Sábado, dez da noite, os olhos já querendo fechar, mas mantidos abertos por conta do episódio da semana de “Gilmore Girls”, gravado em vídeo. Ouço uns barulhinhos meio distantes, meio próximos. Não dou muita bola, o sítio é cheio de barulhinhos inexplicáveis, pelo menos para nós. Dali a pouco, voltam os barulhinhos, parecem choro de filhote... Será?
Deixo a confortável poltrona brega de tirinhas plásticas que não me deixa com dores nas costas e vou até a porta da cozinha.
De cara avisto a fonte do choro:
Só pode ser um dos filhotes da Panda. Abro a porta e o rapazinho entra como se ali fosse seu lugar. A Rosa vem e em poucos minutos o visitante está bebendo leite morno e comendo ração de filhotes de gato. Feliz com a vida, ao que parece.
E agora? Será que ele veio sozinho ou será que foi a Panda que o trouxe? Se foi, ela vai aparecer já, já com outro filhote. Esperamos, nós quatro: Rosa, eu, o sono dela e o meu sono. Um belo grupo.
Se ele veio sozinho, teve que atravessar uns duzentos metros de pasto e curral até chegar aqui em casa. Suas perninhas medem centímetros, assim como seu corpo gordinho. Quantos passos ele terá dado? E que sorte, hein? Nenhuma cobra, nenhum predador noturno em seu caminho. O bichinho é corajoso.
Finalmente, a Panda aparece não traz nenhum filhote, ou seja, ele veio sozinho. Já passa de onze horas, quero dormir. O filhote vê a mãe e se anima, vai atrás dela que foge como o diabo foge da cruz. Em vão. Ela se deita e ele se ajeita para mamar. O bichinho é insaciável. Nessa altura, a Rosa foi dormir e parte do meu sono se foi, sei lá pra onde, e eu fico lendo e vendo tevê, esperando não sei o que. Decido por não levá-lo de volta para a companhia de seus outros seis irmãos e irmãs porque o Esrael e a Maria estão passando a noite fora. Claro, né? E o abacaxizinho fica com a gente.
Bom, o que não tem remédio remediado está. Coloco a Panda pra fora e o filhote dentro de uma caixa plástica, com mais leite e ração, sobre folhas de jornal e mais um pedaço de pano para se manter mais aquecido. Ele olha em volta, choraminga, tenta chantagear, mas dorme. E é o que eu faço em seguida.
Mas qual! No limiar do primeiro sono, sou despertado por seu choro.
Como é duro despertar e mais duro ainda levantar da cama depois de um dia cansativo! E com cachorrinho chorando, ainda por cima.
Nessa altura ele conseguiu deixar a caixa, faz mais xixi aqui, ali e acolá. Espero alguns minutos mais e aplico-lhe um “joelhaço” verbal – lembram do Analista de Bagé? Com a bronca, ele fica quietinho, deita e, que maravilha, dorme. Até o raiar do dia. Bichinho esperto, sem dúvida.
Só no meio da manhã ele volta, em confortável colo, para sua casa verdadeira. Com ele, levamos leite, ração e a mãe “desnaturada” de volta. Depois de encherem as panças, ficam os sete brincando e, com certeza, ouvindo do rapazinho o relato de sua aventura noturna.
E agora ficamos com dó do bichinho, tão novinho, tão atrevido, esperto e “corajoso”. Será que vão conseguir um bom dono para ele? Dá vontade de ficar, mas sem chance.
Êêêê, vida no sítio...
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Um comentário:
Favor colocar no currículo que corajoso ele é de sobra. Vai tomar conta de uma casa como ninguém. E ainda por cima é lindo.
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