sábado, junho 18, 2005

Sabatinas juninas


Sábado em São Paulo. Daqui a pouco vou sair um pouco e bater pernas em alguns sebos. Encasquetei com a poesia do Fernando Pessoa. Quero porquê quero sua obra completa, editada pela Aguilar. Nas livrarias está R$ 120,00 e achei meio caro. Pro meu bolso, não pelo livro. Vi num sebo pelo mesmo valor. Caro. Vou procurar nos sebos de Pinheiros. Se achar por um preço bom, algo como 50 a 80, compro e dou minha contribuição pra esse comércio tão importante, gostoso, charmoso e relegado a segundo ou terceiro plano entre nós.

Tenho feito compras de livros pela internet. Os preços são menores, não tenho que ir pra São Paulo, pegar trânsito, pagar estacionamento, etc. Aliás, tenho comprado meus livros ou na net ou na livraria do aeroporto, algo que é uma tradição e um hábito, quase uma obsessão. E a livraria do aeroporto é tão cômoda e bem fornida como as livrarias internéticas. Pena que o preço seja o de lista. Contudo, ao comprar via net me baixa um baita sentimento de culpa. Estou deixando de movimentar uma livraria, contribuindo para diminuir um emprego, embora o comércio eletrônico também gere seus empregos, mesmo porquê se eu não vou buscar o livro, alguém tem de trazê-lo pra mim. Ou seja: empregos, mesmo por esse canal. Meu comodismo e a economia de caraminguás têm superado o sentimento de culpa. :o)

CPI: a Tereza Cruvinel disse que vai usar uma idéia que postei num comentário numa nota sobre a CPI. Legal, gostei disso. Mas escrevi uma coisa bastante óbvia. Há muito bate-boca porquê o governo está tentando, e conseguindo, nomear presidentes e relatores das CPIs. Tirando o fato de todo governo fazer isso, se para tanto tem condições de voto, a verdade é que uma CPI tem uma dinâmica toda própria, tem uma vida independente, por assim dizer, de seus mentores e gestores. Ela mesma se constrói a cada depoimento, a cada sessão. Basta um só deputado ou senador inquirir bem, pegar pesado, com uma testemunha-chave e pronto: tá solto o bicho. E aí, uma vez solto é difícil segurar.
CPI a gente sabe como começa. Mas nunca sabe como termina.

Tchau CPI, de volta à culpa. Outro sentimento de culpa vem da permanência em São Paulo, não ir pro sítio. Mas o melhor a fazer é eu ficar por aqui hoje. A 2a-feira vai ser corrida e é bom começa-la bem cedo. O mais cedo possível. As vacas têm ração. As vacas têm feno. As vacas estão bem, dentro do quadro de pouca comida que ainda temos. Não ir hoje implica num atraso de uma semana em relação às medidas para o semestre que vem aí. Atraso na coleta de solo para amostra. Atraso na compra do calcário e do adubo. Bom, paciência. Ficar, por outro lado, me ajuda a garantir o din din necessário para tocar o sítio pra frente.

Tá na hora. Vou aos sebos.


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A caipirinha tá gelada, as pedras de gelo sobrenadam, semi-escondendo as fatias de limão. A pinga é da “boa”, como se deve. Honesta e pura, conseqüentemente, saborosa. Enquanto a R. folheia um de meus achados em sebo, o primoroso”Fogão de Lenha”, da Maria Stella Libânio Christo , edição de 77, com suas receitas das Minas Geraes de séculos passados, receitas de sertão e de fazendas, beberico a caipirinha e comento de uma receita simples mas trabalhosa: - É receita pro tempo da escravidão. Uma virada de página e lá está a gravura belíssima de Debret, com a mesa servida, Nhanhá e Nhonhô comendo. Nhanhá, com sua proverbial bondade de católica devota, dá alguns petiscos a duas crianças nuas, pretas, ao lado da mesa, brincando e comendo. R. comenta: - Coitadinhos. Retruco: - Esses não, passavam bem, comiam bem, coitadinhos eram os outros, o tempo todo na senzala. Fechamos o livro e a bucólica cena comum há meros 130 a 140 anos. Venho pro computador, a net me espera com as notícias do mundo, enquanto a feijoada que recém-trouxe do restaurante é preparada pra ir à mesa.

Feijoada feijoada. Nada daquela coisa ridícula e insossa a que chamam “feijoada light”. Irc...
Puro marketing, propaganda enganosa da pior qualidade. O suposto responsável (existe?) pelo patrimônio histórico e artístico nacional deveria processar todos que cometem esse crime contra nossa história, nossa culinária, nossas tradições. Querem fazer, façam-no, mas dêem-lhe o nome correto: feijão preto com carne seca e paio. Feijoada tem que ser como essa:

- Tem rabo de porco?
- Tem, sim, senhor.
- Tem orelha de porco?
- Tem, sim, senhor.
- Tem pé de porco?
- Tem, sim, senhor.
- Tem pele e língua?
- Tem, sim, senhor.
- Ah, bom, então tá bom, é feijoada feijoada. Pode servir.
- ...
- Ah, por favor, mais uma caipirinha e mais torresmos. Obrigado.

Torresmo... hummmmmmmm... Delícia! E nesse ponto eu é que sou moderno e light: gosto com pouca gordura e muita pururuca. Mas eu sempre fui assim, desde molequinho. Gostar, mesmo, eu gosto é da pururuca.

Ops, mais gelo na minha caipirinha. Tá certo que não vou dirigir, mas meu fígado vai digerir. Portanto, mais gelo no copo.

(Sim, sim, fígados não digerem, mas o meu digere pra dar rima e ritmo, ok?)

E agora com licença, a feijoada feijoada me espera. Ansiosa. Ou eu é que estou ansioso? Acho que nesse caso a ordem dos fatores não altera o produto. Fui.

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