quarta-feira, março 01, 2006

Uma vitória do governo lulla da Silva




Vencemos! Ufa, um peso a menos a me incomodar.

Nasci e fui criado ao som e letras de “Brasil, o país do futuro”, quinto em extensão, temos o Rio Amazonas, de todos o maior e outras coisinhas, como o melhor café do mundo (besteira, adulto, descobri que os colombianos são melhores, na média, e que o costarriquenho especial é ainda melhor), etc, etc.

Ainda criança, as vitórias em 58 e 62 foram decisivas para mostrar-me que, de fato, era eu fruto de um país e de uma terra abençoada. Em 70, esses sentimentos ficaram ainda mais fortes e, para ajudar, escondido dos companheiros, eu assistia os programas do Amaral Neto, vendo cenas e coisas do Brasil que prometi a mim mesmo um dia ver de perto, ao vivo e a cores. Foi por essa época que a economia desandou a crescer 10% ao ano. Que festa! Envolvido em militância clandestina contra o regime, não curti apropriadamente essa fase milagreira. Mas não posso negar que o que sou hoje é fruto dela, que me propiciou entrar ainda garotão no mercado de trabalho com salário de gente grande. Ascendi social e economicamente, entrei pra “classe média”, comprei casas e comprei carros e o país era vibrante e era o país do futuro. Que beleza!

Tal como a malfadada Copa de 66, tivemos a década de 80, a década perdida, mas não na agricultura, pra variar segurando a barra da Terra de Vera Cruz. E eu já estava ligado à agricultura e não percebi direito essa década perdida, também por fatores outros, digamos, mais festivos. Se no futebol veio 70, para o país veio a nova década. Mesmo com Fernando Afonso no comando, respirávamos um ar de encantamento. São Paulo era Nova York ao sul do Equador, os Jardins eram a nossa Manhattan. Que beleza!

Um dia vimos as “partes” de uma moça sem calcinha, em pleno Sambódromo, à vista do povo e do mundo, tendo ao lado o presidente de plantão dessa república. Mas isso passou, foi algo assim como a Copa de 90, feia e chata e vergonhosa. Veio Fernando Henrique e nos descobrimos civilizados. Sem a inflação , parecíamos mais civilizados ainda. Acostumei-me a ser parte da “oitava economia do mundo”. Já era mais que hora de FHC ter assento permanente no G7, que deveria ser G8 e, já que queriam a atrasada, porém nuclear Rússia, que virasse G9.

Pois sim.

Com lulla da Silva comecei a me sentir bem no início, achando que dávamos uma prova de civilização com nossa transição ordeira e pacífica, educada e cheia de rapapés & salamaleques. O festival de atrocidades e roubos que se seguiu não vale a pena comentar. Não agora, pelo menos.

Bem na boca desse Carnaval 2006, do qual nada vi ou ouvi, felizmente, o governo informou que vencemos o Haiti, o portentoso Haiti, na dura refrega pelos índices de crescimento dos PIBs de LatinoAmerica. Com o magnífico crescimento de 2,3% - dois vírgula três por cento – deixamos para trás o Haiti. Não me perguntem pelo índice haitiano, pois meu gosto pela ironia não vai tão longe. Para meu deleite e satisfação, bastou-me saber que vencemos o Haiti. Continuamos a ser um país vitorioso, curve-se, mundo, perante nós.

Oras bolas, dirão muitos, por que eu não olho para a Argentina do amigo Néstor ou para a Venezuela do neo-palhaço Chavez, que cresceram, praticamente, 10% durante 2005?

Não olho porque aprendi com o presidente lulla da Silva a não ser bobo. Olho para coisas pequenas e desimportantes, ou falo mentiras ou falo meias verdades. Mas esse não é meu negócio, meu negócio é ficar com a verdade e, doravante, minhas referências são Haiti, Togo, Gabão, enfim, esses idílicos países que nosso presidente adora visitar, oferecer mundos & fundos (nossos), em troca de votos na ONU. Votos que, na hora H, têm sido dados aos odiosos ianques e aos não menos odiosos europeus, deixando-nos sem os votos e sem as benemerências praticadas. Ah, o Haiti, é verdade. Está provado que só podemos medir forças com o Haiti. Medir e vencer, é claro, pois vencer é o que importa. Então, viva o Haiti, cuja derrota na lista dos PIBs serviu para preservar a saúde de meu ego tupiniquim acostumado a ser a oitava economia do mundo, a ver a Europa, os Estados Unidos e o mundo curvarem-se ao Brasil.

Obrigado, presidente lulla da Silva, por mais essa brilhante vitória.



Pois é... 1

A primeira-dama dessa República, a Dona Marisa, já tem em mãos seu passaporte italiano. Seus filhos, todos, também têm o mesmo mimo. Aparentemente, esse adorno documental não foi concedido, por não ter sido pedido, ao marido da primeira-dama, também conhecido como presidente da república.


Pois é... 2

O primeiro-filho, via Gamecorps, já recebeu pouco mais de dez milhões de reais de uma empresa de telefonia. Até o final desse exercício esse valor alcançará a bagatela de quinze milhões de reais. Na Gamecorps, lullinha, o primeiro-filho, tem como sócios dois filhos de um ex-prefeito de Campinas, um ex, por sinal, com um histórico à frente da prefeitura campineira recheado de rolos não explicados ou mal explicados. Além desses outros dois gênios, o outro sócio de lullinha, o primeiro-filho, é a empresa de telefonia, cujo primeiro desembolso no valor de cinco milhões de reais foi para comprar uma participação acionária na empresa. Participação minoritária é claro, o que transforma a Gamecorps num gigante virtual. Os outros dois desembolsos de cinco milhões cada, são verbas para patrocínio de um desconhecido programa de tevê feito pela empresa. Nada mal, cinco milhões por ano de patrocínio. O primeiro-filho é um garoto brilhante, digno de ser sócio de Bill Gates, e quaisquer palavras em contrário serão consideradas como crimes de lesa-presidente. Ou lesa-pátria, pois para o presidente uma coisa e outra são a mesma coisa.


Pois é... 3

Assustador. Sandálias e outros calçados, parte deles de couro, estão sendo produzidos por empresas brasileiras. Na China. É, isso mesmo, na China. Fica mais barato do que fazer por aqui. Azar das milhares de pessoas que já perderam seus empregos para os companheiros chineses. Mas o couro usado nos sapatos é comprado no Brasil. Ah, bom, ainda bem.


Pois é... 4

O candidato Lula da Silva prometeu e o presidente lulla da Silva ordenou: que os navios da Petrobrás sejam construídos no Brasil, em estaleiros brasileiros, empregando operários brasileiros. Assim foi ordenado, assim está sendo tentado. Só há um problema: o mesmo navio que os estaleiros tupiniquins cobram 83 milhões de dólares, estaleiros taiwaneses e indonésios oferecem por meros 40 milhões de dólares. Dois pelo preço de um e ainda sobram uns caraminguás. Nada como ser rico e pagar o que for preciso para atender um desejo. E dane-se a competitividade da Petrobrás.


Daria para escrever mais um monte de “pois é”, mas, sei lá, acho que esses já são suficientes.

E, aproveitando, desejo a todos FELIZ ANO NOVO!

Afinal, se os cristãos têm seu Ano Novo, se os chineses têm seu Ano Novo, se os judeus têm seu Ano Novo, nós, tupiniquins, também temos nosso Ano Novo, que inicia-se na próxima segunda-feira, a primeira no pós-Carnaval.



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Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns, Emerson, seu texto é um primor. É para ler atentamente, sentar e chorar até morrer. Um FELIZ ANO NOVO prá você.