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- Que você e seus filhos e os filhos de seus filhos vivam tempos interessantes.
Era assim, sob a aparência de uma suposta gentileza, que os chineses desejavam o pior para os seus piores inimigos. Pois não há nada mais tenebroso que vivermos em tempos ditos interessantes. Como esses que vivemos.
Quando penso nisso, entendo porque gosto tanto de ver as vacas e as bezerras todo fim de tarde, começo de noite. Lá estão elas, barrigas, barriguinhas e barrigonas cheias, ruminando, pensando em nada que é a melhor coisa que existe. Esse negócio de “pensar na vida” só serve para atrapalhar a digestão, seja de capim, seja de lagosta (é verdade, sim, que os ricos também sofrem; geralmente, por motivos idênticos aos nossos, o que muda é a escala dos valores). Às vacas e aos animais de maneira geral, só interessa a doce rotina, sem sobressaltos, sem desvios, sem nada interessante acontecendo. Ou, quando muito, o passeio de um cachorro ou de uma gata, ou a presença não-agressiva de um macaco sem pelos, apenas olhando para elas. Esses eventos tão desinteressantes são o máximo que aceitam em termos de eventos interessantes. A quebra da rotina é estressante e improdutiva, como elas sabem. E como os chineses sabiam.
Esse ano que ora termina foi muito interessante. Se pensarmos politicamente, foi um dos mais interessantes de toda a história republicana. Foi o ano em que vimos a calhordice tomar conta da administração brasileira de ponta a ponta. De presidente a assessores obscuros, a tônica foi uma e somente uma. Nesse momento, 2006 me assusta um pouco, afinal, tudo é possível, como provaram bin Laden e seus assassinos, como provaram lulla da Silva e seus ministros e parlamentares. Perderam-se de vista os limites mínimos da decência. E mesmo no país onde me acostumei a enxergar exemplos de democracia e respeito às leis, o presidente assume, sem vergonha e sem-vergonha, a escuta e gravação ilegal de telefonemas, bem como a leitura de e-mails, tudo sob o manto conveniente e mistificador do combate ao terrorismo. Não por acaso, ao contrário do que se imaginava antes, lulla da Silva e George Walker dão-se muito, muito bem. Definitivamente, são farinha do mesmo saco estragado. Farinha putrefata que só serve aos vermes e bactérias, pois dela sequer os ratos se aproximam.
Curiosamente, ao começar a escrever pensava em uma mensagem otimista de Natal e Ano Novo. Deixei-me levar pela realidade que se insinuou e conduziu meus dedos pelo teclado. Agora, perdi o pique. Lulla da Silva e George W Bush estragaram meu texto. Lamento. Mais tarde pensarei em algo positivo. Talvez consiga.
(Em tempo: esse último lulla apareceu com o L maiúsculo por culpa do word, que, automaticamente, inicia toda frase com letra maiúscula; eu aboli o uso de maiúscula nesse nome por não julgá-lo digno de tal mimo; mas preservo no Silva, porque trocentos milhões de honestos e dignos Silvas nada têm a ver com o Silva presidente.)
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Um comentário:
Calhordice vem de calhorda, certo? Fui até ver no dicionário:
Calhorda – adj. 1 diz-se de ou pessoa sem valor, desprezível, ordinária; 2 diz-se de ou indivíduo boçal, estúpido, ignorante. Seu sinônimo é pulha – boa palavra, também.
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