quarta-feira, junho 01, 2005

Deep Throat - Um segredo que se vai

Um segredo que se vai


Bicho homem - e mulher tanto ou mais – adora um segredo. Segredos têm sido a mola que impulsionou descobertas e avanços. Além de terem gerado milhares de obras literárias as mais diversas, desde os contos das 1001 noites até os assassinos de Dame Agatha e os mais modernos e escabrosos do Dennis Lehane. Eu me amarro num segredo.

Por exemplo, o segredo de Fátima. Aquele que envolvia a terceira predição que Nossa Senhora teria feito às crianças portuguesas no início do século passado. Como se especulou em torno dele! Ainda hoje eu tenho dúvidas se a revelação do segredo foi a verdadeira. Ainda hoje, pasmem, ponho-me a pensar se não será esse um segredo tão escabroso que é melhor manter seu conhecimento trancado. E acho que a Igreja seria bem capaz disso.

Um segredo só tem valor enquanto permanece como tal. Revelado, perde a graça, o charme, perde o mistério, perde aquela condição única de mito, de algo que dá margem à imaginação.

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E lá se foi Deep Throat. Sabíamos que era um homem, afinal, quem não viu “All the President’s men”? Além disso, Bernstein e Woodward jamais esconderam essa informação. E, caso Deep Throat fosse uma mulher, sua descoberta teria ocorrido já nos primeiros dias depois de sua aparição nas páginas do Washington Post. Pela simples razão de haver poucas mulheres nos altos escalões naquele tempo.


Há pouco mais de 30 anos convivemos com esse segredo. Filmes, livros, inúmeros artigos em jornais e revistas e programas de tv foram escritos e produzidos a respeito. E agora, numa simples matéria na Vanity Fair (puxa, poderia ter sido num palco mais nobre, reclama meu lado elitista e esnobe) revela-se a identidade de Deep Throat: Mark Felt, à época o número 2 do FBI. Em 1973, um ano antes do desenlace, o próprio presidente Nixon indaga se não seria ele o informante, como viemos a saber a partir da revelação das fitas gravadas pelo presidente. Inquirido, negou firmemente ser ele a fonte dos dois repórteres.

Agora sabemos. E, sabendo, entendemos como ele brincava tão bem com Woodward, num jogo de gato e rato e esconde-esconde, onde ele era rato e gato ao mesmo tempo. Watergate foi um pecado na vida e na carreira de Richard Nixon. Entre os presidentes americanos do pós-guerra, creio que foi ele o maior, se não o único estadista. Bem ou mal, acabou com a guerra no Vietnã. Gerald Ford ficou com a tarefa de rescaldo. Trouxe a China para o mundo, no que foi, talvez, seu maior mérito, sua maior conquista. Com a União Soviética criou um ambiente de relativa tranqüilidade para todos nós, que vivíamos, vivemos ainda embora ninguém pense a respeito, sob guarda-chuvas nucleares. Foi ousado e inteligente ao colocar um alemão naturalizado – Henry Kissinger - na poderosa Secretaria de Estado. E com poder real sobre a política americana, criando e formulando.

“Ah, mas ele era republicano.” Bullshit. Isso só tem valor internamente. Na verdade, se pensarmos bem e fizermos uma análise cuidadosa, presidentes democratas costumam ser mais daninhos ao resto do mundo que os presidentes republicanos. Mas, também, em filigranas, nada de substancialmente diferente. A verdade é que com Richard Nixon na presidência, o mundo tornou-se um lugar menos inseguro.

E sou-lhe grato por isso.

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Mark Felt hoje, aos 91 anos de idade (ao lado de sua filha Joan)


file:///C:/Documents%20and%20Settings/Cia% Posted by Hello

Hummmm... Acho que esperava mais de Deep Throat. Estranho dizer isso, mas saber que ele era o número 2 do FBI é um pouco frustrante. Talvez eu deva ler menos thrillers políticos e assistir menos filmes com Redford (Redford? - o cara meio que se aposentou, estou ficando velho). Durante muito tempo pensei que fosse o Haldeman. Sei lá porquê. (H R Haldeman foi o chefe da Casa Civil de Nixon.)
Acho que muitas páginas da História começam a ser fechadas.

Por aqui, temos que aprender a lidar com o monstro China. Agora, caindo na real, o governo da Terra de Vera Cruz quer impor alíquotas para vários produtos chineses. Mais depressa do que pensavam nossos burocratas ingênuos e nossos dirigentes ainda mais, os chineses já retrucaram forte: se der, vai levar! Brasília treme. Nixon e Kissinger trouxeram o monstro para o século XX e XXI. Agora aguenta.

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