por dia do governo suíço simplesmente para ser o que é: uma vaca.
Na Noruega também há bons partidos, ganhando seus 1.000 dólares por ano.
Esses pagamentos são ilustrativos dos famosos subsídios que os países ricos pagam aos seus produtores rurais para que possam manter-se no negócio de produzir alimentos. Enquanto eles se mantêm, seus colegas por todo o Terceiro Mundo vivem mal e porcamente às custas do mesmo negócio , essa coisa atrasada e sem charme ou importância que é produzir alimentos.
Esses mesmos países ricos que dão mil dólares por vaca, por ano, dão entre 61 e 84 centavos de dólar por habitante, por ano, como ajuda aos países pobres do planeta.
Os mil dólares de noruegueses e suíços representam o topo da tabela, mas os outros países não ficam muito atrás, inclusive a França e a Holanda e os Estados Unidos. Periodicamente, milhares de toneladas de manteiga e queijos produzidos por essas potências inundam o mercado internacional, derrubando drasticamente os preços e até inviabilizando a venda dos produtos locais. Ao charme insuperável de passar uma manteiga holandesa no pão nosso de cada dia, e comer um pedaço de um queijo americano ou francês, junta-se o preço convidativo, quase de graça, se pensarmos em toda a aura de qualidade e pureza que acompanham produtos de tão nobres origens.
Tais subsídios chegam ao cúmulo, em muitos casos, de serem pagos em dinheiro mesmo! Pena que produtor rural é tudo igual, e os caras usam o dinheiro para melhorar uma coisa aqui, consertar outra ali, na propriedade. Se pelo menos embarcassem para esses trópicos convidativos, deixando para trás o gelo do Wisconsin e da Noruega...
Por aqui o produtor de leite tupiniquim vai tentando sobreviver, recebendo entre 40 e 50 centavos de real por litro entregue. E recebendo com atraso, o que já é considerado bom negócio, pois não receber é parte do negócio. Na hora de comprar um farelo de alguma coisa – soja ou algodão, por exemplo – a faca entra fundo e remexe, matando o bolso do pobre coitado. E isso porque temos farelos pra dar e vender. Na hora de comprar uns tantos quilos de adubo para dar um trato, fazer um agrado aos pastos combalidos, nova cacetada. Deveria até escrever Cacetada, pois a danada é maiúscula de tão grande e bem desenvolvida que é.
Enfim, ontem começou a primavera.
No Sítio das Macaúbas já caíram umas garoinhas. Pouco, quase nada, longe de dar alguma garantia para jogar um pouco de adubo no chão. Mas já é um alento. Os preços continuam do mesmo jeito, baixo para o leite, altos para os insumos todos.
Enquanto isso, na Suíça, as vacas já começam a passar mais tempo em belos e climatizados estábulos. Um deles custou a bagatela de US$ 600,000.00 – mas é uma beleza. Daniel Jouan, o feliz dono da não menos feliz Roxane, tem um lucro líquido de US$ 80,000.00/ano. E diz, sem constrangimento, que 70% de seu faturamento é dado pelo governo, e não pelo que produz e vende para o mercado.
É... ser vaca na Suíça e na Noruega é muito bom.
E como toda vaca dessas terras é um bom partido, melhor ainda é ser dono de vaca em tão aprazíveis países.
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3 comentários:
Aqui na Suiça inclusive, qdo elas sobem pros pastos no inicio da primavera, a luta entre vacas para decidir qual será a lider durante a "saison" chama-se "Le combat des reines"... E a rainha é coroada, leva o sino mais belo ao pescoço,e é aclamada por um publico cada vez maior!
Emerson, suas observações acerca da manteiga holandesa provocaram certa imdagação: quando vamos valorizar a importância daquilo que os francêses (tudo bem, é outra questão...) denominam o "terroir". O valor do produto local...
É por isso que admiro o trabalho da Slow Food International.
Fundada na Itália, concebida durante um almoço na Chapada Diamantina.
Veja aqui: http://www.slowfood.com/
Pessoal,pelo amor de Deus,vocês sabem dizer qual é a raça daquela vaquinha Suiça que está no rótulo da propaganda de yogurt ou de chocolate ou de leite mesmo sei lá,é muito lindinha,parece meio peludinha com sininho no pescoço?
Malu.
portal.11@uol.com.br
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