sexta-feira, março 31, 2006

Obrigado, Senhor Bandido



Obrigado, Senhor Escroque.

Obrigado, Senhor Larápio.

Ironia? Não! Não estou ironizando, ou talvez esteja um pouco, mas estou agradecendo mesmo.

Presidente? Senador? Juiz? Deputado? Não, por incrível que pareça o bandido ou larápio ou escroque a quem agradeço não é, que eu saiba, nada disso. O que realmente é meio inédito.

Vamos lá, vou desfazer esse suspense pobre, até porque meu humor está ótimo, com o bolso recheado de gordas notas de cinqüenta e, muito em breve, minha conta bancária também. Tudo começou na manhã de ontem quando o telefone tocou.

- É o “seu” Emerson?
- Sim, pois não...
- Meu nome é Robério e eu estou vendo aqui que o senhor tem umas ações da Petrobrás.
- ...
- Então, “seu” Emerson, o senhor não quer vende-las?
- Puxa, eu nem me lembrava mais dessas ações – falei enquanto pensava com meus botões que o cara estava errado, pois eu já tinha vendido todas minhas ações anos atrás.
- Então, “seu” Emerson, o senhor tem umas ações aqui e a gente pode comprar do senhor.

Enquanto ele falava, eu pensava. É, pensando bem, pode ser, sim. Acho que deixei meia dúzia de Petr PN pra trás. Pode ser, mas deixa eu ver o que o cara diz.

- É, acho que vou vender sim, puxa, eu nem lembrava mais dessas ações. Tem quantas aí?
- Ah, é um bocadinho, dá um dinheirinho bom.
- É mesmo? Elas estão a quanto?
- A gente está pagando dez reais cada uma, vai dar uns bons reais.

Uau!!! Ganhei o dia, pensei exultante, mas me mantendo quieto.

- Olha, você me pegou no meio de um trabalho chato aqui, dá pra você ligar mais tarde, depois das onze horas?
- Ah, claro, eu ligo.
- Ou então me dá seu telefone e seu e-mail e eu te ligo.
- ...
- ...

Curioso, tão falador antes, tão silencioso agora.

- O senhor quer meu telefone pra me ligar?

Não, Pedro Bó, pensei, quero teu telefone pra fazer um colar e pendurar no pescoço.

- É, mas você pode me ligar depois, eu preciso acabar esse trabalho.
- Ah, então tá bom, eu ligo pro senhor mais tarde.

Desligamos. O que ele fez eu não sei, mas eu peguei o jornal, abri o caderno de Economia e fui ver as cotações das ações, coisa que fiz durante alguns anos com muito prazer e muito pânico, muita alegria e muito ódio. Corri os olhos e lá estava: Petr PN – fechamento a R$ 43,15. Hummmm... Uma pequena diferença em relação aos “dez real” da proposta. Fiz minhas contas de cabeça – sou bom nisso, só não sou bom em ganhar dinheiro – e pulei de alegria, mas em silêncio.

Abri o site da Petrobrás e liguei pro zero oitocentos de atendimento a acionistas. Contei o “causo” pra atendente e ela me pediu pra mandar um e-mail com meu nome e fone, o que fiz de imediato.

O Robério me ligou de volta, mas, simulando boca cheia, pedi-lhe para ligar depois do almoço.

À tarde, ligou outro cara, cujo nome esqueci, mas que se anunciou como “colega do Robério”. Fez minha cabeça. Pagamento cash, “seu” Emerson, é só o senhor dar seu CPF, RG e assinar a transferência. Como o volume é pequeno, pagamos um pouquinho menos, né, o senhor entende, mas também não cobramos comissão, nada disso. Ah, mas vocês são de uma corretora, né? Sim, claro. Bom, fulano, deixa eu pensar um pouco, vou falar com minha mulher e amanhã eu decido.

Pois bem, jacaré ligou? Nem eles.

Nessa manhã, sem resposta da Petrobrás ao meu e-mail, liguei de novo e dei sorte, fui atendido por uma atendente profissional. Pediu meu CPF e em menos de um minuto disse-me tudo que eu queria saber: sim, minhas ações existem, bonitinhas. E mais: tinha dividendos para retirar. Bastava ir a qualquer agência do Banco do Brasil.

E lá fui eu, milagrosamente, para uma agência bancária e do BB ainda por cima! Entrei meio assustado, olhando pros lados, vai que algum vagabundo de gravata e paletó fosse romper meu sigilo bancário, mas nada aconteceu, essa gatunagem criminosa parece ser coisa exclusiva da caixa, aquela caixa. Peguei uma senha, sentei, fui atendido, mostrei meus documentos e... Voilá! Já saí do banco com os dividendos dos últimos três anos. Uma graninha linda, bonita, gostosa de sentir no bolso. Por outro lado, descobri que perdi os dividendos de uns doze ou treze anos. Paciência.

Minhas ações estão lá, mas só por enquanto, pois irão rapidinho pro abatedouro, digo, mercado. E vão se transformar em um notebook, umas garrafinhas de bons vinhos, em algumas dívidas pagas, portanto ex-dívidas e, suprassumo, em três ou quatro vaquinhas boas, no leite.

E tudo isso, gente, graças aos simpáticos e prestativos bandidos que se deram ao trabalho de levantar minhas ações, perceberem que estavam paradas há tanto tempo, caçarem meu telefone – aliás, não faço idéia de como descobriram meu número - e me alertarem a respeito. Que bonzinhos!

Pena que os bandidos governamentais não prestam nenhum serviço tão relevante assim em troca de suas roubalheiras. Humpf... Nossos bandidos oficiais são piores que os bandidos extra-oficiais.

A atendente da Petrobrás disse-me que esse golpe é comum, pois as pessoas compram poucas ações, às vezes, e esquecem delas. Eu esqueci das minhas, mesmo tendo sido um investidor nesse mercado, em priscas eras, diria até que saudosas. Portanto, fica o alerta.

E com isso, se eu não escrever mais nada, bom fim de semana pra todo mundo e olho vivo em suas ações compradas há dez, quinze, vinte anos. Elas podem valer um bocadinho.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei o texto, Emerson!!!

Grande abraço

Nelsinho