terça-feira, março 28, 2006

A gripe chegou


O sábado está nascendo, já estamos na estrada a caminho do sítio.

- Se ficássemos em São Paulo esse fim de semana iria comprar frango no supermercado. Hoje eles estão vendendo a noventa e nove centavos o quilo.

- Noventa e nove? – exclamo surpreso.

- Hum hum... Muito barato, né?

- Cruzes, isso é um absurdo. Nem fala disso pro César e pra Rose mais tarde.

Noventa e nove centavos o quilo do frango limpo, congelado. Finalmente, um alimento mais barato que o leite, quem diria!

À tarde, o César passa em casa, e quando ele chega, a Rosa que já estivera conversando com a Rose, diz pra mim:

- Sabe qual o preço do quilo do frango num mercado aqui perto? Oitenta e nove centavos! A Rose que me contou.

Olho pro César que, meio desanimado, complementa:

- É a gripe.

Sim, sim, sim... É a gripe. Caiu o consumo de frango na Ásia e também na Europa e no Oriente Médio. Milhares de toneladas de frangos prontos para exportação ficaram a ver navios por aqui. O jeito foi desová-los, literalmente, no mercado interno. E tome promoção! Frango a oitenta e nove centavos! Um crime, um crime que ninguém percebe, pois todo mundo só quer tirar vantagem e abastecer o freezer com o máximo de peças possível. Nós mesmos, inclusive, afinal, não somos de ferro.

Os “povos das cidades” regozijam-se e enchem os carrinhos. Muitos ficam pensando em como esses “granjeiros” são terríveis e ganham rios de dinheiro, pois o frango que custava quatro reais agora sai por menos da metade.

Os “povos das cidades” não pensam e desconhecem a cadeia produtiva. Caso essa situação persista, o número de aves alojadas e criadas vai diminuir drasticamente. Vai diminuir, portanto, o consumo de milho e farelo de soja. Aliás, os criatórios d”Europa e Ásia já cancelaram pedidos, pois não têm frangos para comer o milho e a soja exportados pelo Brasil. Mas não é só o consumo de carne de frango que vem caindo, pois o consumidor não migrou para a carne de porco e para a carne vermelha, essa, fora do Brasil, cara demais para receber muitos consumidores novos. Em questão de quarenta a sessenta dias, se tanto, os frigoríficos farão cortes nos seus quadros de funcionários. Muitos já estão com grande capacidade ociosa.

E, com tudo isso, um novo ciclo vicioso de baixas e quebradeiras terá início. Se a gripe de fato virar uma pandemia, os prejuízos econômicos para todos nós serão terríveis. Sem falar, é claro, das muitas perdas de vida que um evento como esse acarretará.

Mas, enquanto isso, o jeito é comprar frango a oitenta e nove centavos de real o quilo. Mas, quando o fizer, saiba que o custo de produção desse mesmo frango, ainda vivo, sem o transporte, abate, frigorificação, embalagem, distribuição, custa praticamente esse mesmo valor.

Bom apetite.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Tempos difíceis que têm tudo para piorar!

Mas é preciso ter esperança...

Que a pandemia não aconteça de fato, que os juros baixem para haver investimento em produção, que o câmbio fique mais propício para os lavradores que exportam, que o terrorismo de invasão no campo seja punido, que...que...

Nelsinho