domingo, dezembro 11, 2005

Como está fácil reclamar!

Motivos não faltam, pelo contrário, abundam. Existem em profusão. A procura é inútil, pois não há necessidade de busca: uma simples vista d’olhos ao redor é o que basta. Nessa pequena ação, quase uma inação, já encontraremos um motivo aqui, outro acolá.

A reclamação começa pelo mais alto escalão republicano: nada e ninguém é mais fácil para ser criticado do que o presidente de plantão. Como isso, por sinal, já ficou batido – eu mesmo já reclamo das reclamações contra o presidente por óbvias demais da conta -, o melhor é passar para o escalão logo abaixo. Ah... qual é? Fala sério! Há um monte de ministros, coisa aí pra mais de metro e meio, pra mais de trinta, acho que 35. Que me lembre, nem a antiga União Soviética com suas trocentas “repúblicas”, quase 300 milhões de almas e mais de 22 milhões de quilômetros quadrados, tinha tantos ministros. E esses aqui, tirando três (dois quais um não tem caráter), se juntar todos bem juntados, bem coladinhos, ainda assim não dá um ministrinho dos bons de antigamente. Quando e quem? Sei lá, essa pergunta é chata porque é muito difícil de responder. Há gente que diz e jura de pés juntos que já tivemos, sim, bons ministros. Os exagerados, como eu, chegam a usar o plural, inclusive.

Reclamar dos burocratas federais é fácil e obrigatório.
Reclamar dos burocratas estaduais é mais fácil e mais obrigatório.
Reclamar dos burocratas municipais é absurdamente fácil e tão necessário como o ar que respiramos.

Porque a burocracia, o braço executivo do Estado, é o maior inimigo do ser humano. Um inimigo necessário à nossa sobrevivência, mas inimigo. Mas o burocrata não se enxerga como tal. Aliás, em nenhum momento nenhum burocrata se enxerga como o que realmente é: um servidor do indivíduo, palavra que prefiro à cidadão (o Word me diz que essa crase está errada, mas ela está correta, pois o vocábulo “palavra” está oculto; desculpem o pedantismo, mas acho que esses textos assim, descompromissados, aceitam colocações como essa), pois, usada em excesso por gente que revelou-se despida dos pontos básicos da – vá lá – cidadania, perdeu seu sentido e ficou conspurcada. Uma pena, sem dúvida. E, realmente, me desgosta usar esse vocábulo depois de vê-lo (ouvi-lo) em bocas célebres de próceres do partido no poder.

Cruzes! Está certo que comecei a escrever essas coisas ontem, sábado, meio chateado por estar em São Paulo e não no Rio ou no sítio, mas hoje é domingo, já choveu, agora garoa, a temperatura está como deveria ser sempre a temperatura: civilizada; poxa, com tudo isso a favor, e mais um belo café-da-manhã já saboreado, porque ficar escrevendo sobre essas coisas e essas gentes? Ainda que às gentes refira-me apenas em passant e sem citações nominais, em respeito ao domingo de cada um e de todos. Vejo, satisfeito, que não perdi de todo o pouco de educação e elegância que adquiri ao longo da vida.

Bem, como disse, está fácil reclamar. Principalmente porque ao olhar à volta, a gente olha nossos semelhantes e, querendo ou não, gostando ou não, olhamo-nos também, nem que como reflexo dos outros ou de um eventual espelho. E reclamar, mesmo, devemos reclamar é de nós mesmos. E basta para um domingão matinal.


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