Nunca passamos por uma situação de falta de comida nos mercados.
Creio que o mais próximo que estivemos disso foi durante o malfadado Plano Cruzado, no governo Zé Ribamar. A carne sumiu dos mercados devido ao controle artificial de preços. Mas estava viva, em pé, abundante, nos pastos de todo o Brasil. Ou seja, foi uma falta artificial que só gerou matérias nos noticiários e permitiu a geração espontânea de um monte de espécimes de “fiscais do sarney”, uma nova variedade da espécie Homo sapiens var. brasiliensis.
Mas os relatos da vida cotidiana nas cidades européias durante a I e a II Grande Guerra são dramáticos. A ausência total de gêneros alimentícios, o mercado negro, o desespero da fome levando a cenas inimagináveis, como gente comendo ratos... E não só. A memória difusa, o inconsciente coletivo ou o que quer que seja do europeu, tem marcadas lembranças de períodos de fome aguda até mesmo na ausência de guerras. Ainda no século XIX, a fome grassou e provocou vítimas em muitos cantões da atual Suíça. Todos os países europeus passaram por provações terríveis, com a fome trazendo a reboque doenças e mortes.
Acredito que eventos como esses ficam marcados no “DNA” das sociedades.
E também nas práticas e crenças dos governos, que nada mais são do que porções organizadas das sociedades a que servem.
(Aqui na Terra de Vera Cruz é a sociedade que serve ao Estado, numa lamentável inversão de valores...)
Talvez por fatos assim, os europeus, bem como japoneses, chineses e outros povos asiáticos, dêem tanta importância à manutenção de um pouco que seja de agricultura em seus países. Em nome de um mínimo de segurança alimentar numa emergência.
Claro, estamos no século XXI, e coisas assim, emergências desse tipo são inimagináveis. Pode ser. Mas era esse o pensamento dominante no final do século XIX, o Século das Luzes, e pouco depois o continente era mergulhado em verdadeira carnificina, que repetir-se-ia duas décadas depois.
A manutenção dos subsídios é sempre apontada como fruto dos grupos de pressão e acredito nisso. Esses grupos existem e são fortes, defendendo ferrenhamente seus interesses. Mas não acredito que seja só isso. Tenho cá comigo a certeza que, na hora do executivo encaminhar o projeto e na hora do parlamentar votar o projeto, lá do fundo, de algum lugar remoto do ser, vem a determinação clara e simples: vamos garantir um mínimo de comida nossa para nós mesmos.
E aí, azar nosso nesses terceiros mundos fadados a produzir comida barata e minerais idem, ao lado de industrializados poluentes.
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