sábado, setembro 30, 2006

Orgulho e Vergonha


Apenas US$ 19,999,000.00 (dezenove milhões e novecentos e noventa e nove mil dólares) separam-me de Anousheh Ansari e sua viagem à ISS, em órbita da Terra. Ela pagou 20 milhões pelo passeio e eu só poderia pagar, com algum esforço, mil dólares. Um mil dólares, ou, em gramática bancária, “hum” mil.

Irrelevante, mero detalhe sem importância, como tudo que é definido por ter mais ou menos dinheiro. Como ser humano, senti-me orgulhoso por sua viagem, acompanhei seu blog e arrependi-me por não ter deixado ali nenhum comentário.

E que belo blog! Para mim, e sem trocadilho, um dos pontos altos da jovem história da blogosfera.

“I was finally able to take a look outside and saw the Earth for the first time… Tears started rolling down my face. I could not catch my breath… Even thinking about it now still brings tears to my eyes. Here it was this beautiful planet turning graciously about itself, under the warm rays of the Sun… so peaceful…so full of life… no signs of war, no signs of borders, no signs of trouble, just pure beauty…


How I wished everyone could experience this feeling in their heart, specially those who are at the head of the governments in the world. May be this experience would give them a new perspective and help bring peace to the world.”



(Finalmente pude olhar para fora e ver a Terra pela primeira vez. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Minha respiração ficou descompassada. Só de pensar nesse momento me enche novamente de lágrimas. Aqui está esse lindo planeta girando graciosamente ao redor de si mesmo, sob o calor dos raios do Sol. Tão pacífico, tão cheio de vida, sem sinais de guerras, sem sinais de fronteiras, sem sinais de problemas, apenas pura beleza.

Como eu gostaria que todas as pessoas pudessem experimentar esses sentimentos em seu coração, especialmente aqueles que estão à frente dos governos
em nosso planeta. Talvez essa experiência desse a eles uma nova perspectiva e ajudasse a trazer paz ao nosso mundo.)

“...sem sinais de fronteiras...”

Todo o orgulho, emoção, satisfação que as palavras de Anousheh proporciona, são destruídos pela leitura da nota informando que, ontem, o Congresso dos Estados Unidos aprovou verba no valor de 1,2 bilhão de dólares para a construção de um muro duplo em boa parte dos 1.226 km de comprimento da fronteira com o México.

Junto com o conhecimento dessa infâmia, vem a lembrança do muro construído pelos israelenses em Jerusalém, separando israelenses e palestinos.



Que vergonha...

Cresci lendo sobre o vergonhoso Muro de Berlim, uma afronta à democracia, ao entendimento e ao livre trânsito das pessoas. Durante muito tempo aquele ignominioso muro foi, para mim, símbolo de opressão e vergonha.

Parecia que ele nunca cairia, nunca sairia dali, deixando o mundo engessado e dividido. Até que um dia o muro maldito foi derrubado. Não caiu por podre ou velho, foi derrubado pelas pessoas comuns, sem tratores ou explosivos, simplesmente usando martelos e picaretas, e, sobretudo, idéias. De liberdade, fraternidade, igualdade... Idéias velhas e bonitas, que hoje parecem fora de moda.

Agora, o símbolo da vergonha está no Oriente Médio, na cidade onde nasceram três grandes religiões. E, em breve, estará instalado na terra da liberdade, no país que por muitas décadas, por mais de dois séculos, foi a tradução para milhões e bilhões de pessoas de terra da liberdade e das oportunidades.

Não mais. O terrorismo e a intolerância venceram.

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